• Nenhum resultado encontrado

4 Q UESTÕES RELEVANTES PARA O SCOPING DE AAE APLICADA EM

4.2 Experiências de avaliações ambientais de políticas públicas de

Foi realizada a busca por experiências de avaliação ambiental de políticas públicas de saneamento básico, em especial de AAE aplicada no nível de Programas, fornecendo subsídios para a pesquisa. As experiências encontradas estão relatadas a seguir, sendo verificados os assuntos suscitados relacionados a questões relevantes.

4.2.1 Avaliação ambiental do Programa Sanear II no Ceará

O Programa de Infraestrutura Básica em Saneamento do Estado do Ceará - Sanear II foi financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Teve o objetivo de ampliar o abastecimento de água e o esgotamento sanitário no Estado do Ceará, além de proporcionar o desenvolvimento institucional da área. Foi constituído pelo conjunto de Projetos de sistemas de distribuição de água e coleta de esgoto, de execução de ligações, de controle de perdas e de melhoramento operacional (CACEGE, 2005).

O Sanear II foi submetido à avaliação ambiental para o licenciamento e por solicitação do BID. Esta avaliação aproxima-se mais a uma avaliação de impactos de Projetos do que a AAE aplicada no nível de Programa. A avaliação ambiental não antecedeu a fase de Projetos, requisito básico para AAE. Os Projetos elaborados foram avaliados posteriormente em conjunto. É importante frisar que a presente

consideração se refere apenas à verificação da possibilidade do aproveitamento da experiência como referência para a utilização de AAE, não sendo realizado qualquer juízo de valor à qualidade ou efetividade do Programa ou da avaliação realizada. No entanto, a experiência serve como referência em relação aos tipos de impactos identificados, constituindo exemplos de assuntos relacionados a questões relevantes para o scoping de futuras AAEs. Foram identificados os seguintes impactos nesta experiência:

a) Poluição das águas decorrente do aumento dos volumes de efluentes sanitários. b) Saúde da população e qualidade de vida.

4.2.2 Reforma política dos componentes de abastecimento de água e de esgotamento sanitário da Argentina e da Colômbia

O Banco Mundial (THE WORLD BANK, 2005) relata a experiência do uso de AAE para a área de abastecimento de água e esgotamento sanitário na Argentina e posteriormente na Colômbia. Em ambos os casos o nível de planejamento avaliado foi o de Política.

Observam-se nas duas experiências características da AAE aplicada em Políticas: o conteúdo das avaliações se restringiu a identificar questões relevantes; o estudo de alternativas e a previsão de impactos não foram estruturados como análises técnicas e aconteceram de forma simplificada por meio da própria discussão política e participação pública; não foi informado o uso de relatórios e revisão formais e houve a influência na tomada da decisão, concorrendo para a reforma política da área. Os impactos citados nas avaliações são exemplos de assuntos relacionados a questões relevantes:

a) O uso ineficiente da água com altos índices de perdas - entre as causas foram citados vazamentos nos sistemas de distribuição e nos domicílios, manutenção deficitária, uso inadequado da água e hábitos de consumo insustentáveis.

b) A poluição das águas por meio dos lançamentos de esgoto sanitário sem tratamento e disposição inadequada de resíduos sólidos.

c) Os impactos na saúde da população nas comunidades vulneráveis decorrente da poluição das águas.

d) Ocorrência de alagamentos com águas poluídas, concorrendo para o comprometimento da saúde das comunidades afetadas.

e) Organização institucional precária, sem arcabouço legal adequado e com atuação deficitária das instituições responsáveis.

4.2.3 Avaliação das Políticas nacionais de esgotamento sanitário do Peru, de Gana e do Nepal

A Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional - USAID, por meio do Programa de Saúde Ambiental (EHP, 2002), elaborou um guia orientador com diretrizes para avaliação de Políticas nacionais de esgotamento sanitário de países em desenvolvimento. Este Programa considera que a ausência de políticas públicas de esgotamento sanitário é uma conexão que falta para a universalização dos serviços. O objetivo do guia é orientar a adequação das Políticas de esgotamento sanitário, constituindo uma ferramenta útil para manter o foco nas questões chave, proporcionar metodologia para coleta de dados e dicas para a avaliação de campo. Este guia foi utilizado como base para a avaliação Política nacional do Peru (EHP, 2004). A organização não governamental Water Aid, por meio de sua seção em Gana (WATER AID GHANA, 2005), também utilizou a metodologia proposta no país. O Centro de Água, Engenharia e Desenvolvimento da Universidade de Loughborough (WEDC, 2005) aplicou o guia no Nepal. O guia orientador (EHP, 2002) propôs as seguintes questões, a serem adaptadas em cada avaliação.

a) A vontade política: deve ser realizada uma avaliação da capacidade institucional e política do país em relação à área de esgotamento sanitário.

b) A aceitação da política de esgotamento sanitário: a relevância da política e a possibilidade de melhoras efetivas depende da mobilização eficaz da sociedade, engloba a verificação da implementação da Política e o comprometimento e empoderamento do público.

c) A existência de arcabouço legal: avaliação da legislação existente, da sua efetividade e sua relação com outras Políticas setoriais.

d) Segmentação pública: atendimento dos principais tipos de públicos e comunidades, a exemplo da população de grandes cidades, pequenas cidades e áreas rurais.

e) Níveis de serviço: verificação dos tipos de tecnologia de saneamento utilizados, avaliação da sua adequação em relação aos segmentos públicos e à definição da qualidade mínima aceitável.

f) Considerações sobre a saúde: os impactos percebidos do saneamento para a saúde pública.

g) Considerações ambientais: poluição das águas, percepção do entendimento da degradação do ambiente e sua consideração nas políticas públicas.

h) Considerações financeiras: custos de implantação, manutenção, operação, capacitação, desenvolvimento institucional e participação pública, fontes de recursos definidas.

i) Papéis institucionais e responsabilidades: identificação das atribuições e avaliação das agências existentes.

j) Equilíbrio entre as dimensões técnicas, políticas e sociais: avaliação das dimensões e verificação da existência de desequilíbrio.

A metodologia restringiu a avaliação aos itens predeterminados, o que limitou a possibilidade de inclusão de novas questões. Há que se considerar a sugestão original de adaptação e flexibilidade do modelo. No entanto, nos três casos não houve proposição de novas questões.

Apesar da identificação da dimensão biofísica nas avaliações, foi percebida maior preocupação com os aspectos sociais e econômicos. Os impactos da poluição decorrente dos esgotos sanitários na gestão das bacias hidrográficas e das águas, por exemplo, foi citado com menor ênfase.

Apesar das avaliações não terem sido consideradas AAEs, a proposta dos três trabalhos foi influenciar a reforma das Políticas nacionais de esgotamento sanitário. Houve a preocupação em manter o foco da avaliação nas questões chave, o que tem o aspecto positivo de evitar a dispersão do trabalho, de forma análoga à AAE.

4.2.4 Conclusão sobre as experiências

Entre os casos pesquisados não foram encontradas experiências do uso do instrumento de AAE para avaliação no nível de Programa para a área de saneamento básico. A avaliação do Programa Sanear II do Ceará aproxima-se mais de uma avaliação de Projetos, enquanto os demais casos foram avaliações de Políticas. As experiências analisadas, no entanto, forneceram elementos importantes que contribuem para a definição de questões relevantes para a AAE, relacionadas no Quadro 29.

Quadro 29 - Assuntos suscitados relacionados a questões relevantes observados em experiências de avaliação ambiental na área de saneamento

- O uso ineficiente da água com altos índices de perdas.

- Poluição das águas por meio dos lançamentos de esgotos sanitários.

- Percepção da degradação do ambiente e sua consideração nas políticas públicas. - Os impactos percebidos do saneamento para a saúde pública.

- Mobilização social. - Grupos mais vulneráveis.

- Promoção de um processo de aprendizado social. - Comprometimento e empoderamento do público.

- Avaliação das fraquezas e falhas que dificultam a gestão ambiental.

- Avaliação da capacidade institucional e política em relação à área de saneamento.

- Existência de arcabouço legal: avaliação da legislação existente, da sua efetividade e sua relação com outras Políticas setoriais.

- Papéis institucionais e responsabilidades: identificação das atribuições e avaliação das agências existentes.

- Segmentação pública: verificação do atendimento dos principais tipos de públicos e comunidades, a exemplo da população de grandes cidades, pequenas cidades e áreas rurais.

- Níveis de serviço: verificação dos tipos de tecnologia de saneamento utilizados. - Avaliação da adequação da tecnologia em relação aos segmentos públicos.

- Definição da qualidade mínima aceitável dos serviços públicos de saneamento básico.