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FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA

2.2 EXPLICITANDO A PESQUISA QUALITATIVA

Neste estudo, trabalhamos com os fundamentos da pesquisa qualitativa. Sua escolha motivou-se pelas amplas possibilidades que essa modalidade oferece ao pesquisador no estabelecimento de uma comunicação mais aberta com o campo de investigação e seus sujeitos, permitindo a contemplação da sua subjetividade, da mesma forma daqueles que estão sendo investigados, diferentemente dos modelos quantitativos que procuram isolar ao máximo essa comunicação. Tal flexibilidade proporcionou uma abordagem mais ampla durante todo o processo investigativo, por ter considerado, além de aspectos relativos à subjetividade, os sentimentos, atitudes, posturas, entre outras características do objeto deste estudo (o professor) e do próprio sujeito desta investigação (o pesquisador).

Para esse entendimento e escolha do método utilizado, recorremos a Flickque salienta a importância da reflexividade para o pesquisador ao adotar a pesquisa qualitativa em suas investigações:

[...] de modo diferente da pesquisa quantitativa, os métodos qualitativos consideram a comunicação do pesquisador com o campo e seus membros como parte explícita da produção de conhecimento, ao invés de excluí-los ao máximo como uma variável intermédia. As subjetividades do pesquisador e daqueles que estão sendo estudados são parte do processo de pesquisa. As reflexões dos pesquisadores sobre suas ações e observações no campo, suas impressões, irritações, sentimentos, e assim por diante, tornam-se dados em si mesmos, constituindo parte da interpretação, sendo documentadas em diários de pesquisas ou em protocolos de contexto. (FLICK, 2004, p. 22).

Outro importante aspecto que serviu de estímulo e apoio para elegermos essa

modalidade de pesquisa (qualitativa), na realização da coleta e análise de dados do campo investigativo, ocorreu por reconhecermos sua relevância no campo das ciências sociais, que contempla a área da Educação. Nesse campo disciplinar, elementos como o caráter pessoal e temporal dos atores envolvidos na investigação (sujeito e objeto) são amplamente valorizados:

A pesquisa qualitativa é orientada para a análise de casos concretos em sua particularidade temporal e local, partindo das expressões e atividades das pessoas em seus contextos locais. Portanto, a pesquisa qualitativa está em condições de traçar caminhos para a psicologia e as ciências sociais concretizarem as tendências mencionadas por Toulmin (1990), de transformá-las em programas de pesquisa e de manter a flexibilidade necessária em relação a seus objetivos e tarefas. (FLICK, 2004, p. 28-29).18

Apesar de seus benefícios, a pesquisa qualitativa exigiu atenção redobrada e adoção de medidas visando “neutralizar” os riscos inerentes à sua aplicação. Uma dessas medidas foi exatamente o aprofundamento da revisão bibliográfica, mais adiante comentada. Deslandes et

al. (1994) apontavam esses riscos quando tratou dos três obstáculos básicos, apresentados por

Minayo (1992), para uma análise eficiente nessa modalidade de pesquisa que poderiam, se não considerados, ter comprometido o nível de cientificidade do estudo:

18 Selhorst Júnior (2008, p. 25) descreve as tendências apontadas por Toulmin (1990): “- o retorno ao oral, que se manifesta em tendência na formulação de teorias e na realização de estudos empíricos em filosofia, lingüística, literatura e ciências sociais, em narrativas, linguagem e comunicação; - o retorno ao particular, que se manifesta na formulação de teorias e na realização de estudos empíricos [...]; - o retorno ao local, que encontra sua expressão no estudo de sistemas do conhecimento, práticas e experiências, novamente no contexto daquelas tradições e formas de vida (locais) nas quais estão fixados [...]; - o retorno ao oportuno, manifesto na necessidade de dispor os problemas a serem estudados e as soluções a serem desenvolvidas dentro de seu contexto temporal ou histórico, e de descrevê-los neste contexto e explicá-los a partir dele.”

[...] o primeiro diz respeito à ilusão do pesquisador em ver as conclusões, à primeira vista, como ‘transparentes’ [...] Quanto maior for a familiaridade que o pesquisador tenha em relação àquilo que ele está pesquisando, maior poderá ser a sua ilusão de que os resultados sejam óbvios numa primeira visão.O segundo obstáculo se refere ao fato de o pesquisador se envolver tanto com os métodos e as técnicas a ponto de esquecer os significados presentes em seus dados. Por último, o terceiro obstáculo para uma análise mais rica da pesquisa qualitativa relaciona-se à dificuldade que o pesquisador pode ter em articular as conclusões que surgem dos dados concretos com conhecimentos mais amplos ou mais abstratos. Esse fato pode produzir um distanciamento entre a fundamentação teórica e a prática da pesquisa. (DESLANDES et al., 1994, p. 68-69).

Cientes dessas possíveis barreiras apontadas por Minayo, primeiramente procuramos aprofundar na revisão bibliográfica não apenas a literatura relativa aos fundamentos teóricos do estudo, mas os metodológicos também. A partir do momento em que nos sentimos mais municiados e seguros, no ponto de vista da metodologia empregada, conseguimos assumir uma postura de maior neutralidade durante a realização das entrevistas semiestruturadas e, principalmente, na observação participante. Desse modo, encaramos aqueles momentos apenas como integrantes da fase de levantamento, e não de análise ou de conclusões que ocorreriam posteriormente.

Para evitar o envolvimento excessivo com as técnicas e os métodos empregados, fizemos numa única folha de papel a síntese do estudo, contemplando: o tema central; seu objeto de estudo; o problema; e os objetivos geral e específicos. A folha foi mantida sempre presente a cada fase do estudo de modo a não se perder o foco da investigação. Assim, os dados coletados em campo, que serviram para elucidar o “problema” e cumprir os propósitos, puderam ser sempre valorizados.

Durante a fase de análise e posteriores conclusões, fundamentamo-nos no referencial teórico levantado inicialmente e mais adiante revisado, de modo a não distanciar os dados coletados em campo da base teórica correspondente. O que fizemos, na realidade, foi analisar os dados de campo à luz da fundamentação teórica existente sobre o tema em questão – saberes docentes e práticas de ensino no nível superior.