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4. Grupos de pesquisa de terapia ocupacional

4.2. Publicações com temáticas sobre a terapia ocupacional brasileira

Reunindo todas as publicações (livros, capítulos, artigos em revistas específicas e trabalhos de eventos), procurou-se quais tratavam de temas sobre a terapia ocupacional brasileira, de forma geral (história, fundamentos, conceitos, concepções, perspectivas, identidade, etc.), para encontrar quais pesquisadores mais investem nesses temas.

A identificação dos trabalhos foi feita a partir dos títulos e, quando não foram suficientes para identificação do tema, foram consultados seus resumos. Não houve intenção de estabelecer critérios para uma categorização sobre o que deve ser ‘conhecimentos gerais da terapia ocupacional’, tal como, afirmar que o recorte da pesquisa busca os fundamentos da profissão. Trata-se de uma exploração do campo.

Para a análise, incluíram-se os trabalhos que envolviam, de maneira geral, as temáticas: reflexões e perspectivas da profissão de forma ampla; descrições, proposições e interpretações sobre seu desenvolvimento e sua história no Brasil; identidade profissional; perspectivas teórico-metodológicas e epistemologia da profissão; panoramas sobre a formação e capacitação profissional em diferentes níveis; panoramas sobre pesquisa, publicações e produção de conhecimentos nacionais; teorização de conceitos fundamentais para a atuação, como atividade, ocupação e cotidiano.

E os trabalhos excluídos foram os que tratavam, de maneira específica, de: campos teórico-práticos em interface com outras áreas; práticas e experiências profissionais; estratégias e modelos ligados aos campos; populações alvo; experiências particulares de formação em disciplinas, cursos, instituições; pesquisas de opinião com determinada população. Reforça-se a consideração de que não se pretende afirmar que

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os trabalhos excluídos não tratam da terapia ocupacional e de seus conhecimentos, nem desconsiderar sua relevância e importância.

Foram identificados 450 trabalhos (8,7% do total de todas as 5.126 publicações dos pesquisadores), sendo 10 livros (9,6% do total de 104 livros), 27 capítulos de livros (3,7% do total de 725 capítulos), 154 artigos em revistas específicas (16,5% do total de 936 artigos em revistas específicas) e 259 trabalhos apresentados ou publicados em eventos da área (7,7% de 3.361 trabalhos). Esses trabalhos relacionaram 88 pesquisadores (44,9% do total de pesquisadores) que publicaram pelo menos um trabalho relacionado ao tema.

As temáticas mais encontradas nessas publicações foram agrupadas para uma apresentação mais didática (alguns temas se encaixariam em mais de um item):

 Produção e divulgação de conhecimentos: produção bibliográfica, produção científica, capacitação docente, pós-graduação, financiamento de pesquisa, publicações, periódicos e revistas científicas;

 Formação, cursos e currículos brasileiros: trajetória dos cursos, ensino, graduação, docência, monografias, formação continuada, disciplinas e laboratórios;

 Relações com a cientificidade: desenvolvimento profissional, legitimidade profissional, ciência da atividade humana, ciência da ocupação humana;

 Encontros e organização da classe profissional: seminários de pesquisa, encontros de docentes, organização docente, rede nacional de ensino e pesquisa, conselhos federal e regionais, congressos da federação mundial, congressos brasileiros, encontros regionais e locais;

 Conceitos fundamentais: atividade, atividades humanas, análise da atividade, ocupação, ocupação humana, cotidiano, direitos humanos, atividades e recursos;  História, fundamentos e identidade: trajetória histórica, perspectivas teórico-

metodológicas, campo de conhecimentos, relação internacional, papel social e político do profissional, questões gerais da população alvo e da assistência, função social da profissão, terminologia;

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 Perspectivas e/ou contribuições de grandes áreas para o campo profissional: sociedade e contexto social, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, questões contemporâneas, reflexividade profissional, perspectiva crítica, paradigmas. A opção por realizar esse mapeamento a partir dos pesquisadores foi para identificar quais publicaram trabalhos sobre a terapia ocupacional brasileira recentemente. Dentre os 88 pesquisadores, apenas 13 têm pelo menos 10 publicações no tema, sendo: um pesquisador com mais de 30 trabalhos, um pesquisador entre 20 e 30 trabalhos, quatro entre 15 e 20 e sete pesquisadores entre 10 e 15 trabalhos publicados. As treze pesquisadoras com mais publicações somam juntas 198 trabalhos (44% dos 450 trabalhos nessas temáticas).

As duas15 terapeutas ocupacionais pesquisadoras com maiores números de

publicações, que foram convidadas e aceitaram participar da pesquisa, são Roseli Esquerdo Lopes com 32 trabalhos publicados, Sandra Maria Galheigo com 24 trabalhos (juntas somam 12,4% dos trabalhos nessa temática).

Ao encontrar terapeutas ocupacionais que estão investindo fortemente na produção do conhecimento sobre a terapia ocupacional brasileira na atualidade, foram realizadas entrevistas a fim de investigar suas trajetórias profissionais, memórias, produções, concepções e o que teria contribuído para que investissem nas questões gerais ou ampliadas da profissão, dados que também ajudam a contar histórias do desenvolvimento da própria profissão.

15 Inicialmente previa-se três, mas um dos convites não foi aceito e não foi possível substituí-lo, como

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Trajetórias da Terapia Ocupacional no Brasil

Para conhecer e/ou reconhecer as trajetórias, tem-se em vista que toda produção de conhecimento é histórica, social, cultural, política, econômica, etc., está envolvida com determinadas perspectivas teórico-metodológicas e responde a interesses específicos (MEDEIROS, 2010; SOARES, 1991; GALHEIGO, 2012), portanto é preciso considerar que todo conteúdo de referência, assim como este trabalho, apresenta limites e inacabamentos, mas nem por isso perdem relevância na história.

Os conteúdos apresentados promovem uma conversa que contribui para retomar caminhos da terapia ocupacional no Brasil. Os caminhos de uma profissão mostram os percursos do desempenho de funções sociais, de suas construções teóricas e das consequentes práticas realizadas, são caminhos das diferentes concepções que dão sustentação à elaboração de seu saber (MEDEIROS, 2010).

Percursos serão visitados sem a intenção de compreender os fatos como uma sucessão linear de acontecimentos, dentro de uma evolução da história da profissão, pois compreende-se que todo conhecimento está relacionado a uma complexidade de fatores e de contextos. Mesmo assim, de maneira didática e sistematizada, serão apresentados momentos, perspectivas e concepções recorrentemente abordados na literatura da área servindo de referência para percorrer parte dessa trajetória da profissão no Brasil.

Tem-se em vista a impossibilidade de abranger toda a complexidade, ou mesmo, todos os fatos que contribuíram para o desenvolvimento da profissão no país, mas compondo com os relatos das interlocutoras, espera-se qualificar alguns momentos (elegidos por elas durante os relatos de suas trajetórias) nesse desenvolvimento. Também se compreende que os conhecimentos se mantêm em constante construção e criação, assim serão acompanhados alguns movimentos dessa construção até a atualidade.

Diante da construção de conhecimentos da terapia ocupacional no Brasil, a possibilidade de acompanhar trajetórias individuais de quem tem produzido esses

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conhecimentos é uma oportunidade rica para a composição histórica e acolhedora para àqueles que fazem parte dessa história que está sendo explorada.

Há uma relação dialética, formadora e transformadora, na qual tanto as produções individuais dos profissionais quanto processos mais coletivos da área contribuem para o desenvolvimento da profissão, quanto o inverso, compondo sua história e sua rede de conhecimentos.

Lopes (2004), trabalhou com os conceitos de singular e plural para apresentar vivências individuais que também podem ser partilhadas por outros profissionais, e abordar essa composição de vivências possibilita uma melhor compreensão sobre momentos específicos do desenvolvimento da profissão.

Produzir o memorial da trajetória profissional, uma autobiografia acadêmica, para Lopes (2013, p. 172) se mostrou um “instrumento intelectual adequado para saber sobre a formação de um determinado campo científico, implica ilustrá-lo na sua concretude individualizada”. Mais do que expor uma trajetória individual, “é partilhar o desenvolvimento de um campo, de uma profissão [...] contribuir na constelação de outras histórias que, de alguma forma, se somaram” (LANCMAN, 2012, p. 472) na construção da terapia ocupacional no Brasil.

A terapia ocupacional foi construída a partir de esforços pioneiros de seus profissionais, com demandas múltiplas, complexas e simultâneas para consolidar esse processo. Certamente os terapeutas ocupacionais, como nas demais profissões, têm o mérito de terem militado e feito avançar a profissão no país, de terem ampliado campos da atuação e de terem demonstrado o potencial de contribuição para a produção de conhecimento (LANCMAN, 2012).

Há tantas maneiras pelas quais as histórias podem ser contadas, tantos olhares e concepções, que variam de acordo com o momento vivido e a chave de leitura utilizada. São peças de um quebra-cabeça epistemológico e constitutivo da profissão, mas como uma imagem flexível, mutável e com multidimensões, para absorver movimentos da construção de conhecimentos, em seu inacabamento e infinitude.

Valorizando a diversidade de concepções da produção nacional, serão apresentados conhecimentos e histórias sobre a terapia ocupacional no Brasil e

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trajetórias de quem os produziu, sem a pretensão de se contar “a história”, como se pudesse estabelecer uma única versão oficial.