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na determinação de um melhor estado nutricional entre os mais escolarizados. Essa combinação de fatores explicaria o maior consumo de gordura saturada (2.7 g) entre aqueles com maior escolaridade, assim como menor consumo de gordura trans (-0.4 g) e açúcar de adição (-3.0 g), e maior consumo de fibra (+2.1 g) do que os menos escolarizados (resultados ajustados para sexo, idade e calorias totais, dados não publicados).

Dentre os subgrupos de PUP avaliados, os pães ultraprocessados apresentaram maior participação na dieta, contribuindo com quase 10% do VCTM, sendo seu consumo mais frequente entre mulheres, indivíduos mais velhos, e nos menos escolarizados. A sua elevada participação calórica na dieta seria explicada por características culturais regionais(11, 13, 38), o que limitaria o efeito de intervenções que

procurem a redução no seu consumo. No entanto, intervenções focadas na substituição por pães integrais com maior concentração de fibras e gorduras mono e poli-insaturadas, e menor quantidade de gordura saturada, gordura trans e sal poderiam apresentar efeitos benéficos para a saúde em nível populacional (42, 54, 55).

Os fast-foods, as tortas e doces industrializados foram os seguintes com maior %PC na dieta, principalmente entre mulheres, nos mais jovens e nos melhor escolarizados. Intervenções que procurem a redução no consumo desses alimentos precisariam fornecer opções de alimentação fora do domicílio não apenas mais saudáveis, mas também acessíveis em termos econômicos. Neste sentido, restaurantes com preparações caseiras seriam uma opção, uma vez que os mesmos ajudam a manter/recuperar os hábitos locais de alimentação, favorecem o consumo de frutas e verduras(56), fornecem refeições com menor

densidade energética(56) e melhoram indicadores do estado

nutricional(57).

O presente estudo apresenta algumas limitações: primeiramente, o uso de dois IR24h não permite avaliar completamente toda a variabilidade da dieta e nem o consumo habitual. Adicionalmente, esse método depende da memória dos participantes, o que pode comprometer a qualidade das informações. Essas possíveis limitações foram contornadas nos métodos de coleta (uso do multiple pass method e treinamento dos entrevistadores na sua aplicação), de entrada dos dados (uso de software específico, estandardização de entrada de dados e correção de receitas usando tabelas nacionais) e análise (ajuste pela

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variabilidade intra e interindividual). Mesmo assim, a subnotificação no consumo alimentar é sempre uma fonte de viés de informação (49, 51), e

no presente estudo o VCMT foi em média 12% menor do que o requerimento energético estimado conforme o sexo, idade, peso e nível de atividade física dos entrevistados. No entanto a subnotificação foi similar em todos os estratos de idade, renda e escolaridade, sendo apenas 6 pp maior entre os homens.

Concluindo, os PUP foram responsáveis por mais de um terço das calorias consumidas pelos indivíduos, o que comparado com dados nacionais e de países de renda alta indica que o desenvolvimento econômico regional favorece o processo de transição nutricional. A distribuição conforme características sociodemográficas apontou as mulheres, os indivíduos jovens e com melhor escolaridade como sendo mais vulneráveis ao consumo de PUP. O consumo dos subgrupos de PUP foi diferente conforme as variáveis analisadas, mas considerando o %PC e as diferenças entre os grupos, os mais importantes foram os pães processados, os fast-foods e as tortas e doces industrializados. Estas informações podem ser úteis no planejamento de políticas públicas que procurem a redução do consumo de PUP, assim como para a prevenção da obesidade e de diversas DCNT associadas ao consumo alimentar.

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