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CAPÍTULO IV OPOSIÇÃO À PENHORA

3. Quatro meios de defesa contra a penhora

3.2. Oposição por simples requerimento

Nos termos do art. 764.º, n.º 3 do CPC “presume-se que pertencem ao

executado os bens encontrados em seu poder, mas, feita a penhora, a presunção pode ser ilidida perante o juiz, que pelo executado ou por alguém em seu nome, quer por terceiro, mediante prova documental inequívoca do direito sobre eles, sem

prejuízo da faculdade de dedução de embargos de terceiro”.293 Prescreve-se no n.º

3, que os bens móveis não sujeitos a registo, que forem encontrados em poder do executado, devem ser penhorados mesmo que seja alegado e documentado perante o agente de execução que pertencem a terceiro.294 Pois, o legislador estipulou a presunção, admitindo iuris tantum de que os bens encontrados em poder do executado pertencem ao mesmo. Poder-se-ia pensar que a presunção proclamada neste artigo nada tem de novo, que repisaria o que se encontra estipulado no art. 1268.º, n.º 1 do CC. Não parece que seja assim, visto que, a presunção de titularidade do direito de fundo deste artigo decorre da posse: não é totalmente líquido que “em seu poder” signifique “em sua posse”. Destarte, a presunção da titularidade do art. 764.º, n.º 3 do CPC, apresenta um âmbito mais vasto que a presunção do artigo do CC, incluindo não só a presunção de propriedade mas também qualquer direito real menor que esteja a ser objeto de penhora.295

Para ilisão da presunção, de modo a que as consequências da penhora efetuadas não se mantenham e a coisa seja restituída, é exigido um documento

293 Eliminado com a reforma de 2003 o protesto no ato da penhora, onde se passou a estabelecer na penhora

de bens móveis não sujeitos a registo a presunção (art. 848.º, n.º 2 do CPC antigo). Portanto, este meio de oposição à penhora só passou a ser permito após a Reforma de 2003. Ou seja, o regime anterior conferia o protesto imediato que constituía um meio de defesa contra uma penhora ilegal por incidir sobre bens de terceiro, que a legislação facultava ao executado ou alguém em seu nome. Cfr. SAMPAIO, José Maria Gonçalves, A

Ação Executiva e a Problemática das Execuções Injustas…, ob cit, P. 277.

294 A contrario sensu na redação anterior à reforma de 2003, no seu art. 848.º, n.º 2 do CPC antigo, o funcionário

tinha a possibilidade de deixar de fazer a penhora se fossem exibidos documentos destinados a comprovar que os bens pertenciam a terceiro.

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que inequivocamente mostre que os bens pertencem a terceiro, ou que possua sobre ele um direito real menor de gozo que implique a usufruição.

Quando nos referimos à presunção do art. 1268.º, n.º 1 do CC sabemos que pode ser afastada por qualquer meio de prova296, já a presunção do art. 764.º, n.º 3 do CPC só é ilidível unicamente com prova documental inequívoca.297 Assim, o caráter inequívoco298 só podia derivar de documento apresentado não ser impugnado ou contestado pela contraparte. No caso de o ser, não existe prova inequívoca e a qualidade probatória elimina-se de imediato. A apresentação de documento autêntico com data anterior à penhora ou documento particular autenticado ou reconhecido ou apresentado em serviço público em data anterior à penhora, é geralmente suficiente para o efeito, no caso de não existir motivo sério para duvidar da validade do ato documentado.299

Assim, pelos motivos referidos, no ato da penhora, a lei presume que pertencem ao executado os bens móveis encontrados em seu poder. O mesmo se aplica, quando os bens encontrados em posse de terceiro poderem ser penhorados. O requerimento pode ser deduzido para além do terceiro, pelo próprio executado “ou por alguém em seu nome”, cfr. n.º 3 do art. 764.º do CPC.300

296 O nosso direito processual admite os seguintes meios de prova: testemunhal; documental; por confissão;

por declaração das partes; pericial; inspeção judicial; verificações não judiciais qualificadas. Estes meios de prova tem como finalidade demonstrarem a veracidade dos factos alegados. Cfr. VALLES, Edgar, Prática

Processual Civil com o Novo CPC, Almedina, Coimbra, 2013, P.142.

297 O legislador ao pretender “prova documental inequívoca”, Rui Pinto, afirma que não se está a referir a um

documento em si, nem ao tipo de convicção a formar no espírito do julgador. Refere-se ao resultado probatório

próprio sensu, não pode resultar de um juízo de mera probabilidade sobre uma mera justificação. Cfr. PINTO,

Rui, Notas ao Código de Processo Civil…, ob cit, P. 575. Em sentido oposto, o sistema processual italiano não impede que se possa socorrer a qualquer meio de prova, só não admite a prova testemunhal. Cfr. GONÇALVES, Marco Carvalho, Embargos de Terceiro na Ação Executiva, Wolters Kluwer Portugal, Coimbra Editora, Coimbra, 2010. P. 50.

298 A exigência de inequivocidade da prova quer dizer, que o juiz dará o facto por provado se não der lugar a

dúvida razoável, por mais pequena que seja sobre a veracidade do documento ou ate mesmo sobre o teor do seu conteúdo.

299 O documento não necessita de ser formalmente autêntico, pode ser um mero documento particular, o que

a legislação pretende que a prova documental possua uma qualidade probatória.

300 Neste procedimento de ilisão da presunção estipulado no n.º 3, referimo-nos a uma legitimidade ativa; a

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O único caso em que o próprio executado pode deduzir oposição à penhora alegando que os bens penhorados não lhe pertencem, será através de simples requerimento.301

Este procedimento de ilisão da presunção inicia-se pela dedução de simples requerimento do pedido de levantamento da penhora, acompanhado com o respetivo documento para prova da titularidade do direito (desde que a data seja antecedente à penhora). Existe a possibilidade de contraditório ex vi do art. 3.º, n.º 3 do CPC, devendo o exequente ser notificado para se opor no prazo de 10 dias (in

fine – art. 149.º, n.º 1 do CPC).

O procedimento termina com a decisão do juiz de procedência (reconhece a existência do direito de terceiros) ou improcedência (por impugnação).

Por último, cumpre referir que a lei admite o requerimento ainda nos casos específicos do art. 744.º, n.º 2 e do art. 738.º, n.º 6 do CPC. No caso previsto do art. 744.º, n.º 2 do CPC, (supra estudado no capítulo II) na execução movida contra o herdeiro, quando a penhora incida sobre bens do executado que ele não tenha recebido do autor da herança, permite ao executado opor-se à penhora requerendo o seu levantamento. Cabendo ao juiz decidir o pedido de levantamento da penhora em oposição por parte do exequente. Nos termos do art. 738.º, n.º 6 do CPC o requerimento está previsto para redução dos rendimentos periódicos penhorados.

3.3. Incidente de oposição à penhora