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Farmacopéia da Mandrágora: verdades e mitos

Capítulo 3 SÍMBOLOS, MITOS E RELIGIÃO: A RELIGIOSIDADE NO ANTIGO ISRAEL

2. Religião

3.1 Farmacopéia da Mandrágora: verdades e mitos

As mais antigas fontes escritas médico-farmacêuticas são provenientes das civilizações da Mesopotâmia e Egito. Na Mesopotâmia são constituídas por tabuinhas de argila gravadas com um estilete em escrita cuneiforme. No Egito as fontes escritas são principalmente papiros. O papiro mais importante para a história da Farmácia é o de Ebers de 1550 a.C. Tem mais de vinte metros de comprimento e inclui referências a mais de sete mil substâncias medicinais incluídas em mais de oitocentas fórmulas121.

O uso de plantas para envenenar adversários, condenados à morte e amantes é mais antigo do que se imagina. Ao longo da história encontramos o uso de alcalóides para matar e enfeitiçar. As plantas tanto serviam para aproximar como para afastar os amantes.

119 Helena Petrovna Blavatsky, Glossário Teosófico. 5ª. Edição, Rio de Janeiro: Editora Ground, 1995,

778p.

120 Helena Petrovna Blavatsky, Glossário Teosófico. 5ª. Edição, Rio de Janeiro: Editora Ground, 1995,

778p

121 Ângelo C. Pinto. Alcalóides: da morte de Sócrates aos inibidores de acetilcolinesterase. Trabalho

A fama da Mandrágora cresceu na Idade Média. Maquiavel122 escreve uma peça teatral “A Mandrágora”, aproveitando-se da fama e do mito que a cercava. Ele conta a história do jovem florentino Calímaco, que por conta de uma aposta, conhece e passa a desejar furiosamente uma mulher casada que não consegue ter filhos com seu marido. Para conquistá-la, com ajuda de um jovem embusteiro, de um frei sem escrúpulos e da mãe da recatada esposa, ele finge ser médico e receita um tratamento a base de mandrágora.

Gil Felippe, PhD em Botânica, relata que na Grécia, a mandrágora, era conhecida como planta de Circe por ser eficaz como poção do amor. Também na Grécia acreditava-se que era um afrodisíaco, consumida não só por homens comuns, mas também pelos sátiros. No Egito antigo era um símbolo de amor e potente afrodisíaco; faziam com ela um vinho que era muito popular123. Se mito ou verdade ele relata que o período mais favorável para colher a mandrágora é durante a lua cheia, entre a Páscoa e o dia de Ascensão.

Conhecida há milhares de anos, foi muito utilizada na Antigüidade e na Idade Média, em manipulações, quer na medicina, quer na feitiçaria, nas religiões campesinas e entre os escravos. São-lhe atribuídas as seguintes propriedades medicinais: afrodisíaca, alucinógena, analgésica e narcótica.

Ela é estimulante, principalmente por sua raiz devido à presença de muitos alcalóides124, entre eles a atropina125. “Por conter hiosciamina126 foi usada como

122 Nicolau Maquiavel escreve “A Mandrágora” uma peça de teatro, em 1503 e publica-a, pela primeira

vez, em 1524.

123 Gil Martins Felipe. No rastro de Afrodite: Plantas afrodisíacas e culinárias. p. 230

124 Alcalóides são compostos nitrogenados, em geral, heterocíclicos, de caráter básico, que são

normalmente produzidos por vegetais e têm ação enérgica sobre os animais - em pequenas quantidades podem servir como medicamentos, e em doses maiores são tóxicos. Eles correspondem aos principais terapêuticos naturais com ação: anestésica, analgésica, psico-estimulantes, neuro-

anestésico até 1846, quando passaram a usar o éter. Dioscórides, cirurgião a serviço de Nero, a utilizava durante suas cirurgias”127 O efeito afrodisíaco é o resultado da ação desses alcalóides. Conheceremos um pouco mais sobre suas propriedades farmacológicas que deram vazão ao mito que as cerca.

O que faz uma planta ser considerada afrodisíaca? Segundo Gil Felippe o efeito afrodisíaco é o resultado da ação desses alcalóides. Plantas afrodisíacas são encontradas entre as gimnospermas, as monocotiledôneas e as dicotiledôneas nos mais diversos cantos do nosso planeta. Ele aponta a existência de mais de quatrocentas espécies de plantas afrodisíacas, mas de acordo com a ciência quantas na verdade podem ser aceitas como tendo um papel na libido? Para uns, afrodisíaco é a substância que acorda a libido e para outros a que age diretamente na genitália. Qual seria realmente a sua ação?

Segundo Gil Felippe, a verdade é que a Atropa beladona, Hyoscyamus niger e muitas outras solanáceas como a Mandragora officinarum contém alcalóides, são venenosas e contém um potente sedativo e analgésico. Em quantidades suficientes, induzem a um estado de torpor e obliteração, propriedades essas que eram usadas em cirurgias antigas. A Mandragora officinarum se tornou uma preparação homeopática oficial em 1877 e hoje raramente é usada para qualquer outro propósito. Ela não deve

depressores, etc. Os alcalóides distribuem-se por toda a planta, mas tendem a se acumular em certas regiões, em particular nos tecidos externos, no tegumento das sementes e nas cascas dos caules e raízes. Em cada planta existe sempre uma mistura própria de vários alcalóides com estrutura química semelhante, e geralmente observa-se predomínio de um deles (alcalóide principal).

125 A atropina é um alcalóide, Atua bloqueando o efeito do nódulo sinoatrial, o que aumenta a condução

através do nódulo atrioventricular e conseqüentemente o batimento cardíaco. A atropina quase não produz efeitos detectáveis no SNC nas doses usadas na prática clínica. Em doses terapêuticas (0,5 a 1,0 mg), a atropina causa apenas excitação vagal suave em conseqüência da estimulação da medula e centros cerebrais superiores. Com doses tóxicas da atropina a excitação central torna-se mais acentuada, produzindo agitação, irritabilidade, desorientação, alucinações ou delírio.

126 Composto da família dos alcalóides atua diretamente no nervo parassimpático dificultando o seu

funcionamento. É extraído de plantas que pertencem à classe das Solanáceas.

ser confundida com Podophyllum peltatum (Mandrágora americana), uma erva medicinal usual, chamada simplesmente de mandrágora.

As partes utilizadas são as raízes. Sua propriedades são sedativas, analgésicas e efeitos purgativos e eméticos. Na antiguidade era utilizada internamente para aliviar a dor, como afrodisíaco e no tratamento de desordens nervosas. Externamente era utilizada para úlceras. Doses altas da Mandrágora podem provocar intoxicação, alucinações, e em casos mais extremos até a morte, por isso devem ser manipuladas somente por médicos qualificados. Atualmente, ela ainda é usada em doses seguras na fabricação de remédios homeopáticos.

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