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CAPÍTULO I ABORDAGEM METODOLÓGICA 27 1.1 OBJETIVOS

ABORDAGEM METODOLÓGICA

1.2 EXPLICITAÇÃO DO CAMINHO DA INVESTIGAÇÃO

Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa, uma vez que é pensada e gestada com base na participação dos sujeitos, ou seja, “são qualitativas porque não existe relato ou descrição da realidade que não se refira a um sujeito” (DEVECHI; TREVISAN, 2010, p. 3).

Tendo, como pano de fundo, a Teoria da Ação Comunicativa, do filósofo alemão Jürgen Habermas (2012), identificamos, interpretamos e compreendemos a dinâmica constitutiva do Grupo de Análise Narrativa Discursiva para a elaboração de uma análise narrativa discursiva grupal.

Via abordagem hermenêutica-reconstrutiva, analisamos os discursos dos sujeitos da pesquisa, tendo como paradigma dois modelos amplos de racionalidade: a filosofia da subjetividade ou da consciência e a filosofia da intersubjetividade, presentes nos aportes teóricos de Habermas (2012).

A pesquisa ocorreu na Universidade Federal de Santa Maria, instituição pública federal, localizada no interior do Estado do Rio Grande do Sul desde 1960 e o contexto foi o GTFORMA.

Os sujeitos (Apêndice A) foram as integrantes do novo grupo que se formou e se intitulou Grupo de Análise Narrativa Discursiva (GAND). Contou com a participação da líder do GTFORMA, de estudantes e ex-estudantes do mestrado e doutorado, estudantes da iniciação científica e participantes externos que se engajaram para realizar uma análise narrativa discursiva grupal. O GAND, ao qual a

pesquisadora também faz parte, iniciou com 19 integrantes. Permaneceram até o fim da pesquisa 17 pessoas, todas do sexo feminino.

O GAND teve 25 encontros no total. Porém, analisamos 15 reuniões, pois foram nesses encontros que ocorreu a sua constituição. Assim, como coleta de informações, efetivaram-se os 15 encontros que foram transcritos; entrevistas semiestruturadas com os subgrupos11 formados dentro do grupo maior, cujo objetivo foi registrar e compreender como ocorreu a organização dos mesmos, quais impressões tiveram do trabalho coletivo desenvolvido e o entendimento de cada uma sobre pesquisa. Também utilizamos de apoio o diário de campo da pesquisadora que serviu para complementar as informações.

As reuniões do grupo tiveram início no segundo semestre do ano de 2012 e aconteceram quinzenalmente. As entrevistas com os subgrupos começaram no segundo semestre do ano de 2015 e finalizadas no segundo semestre de 2016. Foram gravadas e realizadas, coletivamente, de acordo com a disponibilidade de horário das entrevistadas, na cidade de Santa Maria/RS. Visando preservar a identidade das integrantes do GAND, elas são identificadas, no corpo deste trabalho, como IGAND1, IGAND2, IGAND3 e assim sucessivamente até chegar na IGAND17. As questões propostas (Apêndice B) às integrantes foram perguntas sem uma sequência pré-estabelecida e serviram como guia para a entrevistadora.

O primeiro subgrupo entrevistado era composto por sete integrantes; o segundo subgrupo, por quatro; e o terceiro por cinco membros. Nessa distribuição, vale lembrar que a coordenadora do grupo não participou dos subgrupos.

Após a transcrição das reuniões e das entrevistas, foram escolhidos recortes para análise os quais foram selecionados conforme os objetivos da proposta e que forneceram marcas de racionalidade. Racionalidade revela um determinado modelo de comportamento humano e é entendida como uma manifestação inata da capacidade humana. Desse modo, as marcas de racionalidade encontradas nas falas das integrantes possibilitaram a interpretação dos sentidos apresentados pelas integrantes para desvendar a constituição do GAND a partir da compreensão das duas mais importantes formas de racionalidade filosófica: a filosofia da subjetividade ou da consciência e a filosofia da intersubjetividade ou da linguagem, aproveitada sob a forma de comunicação.

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Habermas (1989) entende que o importante, na interpretação hermenêutica, para que se possa assegurar a validez de seus procedimentos, o intérprete deve recorrer a padrões de racionalidade. Ou seja, o filósofo afirma que todo esforço de compreensão se sustenta em uma racionalidade. Dessa forma, a compreensão do que foi interpretado, depende do quanto os intérpretes estão dispostos a participar em determinada situação de comunicação. O autor considera que não é possível compreender sem que essa disposição esteja apoiada em alguma pretensão de interpretação racional das razões evocadas por alguém, de modo a justificar, nos momentos de interação, suas escolhas, argumentos e estratégias.

Stein (1996, p. 107) em seus escritos sobre hermenêutica, também sugere que “[...] temos que definir o paradigma no qual os textos que vamos enfrentar e ler se situam. Em que paradigmas se movem, onde nós nos movemos”. Portanto, não basta apenas caracterizar as racionalidades onde as narrativas se situam, mas também é preciso um aspecto fundamental explicitar a partir de qual racionalidade ou paradigma estamos pronunciando nossos juízos; a partir de qual lugar ou horizonte estamos realizando esta leitura hermenêutica. Os paradigmas, portanto, têm “[...] um modelo teórico determinado, têm um conceito determinado de racionalidade, de verdade, de método” (STEIN, 1996, p. 107) e é no interior desses paradigmas que os nossos conceitos encontram ressonância.

A racionalidade revela um paradigma que não se manifesta, mas está subentendido, um modelo aproximado, certo padrão que permite descrever, orientar ou mesmo compreender uma situação, um fato ou uma prática qualquer. No entanto, essa é uma marca, bem como uma meta que acompanha a filosofia desde sua constituição.

Logo, podemos entender racionalidade como o homem percebe, interpreta, compreende e pronuncia o mundo da vida nos mais diferentes momentos e aspectos. Racionalidade não é algo que nasce com o indivíduo, que ele tenha dentro se si como uma inclinação, uma vontade ou, até mesmo, um impulso. Ela não constitui, portanto, nenhuma instância superior ou inferior a priori. Tampouco pode ser entendida como uma capacidade crítica para averiguar ou discernir o que é certo ou errado. Antes de qualquer consideração, racionalidade revela um determinado modelo de comportamento humano. Por isso, ela configura um paradigma de leitura da realidade e de intervenção sobre a mesma. É um conceito amplo, que nem sempre só tem um significado, que se aplica às diferentes formas de a razão se

manifestar e de se exercitar. Stein (1988), por exemplo, entende que os paradigmas são propostas de racionalidade. “Os paradigmas surgem por isso. São propostas de racionalidade. Racionalidades coexistentes. Eles não são um acontecimento sociológico apenas. Não são redutíveis ao somente fático” (STEIN, 1988, p. 19).

Para Habermas (2002, p. 227), “usando da racionalidade cada indivíduo é capaz de interpretar padrões de valores adquiridos em sua cultura e postar uma atitude reflexiva de interpretação perante isso”. Porque compartilham os mesmos padrões de valores, a mesma cultura e mesmo contexto histórico, os falantes são capazes de interagir, de se entenderem sobre algo do mundo objetivo e alcançarem um consenso.

A racionalidade humana precisa ser estendida para um sentido amplo, ou seja, intersubjetivo, cujo telos12 orientador seja o entendimento. Ela não pode continuar sendo reprimida por uma razão que possibilita somente uma dimensão. Na ótica do paradigma da compreensão intersubjetiva os conhecimentos resultam de um entendimento, fundado em razões entre os participantes de um processo, numa “situação ideal de fala”. Aqui se pode apontar uma referência fundamental para a formação de pesquisadores: a autoridade científica, requerida pela epistemologia clássica, migra para uma visão descentrada do mundo, fruto de entendimentos entre os diferentes interlocutores que podem produzir saberes diversos e plurais. Para Habermas (2000, p. 438): “A razão comunicativa manifesta-se em uma compreensão descentrada do mundo”.

A interlocução de saberes pressupõe entendimento entre os interlocutores sobre algo. “Assim, não há instância alguma, fora do mundo prático, para dar conta da racionalidade e da legitimação que conduz o agir pedagógico. O necessário é que a educação esclareça os limites dessa nova justificação, ou seja, ela não é mais justificada substancialmente, mas procedimentalmente, o que implica o reconhecimento de uma fundamentação mais fraca e vulnerável” (HERMANN, 1999a, p. 124, grifo do autor). A dimensão processual refere-se à forma como o ato pedagógico pode ou deve ser conduzido para que haja interação comunicativa e entendimento intersubjetivo entre os sujeitos que participam de um processo. Portanto, é importante uma racionalidade sistêmica e comunicativa que possibilite a

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interação entre os sujeitos e os diferentes saberes, que considere os problemas do ser humano e da vida, em geral, como um todo complexo.

Identificar, interpretar e compreender uma realidade a partir do horizonte da hermenêutica-reconstrutiva significa apresentar compreensões que permitam repensar as diversificadas contribuições dadas, sempre a partir de uma interpretação mais ampla. Assim, a proposta nesta pesquisa foi beneficiar-se dos conhecimentos que cada uma tinha sobre o tema, sempre objetivando encontrar um tratamento adequado para o problema por meio do discurso e da reflexão conjunta, priorizando o entendimento e não, a dominação do outro. Por isso, é preciso buscar nos espaços coletivos a compreensão humana e do mundo, contemplando o encontro com o outro, pondo-nos sempre na escuta, dialogando e abrindo a possibilidade da fala e da argumentação.

Desse modo, com o intuito de melhor explicar a metodologia adotada nesta pesquisa, na sequência, demonstramos a sistematização do caminho investigativo, por meio de figura ilustrativa.

Figura 1 - Esquema demonstrativo da metodologia adotada nesta pesquisa