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3 A REINSERÇÃO NA SOCIEDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

3.1 A EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO

O estágio é um momento em que pode-se colocar em prática tudo aquilo vivenciado no espaço de aprendizagem, neste casso, o espaço acadêmico, assim, Silva (apud Bianchi, 2002) traz que "o estágio é um período de estudos práticos para aprendizagem, experiência e envolve, ainda, supervisão, revisão, correção e exame cuidadoso".

Portanto, o estágio é onde a identidade profissional do aluno é gerada, estabelecida e referida; volta-se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado gradualmente e sistematicamente. (BURIOLLA, 2001, p. 13).

O estágio em serviço social,

pode ser desenvolvido em órgãos públicos e/ou privados, [...] sob coordenação e responsabilidade da universidade através do supervisor acadêmico, e em cursos como o serviço social conta ainda com o apoio do supervisor de campo. Essa fase de aprendizado consiste na preparação do acadêmico para a inserção no mercado de trabalho, inter-relacionando e integrando a formação acadêmica – mais especificamente a teoria aprendida em sala - com a prática profissional. Assim, o acadêmico insere- se no campo com o propósito de apreender sua profissão, a realidade prática e sua ligação com a teoria, bem como o emprego das técnicas e instrumentos comuns ao cotidiano da profissão. É nessa perspectiva que o estágio dá sua devida contribuição à formação do acadêmico, na sua inserção à vivência prático-profissional, na aplicação do conhecimento teórico, na vivência real com o cotidiano do exercício da profissão, no emprego de técnicas e instrumentos que se vinculam à realização desta como base para um aprendizado completo da formação profissional. (SILVA, 2008, p.1)

E é também no estágio que se pode visualizar os reais instrumentos de trabalho de um assistente social, estes no qual foram visto na sala de aula, porém é com a ajuda de um supervisor de campo que se poderá guiar para o conhecimento e uso dos instrumentos necessários para a prática profissional, porém em determinados espaços no qual é desenvolvido o estágio, não se faz necessário o uso de todos os instrumentos (SILVA, 2008). Deste modo,

o estágio supervisionado no curso de Serviço Social apresenta como uma de suas premissas oportunizar ao(a) estudante o estabelecimento de relações mediatas entre os conhecimentos teórico-metodológicos e o trabalho profissional, a capacitação técnicooperativa e o desenvolvimento de competências necessárias ao exercício da profissão, bem como o reconhecimento do compromisso da ação profissional com as classes trabalhadoras, neste contexto político-econômico-cultural sob hegemonia do capital (ABEPSS, 2010, p.14).

Então as atividades realizadas nos estágios supervisionados em Serviço Social I e II se basearam no conhecimento da demanda atendida, da equipe interdisciplinar da instituição, do funcionamento da instituição e das redes de apoio, também se fez uso dos instrumentos de trabalho do assistente social, como: atendimentos individuais, visitas domiciliares, relatórios de visitas, grupos de familiares e adolescentes, obteve-se a participação/colaboração em seminários e palestras da instituição, à participação em estudos sociais e elaboração do projeto de intervenção.

Já no estágio supervisionado III foram realizadas diversas atividades, e na sua maioria visando o projeto de intervenção, este que está relacionado com a questão social.

Sabe-se que a questão social é à base de trabalho do assistente social, porém,

decifrar os determinantes e as múltiplas expressões da questão social, eixo fundante da profissão, é um requisito básico para avançar na direção indicada. A gênese da questão social, encontra-se enraizada na contradição fundamental que demarca esta sociedade, assumindo roupagens distintas de cada época [...] assim, dar conta da questão social, hoje, é decifrar as desigualdades sociais – de classe – em seus recorte de gênero, raça, etnia, religião, nacionalidade, meio ambiente etc. mas decifrar, também, as formas de resistência e rebeldia que são vivenciadas pelos sujeitos sociais (IAMAMOTO, 2007, p. 114).

Entretanto, as expressões da questão social surgem através da desigualdade e de demais formas citadas acima, tendo base que,

as conseqüências da apropriação do social são as mais diversas: analfabetismo, violência, desemprego, favelização, fome, analfabetis- mo político, etc.; criando “profissões” que são frutos da miséria produzida pelo capital: catadores de papel; limpadores de vidro em semáforos; “avião” – vendedores de drogas; minhoqueiros – vendedores de minhocas para pescadores; jovens faroleiros – entregam propagandas nos semáforos; crianças provedoras da casa – cuidando de carros ou pedindo esmolas, as crianças mantém uma irrisória renda familiar; pessoas que “alugam” bebês para pedir esmolas; sacoleiros – vivem da venda de mercadorias contrabandeadas; vendedores ambulantes de frutas; etc. Além de criar uma imensa massa populacional que frequenta igrejas, as mais diversas, na tentativa de sair da miserabilidade em que se encontram (MACHADO, 2010, p.1).

Destaca-se ainda que não se possa ver a questão social, mas sim as

suas expressões, como, o desemprego, o analfabetismo, a fome, a favela, a falta de leitos em hospitais, a violência, a inadimplência, etc. Assim é que, a questão social só se nos apresenta nas suas objetivações, em concretos que sintetizam as determinações prioritárias do capital sobre o trabalho, onde o objetivo é acumular capital e não garantir condições de vida para toda a população (MACHADO, 2010, p.1).

Desde o início do curso de serviço social aprendemos que o objeto de trabalho de um assistente social são as expressões da questão social, e quem sem

ela o profissional assistente social não existiria. Também temos o conhecimento de que somos os únicos que trabalhamos para que a nossa classe profissional não exista mais, pois se não existisse mais a questão social, são se faz necessário deste meio de trabalho.

Assim neste trecho muito utilizado por todos os profissionais, podemos definir o objeto do Serviço Social, pois,

os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública, etc. Questão social que sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem, se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade. [...] a questão social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do assistente social (IAMAMOTO, 2007, p.28).

Porém, sabe-se que o serviço social é uma profissão que está em constante transformação, sendo que a partir da década de 1980 inicia-se uma busca pela sua renovação (IAMAMOTO, 2007). No entanto,

a profissão aqui compreendida como um produto histórico, e, como tal, adquire sentido e inteligibilidade na história da sociedade da qual é parte da expressão. O Serviço Social afirma-se como uma especialização do trabalho coletivo, inscrito na divisão sociotécnica de trabalho, ao se constituir em expressão de necessidades históricas, derivadas da prática das classes sociais no ato de produzir seus meios de vida e de trabalho de forma socialmente determinada. Assim se significado social depende da dinâmica das relações entre as classes e dessas com o Estado nas sociedades nacionais em quadros conjunturais específicos, no enfrentamento da “questão social” (IAMAMOTO, 2007, p. 203).

Desta maneira, ingressa o serviço social, e, “diante de alterações sociais substantivas – tais como as que atravessaram o Estado e a sociedade civil no país nas últimas décadas – a profissão viu-se obrigada a se redefinir, pois, como a sociedade burguesa” (IAMAMOTO, 2007, p.203).

Tendo como base um pouco do inicio do serviço social nos dias atuais e relatado a questão social como a principal forma de intervenção do assistente social, em março de 2010 no CREAS insere-se o projeto de intervenção, como forma de obtenção de nota da disciplina Estágio Supervisionado em Serviço Social III, tendo como nome: A Garantia de Direitos das Adolescentes Vítimas de Abuso e Exploração Sexual no Município de Ijuí – RS. Sabe-se que o abuso e a exploração sexual também são expressões da questão social, assim, o projeto teve como objetivo orientar as adolescentes dos seus direitos e deveres como cidadãs e de inseri-las na comunidade ijuiense, fortalecendo seus vínculos familiares e obtendo convívio com outras que passaram pela mesma situação que elas.

Este projeto foi realizado quinzenalmente, no qual foram realizadas coletas de dados, visitas domiciliares para assim dar início ao grupo Expressão Jovem, este que foi denominado a partir da escolha das próprias do grupo, pois é um momento em que elas podem se expressar verbalmente, com gestos ou até mesmo com trabalhos manuais.

Os objetivos propostos para a realização do projeto de intervenção foram realizados, sendo eles:

1. Assegurar às adolescentes, vítimas de abuso e exploração sexual, a efetivação dos direitos referentes à vida, à educação, ao lazer, à profissionalização, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (conforme previsto no Art. 4º do ECA), exercendo assim a condição de sujeito cidadão;

2. Criar um grupo de adolescentes com oficinas para o fortalecimento de vínculos com outras adolescentes, visando à inserção da cidadania;

3. Serão realizadas periodicamente visitas domiciliares para fins de orientação as adolescentes e familiares.

O grupo está tendo continuidade após a finalização do estágio supervisionado em Serviço Social III, sendo que o grupo iniciou-se com 2 adolescente, e no ultimo dia de estágio já estavam freqüentando aproximadamente 15 adolescentes, notando que em menos de 6 meses ocorreu uma melhora e maior satisfação nas meninas que se fazia presente.

Além do grupo, realizaram-se outras atividades cabíveis a intervenção profissional, dentre elas os instrumentos profissionais, tais como: visitas domiciliares, estudos sociais, pareceres sociais, relatos de atendimentos, participação da inserção do Projeto Ideais realizado pelo CREAS, este que tem como objetivo retirar crianças e adolescentes das ruas.

3.2 COMO SE DÁ A REINSERÇÃO SOCIAL DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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