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CAPÍTULO 4. O MÉTODO PARA O ESTUDO DO FLUXO MATERIAL

4.2. FASE DE COLETA E SISTEMATIZAÇÃO DE DADOS

A fase de coleta e sistematização dos dados será composta das seguintes etapas:

7ª etapa: Definir e delimitar o universo a ser pesquisado.

Em vez da realização do estudo do processo construtivo de toda a edificação é necessário definir e delimitar o universo de observação do processo construtivo em questão. Sugere-se que o pavimento tipo, por ser uma unidade repetitiva, seja a unidade básica de observação para processos construtivos como estruturas de concreto armado, alvenarias, revestimentos internos de paredes e tetos, contra-pisos. No caso de processos como rebocos e revestimentos cerâmicos externos, a sugestão é que as unidades básicas sejam determinadas por fachadas ou prumadas de execução, com áreas a serem observadas definidas por M² executado.

8ª etapa: Definir as atividades e seu conteúdo.

Para a definição das atividades ligadas aos processos construtivos pesquisados será aplicada a técnica da carta de processo, conforme preconizam BARNES (1977) e ISHIWATA (1991).

A partir da definição das atividades do processo construtivo em estudo é necessário definir o conteúdo destas atividades e criar limites entre elas. O conteúdo das atividades se caracteriza pela definição das tarefas que o operador executa na realização da atividade.

É importante ressaltar que o método não se propõe estudar detalhadamente as tarefas que compõem as atividades (análise de operações), ou seja, a ação de homens e/ou máquinas no material ao longo da produção, nos vários postos de trabalhos. Execução de setups, por exemplo, não serão observados detalhadamente, pois o foco central do estudo é na logística no ambiente interno de produção.

O objetivo da definição do conteúdo das atividades é padronizar a coleta de dados durante as observações, dando segurança que, os 30 minutos de trabalho de determinado operário foram alocados na atividade correspondente em que ele estava atuando, neste período de tempo (conforme planilha de meia-hora – 9ª etapa do método). Esta definição é realizada a partir da explosão das atividades em tarefas registrando-as em uma planilha. O registro do conteúdo das atividades em uma planilha é importante para que os observadores se

familiarizem com a execução das atividades e percebam os limites entre elas. Uma vez familiarizados, as planilhas serão consultadas somente em caso de dúvidas.

O processo de atualização das atividades e de seu conteúdo deve ser dinâmico, pois poderão surgir alterações em ambos, ao longo do tempo de execução dos empreendimentos e os observadores deverão estar atentos a estas alterações. O método proposto apresenta a flexibilidade necessária para absorver e registrar estas possíveis alterações ao longo da execução dos processos construtivos.

9ª etapa: Aplicar a Planilha de Meia-Hora

A Planilha de Meia-Hora objetiva documentar a atuação dos operários (por categoria) envolvidos na realização das atividades do processo construtivo em estudo. Visando alocar o recurso mão-de-obra direta (tempo de trabalho do operário) na respectiva atividade que absorve este recurso, deverão ser realizadas observações a cada 30 minutos, durante todas as horas úteis do dia de trabalho, durante todos os dias efetivamente trabalhados, na execução do processo construtivo em estudo. Essas observações serão reunidas em planilha diária (uma para cada dia de observação) denominada planilha de meia-hora, apresentada no anexo 01.02 deste trabalho.

Alguns princípios serão adotados na aplicação da planilha de meia- hora:

1. As observações serão realizadas por atividades que compõem o processo, analisando-se, se o operário esta ativo (trabalhando) ou inativo (não trabalhando) e no caso de inatividade, observar e quando se fizer necessário pedir informações diretamente ao operário para definir e anotar as causas desta inatividade.

2. As observações não serão realizadas de forma instantânea conforme preconiza BARNES (1977), pois o que interessa ao método proposto, não é o que o operário esta fazendo exatamente no momento que o observador faz o registro e sim em que atividade do processo construtivo o operário esta trabalhando, no período de 30 minutos daquela observação. Adota-se como princípio que o momento da observação é representativo do intervalo de 30 minutos entre as observações.

3. As observações objetivam alocar o recurso mão-de-obra direta (30 minutos de trabalho do operário) na respectiva atividade do processo construtivo que está utilizando esse recurso.

4. O percurso percorrido pelo observador deverá ter uma seqüência padrão definida, isto é, um ponto ou posto de trabalho para iniciar e um para concluir o ciclo de observações. Mudanças nesta seqüência poderão ocorrer ao longo do dia, considerando o aspecto posicional do sistema de produção na construção civil.

5. A mesma planilha diária será utilizada pelo observador do período da manhã e pelo que atua no período da tarde.

6. Somente serão observados os operários que estejam atuando diretamente no processo construtivo estudado. Operários atuando em outros processos construtivos não serão observados.

7. Muitas vezes, na construção civil, o operário é mais conhecido por seu apelido (cognome) do que pelo seu próprio nome. Nestes casos, para melhor caracterizar a atuação do operário e evitar erros nos registros, com o consentimento do mesmo, escreve-se na planilha a forma (cognome) pela qua l ele é conhecido na obra.

8. O objetivo da caracterização das observações em horas trabalhadas (T) e não trabalhadas (NT) é propiciar a observação e análise das causas de ociosidade da mão-de-obra, e identificar em que períodos do dia estão ocorrendo, com mais freqüência, os maiores índices de ociosidade e suas causas. A planilha de meia hora oferece uma visão temporal da realização do trabalho ao longo do dia.

9. A observação caracterizada como não trabalhada (NT) é um tempo (30 minutos) em que a empresa esta pagando ao operário (utilizando recursos financeiros), porém este operário não esta dando o correspondente retorno em produção (agregando valor) para a empresa. Como princípio, as observações caracterizadas como não trabalhadas (NT), também serão consideradas no somatório das horas totais pagas pela empresa ao longo do dia de trabalho.

10. Como a planilha de meia-hora registra, entre outras informações, os nomes dos operários, as horas ociosas destes e suas causas, é importante que esta não se transforme em instrumento de punição para os operários. Se isto vier acontecer é provável que a atuação dos observadores perca credibilidade, apoio e a colaboração dos operários envolvidos.

11. É interessante que a partir dos primeiros dias de observação, quando os observadores já estejam familiarizados com o canteiro, com o processo e com a rotina de observações, seja elaborada uma lista de referencia das principais causas de ociosidade, padronizando assim a caracterização destas causas. Porém, considerando a variabilidade característica da construção civil, eventualmente deverão surgir causas de ociosidade não padronizadas na lista. Estes casos serão resolvidos analisando-se caso a caso.

A figura 23 apresenta o fluxograma sintético da rotina de preenchimento diário da planilha de meia-hora.

INÍCIO Preencher na planilha diária, os nomes ou cognomes e funções de todos os operários, identificando em que atividades estão trabalhando.

Iniciar o primeiro ciclo de observações do dia (7:00 hs)

Realizar o segundo ciclo de observações do dia (7:30 hs)

Sai dalista

N

S

O operário continua trabalhando no processo ? Continua rotina

N

Existe um novo operário

S

trabalhando no processo ?

Anotar nome e função na planilha

O operário trocou de atividade no processo ?

O operário está trabalhando na atividade, em seu posto de

trabalho? Anotar na planilha a letra NT

(1/2 hora não trabalhada) e a causa da paralisação.

Continua rotina

Abrir uma n ova linha na planilha com o nome do operário e a nova atividade em que ele esta trabalhando.

Anotar na planilha a letra T (1/2 hora trabalhada)

Ao final do dia fazer o somatório das horas (totais, trabalhadas e não trabalhadas), de cada operário, alocando estas horas nas atividades do processo em que o operário esteve trabalhando.

Realizar o último ciclo de observações do dia (16:30), caso seja um dia típico. Caso contrário, continuar as observações até todos encerrarem o trabalho.

Ao encerrar as observações de uma unidade básica (ex: um pavimento tipo), fazer o somatório de todas as planilhas diárias, correspondentes aos dias totais trabalhados e transferir estas informações para a planilha carta de processo adaptada.

N

S

N

S

FIM

Figura 23: Fluxograma sintético da rotina de preenchimento diário da planilha de meia-hora

Realizar os ciclos de observações ao longo do período de trabalho do dia, com intervalos de 30 minutos entre ciclos.

10ª etapa: Consolidar os dados na planilha Carta de processo adaptada

Depois de encerrada a fase de coleta e processamento dos dados obtidos através das planilhas diárias (planilha de meia- hora) estas informações e outras referentes aos equipamentos, ferramentas e ao layout do canteiro de obras serão reunidas em uma planilha denominada Carta de processo adaptada (anexo 01.03). Esta planilha sofreu adaptações em relação à carta de processo original com vistas a atender os objetivos deste trabalho.

Esta etapa (consolidação dos dados na planilha carta de processo adaptada) se encontra em uma fase de transição entre a fase II do método (fase de coleta e sistematização de dados) e a fase III (fase de análise dos dados e elaboração de indicadores).

11ª etapa: Elaborar a Memória de cálculo

Na memória de cálculo (anexo 01.04), serão registradas as informações necessárias para elaboração dos custos das atividades e dos processos, bem como os valores de vários indicadores de consumo de recursos. Algumas informações serão fornecidas pelas empresas (quadros em amarelo), outras serão obtidas pelas observações de campo. Os cálculos serão realizados em planilha eletrônica (Excel). Esta memória de cálculo funcionará como banco de dados para as outras planilhas existentes.

Algumas considerações serão apresentadas para a elaboração da memória de cálculo:

a) Os custos indiretos que incidem sobre os custos diretos de mão-de-obra serão transformados em custo/horário, por categoria profissional;

b) As informações deverão ser obtidas em departamentos de orçamentos, de compras e departamentos técnicos, das empresas.

c) Os índices de incidência de leis sociais deverão ser aqueles praticados pelas empresas.

d) O custo relativo a vale transporte deverá ser calculado conforme lei que regulamenta o assunto.

e) Os custos de EPI e alimentação deverão ser os custos médios praticados pelas empresas;

f) Os custos com pagamento por produção (incentivos financeiros), deverão ser calculados por categoria profissional, conforme praticados pelas empresas e transformados em custo/horário;

g) O consumo dos materiais deverá ser anotado diariamente para utilização no cálculo do custo relativo aos materiais. O consumo de cimento, por exemplo, deve ser apropriado por unidade básica do processo construtivo em estudo (pavimento tipo) e a partir dos traços de argamassa praticados pela empresa, deve-se estimar o consumo dos outros materiais (areia, barro e aditivos).

h) Considerando-se o grande esforço de obtenção e por não se tratar de um dos objetivos do método proposto, não serão apropriadas as perdas relativas aos materiais utilizados, bem como estas não serão consideradas na composição dos custos de produção dos processos construtivos em estudo, muito embora se reconheça que elas existem e que são parcelas consideráveis nos custos de produção.

i) Os custos de aquisição ou aluguel dos equipamentos (elevadores de cargas, guinchos, betoneiras, carrinhos de transporte de materiais e escantilhões para alvenarias), utilizados na execução dos processos construtivos em estudo, deverão ser fornecidos pelas empresas.

j) Os custos relativos à operação dos equipamentos (mão-de-obra), deverão ser rateados e alocados, de forma ponderada, em cada processo construtivo que utiliza de forma compartilhada este recurso. No caso do uso da betoneira, por exemplo, deve ser registrado o consumo de cimento total do dia, bem como o consumo individual de cada processo construtivo que, neste dia, utilizem o insumo cimento. As horas totais de trabalho do operador da betoneira, neste dia, deverão ser rateadas, de forma proporcional ao número de sacos de cimento utilizados em cada processo. No caso do operador do elevador de obra, critério semelhante pode ser adotado, tendo-se em mente que, existem processos construtivos que necessitam do uso do elevador e que não consomem cimento. Nestes casos, eles também deverão ser considerados no rateio das horas do operador.

Uma outra forma simples de apropriação das horas do operador, quando o equipamento é compartilhado por vários processos construtivos, é solicitar que o próprio operador faça o rateio de suas horas de trabalho, pelos vários processos em andamento no dia.

Esta etapa (elaboração da memória de cálculo) se encontra em uma fase de transição entre a fase II (fase de coleta e sistematização de dados) e a fase III (fase de análise dos dados e elaboração de indicadores).

12ª etapa: Elaborar as planilhas Custos do processo e Resumo dos custos do processo

Na planilha custos do processo (anexo 01.05), poderão ser observados, entre outras informações: (1) os custos relativos à mão-de-obra direta, de forma detalhada por categoria profissional, especificando as horas trabalhadas e não trabalhadas e seus respectivos custos por atividades; (2) os custos de materiais, por atividade; (3) os custos de equipamentos, por atividade; (4) os custos relativos a investimentos, se houver, por exemplo: uma melhoria nas condições do canteiro de obras; (5) o custo total (geral) e os custos totais (por atividade). Ainda são apresentados a relação percentual entre os custos de materiais, mão-de-obra e equipamentos e também o custo/ m2 da unidade básica do processo construtivo observado.

Na planilha resumo dos custos do processo (anexo 01.06), poderão ser observados, de forma resumida: (1) os custos relativos à mão-de-obra, por atividade; (2) os custos de materiais, por atividade, (3) os custos de equipamentos, por atividade, (4) custos relativos a investimentos; (5) o custo total (geral) e os custos totais (por atividade). Ainda são apresentados a relação percentual entre os custos de materiais, mão-de-obra e equipamentos, bem como o custo/ m2 do processo observado. Nesta planilha, são apresentadas, ao lado das colunas referentes aos itens de custos, duas outras colunas, sendo uma a classificação do tipo “ABC” destes custos e outra uma forma de ordenação dos mesmos.

Esta etapa (elaboração das planilhas custos do processo e resumo dos custos do processo) se encontra em uma fase de transição entre a fase II (fase de coleta e sistematização de dados) e a fase III (fase de análise dos dados e elaboração de indicadores).