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Os exorcismos feitos por Jesus Cristo

2. O florescer de uma nova entidade: O Diabo no Vetero e no Novo Testamentos

2.14 Os exorcismos feitos por Jesus Cristo

Jesus é o filho de Deus enviado à terra, para, fundamentalmente, ensinar aos homens o caminho do Bem. Como tal, Jesus é o adversário de Belial34, sendo este seu opositor e de seu Pai. Deste modo, o ministério de Cristo será ocupado em muito pela destruição dos poderes do Mal (Tuckett, 2007:889).

“E os doutores da Lei, que tinham descido de Jerusalém afirmavam: «Ele tem Belzebu! E ainda: «É pelo chefe dos demónios que expulsa os demónios.» Então, Jesus chamou-os dizendo-lhes parábolas: «Como pode Satanás expulsar Satanás? (…) Em verdade vos digo: todos os pecados e todas as blasfémias que proferirem os filhos dos homens, tudo lhes será perdoado; mas, quem blasfemar contra Espírito Santo, nunca mais terá perdão: é réu de pecado eterno.» (Mc 3,22-23, 28-29).

Jesus Cristo vem à terra para salvar a humanidade, atormentada pela tentação do pecado, induzida pelas forças do Mal (em que Satanás é a figura principal). Como representação do Bem, o Messias expõe-se ao sofrimento e à dor, enquanto marcos da presença maléfica entre os homens para que, por via da fé, abnegação e de diversos modelos de exorcismo, o Bem e a Luz triunfem sobre as trevas e a subversão (Tuckett, 2007:889).

Os que estão ao longo do caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; e, mal a ouvem, chega Satanás e tira a palavra semeada neles (Mc 4,15).

No ministério de Cristo pela salvação dos homens, a prática do exorcismo é comparável em grande medida com os seus milagres, pois o exorcismo ministrado por

34 Ver Apêndice II, p. 25.

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Cristo assume especial relevo na luta do Bem contra as forças de Satanás, uma vez que permite o controlo e silenciamento dos espíritos maléficos que atormentam a mente dos homens. A acção de Jesus é assim sinal da chegada e estabelecimento do reino de Deus na terra e da autoridade e poder outorgados ao Seu filho (Tuckett, 2007:890).

O termo “exorcismo” vem da palavra grega exorizo que significa “exilar, expulsar, banir, expor, emigrar”. Trata-se de um acto commumente praticado por Jesus nas suas viagens messiânicas. O filho de Deus praticava exorcismos com o objectivo de expulsar o Mal daqueles que padeciam e sofriam com ele. Com isso, Jesus pretendia salvar a humanidade, espelhando a palavra de Deus e estabelecendo a ordem sobre o caos. “Cada exorcismo é uma repetição do mito de combate, e contribui para confirmar uma visão dualista do mundo: Jesus e o Diabo são interdependentes” (Minois, 2003:35). De facto, o exorcismo é uma prática ancestral, considerada uma operação mágica, utilizado por xamãs, curandeiros, feiticeiros, entre outros, com o objectivo de restabelecer a paz35 interior da pessoa que está em estado de possessão de algum mal ou até mesmo de algum espírito. Segundo Tuckett, a primeira característica a assinalar é a forma banal com que os Evangelhos canónicos descrevem uma prática que, até então, era pouco conhecida no AT (Tuckett, 2007:890). A possessão diabólica nestes textos é absolutamente comum, tão usual como qualquer doença, pois as possessões nos Evangelhos estão de certo modo relacionadas com problemas psicossomáticos, isto é, com enfermidades físicas e/ou mentais. No entanto, são importantes para o tema do exorcismo, visto que estabelecem a ponte necessária entre o universo físico e o moral ( Minois, 2003:34-35).

35 “Operação mágica ou espiritual que tem por finalidade afastar de um índividuo ou grupo, lugar ou

objecto «possesso» um ou vários demónios, espíritos ou entidades, por meio de orações, conjurações, gestos, imagens ou outros meios.” (Riffard, 1993:150). Mais adiante, na presente dissertação, o conceito de “Exorcismo” será um dos temas debatidos não só no âmbito dos Evangelhos, como também, no que diz respeito à época medieval, pois trata-se de uma prática que servirá de ferramenta essencial para a Igreja. Esta utilizará o exorcismo como exemplo da força da palavra de Deus, impondo assim sua doutrina às populações. No entanto, não podemos deixar de assinalar que o Evangelho de São. Marcos é rico na forma como expõe os exorcismos praticados por Jesus, como se tratasse de um louvor ou de uma prática curandeira. Neste Evangelho, Cristo exorcizava os enfermos com as mãos, através da palavra e da sua vontade (Mc 6,5; 7,32; 9,18-27; 1,25; 7,29).

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Na prática do exorcismo, Jesus ministra a sua autoridade sobre o Mal. Em cada exorcismo, a expulsão dos demónios dos corpos dos enfermos obriga o Diabo a falar a identificar-se, ao passo que nas doenças não havia necessidade de rituais exorcistas apenas as curas e os milagres pareciam fazer parte da acção de Jesus nos enfermos. Segundo Marcos, o poder apresentado por Jesus manifestava-se pelos seus ensinamentos mas sobretudo pela prática do exorcismo. Através do exorcismo, Jesus mostra que é o Messias e que vence todas as forças do Mal, libertando as suas vítimas das garras de Satanás (Mc 3,22-30).

Possession is one of the most common means Satan uses to obstruct the Kingdom of God. Ordinarily, the demons, Satan’s servants, do the possessing, though in the Johannine literature Satan does it himself. By exorcizing the demons, and by curing diseases sent by them, Jesus make war upon the kingdom of Satan and thereby makes known to the people that the new eon is come: “If I drive out demons by the power of God, it is because the Kingdom of God is come among you”. Contemporary magicians and healers also exorcized demons, but the gospels point out that only Christ exorcizes through the power of the Holy Spirit (Russel, 1977:237).