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12. Conexões e elementos comuns

12.1. Expressões singulares

Seguindo o tema dos apaixonamentos, apresenta-se expressões e significados que a terapia ocupacional encarnou em cada uma dessas interlocutoras, após uma vida de investimentos na profissão.

Para Jô Benetton...

A dificuldade de exercer a profissão que me fez produzir... A terapia ocupacional é o núcleo central na minha vida. O Método da Terapia Ocupacional Dinâmica é a coisa mais importante que eu vou deixar de herança. Então, a diferença entre o meu estudo e das minhas colegas terapeutas ocupacionais é que os estudos delas estão baseados em referências fora da terapia ocupacional, já eu comecei fora, mas eu voltei para dentro, eu estudo a terapia ocupacional com os instrumentos que ela me dá ou com as possibilidades que ela mesma me dá. Porque essa é a forma de ter uma ciência independente, empírica, ser uma ciência normal.

Para Sandra Maria Galheigo...

Ter vindo para uma universidade no estado de São Paulo e o mestrado foram dando uma sensação de que estávamos inventando uma terapia ocupacional que era nossa. É o significado que tem na minha vida: ter escolhido uma profissão meio na negativa da outra, depois acreditar que é muito importante a gente trabalhar e construir a profissão. Quando eu lia autores que eu achava que eram a cara da terapia ocupacional. Me deu essa possibilidade, essa paixão de inventar uma profissão. A gente acreditava que podia ser. Foi um movimento natural de uma geração. Tem esse significado importante na vida, de espaço de invenção, de criação. Acho que esse é um significado da terapia ocupacional para mim, a possibilidade de estar junto e de alguma maneira interferindo na mudança de alguma coisa.

Uma coisa que eu sempre gostei muito foi de fazer a assistência, não só dar aula, tanto na PUC-Campinas como na USP. No doutorado eu me apaixonei por estudar, pesquisar, então até fiquei na dúvida de voltar para a terapia ocupacional. E voltando, de novo me apaixonei muito em atender, de interferir na mudança de algo que está acontecendo. O tempo todo você está aprendendo com aquela realidade. Acho que esse

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é um significado da terapia ocupacional para mim, a possibilidade de estar junto e de alguma maneira interferindo na mudança de alguma coisa; poder estar junto construindo algo, tanto na profissão como nos trabalhos junto às vidas das pessoas. Outra coisa é o fazer. Como eu sempre gostei muito de fazer coisas, de trabalhar com madeira, de pintar quadros... a coisa da atividade, do artesão, do fazer sempre me animou muito.

Para Maria de Lourdes Feriotti...

O significado da terapia ocupacional na minha trajetória de vida deve ser muito importante porque é muito intenso. Eu não sei te dizer qual é o significado exatamente, mas a terapia ocupacional me acompanha desde o dia que eu decidi fazer terapia ocupacional, até hoje. Em 1976 eu já estava na universidade, então, digamos que faz 40 anos que a terapia ocupacional tem estado na minha vida ininterruptamente. Desde então, estudo, trabalho, faço, penso, vivo terapia ocupacional. Inclusive, minha sustentação financeira vem da terapia ocupacional, enfim... ela deve ser importante na minha vida. Cabe dizer que eu ainda gosto do que faço e que nessa trajetória, talvez pouquíssimas vezes eu tenha adoecido pelo trabalho. Isso é uma coisa que tem ficado bem evidente, eu tenho começado a tratar muito essa questão com os alunos e com o grupo de estudos, sobre o crescimento do adoecimento do trabalhador hoje. Eu acho que não adoeço pelo trabalho, porque gosto do que faço e estamos começando a constatar que, as pessoas do grupo de estudos G.E.I.T.O. também não estão adoecendo no trabalho, provavelmente, porque estamos mantendo a criatividade e o prazer no que fazemos. Então, digamos que um dos significados da terapia ocupacional na minha vida é que, talvez, ela tenha me autorizado a validar e valorizar, de fato, a criatividade, a liberdade e a necessidade de fazer um trabalho com significado e prazer. Ela tem me autorizado a não me submeter a algumas coisas no mundo do trabalho... Mas deve ter muito mais do que isso...

Tenho uma relação com a academia que preciso aceitar e seguir minha vida. Agora com 60 anos e sem título, mas com um grupo de estudos que termina este ano dizendo “nós vamos nos assumir como um grupo de estudos e de apoio... nós não somos apenas

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um grupo de estudos!”. E conseguir verificar na vida real que pacientes melhoram de verdade e mudam suas vidas concretamente... Enfim... foi por isso que eu escolhi terapia ocupacional.

O que eu consegui fazer, que considero importante, foi encontrar um conforto na definição de um objeto para a terapia ocupacional, a partir da Complexidade. Isso me permitiu transitar na interprofissionalidade mantendo, ao mesmo tempo, a especificidade e a relação com os outros conhecimentos. Acho que é uma coisa que eu conquistei... Hoje a terapia ocupacional é um lugar confortável para mim, encontro meu lugar numa equipe multiprofissional com muita tranquilidade. Ouvir a pergunta “o que faz a terapia ocupacional?” não me ofende, não me agride, não me cansa mais, porque é fácil dizer o que é. Enfim... acho que eu entendi o que é terapia ocupacional e me sinto bem nesse lugar.

Para Mariângela Scaglione Quarentei...

Para contar como se constituiu minha trajetória e a compreensão sobre a terapia ocupacional, tenho muito rigor, mas rigidez acadêmica nenhuma. Porque eu tenho uma compreensão muito clara de que conhecimento é uma coisa viva, que todo conhecimento é produzido dentro de um grande desafio que um ser vivo vive. A importância de construir conhecimento para fazer terapia ocupacional, para mim, foi algo que se constituiu na graduação, como uma necessidade. Ali já se colocava claro que deveríamos construir o nosso conhecimento.

A terapia ocupacional foi um importante campo para o exercício sagrado do cuidar da vida, da existência... e para o exercício do compartilhamento da existência e do conhecimento sobre esse cuidar.

Para Roseli Esquerdo Lopes...

Cada um escolhe algum negócio na vida né? Mas quando eu escolhi a terapia ocupacional (fora um momento de dúvida entre 1989 e 1990 com a docência e com a terapia ocupacional) não tive nenhuma outra dúvida de onde estou e o que estou

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fazendo. Então vamos lá... CONUR (Conselho Nacional de Universitários de Reabilitação), ATOESP (Associação dos Terapeutas Ocupacionais do Estado de São Paulo), RENETO (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa em Terapia Ocupacional), enfim... essa construção... eu tomei isso como tarefa, sei lá o porquê, mas tomei. Se é para fazer, vamos fazer direito.

É sempre isso comigo, nessa institucionalização acadêmica da terapia ocupacional, é sempre em torno da terapia ocupacional. Para algumas pessoas, era mais o movimento dos trabalhadores de saúde metal, era mais o movimento da Reforma Sanitária, era mais o PT (Partido dos Trabalhadores), por exemplo. Para mim, era mais a terapia ocupacional.

A terapia ocupacional é constitutiva, não toda terapia ocupacional, mas nessa trajetória que segui, com essas pessoas que estiveram comigo, porque é muito duro estar sozinha, eu não me vejo sem essas amigas e colegas na terapia ocupacional, os alunos que vão se tornando amigos ou colegas mais próximos, isso que você chamou de rede de relações, que também é uma rede de suporte para a vida, com algumas pessoas com mais intimidade, mas com um grupo de grande proximidade profissional.