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Projeto 2: A pele e exposição solar – Fotoenvelhecimento

3) Exposição solar e efeitos na pele

3.1) Fotótipo da pele

Um dos constituintes fundamentais da pele é a melanina, uma proteína produzida pelos melanócitos, responsável por conferir pigmentação à pele, pela proteção contra a radiação UV e com algumas evidências de desempenhar funções importantes na regulação da homeostase da epiderme. Na pigmentação cutânea reside o principal mecanismo de proteção contra a agressão solar, responsável pelo fotoenvelhecimento e carcinogénese [74].

Existem diferentes tipos de pele, associados a diferentes suscetibilidades à exposição solar, o que levou ao desenvolvimento de um sistema de classificação clínica que permite determinar o fotótipo de pele de cada individuo. O fotótipo de pele (tabela 2) foi criado por Thomas B. Fitzpatrick, tendo por base relatos de sensibilidade ao eritema e capacidade de bronzeamento. Este sistema consiste numa graduação numérica (do I ao VI) que reflete o grau de coloração da pele e o seu nível de sensibilidade aos danos causados pela radiação ultravioleta [75,76].

O fotótipo I e II são característicos de peles mais claras e que apresentam maior suscetibilidade a danos externos, enquanto que os fotótipos V e VI são representativos de peles mais escuras, que apresentam maior resistência [77].

3.2) Fotoenvelhecimento

A pele é o órgão que mais espelha os sinais do tempo e do envelhecimento, passando por processo de deterioração constante ao qual designamos de envelhecimento cronológico ou intrínseco. Quando este processo de envelhecimento é intensificado pela radiação solar, estamos perante um processo designado por fotoenvelhecimento ou envelhecimento extrínseco. O fotoenvelhecimento é condicionado pelo grau de exposição solar e pelo grau de pigmentação cutânea [78].

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3.2.1) Radiação solar

A radiação UV é a principal responsável pelo envelhecimento extrínseco da pele, provocando um desequilíbrio no balanço entre a produção de espécies reativas de oxigénio (ROS) e a sua neutralização por parte dos antioxidantes endógenos, o que causa um elevado stress oxidativo. As ROS são capazes de provocar peroxidação lipídica das membranas celulares, alterar a estrutura e função de várias enzimas e ainda levar à oxidação de vários componentes celulares. Os efeitos referidos anteriormente são responsáveis por alterações histológicas que marcam a diferença entre as diferentes regiões da pele, expostas ou não à radiação UV [79].

Existem três tipos de radiação UV de acordo com o seu comprimento de onda: UV-A (315-400 nm), UV-B (280-315 nm) e UV-C (100-280 nm) sendo esta última totalmente filtrada a nível da camada do ozono e por isso, apenas as radiações UV-A e UV-B conseguem atingir a superfície terrestre [79]. O comprimento de onda da radiação influencia a sua penetração na pele e por consequência a interação com as células localizadas nas diferentes camadas da pele. A nível da epiderme é absorvida a radiação UV-B, afeta predominantemente os queratinócitos, enquanto que a radiação UV-A tem maior capacidade de penetração podendo atingir a derme, afetando não só os queratinócitos, mas também os fibroblastos [78].

Relativamente à interação com o DNA, a radiação UV-A estabelece uma relação indireta, através da produção de ROS que induzem mutações a nível do DNA mitocondrial, afetando processos de transcrição e expressão genética. Já a radiação UV-B é diretamente absorvida pelo DNA induzindo mutações que podem originar lesões cutâneas pré-malignas. Em suma, a radiação UV tem a capacidade de direta, ou indiretamente afetar a estrutura celular e o DNA, desencadear processos inflamatórios, conduzir à imunossupressão e interferir com o processo de angiogenese [71,78].

3.2.2) Alterações na pele envelhecida

Numa exposição solar aguda, as alterações mais marcadas verificam-se na epiderme, sendo as alterações da derme bastante subtis e muitas vezes de caráter transitório. Quando a exposição solar é continuada as alterações tornam-se permanentes e afetam de igual modo ambas as camadas da pele.

As principais alterações a nível da epiderme são [80]:

o Os queratinócitos tornam-se resistentes à apoptose ficando mais suscetíveis a mutações;

o Redução de lípidos do estrato córneo o A camada espinhosa torna-se mais fina; o Achatamento da junção dermoepidérmica;

o Redução do número de melanócitos e células de Langerhans assim como alteração da sua função.

Relativamente à derme, ocorrem as seguintes alterações:

o Alteração no metabolismo do colagénio originando fibras sem capacidade extensível, que fragmentam facilmente. As fibras encontram-se desorganizadas e mais solúveis;

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o Aparecimento de fibras elásticas anormais sem capacidade de flexibilidade;

o A quantidade de glicosaminoglicanos aumenta; o Diminuição do volume de gordura subcutânea; o Redução na vascularização.

Dadas as alterações acima referidas a pele envelhecida apresenta-se fragilizada, verificando-se uma alteração da permeabilidade da mesma a substâncias químicas agressoras, uma vez que a sua função barreira se encontra comprometida. O aspeto seco e desidratado deve-se a alterações do fluxo de água para a epiderme. A pigmentação da pele sofre também alterações, esta mostra-se mais amarelada, uma vez que a produção de melanina é afetada e consequentemente há um menor efeito protetor contra a radiação. O aparecimento de rugas e alteração da textura da pele é muito comum, dada a diminuição da flexibilidade e resistência. A garantia de aporte de nutrientes e oxigénio necessários à regeneração da pele fica também comprometida, resultado das alterações verificadas a nível da junção dermoepidérmica. Podem ainda surgir pequenas lesões pré-malignas [81,82].

3.3) Medidas de prevenção

Existem mecanismos de defesa e reparação natural da pele quando há a exposição a um agente agressor, no entanto estes encontram-se limitados tornando-se imperativo a necessidade de adotar medidas extra de prevenção. As medidas de prevenção podem centrar- se em dois objetivos principais, limitar a penetração da radiação ou favorecer a ação antioxidante, permitindo eliminar as ROS [79].

3.3.1) Fotoproteção

A fotoproteção deve iniciar-se logo desde a infância e deve prolongar-se até ao final da vida. Esta pode dividir-se em dois grupos: fotoproteção externa e protetores solares (PrS).

A fotoproteção externa deve ser a primeira medida de prevenção a ter em conta e consiste no uso de roupa adequada, chapéu e óculos de sol. Estas são medidas que apresentam algumas vantagens relativamente ao uso de protetor solar, como por exemplo, o facto de ocorrer uma proteção contra ambos os tipos de radiação, serem medidas associadas a menores custos e não haver necessidade de controlar horários de aplicação como no caso dos protetores, que devem ser aplicados cerca de 30 minutos antes da exposição solar [83].

O uso de protetores solares previne não só os efeitos do fotoenvelhecimento como também outros danos causados pela exposição excessiva ao sol, como por exemplo a imunossupressão, cujos efeitos são atenuados. Um PrS, atua por absorção, reflexão ou dispersão da radiação e deve conferir proteção contra as duas formas de radiação UV, UV-A e UV-B, permanecendo estável ao calor e também à radiação [73].

Nas formulações dos PrS podem ser usados filtros químicos ou físicos como substâncias ativas que tem a capacidade de absorver ou refletir a radiação ultravioleta, tornando-os assim eficazes na prevenção. Alguns filtros químicos (atuam por absorção de radiação dada a sua estrutura molecular) aprovados e utlizados nas formulações são a benzofenona, os cinamatos e o octocrileno. O uso de filtros físicos, como o dióxido de titânio ou óxido de zinco (normalmente

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atuam por reflecção da radiação), tem vindo a ganhar cada vez mais relevância, dadas as demostrações de eficácia comprovada e também devido à implementação do conceito de produto biodegradável. Este tipo de filtro tem um efeito muito menos negativo a nível de poluição ambiental [73,84].

Uma das principais caraterísticas que um protetor solar deve apresentar, para além do fator proteção, é a sua forma de apresentação, uma vez que este fator é o responsável na maioria das vezes pela adesão ao seu uso ou não. PrS com filtros físicos geralmente são alvo de maior resistência à sua utilização por parte da população, uma vez que o tamanho das partículas do filtro confere à formulação caraterísticas indesejáveis, como o facto de ser de difícil aplicação e ficar com a pele branca. Ao longo dos anos esta tendência tem vindo a ser contrariada devido a mudanças que ocorreram nas formulações como é exemplo o uso de nanopartículas do filtro, conferindo melhores características ao produto [83].

Deve ser realçado o facto de a utilização de PrS não afetar processos do nosso organismo que necessitam de energia solar para ocorrem como por exemplo a síntese de vitamina D ou, mais recentemente descoberto, a redução da pressão arterial promovida pela radiação UV-A [84].

3.3.2) Antioxidantes

Como referido anteriormente uma das formas de prevenção do fotoenvelhecimento passa pela limitação das ROS. O nosso organismo possui substâncias antioxidantes endógenas, no entanto por vezes estas deixam de ter a capacidade de atuar sendo necessário reforçar a sua atividade. Para o efeito a utilização de agentes antioxidantes, muitos deles provenientes de produtos naturais, tem vindo a adquirir importância, sendo que estes podem ser introduzidos nas próprias formulações do PS ou então adicionados a suplementos alimentares [85].

Os agentes antioxidantes devem respeitar princípios básicos como: ter a capacidade de sequestrar as ROS e desencadear uma cadeia de reações antioxidantes e não podem perder a estabilidade quando presentes numa formulação [83]

3.3.2.1) Vitaminas

Vitamina C: Em diversos estudos tem sido demonstrada a capacidade protetora da vitamina C, sendo que esta tem a capacidade de aumentar a produção de colagénio, protege contra a radiação UV de ambos os tipos, corrige a pigmentação da pele e promove melhorias no que diz respeito a processos inflamatórios da pele [86].

Vitamina E: A depleção de Vitamina E é um marcador da exposição à radiação ultravioleta. Estudos demonstram que esta vitamina tem a capacidade de estabilizar a função barreira da pele, para além da sua capacidade de absorver radiação UV e sequestrar ROS. É bastante utilizada em formulações tópicas [86].

3.3.2.2) Carotenoides

β-caroteno: Constitui um dos principais constituintes dos produtos e suplementos comercializados e administrados para a prevenção primária, demonstrando uma eficácia comprovada no que diz respeito ao aumento da capacidade da pele de reagir aos danos solares. A suplementação com β-caroteno mostra-se eficaz, dependendo da dose e duração do

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tratamento, mas não suficiente no que diz respeito à prevenção. A sua atuação baseia-se no ataque e sequestro das ROS [86,87].

3.3.2.3) Polifenóis

Chá Verde: Os polifenóis constituintes do chá verde tem demonstrado um efeito fotoprotetor na natureza, daí o seu interesse em ser usado em formulações de PS ou mesmo em suplementação alimentar, como agente farmacológico. O efeito protetor dos polifenóis não se deve à absorção direta da radiação UV. Em alguns estudos demonstrou-se que estes compostos tem a capacidade de limitar a oxidação de lípidos, proteínas e depleção de enzimas antioxidantes, ocorrendo deste modo uma diminuição das ROS produzidas. A aplicação tópica destes compostos resulta numa prevenção quer a nível da derme quer da epiderme [86,88].

Silimarina: constitui o principal princípio ativo presente na planta Cardo Mariano e é composta por um conjunto de 3 flavonoides (silibina, silidianina e silicristina). O composto com atividade antioxidante mais pronunciada é a silibina, que apresenta uma grande capacidade de sequestro dos radicais livres impedindo assim a peroxidação lipídica e oxidação das proteínas [83].

3.3.2.4) Selénio

O selénio é um elemento essencial, uma vez que é co-fator de enzimas como a glutationa peroxidase e a tioredoxina redutase, que atuam no organismo no combate ao stress oxidativo. O selénio pode ser administrado via oral, existindo já registos do seu benefício no que diz respeito à proteção de danos no DNA e nas membranas lipídicas. Quando usado de forma tópica, na forma de L-selenometionina, demonstra um aumento da dose de eritema mínimo [83].

3.3.2.5) Coenzima Q10

Dados recentes reportam que a Coenzima Q10 apresenta um efeito protetor contra a morte celular induzida pelo stress oxidativo e ainda estimula a síntese de compostos das membranas celulares quer da epiderme como da derme, limitando assim os danos a nível dos queratinócitos. A suplementação alimentar com coenzima Q10 tem também sido alvo de vários estudos, no que diz respeito à proteção cutânea e melhoria da aparência da pele. Bons resultados têm sido obtidos na medida em que se verifica uma redução dos efeitos causados pelo envelhecimento como as rugas. Aspetos como a textura da pele, bem como a sua firmeza e vitalidade também apresentam melhorias [89].

Todos os antioxidantes acima reportados são apenas exemplos duma enorme variedade de antioxidantes disponíveis e que desempenham um papel importantíssimo na prevenção cutânea. A eficácia comprovada destes agentes faz com que cada vez mais se opte por uma prevenção combinada, com a associação de um produto de aplicação tópica, muitos deles já com antioxidantes na sua composição, e suplementos alimentares. Esta associação já demonstrou efeitos sinérgicos na prevenção cutânea bastante desejáveis [90].

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3.4) Tratamento do fotoenvelhecimento

3.4.1) Laser e Radiofrequência

Com o aumento da incidência de patologia cutânea, cresce também a necessidade de desenvolver técnicas de melhoria estética, valorizando sempre as que menos riscos apresentam e que possibilitam uma recuperação mais rápida [91].

As técnicas de Laser e Radiofrequência atuam através da utilização de um feixe de luz de comprimento de onda específico e uso de corrente elétrica, respetivamente. Estudos revelam que a utilização destas técnicas leva a melhorias da textura da pele e aumento da flexibilidade e resistência, uma vez que estimulam a síntese de colagénio. A pigmentação da pele é também melhorada, limitando o número de manchas e lesões cutâneas. A duração deste tipo de tratamento é bastante prolongada, sendo usual no mínimo 6 meses de tratamento, sendo que não se verificam imediatamente os seus efeitos. Os primeiros sinais de melhoria aparecem cerca de 1 mês após o início do tratamento [91,92].

3.4.2) Peelings

Os peelings são utilizados já há muito tempo, sendo atualmente de elevada importância como tratamento do fotoenvelhecimento promovendo o rejuvenescimento, através de uma destruição moderada da epiderme e derme levando à sua regeneração. Os peelings químicos, no qual são utilizadas substâncias químicas como o fenol podem ser considerados superficiais, médios e profundos. Associado a este tipo de tratamentos são observadas melhorias a nível da luminosidade da pele, atenuação e diminuição do aparecimento de rugas e diminuição da flacidez [93].

3.4.3) Técnicas de Preenchimento

As técnicas de preenchimento cutâneo são utilizadas essencialmente para fazer a correção e eliminação de rugas, sulcos e também de algumas cicatrizes. A injeção de determinadas substâncias na pele, na região a ser tratada, diminui a profundidade das lesões melhorando o aspeto da pele. As principais substâncias utilizadas neste tipo de técnicas são o Ácido Hialurónico (efeito temporário, necessidade de repetição do tratamento cerca de 6 a 12 meses depois), componente que faz parte da constituição normal da pele, e o Metacrilato (efeito permanente) [94,95].

3.4.4) Produtos cosméticos

Os produtos cosméticos, são os mais utilizados no que diz respeito ao tratamento do fotoenvelhecimento. Até a data, os ingredientes mais estudados e que apresentam eficácia comprovada no melhoramento da textura e pigmentação da pele são os retinoides e a hidroquinona. Os retinoides atuam quer a nível da epiderme, normalizando o ciclo de vida dos queratinócitos e limitando a propagação dos melanossomas, quer a nível da derme ao aumentar a síntese de colagénio, fibras elásticas e glicosaminoglicanos. A hidroquinona não aparece atualmente nas formulações da Europa e Japão, dadas algumas suspeitas relativamente ao seu potencial poder neoplásico.

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Outros ingredientes bastante utilizados nas formulações e com eficácia comprovada são: os alfa hidroxiácidos (AHA) e agentes antioxidantes como as vitaminas C, E e B3, a coenzima Q10, entre outros [96,97],

4) Projeto: Aconselhamento sobre Fotoenvelhecimento e Cuidados com a

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