Fase A, processo de experiência pessoal

Nesta fase inicial do projeto, visamos um autoaperfeiçoamento para ajudar-nos na construção do nosso Clube do Livro Identidade, autoaperfeiçoamento esse que veio através de participações em outros dois clubes de leitura, o Clube de Leitura Veredas e o Clube do Livro Com Letras.

6.1.1. Clube de Leitura Veredas

O Clube de Leitura Veredas surgiu há aproximadamente três anos a partir da iniciativa de duas professoras da rede distrital de ensino que gostavam de literatura.

Uma das professoras dava aulas para a filha da outra e, com o gosto em comum de literatura, trocavam dicas de livros infantis para serem trabalhos em sala de aula, principalmente as obras de Ziraldo. De certa forma, pode-se dizer que o Clube de Leitura Veredas começou como sendo um clube de leitura infantil.

A interação e as indicações literárias saíram do âmbito exclusivo da sala de aula e também se transformaram no projeto de reinauguração da biblioteca da Escola Classe, na 304 Norte, quando uma das professoras assumiu a coordenação da referida biblioteca.

Saindo do ambiente escolar, as duas professoras decidiram montar um clube de leitura, inspiradas pela película norteamericana O clube de leitura de Jane Austen (Swicord, 2007), onde um grupo de pessoas se reúne para discutir os seis romances de Jane Austen (Razão e

Sensibilidade, Orgulho e Preconceito, Mansfield Park, Emma, A Abadia de Northanger e Persuasão). No enredo, ao longo das discussões literárias, os personagens do filme vão

adquirindo algumas características dos personagens literários.

Em seguida, convidaram quem conheciam que também gostasse de literatura e formaram o Clube de Leitura Veredas, sem regras de participação obrigatória, contando atualmente com aproximadamente 20 pessoas, com grande maioria de mulheres, que se

encontram uma vez por mês para a discussão da obra previamente lida, escolhida pela maioria através de indicação e de votação dos integrantes que participaram do encontro anterior.

A relação entre os participantes é amistosa e acontece mesmo fora das reuniões de discussão, por meio de e-mail, grupo virtual do aplicativo Whatsapp6 _{(cujo avatar do grupo}

corresponde à capa do próximo livro a ser lido), comemorações de familiares e festa de aniversário do clube. A maioria das indicações de leitura é dos livros de autores contemporâneos. Não há uma espécie de “participação obrigatória”, tendo membros que suspenderam sua participação no Clube e depois retornaram e membros que vão às reuniões mesmo não tendo lido a obra por completo ou nem começado. Depois de discutida a obra em foco, os participantes têm seu momento de descontração, com conversas sobre si mesmos, seus empregos, sobre como estão os membros ausentes, planos futuros, indicações literárias a serem lidas fora das reuniões, empréstimo de livros e etc.

Uma das principais características desse clube é que não há uma sede fixa de encontro para a discussão. A sede do encontro geralmente é um restaurante que serve comida que tem alguma relação com a obra em questão: a reunião sobre o Compadre de Ogum (1964), de Jorge Amado (1912-2001), aconteceu num restaurante de comida baiana, com a especialidade de tapioca; para se discutir As travessuras da menina má (2006), do ganhador do Nobel de Literatura de 2010, Mario Vargas Llosa (1936-), fomos a um restaurante com tempero mexicano; a discussão de Minha querida Sputnik (2008), de Haruki Murakami (1949-), ocorreu num restaurante de comida japonesa; para a obra O clube do livro do fim da vida (2012), de Will Schwalbe, o encontro se deu no restaurante e livraria Sebinho; e discutimos

Pai Goriot (1835), de Honoré de Balzac (1799-1859), em um famoso bistrot de Brasília.

O Clube de Leitura Veredas atualmente se mantém “em funcionamento” e com uma frequência regular de encontros, uma vez por mês, tendo já sido realizado encontros com somente duas pessoas.

6_{Aplicativo gratuito disponível para smartphones no qual as pessoas trocam mensagens instantâneas de texto,}

6.1.2. Clube do Livro Com Letras

Já o Clube do Livro Com Letras tem um forte viés institucional, pois é promovido pela Livraria Com Letras, na sua sede em Águas Claras, para os clientes e convidados, que por sua vez tornam-se futuros clientes. Conta com aproximadamente 08 pessoas, a maior parte homens (ao contrário do Clube de Leitura Veredas).

A escolha da obra objeto de discussão se dá pela votação dos participantes entre as indicações dadas pela livraria em questão. Uma característica notória desse clube é que nos encontros as anfitriãs se valem de recursos visuais ligados à obra literária, através de uma película diretamente relacionada (adaptação para o cinema) ao enredo ou ao contexto temporal e situacional de alguma passagem do livro, ou mesmo de imagens estáticas, numa tentativa de evocar melhor o “clima estético” da obra em questão.

A participação nesse clube de leitura nos deu algumas ideias na elaboração da dinâmica do Clube do Livro Identidade, como o cuidado necessário ao se reconhecer o poderoso efeito que o recurso visual pode trazer para a discussão.

A respeito do recurso visual, consideramos que, muitas vezes, este pode ter um efeito maior que o desejado na interpretação e significação de passagens de uma obra literária. Citamos, como exemplo, o enredo de Dom casmurro, de Machado de Assis, onde paira a eterna dúvida se Capitu traiu ou não Bentinho. Um dos ricos pontos de discussão em relação à obra é essa temática, e determinada capa (Anexo B) desse livro pode ter uma influência (tendenciosa conforme o ponto de vista do ilustrador) mais decisiva no veredicto do leitor do que o próprio texto em si, razão pela qual consideramos errôneo o uso desse recurso visual, a não ser que tal imagem estivesse no corpo do texto, desenhada pelo autor ou colocada lá sob expressa autorização e orientação dele.

Dessa forma, ao elegermos o livro objeto de discussão nas sessões do Clube do Livro Identidade, tivemos o cuidado de sugerir aos participantes que não assistissem à película cinematográfica da obra, pois muitas vezes essas são produzidas conforme uma releitura do diretor ou produtor, o que acaba influenciando na própria interpretação do sujeito leitor ao se interagir com a obra literária.

O Clube do Livro Com Letras atualmente não mantém uma frequência regular de encontros.