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Exemplos de estudos de casos sobre a Mobilidade em Campis Universitários

2. Revisão do estado de arte

2.2. Mobilidade no acesso aos Campi Universitários

2.2.1. Exemplos de estudos de casos sobre a Mobilidade em Campis Universitários

A problemática de Mobilidade Sustentável em Campi Universitários é verificada em vários países, sendo encarada de diferentes formas, consoante as necessidades mais acentuadas de cada Campus.

De seguida serão apresentados alguns casos e soluções encontradas bem como alguns resultados verificados.

2.2.1.1. Instituto Politécnico de Leiria (IPL), Portugal

Figura 1 – Localização dos Campus do IPL (IPL, 2014)

O Instituto Politécnico de Leiria é constituído por cinco Campus Universitários, nos quais se localizam várias escolas (Tabela 3), e que a par de outros estabelecimentos de Ensino Superior se encontram dispersos pelo território, como é possível observar na Figura 1.

Tabela 3 – Constituição do Instituto Politécnico de Leiria (IPL, 2014) Campus Escolas Superiores/Serviços

1 ESECS – Escola Superior de Educação e Ciências Sociais 2 ESTG – Escola Superior de Tecnologia e Gestão

ESSLei – Escola Superior de Saúde SAPE – Serviço de Apoio ao Estudante 3 ESAD – Escola Superior de Artes e Design

4 ESTM – Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar GIRM - Grupo de Investigação em Recursos Marinhos

5 CTC/TIC – Centro de Transferência e Valorização do Conhecimento FOR.CET – Centro de Formação para Cursos de Especialização Tecnológica INDEA – Instituto de Investigação, Desenvolvimento e Estudos Avançados UED – Unidade de Ensino à Distância

Tendo em conta o elevado número de campus constituintes, a gestão da mobilidade deve ser trabalhada com atenção especial. Ferreira (2011) realizou um estudo acerca da cultura de

Mobilidade no IPL sobre o qual é possível extrair algumas conclusões acerca de problemas de mobilidade no acesso ao Campi e das principais medidas propostas e que possam vir a ser adotadas.

Ferreira (2011) indica que os problemas de mobilidade associados aos Campi Universitários estão associados à localização das suas instalações, à configuração das acessibilidades da rede viária e do próprio desenho do edificado que está perfeitamente adaptado à utilização do automóvel. Em virtude destes fatores é aceitável que a comunidade académica tendencialmente se desloque, cerca de 82%, em veículos particulares (Gráfico 4).

Gráfico 4 – Padrões de Mobilidade obtidos através de inquéritos (Ferreira, 2011)

Esta tendência deve-se ao facto de, em alguns campi deste instituto, existir uma baixa capacidade de espaços verdes e de espaços públicos destinados a peões e utilizadores de bicicleta, fazendo com que esse espaço seja menos atrativo, o que não se deveria verificar devido ao grande movimento de pessoas que este provoca no seu dia-a-dia.

Figura 2 - Percursos pedonais mal definidos (Ferreira, 2011)

Figura 3 - Espaços verdes existentes (TintaFresca, 2012)

A proposta para resolução destes problemas centrou-se na promoção de medidas de sensibilização e estímulo à alteração de comportamentos, bem como ao incentivo de modos de transportes alternativos e sustentáveis. Assim, sugeriram-se incentivos à utilização do transporte público, a implementação de sistemas de partilha de bicicletas e de sistemas de boleia com o uso de automóveis, diminuindo assim o número de veículos com baixa taxa de ocupação e o desenvolvimento de campanhas de educação e sensibilização de acordo com o esquema da Figura 4 (Ferreira, 2011).

Figura 4 – Medida de sensibilização realizada (Ferreira, 2011)

2.2.1.2. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Portugal

Atualmente, a UTAD é constituída por dois campus situados nas cidades de Vila Real e Chaves. O Campus de Vila Real apresenta cinco Escolas e o de Chaves apenas uma (Tabela 4), sendo cada uma destas possui o seu próprio núcleo de Departamentos.

Tabela 4 - Constituição da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD, 2013) Campus/Pólo Escolas constituintes

Vila Real ECAV- Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias ECHS – Escola de Ciências Humanas e Sociais ECT – Escola de Ciência e Tecnologia

ECVA – Escola de Ciências da Vida e do Ambiente ESenfVR – Escola Superior de Enfermagem de Vila Real Chaves ECHS – Escola de Ciências Humanas e Sociais

4 Workshops

Para uma mobilidade positiva, para um futuro com TODOS Sociedade Civil 14 Participantes Órgãos de Comunicação Social 4 Participantes Órgãos da Administrção Pública e Transportes 11 Participantes Técnicos profissionais e Empresas 45 Participantes Associaçaõ de Industriais e Comerciais 12 Participantes

De acordo com Silva (2009) os padrões de mobilidade da comunidade académica revelam-se insustentáveis pois a utilização de veículos individuais de transporte é muito elevada, 45.4%, tendo em conta as distâncias praticadas, o que conduz à emissão muito elevada de poluentes e a custos ambientais e económicos significativos.

Gráfico 5 – Níveis de utilização do automóvel privado e outros modos na UTAD (Silva, 2009)

Segundo Silva (2009), o uso excessivo de veículos automóveis na deslocação para a UTAD, deve-se a um acesso muito facilitado para este modo de transporte (Figura 5), tendo-se verificado um certo esquecimento de políticas de apoio e promoção dos restantes modos de transportes, nomeadamente ao nível das suas redes, desincentivando desta forma o seu uso.

Para o caso em estudo, os utentes estariam dispostos a mudar de hábitos caso fossem tomadas determinadas medidas, como por exemplo, a diminuição das tarifas nos transportes públicos. A título de exemplo apresenta-se a resposta a uma das perguntas do inquérito efetuado na UTAD, “O que o faria mudar do automóvel para a opção do transporte público?”, com o intuito de avaliar o tipo de mobilidade praticada

.

Deste modo, como se pode observar no Gráfico 6, foi possível constatar que a diminuição das tarifas e a garantia de horários de chegada, bem como maior frequência e menor tempo de viagem, foram os fatores com maior percentagem de respostas. Esta pergunta tornou-se pertinente pois uma grande percentagem de utilizadores mora a uma distância relativamente pequena do campus da UTAD, ou seja, grande parte deles vive na cidade de Vila Real, podendo o transporte público, neste caso, ser a opção mais viável e certamente mais sustentável que o automóvel

Gráfico 6 – Motivos que fariam a comunidade académica mudar para a opção dos Transportes Públicos – (Silva, 2009)

Para além disto, a utilização de medidas como Carpooling (sistema de boleias entre utentes com o mesmo destino) seria algo que os utentes estariam dispostos a praticar para aumentar as taxas de ocupação dos veículos e consequente redução dos impactes negativos da usa utilização, sobretudo ao nível do número de veículos utilizados por dia.

2.2.1.3. Universidade New South Wales (UNSW), Sidney, Austrália

O Campus principal da UNSW está localizado numa área de 38 hectares e o de Kensignton a 7km do centro de Sidney. Os restantes campus são Os restantes campus são o College of Fine Arts e UNSW Camberra at the Australia Defence Force Academy. Tendo em conta estes campus a UNSW separa-se em várias faculdades: Ciências e Artes Sociais; Escola Australiana de Gestão; Ambiente Construtivo; Artes; Engenharia; Direito; Medicina e Ciências.

Tendo em conta as dimensões dos Campus, a universidade apresentava problemas essencialmente ao acesso dos utentes que teriam de percorrer maiores distâncias, pois, apesar de terem possibilidades de transportes mais sustentáveis (comboio e autocarro) estes apresentavam custos elevados e, os utentes que teriam de recorrer ao modo de transporte ferroviário teriam de percorrer grandes distâncias a pé, ou caso quisessem optar por outro transporte, este apresentava tarifas altas e horários incompatíveis. (UNSW, 2013)

Assim, adotou-se uma abordagem de gestão de transportes em parceria com uma empresa de transportes coletivos, focando a transferência modal comboio-autocarro como destino à universidade. Com isto verificou-se uma redução no tempo de espera e maior fiabilidade no sistema por parte dos professores e estudantes, novas rotas e infraestruturas. (UNSW, 2013)

2.2.1.4. Hospitais universitários de Cambridge, Reino Unido

O Hospital de Cambridge funciona como uma Escola Clínica da universidade de Cambridge. Para além dos hospitais, a Universidade é constituída por um polo importante de investigação (NHS – National Health Service) e pelo Conselho de Investigação Médica (MRC a sigla inglesa) e algumas instituições de investigação de caridade e comerciais. No total, cerca de 9.000 funcionários trabalham neste Campus.

Figura 6 – Planta dos Hospitais universitários de Cambridge (ELTIS, 2003)

No caso dos Hospitais Universitários de Cambridge é possível constatar que estes apresentavam uma política de mobilidade relativamente sustentável, ou seja, são vários os utilizadores que optam por transportes mais sustentáveis como a bicicleta, pois a Universidade oferece condições para tal e este é um meio de transporte comum em Cambridge.

Figura 7 – Estacionamento de bicicletas na Universidade de Cambridge (ELTIS, 2003)

No entanto, no caso de Campi hospitalares a prática de hábitos de mobilidade mais sustentáveis não é tão verificada quanto desejado, dado o grande número de viagens gerado, quer pelos estudantes quer pelos restantes utentes deste equipamento, com repercussões negativas a vários níveis, nomeadamente ao nível de emissões produzidas pelos meios de transportes motorizados.

Desta forma foi definido um plano que visava a redução de emissões do tráfego, promovendo assim uma mobilidade mais sustentável. Assim, foram criadas quatro paragens com cerca de

50 autocarros/hora ao serviço do campus (com empréstimos sem juros para que fosse possível adquirir passes sazonais) e benefícios salariais a utilizadores de bicicletas (criando espaços adequados para o estacionamento destas e balneários, bem como vias cicláveis).

A aplicação desta medida resultou, num prazo de 10 anos, numa redução no uso do automóvel de 74% para 42%, enquanto a utilização de autocarro subiu de 4% para 24% e o número de ciclistas de 17% para 25%. Em suma, a aposta na melhoria do serviço de um sistema de transportes públicos pode ser uma solução viável e a explorar na procura de soluções de mobilidade mais sustentáveis.

2.2.1.5. Universidade Politécnica da Catalunha, Espanha

A UPC é constituída essencialmente por 5 institutos repartidos pelos 8 Campi que a constituem, sendo que certos institutos podem existir em mais do que um Campus. Os 5 institutos são: Institut d’Incestigació Tèxtil i cooperació Industrial de Terrassa (INEXTER); Institut d´Organització i Control de Sistemes Industrials (IOC); Institut de Técniques Energètiques (INTE); Institut Universitari de Recerca en Cièncie i Tencnologie de la Sontenibilitat (ISUPC) e Institut de Ciencies de l’ Educació (ICE).

Os Campi encontram-se em oito cidades que lhes conferem a respetiva denominação, como: Campus de Barcelona: Nord e Sud; Campus de Castelldefelds; Campus de Igualada; Campus de Manresa: Campus de Mataró; Campus de Sant Cugat del Vallés; Campus de Terrassa e Campus de Vilanova i la Geltru

Figura 8 – Representação dos Campus da Universidade Politécnica da Catalunha (UPCMaps, 2014)

Os Campi da UPC em Barcelona estão localizados em áreas muito próximas, sendo responsáveis e a causa de um tráfego diário intenso, especialmente de veículos privados. Assim, o reconhecimento dos padrões de mobilidade praticados pela comunidade da Universidade traduziu-se na vontade de melhorar a qualidade para toda a cidade. O projeto MOST (Mobility Managemment Strategies for the next Decades) e a coordenação dos planos de gestão da mobilidade em Barcelona e no campus universitário introduziram uma série de medidas de gestão e serviços de mobilidade para qualificar os modos de transporte.

Figura 10 - Entrada do Campus da UPC com pequena representação de tráfego (UPCBarcelonaTech, 2014)

De forma a reduzir os seus problemas, a UPC introduziu o serviço de Carpooling (partilha de automóveis) com o objetivo de reduzir os impactos ambientais da utilização do veículo privado. Após o término deste projeto em 2002 foi celebrado um acordo entre a Câmara Municipal e a UPC, permitindo o planeamento prévio de viagens para a UPC em qualquer modo de transporte (transporte público, bicicleta, a pé,…) (ELTIS, 2003), evitando assim que os utilizadores fossem tentados a utilizar o veículo privado.

2.2.1.6. Universidade Roma Tre, Itália

A Universidade de Roma Tre é essencialmente constituída por dois Campus Universitários estando ambos implementados no centro de Roma (Figura 13) sendo, desta forma, a sua presença muito significativa na cidade, com impacto direto no fluxo de tráfego rodoviário desta urbe.

Neste caso, a implementação de medidas de mobilidade sustentável foi ao encontro de medidas, instrumentos e iniciativas destinadas à redução do volume de tráfego de automóveis privados, mediante o incentivo ao transporte público. São muitas as ferramentas inovadoras capazes de reduzir a tendência atual da utilização do automóvel em favor de soluções mais sustentáveis, em termos socioeconómicos e ambientais, destacam-se o melhoramento do serviço de transportes públicos, carpooling, carsharing (partilha de automóveis), fomentação da aquisição de veículos movidos com formas de alternativas de energia (elétricos ou hídricos).

Para a coordenação das iniciativas que visam melhorar a mobilidade na Universidade de Roma Tre e reduzir o impacto que esta tem sobre a cidade em termos de tráfego, a Universidade nomeou um Gestor de Mobilidade. Com a colaboração do município de Roma, a Universidade elaborou um Plano de Mobilidade Sustentável onde se introduziram importantes serviços como a criação de linhas de autocarros “Unibus” com cerca de 40 viagens diárias, o sistema de partilha de bicicletas e de motas elétricas para funcionários (RomaTre, 1998).

A criação das novas linhas de transportes públicos baseou-se em estudos realizados pelos responsáveis pela equipa de Gestão de Mobilidade. Na Figura 14 apresenta-se o resultado de um desses estudos, com base nas distâncias percorridas pelos utentes e nos pontos de origem das suas viagens. Através destes estudos foi possível a definição de novas linhas para transportes públicos de forma garantir uma cobertura de rede mais eficaz.

Neste caso conseguiu-se a criação de uma nova linha garantiu a cobertura a mais 1034 utilizadores que as anteriores redes.

Figura 12 – Exemplo de duas novas linhas com o número de utentes afetados, 1034 (RomaTre, 2000)

2.2.1.7. Universidade Tecnológica de Graz, Áustria

Figura 13 – Esquema da Universidade Tecnológica de Graz (GoogleMaps, 2014)

A Universidade é constituída por dois Campus, Campus de Tecnologia “Novo” e Campus de Tecnologia “mais antigo”, tendo cada um deles inserido as várias escolas que os constituem.

Especialmente no Inverno, o aumento da concentração de partículas na atmosfera, causadas pelo tráfego automóvel, diminui gravemente a qualidade de vida dos cidadãos. O estudo

realizado por esta Universidade mostrou que metade dos funcionários desta instituição reside perto do local de trabalho, mas mesmo assim deslocam-se de automóvel até lá.

No verão de 2006, o Vice-Reitor da Universidade de Graz e o gestor do projeto de mobilidade sustentável, apresentaram uma iniciativa para impedir os seus colegas de irem de carro para o trabalho. Em vez do automóvel, estes deveriam usar os transportes públicos, bicicletas ou simplesmente ir a pé. Assim, a universidade quis servir de modelo para reduzir as emissões de poluentes na cidade. Para tal foram tomadas medidas como a criação de 300 novos locais de estacionamento de bicicletas (Figura 16), para motivar as pessoas a deixar o carro em casa, incentivar a Universidade a pagar metade do custo anual do bilhete para o transporte público, a proibição de estacionamento nos parques da universidade a quem vive a menos de 1.5km, bem como a introdução de tarifas de estacionamento.

Figura 14 – Estacionamento para bicicletas à entrada da Universidade de Graz, Áustria (ELTIS, 2003)

Com este projeto, num período de seis meses o número de pessoas a irem de carro para o trabalho diminuium terço e o número de pessoas com permissão para estacionar nos parques da universidade diminui de 1300 para 900. Tudo isto causou uma redução de 250 toneladas de emissão de dióxido de carbono por ano (ELTIS, 2003).

Tal como para os casos sinteticamente apresentados neste ponto, são verificados muitos mais em todo o mundo. Assim pode afirmar-se que, a melhor forma de atuar para obter padrões de mobilidade mais sustentáveis nas nossas cidades, passa pela análise do processo de gestão da mobilidade e acesso aos principais Polos Geradores de Viagens, como são os casos das Universidades e outros equipamentos, cujo impacto no funcionamento da rede viária

ultrapasse as vias adjacentes às áreas de implantação desses equipamentos. Por outro lado, importa destacar que os Campus Universitários possuem uma população jovem que devem ser educados para adotar práticas de deslocação mais sustentáveis, uma vez que se espera que estes venham a integrar cargos de responsabilidade social em diversas instituições e desta forma poderem contribuir para uma utilização mais adequada dos diversos meios de transporte por parte de uma sociedade que se quer mais sustentável.