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Dimitrova (2005) investiga, focando a perspectiva processual, o fenômeno da explicitação na tradução e sua relação com a expertise do tradutor. A pesquisadora averigua como tradutores novatos e profissionais processam relações coesivas implícitas no texto de partida, durante o processo de tradução do russo para o sueco, e identifica dois tipos de explicitação: explicitação governada por norma e explicitação estratégica. A primeira ocorre na tradução de trechos que não apresentam problemas para o tradutor e são governadas pelas normas do sistema linguístico, enquanto a segunda ocorre durante a resolução de problemas de tradução e se dão por opção do tradutor. Seus

resultados apontam que os sujeitos tendem a explicitar os conectivos no texto de chegada e, enquanto tradutores profissionais apresentam maior ocorrência de explicitações governadas por norma, tradutores novatos apresentam maior ocorrência de explicitações estratégicas.

Já Klaudy & Károly (2005) adotam a metodologia de anotação de corpora para investigar a ocorrência de explicitação e implicitação em textos traduzidos. A partir de um estudo empírico sobre verbos de elocução em traduções de textos literários do inglês para o húngaro e do húngaro para o inglês, as autoras buscam obter evidências para a hipótese da assimetria (KLAUDY, 2001), de acordo com a qual explicitações que ocorrem em traduções de uma L1 para uma L2 não correspondem, necessariamente, a implicitações em traduções de L2 para L1. Klaudy & Károly afirmam que tanto a explicitação quanto a implicitação podem ocorrer como processo automático ou estratégia consciente de tradução. As autoras também diferenciam entre explicitação/implicitação obrigatória, que ocorre devido a imposições do sistema linguístico, de explicitação/implicitação opcional, que ocorre por escolha do tradutor17. Os resultados do estudo de Klaudy & Károly apresentam evidências para a hipótese da assimetria e apontam que a explicitação (mais especificamente, a utilização de verbos de elocução mais específicos) ocorre na tradução do inglês para o húngaro, mas a implicitação não ocorre na tradução do húngaro para o inglês. Esses resultados podem ser interpretados como indício de que a explicitação é um fenômeno próprio da tradução.

Steiner (2005) e Hansen-Schirra et al. (2007) também lidam com o fenômeno da explicitação a partir de uma metodologia de anotação de corpora. Os autores buscam averiguar empiricamente se textos traduzidos são mais explícitos do que seus

17 Essas categorias podem ser correlacionadas com as categorias identificadas por Dimitrova (2005) no processo de tradução. A explicitação governada por norma corresponderia à explicitação obrigatória, enquanto a explicitação estratégica corresponderia à explicitação opcional.

respectivos originais. Para tal, Steiner e Hansen-Schirra et al. diferenciam explicitação de explicitude. A explicitude é considerada uma propriedade do texto e pode ser mensurada por padrões lexicogramaticais, enquanto a explicitação é um processo ou produto do texto, sendo que a explicitude é considerada pelos autores uma evidência de densidade informacional e de metáfora gramatical.

Steiner adota o conceito de metáfora gramatical de Halliday & Matthiessen (1999, 2004), mais especificamente o conceito de metáfora gramatical ideacional, em seus estudos. A metáfora gramatical ideacional ocorre quando o conteúdo semântico sofre um remapeamento em sua realização lexicogramatical. Uma sequência é tipicamente realizada de forma congruente por um complexo oracional, uma figura por uma oração e um elemento por um grupo nominal. No processo de metaforização ocorre uma mudança de nível e a sequência passa a ser realizada por uma oração ou um grupo nominal, enquanto a figura passa a ser realizada por um grupo nominal. O elemento também pode sofrer transcategorização e passar a ser realizado por uma categoria diferente da usual (p.e., um processo, que é usualmente realizado por um verbo, pode ser realizado por um substantivo). Com isso, uma unidade gramatical passa a exercer a função de outra no texto. Além da mudança de nível e da transcategorização, o que define a metáfora gramatical18 é a ocorrência de uma fusão ou junção de duas categorias semânticas. Quando um processo é construído como um substantivo, p.e., ele passa a exercer a função de ente (Thing) na estrutura da oração e, ao mesmo tempo, mantém as características de um processo.

Durante o processo de metaforização ocorre perda de conteúdo ideacional e, por isso, a estrutura metafórica é mais ambígua do que a estrutura congruente. A

18 Sempre que houver referência a metáfora gramatical no texto daqui por diante, estarei fazendo referência especificamente ao conceito de metáfora gramatical ideacional de Halliday & Matthiessen (1999, 2004). Halliday & Matthiessen também apresentam o conceito de metáfora gramatical interpessoal, que, no entanto, não será abordado aqui.

metaforização também tem efeito sobre as meta-funções textual e interpessoal. Ao mesmo tempo em que possibilita e tematização de elementos que, na construção congruente, não poderiam ocupar a posição temática, elimina a possibilidade de negociação interpessoal ao criar um novo mapeamento entre o conteúdo ideacional e proposições/propostas interpessoais.

A FIG. 1 apresenta um quadro com as possibilidades de realização metafórica.

FIGURA 1: Possibilidades de realização metafórica Fonte: Halliday & Matthiessen (1999, p. 264)

Como podemos observar na FIG. 1, a metáfora gramatical ideacional promove um movimento em direção ao ente, assim como do ente em direção à qualidade, o que, por sua vez, permite novas expansões do ente. Ocorre uma mudança de padrões oracionais para padrões nominais, sendo a nominalização um recurso usual de metaforização. Semanticamente, ocorre uma mudança do componente lógico para o componente experiencial.

Entre uma construção metafórica e sua variante congruente, geralmente há construções intermediárias e, dentro desse contínuo, Halliday & Matthiessen falam de construções mais ou menos metafóricas. Além disso, a metáfora gramatical costuma

ocorrer em blocos e um efeito metafórico desencadeia outro(s) dentro de um mesmo trecho de texto.

De acordo com Halliday & Matthiessen (1999), as relações semânticas entre os elementos e as orações tornam-se menos explícitas com o aumento do grau de metaforicidade. Sendo assim, a identificação de estruturas mais ou menos explícitas pode ser considerada evidência de construções mais ou menos metafóricas, e o estudo do fenômeno da explicitação pode ser associado a processos de (des)metaforização, como veremos na próxima seção. No entanto, Steiner (2004) lembra que a explicitação não está necessariamente relacionada a construções menos metafóricas, pois há casos de elipse ou explicitação de termos que não implicam em aumento do nível de metaforicidade da construção, e isso deve ser levado em consideração na investigação das propriedades dos textos traduzidos.