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2.2. Modelos de formação em alternância em Educação Física

2.2.3. Participação e aplicabilidade dos modelos de alternância na formação inicial em

2.2.3.2. Extensão universitária

Para uma adequada discussão a respeito da extensão universitária é necessário que sejam abordados alguns aspectos que permeiam a relação entre a universidade e a sociedade. Foram constantes, e ainda encontram-se resquícios de pensamentos dessa natureza no meio acadêmico, que interpretam a comunidade como uma parcela desfavorecida da população, que está participando de projetos de extensão oferecidos pelas universidades porque não dispõe de recursos financeiros para praticar essas atividades desportivas e recreativas em clubes particulares. A partir do momento em que for iniciada uma atividade de extensão com esse pensamento, estará sendo imposta uma barreira que poderá comprometer o alcance de seus objetivos.

Por ter sido criticada em vários de seus princípios, objetivos e estratégias, a legislação que orienta a extensão universitária sofreu diversas revisões e adequações ao longo dos anos. A maioria dessas críticas era dirigida justamente para essa relação hierarquizada que freqüentemente a universidade impunha à sociedade. A utilização da extensão universitária como um espaço para a prestação de serviços à comunidade, principalmente a de baixa renda, assim como a venda de serviços por parte da universidade para profissionais no sentido de sua formação continuada, foi objeto de reformulação na legislação referente à extensão (Escobar et al., 1988; Gáelzer, 1988; Lamartine, 1988).

Apesar dessas interpretações terem sido fortemente reduzidas nos últimos anos, ainda existem alguns aspectos que necessitam ser repensados e considerados no momento do planejamento e da implementação de atividades de extensão.

Se a compreensão a respeito da extensão universitária ficar restrita a uma oportunidade de estágio para os estudantes-professores, de maneira desvinculada das atividades de ensino e de pesquisa, a sua realização estará fadada ao fracasso. De acordo com Escobar et al. (1988), é atribuída ao professor a responsabilidade de inserir em sua prática diária o compromisso social, ressaltando “os componentes ensino e

pesquisa orientados e retroalimentados pela extensão em seu constante convívio e interação com a comunidade” (p. 308).

Portanto, se a extensão universitária interagir mutuamente com o ensino e com a pesquisa, somando esforços em busca da elevação da quantidade e da qualidade das atividades oferecidas para a comunidade, e visar à plena formação dos estudantes- professores, estarão sendo alcançados dois dos aspectos que legitimam a existência da extensão universitária e sua inserção na comunidade. Nesse sentido, Gáelzer (1988) declara que “enquanto busca elevar os níveis socioeconômicos e culturais do meio, a universidade, por sua vez, vai recolhendo elementos informativos para a análise avaliativa do sistema universitário, no que se relaciona ao ensino e à pesquisa, completando assim o ciclo da ação universitária, integrado pela graduação, pós- graduação, pesquisa e extensão, num processo contínuo de desenvolvimento, atualização e inovação” (p. 368).

Além disso, é necessária cautela na análise da oportunidade de contato dos estudantes-professores com o mundo do trabalho. Não basta estruturar atividades em que o estudante-professor se defronte com a realidade, de maneira desarticulada do ensino, e conseqüentemente das disciplinas curriculares, e sem a orientação e o acompanhamento dos professores. Sendo realizada dessa maneira, perde-se o principal objetivo da realização da extensão universitária, que é de reafirmá-la “como processo acadêmico definido e efetivado em função das exigências da realidade; indispensável na formação do aluno, na qualificação do professor e no intercâmbio com a sociedade” (MEC/SESU, 2004, p. 1).

Nas atividades de extensão em que o estudante-professor atua efetivamente como professor, pode ser observada, a exemplo das atividades de monitoria, a possibilidade do seu contato direto com a docência. Nesses casos, o estudante-professor é colocado diante de uma realidade social com a qual deverá interagir numa relação de sintonia, oferecendo aos seus alunos todo o conhecimento teórico-prático construído até então através de sua intervenção pedagógica, subsidiada pelas competências profissionais desenvolvidas anteriormente. Ao mesmo tempo, nesse processo de ensino- aprendizagem em que há interação com a comunidade e retroalimentação permanente, o estudante-professor tem a oportunidade de avançar em seus conhecimentos e competências, buscando seu aperfeiçoamento constante, e preparando-se, dessa forma, para a realização do Estágio Supervisionado, ao final do curso, e para sua atuação como professor depois de formado.

Um aspecto que deve ser considerado, ao se analisar a oferta dessas atividades para a comunidade através da atuação dos estudantes-professores, diz respeito à utilização, por parte das universidades, da mão-de-obra barata dos seus alunos em

benefício próprio. Existe ainda a interpretação de que a comunidade poderá ser utilizada como cobaia para os experimentos pedagógicos realizados na universidade.

No entanto, a tônica que deve pautar essa relação é a reciprocidade, através: (a) da disponibilização do espaço físico e dos materiais necessários para a realização das atividades e a preparação dos estudantes-professores por parte da universidade; (b) da construção e consolidação dos conhecimentos e competências pedagógicas por parte dos estudantes-professores, na busca de uma atuação profissional mais competente e responsável possível; e (c) do usufruto de todas as atividades oferecidas por parte da comunidade, utilizando-as em benefício de sua saúde e do seu bem-estar. Por uma outra via, a extensão universitária está voltada aos interesses e necessidades dos estudantes- professores, para a construção e disseminação de conhecimentos, para a difusão cultural e artística e para a prestação de serviços à comunidade (Universidade de Caxias do Sul, 2004).

Conforme a descrição de sua metodologia e dos objetivos que originalmente as orientam, as atividades de extensão universitária podem ser consideradas como pertencentes à categoria de estágios de aplicação e prática de conhecimentos, já que durante sua realização os estudantes-professores adquirem “competências que se treinam em situação de trabalho, complementar e subordinada aos objetivos pré- definidos da formação” (Pedroso, 1996, p. 271).

Sendo assim, as atividades de extensão constituem uma excelente oportunidade para que os estudantes-professores aprofundem e aperfeiçoem suas competências pedagógicas, preparando-se mais qualificadamente para sua atuação profissional futura, e aproximando a universidade da comunidade em que está inserida.