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Como o processo de desmetaforização pode estar associado a características do sistema linguístico, a características do registro do texto, assim como a fatores culturais, nem sempre é possivel isolar esses fatores e identificar quando o processo de desmetaforização se dá especificamente devido ao processo de compreensão durante a tradução (STEINER, 2004). Dando continuidade à proposta de Hansen (2003) de investigar a hipótese da desmetaforização tanto da perspectiva do produto quanto do processo, Alves et al. (2010), em um artigo que apresenta os primeiros resultados das pesquisas desenvolvidas no âmbito do projeto PROBRAL 292/08, resultante da parceria entre os pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade do

Sarre, combinam a metodologia de corpus com uma abordagem processual para investigar processos de (des)metaforização19 ao longo do processo de tradução.

Nos estudos de corpora conduzidos pelos pesquisadores da Universidade do Sarre, o alinhamento dos textos é feito a partir do pareamento de unidades gramaticais (STEINER, 2005), já nas pesquisas de abordagem processual realizadas no âmbito do LETRA, na UFMG, os segmentos e as unidades de tradução são identificados ao longo do processo de tradução a partir da identificação de pausas.

A unidade de tradução consiste em todo e qualquer trecho do processo de produção do texto de chegada que ocorre entre duas pausas de valor arbitrário, definido pelo pesquisador, identificadas por meio dos protocolos produzidos pelo programa Translog, e que corresponde a um trecho do texto de partida que constitui o foco de atenção do tradutor em um dado momento do processo de tradução (ALVES, 2000; DRAGSTED, 2004).

Alves & Vale (2009) diferenciam ainda unidade de tradução de segmento. A unidade de tradução engloba qualquer trecho do processo de tradução entre duas pausas, inclusive trechos em que não ocorre produção textual (p.e., quando o tradutor pausa para uma consulta a fonte externa e não realiza nenhuma produção textual), enquanto o segmento corresponde a um trecho entre duas pausas que envolve necessariamente produção textual.

Enquanto em pesquisas de processo de tomada de decisão que envolvem a classificação dos tipos de apoio, conforme o estudo apresentado no CAP. 1, são classificadas todas as unidades de tradução, em pesquisas sobre segmentação (DRAGSTED, 2004; MATIAS, 2007; SILVA, 2007; RODRIGUES, 2009), são

19 Processos de (des)metaforização envolvem tanto ocorrências de metaforização como de desmetaforização. Quando o termo está grafado sem os parênteses, a referência é a processos de desmetaforização especificamente. Quando o termo está grafado com os parênteses, me refiro aos dois processos que podem ocorrer ao longo da tradução (metaforização e desmetaforização).

classificados os segmentos que ocorrem ao longo do processo de produção do texto de chegada, desconsiderando-se as unidades de tradução que não envolvem produção textual.

Dragsted (2004, 2005) realizou um estudo sobre o efeito do conhecimento experto e do uso de um SMT sobre o processo de segmentação de tradutores profissionais e novatos. Associando segmentos identificados empiricamente no processo de tradução de seus sujeitos de pesquisa a categorias linguísticas, a pesquisadora estabeleceu as seguintes categorias para a classificação dos segmentos: palavra, grupo/sintagma, oração, sentença e segmento transsentencial (que engloba mais de uma sentença). Uma outra categoria estabelecida pela pesquisadora foi a de segmentos não- sintáticos, classificados assim por não se encaixarem em nenhuma das outras categorias sintáticas anteriores. Os segmentos não-sintáticos indicam interrupção no fluxo de produção textual, geralmente devido a algum problema de tradução.

Rodrigues (2009) replicou a metodologia de Dragsted nos dados do projeto SEGTRAD, com o intuito de investigar o efeito do uso de um SMT no processo de segmentação de tradutores profissionais brasileiros, nos pares linguísticos alemão- português e inglês-português. No entanto, Rodrigues identificou uma sobreposição das categorias oração e sentença em seus dados e optou por descartar a categoria sentença. A pesquisadora acrescentou ainda a categoria complexo oracional, conforme definida por Halliday & Matthiessen (2004), em sua classificação de dados20.

Durante a classificação dos dados no trabalho de Rodrigues (2009), os segmentos identificados nos protocolos de produção do texto de chegada, a partir da identificação de pausas, foram pareados com os trechos correspondentes do texto de partida. Após o alinhamento dos segmentos do texto de chegada com os respectivos

20 Nascimento (2009) e Silva (2009) replicam a metodologia adotada por Rodrigues (2009) em seus trabalhos de iniciação científica e de monografia de final de curso, respectivamente, realizados no âmbito do projeto SEGTRAD.

trechos do texto de partida, puderam ser observadas algumas diferenças entre os segmentos alinhados, o que é apontado por Alves et al. (2010) como evidência de empty links e crossing lines e, consequentemente, de ocorrência de (des)metaforização.

Silva (2007) também observou diferenças entre segmentos do TP e do TC em sua pesquisa, os quais denominou segmentos não-alinhados. Tais segmentos correspondem a casos tanto de empty links como de crossing lines e sua ocorrência foi relacionada à ocorrência de processos de (des)metaforização na pesquisa de Silva. O autor investigou o processo de (des)metaforização nos dados de um de seus sujeitos de pesquisa e identificou a ocorrência tanto de processos de metaforização como de desmetaforização. Silva comparou o grau de metaforicidade do texto de chegada com o grau de metaforicidade do texto de partida e demonstrou como o sujeito chegou à tradução de cada um dos trechos de seu texto de chegada a partir de dados do processo de tradução, mas não observou a ocorrência de processos de (des)metaforização ao longo do processo, especificamente.

Alves et al. (2010) propõem replicar a metodologia utilizada pelos pesquisadores da Universidade do Sarre para demonstrar como o processo de (des)metaforização se desenrola ao longo do processo de tradução. Os autores sugerem aplicar as categorias adotadas por Hansen (2003) e Silva (2007) (metaforização, desmetaforização e remetaforização) aos segmentos identificados nos protocolos de produção textual do texto de chegada. Evidências para a ocorrência de (des)metaforização podem ser obtidas a partir da identificação de crossing lines e empty links, que, conforme apontado anteriormente, podem ser identificados a partir do pareamento dos segmentos do texto de chegada com os respectivos trechos do texto de partida.

Para dividir um texto em segmentos, Dragsted calcula o valor de pausa para cada sujeito individualmente, enquanto os pesquisadores do projeto SEGTRAD adotam

pausas de cinco segundos, conforme foi feito no CAP. 1, para a identificação das unidades de tradução. No entanto, para identificar processos de (des)metaforização ao longo do processo de tradução, Alves et al. propõem dividir os segmentos utilizando pausas de um segundo, já que, em um primeiro estudo, foram encontradas evidências de que os processos de (des)metaforização geralmente estão relacionados a pausas mais curtas.

A aplicação dos conceitos de micro e macro-unidades, apresentados por Alves & Vale (2009), também se mostrou frutífera na identificação de processos de (des)metaforização ao longo do processo de tradução. A micro-unidade consiste em um segmento de produção do texto de chegada que ocorre entre duas pausas, correspondente à tradução de um trecho do texto de partida que consiste no foco de atenção do tradutor. A macro-unidade consiste no conjunto de micro-unidades correspondentes a toda produção textual, ao longo do processo de tradução, relativas a um mesmo trecho do texto de partida (ALVES & VALE, 2009:257). Alves et al. (2010) constataram que, em alguns casos, o processo de (des)metaforização de um mesmo trecho é subdividido em mais de uma micro-unidade, sendo que algumas dessas unidades podem ocorrer durante a fase de revisão do processo de tradução.

A análise que será apresentada neste capítulo da tese visa complementar a análise apresentada no CAP. 1, e dar continuidade às pesquisas apresentadas nesta seção, desenvolvidas no âmbito do projeto PROBRAL 292/08. Pretende-se investigar a ocorrência de processos de (des)metaforização no processo de tradução de tradutores profissionais brasileiros, assim como o efeito do uso de um SMT e da pressão de tempo na ocorrência desse tipo de processo. Tendo como base os estudos e conceitos discutidos acima, apresento, a seguir, a metodologia de análise adotada neste capítulo.

2 Metodologia de Análise