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Famílias parafrásticas dos saberes da FDMP

No documento 2011MarioRafaelYudiFukue (páginas 139-142)

QS 21: Família parafrástica dos saberes hiperdiscursivos sobre TAB

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISES

3.3 BLOCO I: FD médico-psiquiátrica

3.3.5 Famílias parafrásticas dos saberes da FDMP

Antes de passar, à análise das discursividades que compõem o recorte que realizamos de dizeres da formação discursiva religiosa, devemos apresentar os quadros-sínteses com as famílias parafrásticas dos saberes da FDMP, conforme investigado nas seções anteriores.

Quadro-síntese 9 – Família parafrástica dos saberes da FDMP sobre “paciente bipolar”

Domínio Det. Disc. Designação de Paciente Det. Discursivo

SD 15 portador de TB

SD 16 pessoa que tenha uma fase depressiva [...] e

depois... um episódio maníaco

SD 16 Paciente Bipolar

SD 20 uma parcela significativa

da população estas pessoas

SD 21 pacientes bipolares que nunca tiveram fases depressivas Deprimidos que só tiveram uma fase maníaca

enquanto as depressivas foram numerosas

SD 22 Pacientes que só apresentam fases de mania... e

mesmo assim são diagnosticados como bipolares

SD 23 Portador que desenvolve os sintomas da doença

aos vinte anos de idade

pessoas que sofrem de transtorno bipolar

SD 25 Outras Pessoas

Pacientes uma minoria, que não se recuperam.

SD 26 Paciente

SD 36 Estas Pessoas

SD 39 Alguns Pacientes

Pacientes Que não respondam à medicação Que apresentam alto risco de suicídio

ϭϰϬ 

investigados nas discursividades eletrônicas de sites médicos indicam que o imaginário que se constrói sobre o paciente na FDMP é quase uniforme, ou seja, não parece haver disputas ideológicas. Contudo, essa pretensa homogeneidade é falsa, na medida em que as disputas pela palavra e diferentes posições-sujeito se revelam nas designações da doença e seus determinantes discursivos.

Quadro-síntese 10 – Família parafrástica dos saberes da FDMP sobre “diagnóstico”

Domínio Det. Discursivo Designação Det. Discursivo

SD 16 Diagnóstico Verdadeiro

SD 17 Diagnóstico Correto

SD 18 Diagnóstico Difícil

Outros Diagnósticos

SD 19 Diagnóstico Correto

A SD 18 qualifica o diagnóstico como “difícil”, o que, de fato, evidencia a dificuldade em estabelecer a fronteira entre o TAB e outros transtornos e doenças psiquiátricas. A dificuldade de diagnóstico resulta em tratamentos deficitários ou inapropriados.

Quadro-síntese 11 – Família parafrástica dos saberes da FDMP sobre “doença”

Domínio Det. Disc. Designação Det. Discursivo

SD 15 TB

SD 16 TB

SD 18 TB

SD 20 Bipolaridade

Transtorno psiquiátrico De maior impacto social e econômico da humanidade

SD 22 Denominação TAB É adequada?

Transtorno

SD 27 TB, Problema Bioquímico, mas também psicológico e

social

SD 29 Transtorno mental Em que o humor assume autonomia

SD 30 Enfermidade Na qual ocorrem alterações de humor

Condição médica Frequente

SD 32 Doença Relacionada ao humor ou afeto

Doença Crônica, grave,

ϭϰϭ 

SD 33 Transtorno Recorrente

SD 34 Doença Psiquiátrica

Muito bem definida

Transtorno Com sintomatologia mais consistes na história da psiquiatria.

SD 35 TB Sexta maior causa de incapacitação no

mundo Bipolaridade

Transtorno Psiquiátrico

De maior impacto social e econômico da humanidade.

SD 37 Bipolaridade do humor

As designações para o TAB apontam para duas posições-sujeito dentro da FDMP. Há uma posição-sujeito que se identifica com a forma-sujeito da FD, o que é percebido pelas diversas designações que se alinham com a noção de TAB como distúrbio psiquiátrico. Entretanto, há também uma posição-sujeito que se contraidentifica com a forma-sujeito e que nomeia o TAB como transtorno mental, remetendo o transtorno à dicotomia positivista de

normal e anormal, tomando normalidade e doença como dois extremos de um continuum.

Percebe-se também nos diferentes determinantes discursivos deste bloco a presença de uma formação ideológica capitalista. Nesses termos, o TAB é qualificado como “doença incapacitante de maior impacto social e econômico”. Portanto, a doença apresenta-se como um problema econômico por incapacitar o portador de TAB para o trabalho.

Quadro-síntese 12 – Família parafrástica dos saberes da FDMP sobre “tratamento”

Domínio Det. Discursivo Designação Det. Discursivo

SD 16 Tratamento Adequado

SD 19 Tratamento Correto

SD 23 Conduta

SD 24 Tratamento Adequado

SD 37 Tratamento Farmacológico

Tratamento Que envolve uma combinação de abordagens...

SD 39 Bom Tratamento Farmacológico

ϭϰϮ 

farmacológica, o que se explica pelos valores biologicistas que marcam ideologicamente o discurso da FDMP. Nesse sentido, como a doença é interpretada como um mal fisiológico, o tratamento “adequado” deverá tratar o desequilíbrio orgânico, o que explica a forte ênfase na terapia medicamentosa.

Na perspectiva foucaultiana do nascimento da clínica do uso política da medicina, o tratamento pode ser visto como um instrumento estatal para restabelecer a capacidade produtiva de portadores de transtornos mentais. Em outras palavras, o tratamento “adequado” é aquele que restabelece a capacidade laboral do indivíduo, o que acarreta a minoração dos gastos estatais com saúde e a incrementarão do poder produtivo da nação.

Na FDMP vemos funcionar o discurso científico do tipo autoritário, conforme explanado por Orlandi (1996). O sujeito do discurso, mesmo ocupando posições-sujeito que diferem da forma sujeito da FD, ocupa o lugar do cientista e, por isso pode estabelecer diagnósticos, prescrever tratamento e prever resultados de um diagnóstico inadequado ou de um tratamento apropriado.

Os saberes médico-psiquiátricos sobre o TAB refletem a intersecção entre a ideologia biologicista e o discurso médico. Além disso, as discussões em torno da dicotomia normal/patológico denunciam duas posições-sujeito inscritas no discurso da FDMP: uma não estabelece um valor padrão para normalidade e interpreta o “ser bipolar” como “ser outro ser”; a outra se contraidentifica com a forma sujeito e pressupõe a existência de valores padrão para normalidade, o que resulta em interpretar o “bipolar” como “anormal” por não se enquadrar nos valores da “normalidade”.

No documento 2011MarioRafaelYudiFukue (páginas 139-142)