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CAPÍTULO 6 – O CLUBE DO LIVRO IDENTIDADE

6.4. Fase D, o contrato psicológico

Selecionados os 15 participantes da pesquisa, realizamos a primeira reunião do Clube do Livro Identidade.

Compareceram 05 dos 15 participantes selecionados. Primeiramente fizemos, por meio de apresentação em data show (Apêndice A), um esboço geral sobre a pesquisa, dizendo nosso interesse pessoal pelo tema, que esta era, ao mesmo tempo, uma pesquisa de dissertação de mestrado e uma atividade de extensão. Expomos o que se esperava de cada participante e a dinâmica sugerida de funcionamento do Clube, composta pela sessão inicial de planejamento e contrato psicológico que ora estava acontecendo, pelas três sessões de discussão da obra literária, pela sessão de fechamento para feedback da pesquisa e uma entrevista individual para encerrar a participação dos estudantes.

Dizemos aqui que essa dinâmica é sugerida, pois, conforme dito anteriormente, somos orientados:

 pela concepção rogeriana de grupo terapêutico (Rogers, 2002), onde todos têm igual poder, já que o terapeuta é tido como um dos participantes, não se apresentando como especialista ou figura de poder, e sim expondo-se pessoalmente;

 pelo entendimento de experimento grupal da Gestal-terapia (Zinker, 2007, p. 146), que envolve o estabelecimento da base de trabalho (contrato psicológico que ora descrevemos), a negociação de consenso entre terapeuta e cliente (sugestões coletivas e espontâneas), a graduação de trabalho de acordo com as dificuldades percebidas (maior intimidade dos membros do grupo ao decorrer da pesquisa), a escolha do experimento em particular (sessões literárias mensais) e o questionamento do cliente a respeito de insights e desleituras (através das intervenções surgidas ao longo das sessões);

 e pelo entendimento de sujeito pesquisado numa pesquisa-ação existencial, uma vez que, pelo contrato, “o cliente torna-se ativo, participante e aliado do pesquisador profissional” (Barbier, 2007, p. 120).

Em seguida, fizemos uma exposição do referencial teórico da pesquisa, que consistiu na explicitação e exemplificação do conceito de desleitura e de como ele seria trabalhado nas sessões. Para isso, usamos de nossa própria experiência pessoal. Avisamos que, no final de cada sessão, seria pedido para cada participante que fizesse sua Versão de Sentido (instrumento de pesquisa mais comumente realizado em trabalhos de cunho fenomenológico, a qual consiste em um relato livre e espontâneo acerca da experiência e sentimentos atuais da pessoa).

Entregamos e lemos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE – (Anexo F), explicando alguns detalhes burocráticos como a possibilidade de publicação futura, antes de recolhermos a assinatura dos estudantes.

Realizada a parte teórica e burocrática dessa primeira sessão, fomos para a parte de construção coletiva do Clube, através da elaboração do nosso contrato psicológico, no qual tivemos a apresentação pessoal de cada participante, a escolha do nome do Clube do Livro, a formulação das regras e dinâmica interna do grupo (como a permissão recebida para o registro audiovisual das sessões), a readequação do horário para os encontros e o debate de como seria importante manter o caráter sigiloso sobre o conteúdo interno das sessões de discussão, uma

vez que, muitas vezes, as sessões poderiam adquirir uma face de terapia de grupo (conforme a concepção não tradicional, minimalista e do senso comum de processo terapêutico, explicada no capítulo 3).

Sobre a escolha das obras literárias, emitimos nossa preferência pelos clássicos da literatura, mas deixamos em aberto a escolha de outras obras, como da literatura contemporânea, alertando sobre a necessidade de não ser aceita qualquer obra e sim algo que, reconhecidamente, possa acrescentar conteúdos emocionais e intelectuais ao sujeito leitor, excluindo-se, dessa forma, sugestões de best-sellers e blockbusters lucrativamente apropriados pelo cinema “holiudiano”, como as sagas Harry Potter, Crepúsculo, Cinquenta

tons de cinza e etc. (conforme orientação na qualificação deste projeto de pesquisa). Para tal,

entregamos uma lista sugestiva de livros para os encontros, onde se tem uma breve sinopse, a justificativa para uma eventual escolha da obra em questão e nossos destaques pessoais a respeito de cada obra (Apêndice B).

Afora nossa lista de sugestões, também mostramos uma lista com as obras disponíveis na biblioteca do campus. Essa foi uma orientação da CDAE em razão de alguns estudantes estarem numa situação financeira mais prejudicada. Todavia, procuramos não nos ater muito aos livros disponíveis na biblioteca porque consideramos que faz parte do caráter didático – por assim dizer – do Clube do Livro também inspirar certo comportamento de autonomia e pró-atividade do participante, de ir atrás da obra escolhida com seus próprios recursos, como empréstimo entre amigos, de bibliotecas públicas (Biblioteca Nacional e Biblioteca da 512 Sul) e etc.

As sugestões são, em sua totalidade, romances, pois nos identificamos com a perspectiva de Lukács, que acredita que esse gênero literário “busca descobrir e construir, pela forma, a totalidade oculta da vida” (2000, p. 60) e com Bloom (2001), para quem:

O mais importante é a identidade do leitor, uma vez que é impossível deixar de se colocar, pessoalmente, no ato da leitura. Visto que a maioria de nós traz consigo expectativas específicas, a leitura do romance introduz uma diferença, pois esperamos encontrar, senão nossos amigos e a nós mesmos, pelo menos uma realidade social reconhecível, seja contemporânea ou histórica (p. 137). Houve um interesse por Noites brancas, de Fiodor Dostoievski, para ser a obra objeto do primeiro encontro de discussão (e segundo encontro geral do grupo), mas, por avisarmos que a obra não era razoavelmente extensa, não sendo interessante para um primeiro encontro, e pelo grupo querer mais sessões de discussão do que somente as três anteriormente previstas,

resolveu-se colocar esse livro em uma sessão extra de discussão, junto com a sessão de feedback da pesquisa.

No final do encontro, pré-agendamos a data provável do primeiro encontro para a discussão propriamente dita e decidimos o livro para a leitura.