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Brache (2002) desenvolveu um trabalho no sentido de buscar entender quais são as variáveis determinantes para fazer com que uma organização funcione de maneira adequada e com êxito. Fazendo uma analogia com o funcionamento do organismo humano, Brache destaca que uma organização é constituída de determinados componentes, cada um com suas características e funcionalidades peculiares, que precisam estar integrados de forma harmônica para fazer com que a organização, como um sistema holístico, possa funcionar bem.

O modelo de funcionamento da organização proposto por Brache (2002) engloba 4 grupos de variáveis: variáveis externas, que caracterizam e definem o ambiente de negócios no qual a organização está inserida; variáveis estruturais, incluindo os processos de negócio, a definição de metas, a gestão da informação e a estrutura organizacional; variáveis humanas, abrangendo a liderança, cultura e desenvolvimento de competências e; variáveis de gestão, caracterizadas pela estratégia, execução, solução de problemas e tomada de decisão.

No sentido de compreender o contexto no qual uma organização está inserida, Brache (2002) indica que os seguintes pontos devem ser mapeados, analisados e entendidos:

- Cadeia de valor da indústria: compreender quem são os players do mercado, seus papéis na geração e entrega de valor e suas demandas presentes e futuras;

- Fontes de recursos: identificar quem são os principais fornecedores, quais as principais fontes de recursos - financeiros, de pessoas e de tecnologia - da organização e suas tendências futuras;

- Clientes e mercados: compreender as demandas dos clientes atuais, prever suas necessidades futuras e identificar, selecionar e explorar novas possibilidades de clientes e mercados;

- Competidores: identificar os principais competidores – atuais e potenciais -, possíveis novos entrantes, intensidade da competição e possíveis movimentos estratégicos da concorrência;

- Governo e legislação: acompanhar alterações regulatórias e seus impactos na gestão da organização;

- Economia: monitorar de forma proativa o comportamento e as tendências dos principais indicadores da economia e projetar cenários de negócio aderentes às novas realidades econômicas;

- Sociedade e comunidade: manter-se atento aos anseios e demandas da sociedade e comunidade e buscar atuar no sentido de construir e manter a reputação como organização socialmente responsável e cidadã;

- Acionistas e proprietários da organização: assegurar um retorno de investimento atrativo e manter-se eticamente alinhada às regras de governança corporativa.

A liderança da organização desempenha um papel essencial para que o modelo organizacional possa funcionar (BRACHE, 2002). Ela é responsável por definir, comunicar e mobilizar as pessoas na direção da consecução dos principais desafios e objetivos estratégicos. É à luz da liderança que todos os demais componentes do modelo organizacional são projetados e implementados. Dessa forma, o tema liderança deve tratar das seguintes questões:

- Identificar, dentro da organização, quais são as áreas que exigem uma liderança exemplar, com performance superior;

- Definir o perfil de liderança requerido para fazer a organização tornar-se vencedora dentro do seu contexto de negócio - criar o “DNA” da liderança;

- Traçar um plano de desenvolvimento para adequar e qualificar os principais executivos em função do perfil de liderança requerido;

- Promover a capacitação da liderança e criar um pipeline de líderes para a organização.

O estabelecimento da estratégia corporativa e seu posterior desdobramento e alinhamento por toda a organização é determinante para que a trajetória da organização e os possíveis caminhos a serem percorridos sejam definidos. Uma estratégia clara, consistente e focada fornece as diretrizes para definir critérios de priorização de projetos e alocação de recursos e orientar os processos de tomada de decisão. Brache (2002) indica 5 fases importantes relacionadas à variável estratégia dentro do seu modelo de funcionamento da organização:

- Fase 1: coletar e analisar informações dos ambientes externo e interno à organização para determinar os rumos estratégicos em termos da seleção de mercados, produtos e modelos de negócios;

- Fase 2: definir o cronograma para a realização dos principais marcos estratégicos – articular os recursos e tomar as decisões relevantes;

- Fase 3: estabelecer e desdobrar o plano de comunicação da estratégia para mobilizar as pessoas e obter o seu comprometimento com a execução;

- Fase 4: trabalhar, em todos os níveis da organização, para executar todas as ações e iniciativas que compõem a estratégia organizacional;

- Fase 5: monitorar continuamente o avanço da estratégia; revisar e validar as ações e realizar correções de rotas quando necessário.

O projeto e redesenho dos processos de negócios é uma variável imprescindível ao modelo de funcionamento de uma organização. Como Brache (2002) aponta, gostando-se ou não, as coisas acontecem dentro da organização, através dos processos de negócio. A capacidade de execução da estratégia está fortemente correlacionada ao desempenho superior nos processos-chave da organização. O projeto e redesenho de processos deve seguir um racional que contemple os seguintes passos:

- Identificar os processos de negócio que precisam ser reprojetados ou remodelados; - Estruturar e formalizar um projeto para a melhoria do processo;

- Documentar e analisar o processo atual – situação “as is”; - Desenhar e modelar o processo futuro – situação “to be”;

- Estabelecer os objetivos e as métricas para monitorar o avanço e os resultados do processo;

- Desenvolver o plano de ação para eliminar os gaps entre as situações “as is” e “to

be”;

- Executar, com disciplina e excelência, as ações planejadas para instituir o novo processo;

- Gerenciar o novo processo através do monitoramento dos indicadores de processos e indicadores de resultados.

A definição e aplicação de objetivos e metas é condição essencial para que uma organização possa efetivamente funcionar. Sem indicadores não é possível fazer a gestão do negócio. Não é possível medir a performance. Não é possível melhorar. Não é possível aprender. Os indicadores são relevantes, pois definem aquilo que a organização irá efetivamente entregar, além de moldar o comportamento das pessoas (BRACHE, 2002).

Uma gestão orientada pelos objetivos e indicadores considera os seguintes pontos:

- Identifica as dimensões do desempenho que precisam ser mensuradas e monitoradas;

- Seleciona os indicadores que fazem mais sentido para cada uma das dimensões de desempenho;

- Estabelece metas que sejam desafiadoras e alcançáveis para cada um dos indicadores;

- Define um sistema de apuração e acompanhamento dos resultados dos indicadores;

- Realiza uma avaliação periódica do desempenho dos indicadores, analisa as causas de variação em relação às metas preestabelecidas e traça planos de melhoria.

Como já destacado nos trabalhos desenvolvidos por Hrebiniak (2005), Brache (2002) também enfatiza a importância da mudança cultural e do alinhamento da estrutura organizacional para que uma organização funcione de forma adequada. A definição da estratégia organizacional é o carro-chefe que desencadeia as demais mudanças dentro da organização. É preciso identificar quais os valores e a cultura organizacional que são requeridos pela estratégia e pela execução dos processos de negócio; deve-se trabalhar para eliminar as lacunas culturais evidenciadas entre o diagnóstico atual e o perfil futuro desejado para a cultura organizacional.

A definição da estrutura organizacional segue a mesma linha de raciocínio. O sucesso na execução da estratégia será, em larga escala, fruto do adequado alinhamento da estrutura organizacional para suportar os requerimentos da estratégia e dos processos-chave de negócio.

Brache (2002) coloca uma ênfase muito grande no papel das pessoas como uma das variáveis-chave para a execução da estratégia e dos principais processos de negócio. A variável humana apresenta uma dependência em relação às definições do direcionamento estratégico e das operações dos processos-chave do negócio. A estratégia e os processos permitem mapear quais são as funções estratégicas dentro do modelo da organização, bem como o que se espera em termos de resultados e entregas de cada uma dessas funções estratégicas.

A partir daí, podem ser identificadas quais as habilidades, atitudes e competências essenciais que precisam ser desenvolvidas pelas pessoas. O desenvolvimento de um plano de qualificação e capacitação das pessoas e a introdução de um mecanismo de avaliação da performance, atrelado às entregas e

ao progresso no desenvolvimento das competências, compõem as principais decisões relacionadas às variáveis humanas no contexto do modelo de organização.

Brache (2002) também destaca que a coordenação entre os vários componentes do modelo organizacional é vital para que a organização possa funcionar adequadamente. O que assegura uma coordenação efetiva é o processo de compartilhamento das informações e do conhecimento.