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2.3 Orientando a Evolução de Redes de Cooperação

2.3.1 Fase de Formação de Redes de Cooperação

Com base em uma perspectiva evolutiva, alguns pesquisadores (ANDERSON, 1979; RING; VAN DE VEN, 1994, entre outros) realçaram a formação das redes de cooperação como um processo dialético, no qual a negociação, o compromisso, as execuções e as avaliações são os principais componentes. Esses pesquisadores e, posteriormente, Woolthuis (1996), demonstram como os relacionamentos no processo de cooperação surgem e crescem ao longo do tempo, versando, ainda, que a obtenção da compreensão de tais relacionamentos demanda na consideração de interações entre os atores envolvidos, bem como no contexto de inserção dos mesmos.

Nesse sentido, aspectos relacionados com as fases iniciais das redes de cooperação podem ser observados no modelo desenvolvido por Larson (1992). Na primeira fase desse modelo, algumas pré-condições relacionadas com a história da empresa e do empresário representam papel relevante para reduzir a incerteza, fixar obrigações e expectativas que fortalecem os relacionamentos de cooperação entre as empresas que formam as redes. Na segunda fase, devem existir condições necessárias para constituir um relacionamento e vantagens econômicas mútuas. O mesmo autor considera esse último aspecto crucial, já que

as regras e os procedimentos serão estabelecidos entre os atores cooperantes. Mesmo se uma empresa tomar o papel de iniciadora no processo de cooperação, a reciprocidade, as expectativas claras e o desenvolvimento da confiança se constituem em fatores básicos.

Butler, Phan e Hansen (1990) criaram outro modelo que demonstra como se desenvolvem os relacionamentos em redes de cooperação. Esse modelo sugere um processo que começa com redes pessoais e sociais fornecendo informação acerca de oportunidades empresariais, uma vez que a capacidade para criar e explorar redes sociais tem como início a formação de uma rede que culmina no desenvolvimento de relacionamentos de colaboração. Para Ring e Van de Ven (1994), na formação do processo de cooperação, as partes desenvolvem conjuntamente as expectativas acerca das motivações, percebendo, com isso, as incertezas do negócio, cuja exploração estão iniciando. Nessa fase, o ponto crítico está fundamentado em processos de negociação formais e no comportamento das empresas cooperantes, ou seja, como elas selecionam, abordam ou evitam partes alternativas. Ainda, para esse autor, as organizações precisam persuadir, argumentar e estabelecer sobre possíveis termos e procedimentos de um potencial relacionamento.

Exploradas as oportunidades cooperativas, as organizações, na fase de formação, deverão ainda identificar e selecionar os potenciais parceiros, ou seja, os atores passam da fase de estudo para a de ação, propriamente dita. A identificação e seleção de parceiros têm recebido pouca atenção na literatura (FRANCO, 2007). Mesmo assim, quando esse aspecto é mencionado, ele é habitualmente abordado dentro da discussão dos motivos para formar acordos de cooperação entre empresas. Para Geringer (1991), nesses casos, a seleção dos parceiros é um assunto tipicamente tratado como um dado. Para esse autor, tal premissa ainda é verificada mesmo quando a seleção de um potencial parceiro se dá em um contexto em que existe predominância da alta incerteza e os acordos envolvem relacionamentos e formas muito complexas de cooperação.

Dessa maneira, Geringer (1991) sugere duas categorias de critérios que deverão ser consideradas para selecionar parceiros em uma rede de cooperação: a) critérios relacionados com a atividade e a capacidade do negócio, incluindo o conhecimento das condições do mercado, o conhecimento em relação ao meio envolvente e a influência política; e b) critérios associados com a personalidade do empresário/parceiro, que englobam variáveis como: a reputação, o potencial para manter um relacionamento estável, a posição dentro de um setor de atividade, o profissionalismo, a honestidade e seriedade, a adaptação e o entusiasmo para o estabelecimento da rede de cooperação.

Hermosilla e Solá (1991) afirmam que os parceiros deverão ser, tanto quanto possível, os melhores do seu ramo de negócio, ou seja, aqueles que, por meio da experiência, melhores contribuições poderão trazer para o processo de cooperação. Ebers e Jarillo (1997) destacam que a vantagem competitiva propiciada pela ação em redes de cooperação pode constituir-se em um fator que leva as organizações a formarem redes. Para esses autores, as vantagens podem ser provenientes de múltiplas fontes, entre as quais: aprendizado mútuo entre as empresas, estratégia de co-especialização, melhor fluxo e coordenação das informações e barreiras de entrada, que são levantadas pela rede como forma de defender a lucratividade dos envolvidos. Outro estudo realizado por Chung, Singh e Lee (2006) demonstra que a complementariedade nos recursos, uma semelhança em termos de status e capital social que é gerado entre os parceiros, são também indicadores importantes para a base da formação da cooperação.

Oliver (1990) destaca fatores contingenciais à formação de redes de cooperação, apresentando seis generalizações determinantes na formação das redes: a) necessidade, b) assimetria, c) reciprocidade, d) eficiência, e) estabilidade e f) legitimidade. Dessa forma, segundo a perspectiva contingencial, subjacente à formação de redes interorganizacionais, tem-se as seguintes razões: exercer influência sobre reguladores (assimetria); promover a coletividade entre os membros por meio do compartilhamento de informações (reciprocidade); obter vantagens econômicas, como por exemplo, melhores recursos e fornecedores (eficiência); reduzir incerteza competitiva mediante esforços para padronizar produtos ou serviços de cada ator da rede (estabilidade); ou, melhorar a imagem da rede e de seus atores (legitimidade). Outro fator crítico na formação das redes interorganizacionais está relacionado com a necessidade de flexibilização das organizações, provocado pelo crescente processo de competição e instabilidade que exige das empresas velocidade e adaptabilidade (BALESTRIN; VARGAS, 2004).

No contexto brasileiro, Verschoore e Balestrin (2008) verificaram cinco fatores necessários à constituição de redes de cooperação no contexto interorganizacional, entre eles: a) escala e poder de mercado; b) acesso à soluções; c) aprendizagem e inovação; d) redução de custos e riscos, e e) relações sociais. As evidências encontradas em grupo de 443 organizações gaúchas (comerciais, industriais e de serviços) demonstraram que a possibilidade de acesso a soluções destacou-se como o fator mais importante para os associados de redes (26,9%) pesquisados. O elevado percentual desse fator indicou que os empresários estabelecem redes de cooperação como meio de minimizar suas dificuldades individuais mediante soluções compartilhadas. Desta forma, para este fator, os resultados

encontrados em Verschoore e Balestrin (2008) corroboram os estudos de Ebers e Grandori (1997), Jarillo (1988), Lorenzoni e Baden-Fuller (1995) e Human e Provan (1997), ao perceber o acesso à soluções como uma ação estratégica da empresa visando aumento de competitividade. Por isso Franco (2007) demonstra que, em diversas iniciativas de cooperação, o acesso à soluções por parte dos associados, por si só, constitui forte motivação para a participação em rede.

O segundo fator mais lembrado por empresários (19,99%) foi a possibilidade de obtenção de escala e poder de mercado advindo com a rede (VERSCHOORE; BALESTRIN, 2008), ou seja, quando se fala em rede, significa a possibilidade de ampliar a força de ação de uma empresa por meio da união com outras empresas. Ressalta-se que este fator aparece, também, nos trabalhos de Lorenzoni e Baden-Fuller (1995), Human e Provan (1997) e Perrow (1992), cuja proposição de que as empresas buscam obter escala e poder de mercado, ao estabelecerem uma rede, já constituíram em fatores verificados anteriormente. Tais resultados evidenciam, portanto, que os ganhos daí derivados são fundamentais na decisão de cooperar.

A aprendizagem e a inovação foram o terceiro fator encontrado como mais importante (19,60%). Para Verschoore e Balestrin (2008), este dado indicou uma das principais revelações do seu estudo. Os resultados evidenciaram que, nas redes de cooperação, o ambiente favorável à aprendizagem organizacional e à geração de inovações possibilita ganhos tão importantes que praticamente se igualam em preferência aos outros fatores mais destacados. Desse modo, os dados empíricos referendam a coerência dos postulados teóricos de diversos autores, entre os quais Powell (1998), Gulati (1998), Schibany e Polt (2001), e Hämäläinen e Schienstock (2001).

O benefício das relações sociais apareceu como o quarto fator mais importante (17,51%), derivado do rol de fatores estudados em decorrência dos múltiplos trabalhos teóricos, que demonstram o impacto de aspectos como o capital social no desenvolvimento socioeconômico e organizacional (COLEMAN, 1990; GAMBETTA, 1988; PUTNAM, 1996). A pesquisa realizada por Verschoore e Balestrin (2008) evidenciou a capacidade de as redes gerarem as condições necessárias ao fortalecimento dos laços de relacionamento entre seus participantes, comprovando, assim, com postulados teóricos de autores como Perrow (1992), Fukuyama (1995) e Gulati et al. (2000). Além disso, esse fator demonstrou que o setor de atuação e o tempo de existência da rede influenciam pouco a percepção em relação a este benefício, reiterando as relações sociais como fator relevante para o estabelecimento de redes de cooperação.

A possibilidade de redução de custos e de riscos mediante as redes de cooperação foi o quinto fator considerado como o mais importante (16,61%) por Verschoore e Balestrin (2008). Sobre esse aspecto, este fator está vastamente documentado em publicações que abordam o tema (EBERS; GRANDORI, 1997; JARILLO, 1988; PRAHALAD; RAMASWAMY, 2004). A pesquisa de Verschoore e Balestrin (2008) contribui com as discussões a esse respeito, ao confirmar, empiricamente, a proposição de que a redução de custos e riscos para os envolvidos é fator relevante para o estabelecimento de redes de cooperação. Embora com graus inferiores a outros ganhos, os representantes de empresas manifestaram que a redução de custos e riscos é um benefício considerado no momento da decisão de cooperar.

Assim, buscando sintetizar os principais aspectos considerados para a formação de redes de cooperação, tem-se o quadro a seguir com a descrição dos fatores condicionantes mencionados e autores relacionados.

Fatores condicionantes Autores relacionados

História da empresa Larson (1992);

Redes Pessoais e Sociais Butler, Phan e Hansen (1990); Coleman (1990); Gambetta (1988) Putnan (1996); Perrow (1992); Fukuyama (1995) e Gulati et al (2000)

Processos de negociação formal Ring e Van de Ven (1994) Comportamentos unilaterais Ring e Van de Ven (1994)

Identificação e seleção de parceiros Geringer (1991); Hermosilla e Solá (1991); Chung, Singh e Lee (2000)

Economia de escala e poder de mercado Veschoore e Balestrin (2008); Lorenzi e Baden-Fuller (1995); Human e Provan (1997); Amato Neto (2000) e Perrow (1992).

Aprendizagem e Inovação Veschoore e Balestrin (2008); Scherer e Zawislak (2007); Powell (1998); Gulati (1998); Schibany e Polt (2001); Hamalainen e Schienstock (2001); Amato Neto (2000) Redução de Custos e Riscos Veschoore e Balestrin (2008); Ebers e Grandori (1997);

Jarillo (1988); Amato Neto (2000) e Prahalad e Kamaswamy (2004).

Razões estratégicas Franco (2007); Ebers e Grandori (1997); Jarillo (1988); Lorenzoni e Baden-Fuller (1995); Human e Provan (1997) Razões exploratórias Franco (2007); Ebers e Grandori (1997); Jarillo (1988);

Lorenzoni e Baden-Fuller (1995); Human e Provan (1997) Razões não deliberadas Franco (2007); Ebers e Grandori (1997); Jarillo (1988);

Human e Provan (1997)

Quadro 4 Fatores condicionantes na formação de redes de cooperação Fonte: o autor

Uma vez discutidos os principais aspectos inerentes à formação das redes de cooperação, seguem, no próximo tópico, características determinantes à consolidação dessas redes.