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No ano de 1614 foi reafirmado, sob Tokugawa Hidetada, o édito de 1587 de Toyotomi Hideyoshi, contra a ação missionária. A questão da missionação foi cuidadosamente estudada por agentes do Shogun em vista de fundamentar o édito de 1614, que colocava, novamente, a ameaça sofrida pelas crenças tradicionais japonesas por conta do avanço do cristianismo. O édito, segundo Coutinho, expressa a rivalidade religiosa, que convergiu para o banimento dos padres.74 A postura de holandeses e ingleses, que buscavam maiores privilégios comerciais através do enfraquecimento da atividade mercantil portuguesa, teve grande peso na elaboração do édito, uma vez que o bakufu não mais precisaria temer a queda do comércio português por ter outras alternativas para se adquirir os artigos desejados. A partir de 1614 o poder Shogun se intensificara ainda mais, uma vez que o édito previa a recompensa à lealdade, enquanto puniria a traição. Qualquer pessoa seria julgada e punida caso concedesse alojamento ou qualquer outro tipo de ajuda àqueles que se encontravam às margens da sociedade: criminosos, yakuza75 e missionários católicos.

A perseguição que havia iniciado no século XVI de maneira razoavelmente branda se intensificaria após 1614.

Outro evento contribuiu grandemente no posicionamento do bakufu de contrariedade à ação católica: a batalha de Osaka, de 1615. Segundo o historiador Stephen Turnbull, o ato de unificação dos Tokugawa pode ser dividido em dois momentos: primeiro, Sekigahara, com a supressão de diversos daimyo contrários àquele clã, concedendo-lhe o título de Shogun; segundo, a batalha de Osaka, de

74 COUTINHO, op. cit., p. 27-34.

75 Yakuza é o nome dado à máfia japonesa, cujas origens remontam ao início da Era Edo. Este grupo criminoso, que atualmente controla as atividades de tráfico de armas e drogas e a prostituição no Japão, cujos membros são famosos pelas grandes e ricas tatuagens, surgiu como uma organização de antigos samurai e ashigaru sem senhores, os ronin. A ação Yakuza, desde então, dá-se às margens da sociedade japonesa, tendo sido caçados, seus membros, desde o bakufu Tokugawa até os dias de hoje, segundo FREDERIC, op. cit., p. 881.

1615, em que Tokugawa Hidetada suprimiria por completo a família Toyotomi, liderada neste momento por Hideyori, filho de Hideyoshi, que consistia na última grande oposição ao poder central. A obra de Turnbull tende, principalmente, a narrar o desenrolar da batalha, apresentando as forças que se aliaram a cada um dos lados e a organização espacial que se deu no cerco do castelo da cidade, em que se alojava Hideyori. Alguns dados fornecidos por Turnbull, entretanto, podem ser de grande valor para esta análise: primeiro, buscando apresentar algumas características da sociedade japonesa, é importante salientar que Hideyori cometeu o hara-kiri76, negando-se a permitir uma morte nas mãos do inimigo, ordenando inclusive a morte da própria mãe e de seus subordinados, o que teve grande repercussão entre os jesuítas, cuja presença no castelo de Osaka durante o cerco consiste no segundo dado a ser analisado. O fato de haver jesuítas no interior do castelo, junto à família Toyotomi e a seus subordinados, colocou-os como inimigos declarados da autoridade central do Japão.77 Enquanto, como se viu, os holandeses buscavam uma maior aproximação do Shogun, prestando-lhe homenagens, oferecendo-lhe presentes e ignorando a existência dos Toyotomi, os jesuítas, talvez numa tentativa de conseguir alguma proteção, aliaram-se aos inimigos de seus inimigos.

John Whitney Hall afirma que 1614 foi ano em que se declarou a expulsão dos jesuítas e em 1615 esta tomaria ainda mais força, de maneira que muitos cristão viriam a morrer de diferentes formas78. As práticas católicas caíram na ilegalidade e sofreriam severa observação por parte do bakufu e de seus representantes nas mais diversas províncias. Igrejas seriam derrubadas ao longo do tempo e os japoneses convertidos deveriam abandonar suas novas crenças em prol das religiões tradicionais do Japão; aqueles que não o fizessem seriam torturados e até mortos, o que de fato ocorreu, segundo Coutinho.79 As formas de suplício variavam muito a qualidade daquele que era julgado e a gravidade de seus atos, sendo levados em

76 A prática do hara-kiri corresponde ao suicídio cometido por guerreiros, com objetivo de evitar ser morto pelo inimigo. Trata-se de uma maneira de preservar a honra samurai, segundo FREDERIC, op. cit., p. 421.

77 TURNBULL, Stephen. Osaka 1615 The Last Battle of the Samurai. Nova Iorque, Osprey Publishing, 2006, p. 42.

78 HALL, John Whitney. The Cambridge History of Japan, volume 4. Cambridge University Press, 1994, p. 476.

conta dados como concessão de alojamento a padres, propagação da Fé Católica, produção de objetos que remetessem à crença, etc.

Neste contexto, podemos inserir o documento Relação summaria das novas

que vierão do Iapão, China, Cochinchina, India, & Ethiopia este anno de 622. Tiradas de alguas cartas de pessoas dignas de crédito, por João Rodrigues, escrito

em 1622. O seguinte excerto diz respeito à situação enfrentada pelo Cristianismo no arquipélago nipônico num dos piores momentos da perseguição.

He Emperador universal, & reconhecido de todos os Reys & senhores do Iapão, o mesmo Xagu, ou Cubo, que os annos passados, o qual como he tam capital inimigo da Christandade, quanto mais seguro se vê em seu estado, tanto maior comodidade tem para a perseguir, matando os esforçados Confessores de Christo, com exquisitos gêneros de tormentos. No anno de 1619. forão martirizados em diversas partes, 86 com grande gloria de Deos, acrecentamento da Igreja militante, & triunphante, & espanto dos Gentios. Em Nanguasache 5 queimados vivos, & 11 degolados: Dos queymados erão hum o Irmão Lionardo Iapão da Companhia de Iesus, grande pregador de sossa Sancta Fe; outro, Domingos Iorge Portuguez natural de Sam Romão, termo de Aguiar de Sousa entre Douro, & Minho, a quem o Senhor escolheo para Capitão de sua Igreja depois de servir de soldado na India esse grande nome, em Omura estavão presos com grande aperto dous Religiosos do glorioso padre Domingos, & hum de Sam Francisco, companheiros de dous, cada hum das ditas ordens, que o anno atrás foram martirizados. No mesmo Carcere estavão dous Padres da Companhia de Iesu, hum dos quais he o padre Carolo Spinola Genoves, mais illustre pello que padece por Christo, que por seu sangue; al lhe morreo do trabalho da prizam seu Companheiro o Irmão Ambrosio Fernandes natural de Sisto do Bispado do Porto de idade de 68 annos, grãde parte dos quais empregou naquell Christandade. Na mesma Cidade se cortaram as cabeças a três Christãos, por acudirem com suas esmolas aos sobreditos presos. Em Bugem, a hum; no Reyno de Bungo a dous, pay & filho de 4 annos mui bem logrados. E porque faltava a Cidade do Miaco, cabeça daquelles Reynos, a gloria do sangue de Martires naturais seus permitio Deos, que em hum dia fossem nella crucificados & logo queimados vivos a vista de todo o Iapam 53 qual expectaculo nunca Roma vio em tempo de seus Neros, & Dioclecianos. Entre todos foi muito para ver hua valerosa Matrona chamada Tecla entre seu marido, & seus filhos, a hu dos quais por ser muito criança tinha apertado em seus braços, & nem depois de morta, & queimada largava outro ainda em suas entranhas, a que Deos fez mercê de ver primeiro a gloria que o mundo, 8. morrerão no cárcere do aperto, e mao tratandeso

delle. Em Fuximi, foi martirizado hum & em outro Reyno hua dõzela Cathecumena, em defensa de sua castidade.80

Por meio de dados numéricos, nomes de alguns dos mortos, descrição de cenas, como, por exemplo, da mulher, que mesmo morta e queimada não largava seu pequeno filho, apertado em seus braços, exaltam a crueldade com que os japoneses se portaram frente ao cristianismo neste período. Pode ser rentável comparar um documento como este ao excerto da carta do capitão português Jorge Álvares, apresentado no primeiro capítulo, em que os habitantes do Japão são tidos como honrados e muito respeitosos, o que confere com a descrição feita por Fernão Mendes Pinto em sua Peregrinação, e com a visão do jesuíta Francisco Xavier. Todas estas fontes retomadas nos trazem uma visão bastante distinta do Japão e de seus habitantes, até porque foram escritas antes dos conflitos com a cristandade.

O historiador francês Jean-Claude Schmitt, em sua obra A História dos

Marginais, propõe o estudo das sociedades com base no discurso produzido pelos

sujeitos tidos como “marginalizados”.81 O autor distingue os termos “centro” e “margens” em relação às sociedades, explicando que a historiografia se baseou, durante muito tempo, em um estudo do “centro”, daqueles que detêm o poder, a riqueza e que produzem as leis, o que teria como produto uma generalização dos papéis dos diferentes componentes do tempo e do espaço estudados; as “margens”, para o autor, constituem grande parte, se não a maior das sociedades, sendo seus representantes os pobres, prisioneiros, minorias religiosas, dentre outros. Enquanto o estudo do centro, para Schmitt, implica num conhecimento da trajetória do reino ou nação em questão, em que são analisados os papéis desempenhados por governantes, generais e religiosos (ligados à religião da maioria), o estudo das margens possibilita uma abordagem mais ampla do momento e espaço histórico destacado, uma vez que suas produções (sejam elas textuais e iconográficas) representam uma realidade à parte daquela verificada através do estudo do centro. Tomando o texto de Schmitt como linha metodológica para se estudar esta diversidade de discursos, percebe-se que os mercadores portugueses e, a seguir, os

80 RODRIGUES, João. Relação summaria das novas que vierão do Iapão, China, Cochinchina,

India, & Ethiopia este anno de 622. Tiradas de alguas cartas de pessoas dignas de crédito. In.:

MACHADO, Diogo Barbosa. BN, OR 169, ff. 225.

81 SCHMITT, Jean-Claude. A história dos marginais. In: LE GOFF, Jacques. A história nova. São Paulo, Martins Fontes, 2001, P. 274.

jesuítas, constituíam um grupo privilegiado no Japão do século XVI, época em que foram produzidos os documentos trabalhados no primeiro capítulo. Naquele momento, estabelecer laços comerciais com os navegadores nanban seria um diferencial para qualquer daimyo, uma vez que este teria acesso a novas mercadorias e conhecimentos úteis ao cotidiano e à guerra; converter-se ao Cristianismo, como dito anteriormente, poderia significar maiores privilégios comerciais. Após 1615, não apenas os portugueses haviam perdido seu monopólio comercial no arquipélago, como o Cristianismo já havia deixado de ser uma prática ligada ao centro da sociedade, passando a ocupar um papel marginal.

No documento de João Rodrigues, a característica apresentada sobre o “Xagu”, ou Shogun, que “he tam capital inimigo da Christandade, quanto mais seguro se vê em seu estado, tanto maior comodidade tem para a perseguir”, confirma a proposta de que conforme o bakufu obteve novas possibilidades de comércio exterior, menos ressentiu em colocar em prática, e até reafirmar, o édito de expulsão da Igreja Católica.

Outra carta, do padre Matheo Del Cobo, data de 1619, assim como a Relação, apresenta-nos um Japão completamente hostil à cristandade:

Quanto a lãs nuevas del Iapon, por entender que El Padre Visitador las escrive largamete, yo no lo bago. En este estado temporal ay quietud. La persecucion contra La Christandad fue, y es muy terrible en el Meaco, dõde estan presos por la fé casi 60. Christianos: de los quales cinco, e seis murieron em la carcel, muy conformes com la divin voluntad. Em esta Ciudad de Nangasaqui estan presos por Christo em três carceles. 28. Religiosos. En Omura estan siete: los 4. de Santo Domingo, uno de S. Francisco, y dos de la Compañia: y otros diez Christianos vezinos de la mesma Ciudad de Omura. Fueron martyrizados: 3. que se dizian, Lino, Pedro, y Tome. El primero, porque siendo guarda de la carcel, donde estavã los Religiosos que He dicho, como era Christiano de coraçon, dexava entrar alguna mas comida a los santos presos. Es segundo, porque la embiava. El tercero, porque la traia. A todos três combidaram com la vida, si se apartanã de nuestra santa ley. Y estando ellos constantes, los mataram.82

Neste documento fica clara a idéia de que não apenas os missionários e praticantes da religião católica foram perseguidos, mas também aqueles que fossem

enquadrados como colaboradores dos cristãos. Não podemos afirmar, entretanto que as práticas japonesas, apesar de cruéis, não haviam sido minimamente evitadas, uma vez que um documento como a Carta para o Vice-Rei das Índias, de Toyotomi Hideyoshi, pode ser lida como um aviso de que não mais seriam toleradas críticas e supressões das religiões tradicionais do Japão.

3.4 O DISCURSO SOBRE A PERSEGUIÇÃO

O discurso da perseguição, além de denegrir o japonês, colocando-o como intolerante, busca, em muitos casos, retratar uma vitória simbólica do próprio cristianismo, através da imagem do martírio em nome de Deus. No documento de Matheo Del Cobo, percebemos traços desta valorização do fiel cristão aos olhos da igreja militante:

A los 6. de Otubre ofrecio la Ciudad de Meaco al cielo el mas rico presente, que jamas em aquella rica y poderosa Ciudad se vio,de 50. Christianos asados vivos, por la fé de Iesu Christo nuestro señor. La escrivimos, como en la carcel publica de Meaco estavan presos muchos fieles, por no querer doblar la rodill a Baal 9, dellos murieron em la prision, por los grades trabaxos, é incomodidades, que en ella padecieron, muy conformes com la divina voluntad, y alegres de su dichosa fuerte. Com la venida del Emperador a aquella Corte Del Dairi, y Metropoli de todo Iapon, Le dieron cuenta de los Christianos presos, y como es entrañable enemigo de nuestra santa lei, mandó que los asassen vivos a todos. Luego enarbolaron 26. patos en un lugar publico enfrente del teplo del Daibu (que es grandey sunptuoso edifício) á lo largo de um rio, que por alli passa. A seis de Otubre saiaron de la carcel a los santos presos, sin perdonar a tiernas donzellas, ni a criaturas, que iuan a los pechos de sus madres.83

A morte de cinquenta cristãos assados vivos foi, para o autor, além do simbolismo do “mais rico presente aos céus”, sustentando, para quem quer que lesse o documento, a idéia de uma vitória espiritual do cristianismo. Apesar da gradual expulsão que se imprimia aos portugueses, de forma geral, o cristianismo, a julgar pelo documento trazido, triunfava em meio aos japoneses, uma vez que seus

83 COBO, Matheo Del. Apud RODRIGUES, João. Relacion de las cosa de Iapon, China y Filipinas. Lisboa, 1621, In.: MACHADO, op. cit., ff. 453.

praticantes e os padres missionários encaravam o sacrifício supostamente gratificados.

O discurso português acerca do Japão passou de cordial a hostil em menos de um século. Nos anos 1620 a trajetória da perseguição tornou a repulsa japonesa aos portugueses irreversível, enquanto os holandeses, principalmente após o fechamento da feitoria inglesa em 1623, fortaleciam sua posição.

Ao longo da década de 30, segundo Coutinho, os templos católicos já haviam sido derrubados, poucos missionários conseguiam entrar na sociedade japonesa e o cristianismo passava a ser praticado cada vez mais secretamente. O controle do

bakufu sobre a presença de cristãos e suas práticas, ao contrário do que

poderíamos imaginar, intensificou-se. A camada samurai, com o “congelamento” do feudalismo, tornou-se uma espécie de casta, leal, acima de tudo ao Shogun, auxiliando na vigilância de casas na busca por cristãos e/ou artigos que remetessem às práticas católicas.

Em 1639 o bakufu decretou um novo édito, que exprimia a completa repulsa ao Cristianismo e aos portugueses, reafirmando a estrita proibição da entrada de missionários católicos e proibindo também a entrada de mercadores portugueses e de qualquer material que incitasse a Religião Católica. A partir desta data, de acordo com Coutinho, o Japão inicia seu período de isolacionismo, prevendo, para os portugueses que chegassem à costa japonesa, a apreensão da carga do navio, a queima deste e a decapitação da tripulação, o que de fato aconteceu em 1640 com uma embaixada portuguesa que aportou no arquipélago, com a intenção de restabelecer o comércio luso-nipônico. Esta embaixada, enviada de Macau, composta por 74 membros, apesar de ter declaradamente fins diplomáticos, não foi perdoada pelo bakufu, que decapitou 61 dos seus membros.

Sobre este fato, o padre Antonio Cardim produziu a gravura ““Decapitação de portugueses no Japão em 1640”, em que são apresentados os nomes de todos os membros da embaixada que foram mortos.

Figura 1: Decapitação de portugueses no Japão em 1640. Padre Antonio Cardim.84

Figura 2 Glorioso martirio de los veintiseis santos del Japon, 1860. S. Ganzales.85

Comparando o relato do padre Matheo Del Cobo às figuras 1 e 2, representando respectivamente a decapitação e a crucificação de cristãos no Japão,

84In: COUTINHO, Valdemar. O Fim da Presença Portuguesa no Japão. Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Lisboa, 1999.

percebemos uma concordância de discursos. A figura 1, produzida na década de 40 do século XVII, diz respeito a um evento específico da perseguição ao cristianismo: a decapitação dos membros da embaixada portuguesa, enviada de Macau na tentativa de restabelecer as relações luso-nipônicas. A figura 2, por outro lado, produzida na segunda metade do século XIX, foi, certamente, baseada em outras produções iconográficas e/ou relatos escritos, como o de Matheo Del Cobo. Ambas as imagens, apesar da distância cronológica entre suas produções, carregam o mesmo discurso, demonstrando a hostilidade japonesa quanto à presença portuguesa e, mais especificamente, cristã, pelo Japão. O Glorioso Martirio, especialmente, carrega consigo um caráter religioso bastante forte, ornamentando os céus com figuras angelicais e, no centro, a imagem de Cristo na Cruz. A

Decapitação, apesar de ter sido feita por um padre jesuíta, tende, em primeiro lugar,

guardar os nomes daqueles sacrificados em 1640, representando o momento da decapitação, com os nomes de cada membro da embaixada morto. Pode-se destacar o papel retórico das produções iconográficas, uma vez que estas podem apelar para elementos do imaginário, a fim de sustentar o discurso proposto. Os japoneses, em ambas as imagens, são apresentados negativamente, o que entra em concordância, inclusive, com os relatos de jesuítas trazidos, que também apelam, de certa forma, para elementos retóricos que sustentem suas teses, como dizer que nem belas mulheres, nem crianças escaparam do martírio.

CONCLUSÕES

A aparente admiração mútua verificada nos primeiros contatos entre portugueses e japoneses, por conta do cristianismo, essencialmente, tornou-se uma guerra declarada entre as tradições nipônicas e a religião romana. Pode-se perguntar se outra conduta, por parte dos portugueses, teria mantido ou intensificado suas relações com o Japão por mais tempo, entretanto, uma série de fatores agravou a situação verificada em meados do século XVII, como a unificação do Japão, com o término do Sengoku-Jidai e o início do bakufu Tokugawa, e a presença neerlandesa no arquipélago.

O período da História do Japão que se iniciava em 1603, a Era Edo (ou Tokugawa), foi conhecido como a “era de ouro” dos comerciantes locais japoneses, devido à eficaz integração do território causada pelas guerras do século anterior, e ao esplendor da camada samurai da sociedade, cujos representantes aliados ao

Shogun desfrutariam de uma posição privilegiada, adquirindo as riquezas tomadas

dos inimigos esmagados pelo poder central. A sociedade Tokugawa, após os traumáticos eventos de 1640 (a decapitação de quase todos os membros da embaixada portuguesa que visava o restabelecimento dos laços comerciais luso-nipônicos), congelou suas bases hierárquicas e seu modelo político, que sobreviveriam por mais duzentos anos, até a chegada do Comodoro Matthew Perry e sua frota (1852), representando o poder militar, político e industrial dos Estados Unidos, forçando a reabertura dos portos japoneses às nações ocidentais.

Desde 1640 que, buscando maior reconhecimento de sua figura, o Shogun iniciou o chamado Isolacionismo Japonês, que fechou quase por completo os portos deste território aos povos externos, tendo sido mantidas relações apenas com chineses, em pequena escala, e com holandeses, que ocuparam um papel

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