• Nenhum resultado encontrado

total(35). Porém, conforme a literatura sugere, o efeito do consumo de

fibra na mudança de peso é tênue, sem que tenha sido observada uma relação dose-resposta(35). De acordo com os nossos resultados esta

relação é curvilínea e aconteceria apenas entre indivíduos com excesso de peso prévio. Adicionalmente, os nossos resultados são consistentes com as recomendações existentes para o consumo diário de fibra alimentar, uma vez que maior IMC e CC foram observadas somente quando o consumo de fibras foi inferior a 25 g/dia (36-38).

Por sua vez, a separação do açúcar de adição segundo a sua origem mostrou que somente aquela proveniente dos PUP mas não a usada em preparações caseiras esteve associada com maior IMC e CC entre indivíduos com excesso de peso. De acordo com os nossos dados, as bebidas açucaradas foram responsáveis por 65% das calorias provenientes de açúcar de adição de PUP, o que é consistente com as evidências da literatura(7, 39). Adicionalmente, o consumo de esse tipo de

PUP está usualmente relacionado a outros padrões de consumo não saudáveis, pelo qual diversos estudos os consideram preditores importantes da obesidade e recomendam que o seu consumo não ultrapasse 5%-10% do VCMT (25-50g numa dieta de 2000 Kcal)(14, 38, 39). Da mesma forma, o consumo de gorduras trans esteve diretamente associado com os indicadores de obesidade geral e abdominal entre indivíduos com excesso de peso, o que resulta consistente com a literatura, que mostra que esse tipo de gorduras está relacionado com o aumento nas prevalências de diversas DCNTs(40-42). Por este motivo, a

Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o seu consumo não ultrapasse 1% do VCMT(42, 43). No nosso estudo, a média de

participação calórica das gorduras trans ultrapassaram tais recomendações (3,3g, equivalente a 1,5% do VCMT), sendo este valor maior entre indivíduos com excesso de peso prévio. Nem o consumo de gorduras saturadas, poli-insaturadas ou de proteína vegetal estiveram associados com os indicadores de obesidade investigados neste estudo, mas o incremento no consumo de carboidratos de outra fonte e de proteína animal estiveram relacionados com maior IMC e CC entre indivíduos com excesso de peso prévio. De acordo com a literatura, dietas com restrição de carboidratos apresentam maior benefício para a redução do peso do que o controle no consumo de gorduras(44). Já os

resultados em relação ao consumo de proteínas são controversos(45).

162

ajudar na perda de peso entre indivíduos obesos ou em risco de doença cardiovascular(45). Porém, pouca ou nenhuma diferenciação é feita

nesses estudos em relação à fonte das proteínas(45-47). A investigação do

tipo de proteínas é particularmente importante, considerando que nos últimos anos houve um aumento na produção e consumo de proteínas de origem animal em países de renda média e baixa (7, 41, 42), e diversos

estudos observacionais têm mostrado que o consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas se relacionam com o aumento da adiposidade e do risco de DCNTs(7, 48). Apesar das controversas

existentes em relação a este tema, as evidências atuais suportam as recomendações de substituir as proteínas animais (principalmente aquelas ricas em gordura saturada e as processadas) por maiores quantidades de proteína de origem vegetal, considerando os benefícios de outros componentes não proteicos tais como as fibras, e a interação de esses componentes com a microbiota intestinal(45).

Diferentemente de estudos brasileiros prévios(9, 12), não

encontramos associação entre o %PC de PUP e os indicadores de obesidade investigados. De forma geral, dietas ricas em PUP apresentam maior quantidade de açúcar de adição, gorduras trans e sódio, assim como menores quantidades de fibra alimentar(7, 10, 11, 49), o que também

foi observado no presente estudo (Tabela Suplementar 1). A falta de associação entre o %PC dos PUP e os indicadores de obesidade poderia ser explicada pelas diferenças existentes na composição nutricional de PUP com o mesmo valor calórico por porção(50, 51), assim como devido a

limitações inerentes ao software nutricional utilizado.

Os resultados do presente estudo suportam várias das recomendações atuais e de diversos guias alimentares, os quais têm por objetivo empoderar às pessoas a atuar ativamente como agentes da sua própria saúde e dos indivíduos ao seu redor(52). Esses guias orientam

para a escolha de preparações caseiras, dando preferência ao consumo de alimentos de origem vegetal, tais como frutas e saladas, usar sal e açúcar em preparações e bebidas caseiras de forma moderada, evitando o uso de carnes processadas, de bebidas açucaradas e dos PUP de forma geral.

Apesar dos pontos fortes do presente estudo, algumas limitações precisam ser apontadas. Primeiramente, apesar do desenho longitudinal do estudo, não foi possível obter dados adequados sobre consumo alimentar em 2009, o que limita a avaliação de uma relação causal entre os componentes da dieta e os indicadores de obesidade. No

163

entanto, o estado nutricional na linha de base foi utilizado como possível modificador de efeito, o que reduz a probabilidade de viés de causalidade reversa. Segundo, embora o erro de recordatório seja uma limitação inerente ao instrumento usado para avaliar o consumo alimentar, diversos cuidados metodológicos foram adotados para contornar esse problema, incluindo o uso do multiple pass method e o treinamento dos entrevistadores na sua aplicação. Adicionalmente, embora tenha sido usado um software desenvolvido nos Estados Unidos para a entrada dos dados sobre consumo, a inclusão dos itens alimentares for corrigida com base em receitas e tabelas nacionais, usando um procedimento padronizado no registro das informações. As perdas de acompanhamento são outra possível limitação, uma vez que houve menor percentual de homens jovens e solteiros em 2012 do que na linha de base. Porém, é pouco provavel que isso tenha afetado os resultados, uma vez que as diferenças entre localizados e não localizados nessas categorias foram de no máximo 3,6 pontos percentuais.

Concluindo, o presente estudo mostrou que o menor consumo de fibras e um elevado consumo de açúcar de adição PUP, de carboidratos de outras fontes, de gorduras trans e de proteínas animais estão relacionados com maiores valores de IMC e CC peso entre indivíduos com excesso de peso prévio. Este resultado é particularmente relevante para países de renda média ou baixa, uma vez que muitos dos adultos e idosos residentes em esses países estiveram mais expostos a períodos de desnutrição em etapas iniciais da vida. De acordo com as hipóteses de programação biológica e do “fenótipo econômico”(16, 33)

seria mais difícil para esses indivíduos perder peso e manter o mesmo dentro dos limites da normalidade uma vez que o indivíduo se torna obeso. Por este motivo, a formulação de estratégias de longo prazo que estimulem mudanças de hábitos alimentares permanentes é fundamental, principalmente entre indivíduos com excesso de peso. Essas recomendações devem incluir a restrição no consumo de bebidas açucaradas e outros carboidratos simples, de proteínas de origem animal e gorduras trans, assim como a promoção no consumo de produtos ricos em fibra.

164

REFERÊNCIAS

1. Lim SS, Vos T, Flaxman AD, Danaei G, Shibuya K, Adair- Rohani H, et al. A comparative risk assessment of burden of disease and injury attributable to 67 risk factors and risk factor clusters in 21 regions, 1990–2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010. The Lancet. 2012;380(9859):2224-60.

2. Ng M, Fleming T, Robinson M, Thomson B, Graetz N, Margono C, et al. Global, regional, and national prevalence of overweight and obesity in children and adults during 1980–2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. The Lancet. 2014;384(9945):766-81.

3. Stevens GA, Singh GM, Lu Y, Danaei G, Lin JK, Finucane MM, et al. National, regional, and global trends in adult overweight and obesity prevalences. Popul Health Metr. 2012;10(1):22.

4. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro2010.

5. Lehnert T, Sonntag D, Konnopka A, Riedel-Heller S, Konig HH. Economic costs of overweight and obesity. Best Pract Res Clin Endocrinol Metab. 2013 Apr;27(2):105-15.

6. de Oliveira ML, Santos LMP, da Silva EN. Direct Healthcare Cost of Obesity in Brazil: An Application of the Cost-of-Illness Method from the Perspective of the Public Health System in 2011. PLoS ONE. 2015;10(4):e0121160.

7. Popkin BM, Adair LS, Ng SW. Global nutrition transition and the pandemic of obesity in developing countries. Nutrition Reviews. 2012;70(1):3-21.

8. Louzada MLdC, Baraldi LG, Steele EM, Martins APB, Canella DS, Moubarac J-C, et al. Consumption of ultra-processed foods and obesity in Brazilian adolescents and adults. Preventive Medicine. 2015;81:9-15.

9. Swinburn BA, Sacks G, Hall KD, McPherson K, Finegood DT, Moodie ML, et al. The global obesity pandemic: shaped by global drivers and local environments. The Lancet. 2011;378(9793):804-14. 10. Monteiro CA, Levy RB, Claro RM, de Castro IRR, Cannon G. Increasing consumption of ultra-processed foods and likely impact on

165