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CAPÍTULO III MÉTODO

3.2 Tipo de Pesquisa

Para identificar e analisar a influência dos mecanismos de coordenação geridos por atores centrais na evolução de uma rede, aqui sendo considerada a APROVALE, verificando a importância da inovação nesse processo evolutivo a partir da gestão desses mecanismos, percebe-se a demanda por características relacionadas aos paradigmas: funcionalista e interpretativista (BURRELL; MORGAN, 1979). No entanto, Burrell e Morgan (1979) indicam que esses paradigmas se diferenciam por visões opostas da realidade, ou seja, os paradigmas possuem diferentes compreensões de estrutura e causalidade, bem como possuem procedimentos de pesquisa distintos.

Para contrastar essas perspectivas paradigmáticas distintas, Putnam (1983) concentra- se em quatro critérios: a) compreensão dos fatos sociais e dos processos simbólicos; b) visões das organizações; c) definições de comunicação organizacional; e d) métodos. Ainda, de acordo esse autor, para os funcionalistas a realidade é baseada em fatos concretos, externos ao indivíduo e, por isso, possui uma visão unitária das organizações caracterizadas por propriedades estruturais que devem ser compreendidas por investigadores. Por outro lado, interpretativistas compreendem a realidade social como um processo simbólico criado por ações contínuas (PUTNAM, 1983).

Para Calás e Smircich (2006), o paradigma funcionalista é caracterizado por uma visão objetiva da realidade social, uma epistemologia positivista, uma visão determinista da natureza humana e uma compreensão reguladora da sociedade. Abordagens funcionalistas compartilham uma preocupação explicativa, pois procuram produzir conhecimento útil. Para essas autoras, útil significa produzir assertivas generalizantes em forma de leis que ajudam a realizar previsões, controles e gerenciamento de situações.

Por outro lado, o paradigma interpretativo compartilha a visão reguladora funcionalista da sociedade, mas, diferencia-se na compreensão da natureza humana. A pesquisa interpretativa centra-se na documentação de processos e experiências por meio dos quais as pessoas constroem a realidade organizacional. Para os interpretativistas, conhecimento útil é o que procura compreender o que está acontecendo em determinada situação, enquanto reconhece que qualquer depoimento sobre o que está acontecendo depende do ponto de vista da pessoa, pois, nenhuma situação pode ser completamente compreendida com base em uma única perspectiva (WEICK, 1995).

Diante de características divergentes que caracterizam estas duas abordagens, a contextualização proposta por Pepper (1942) compreende que todo o processo organizacional é envolvido por mudanças e, dessa forma, pode ser percebido por meio de relações em níveis verticais e horizontais, bem como por meio da interconexão desses níveis ao longo do tempo, resultando com isso, na convergência entre as contribuições tanto obtidas pelo paradigma funcionalista, quanto aquelas provenientes do paradigma interpretativista (PEPPER, 1942). Vale destacar que o nível vertical é definido por Pettigrew (1990, p. 94) como: “a interdependência das relações entre variáveis macros e micro ambientais na explicação de fenômenos organizacionais”. Da mesma forma, esse autor define o nível horizontal como “a interconexão do fenômeno organizacional com o seu passado, presente e futuro” (PETTIGREW, 1990, p. 96).

Para esta tese, como base no modelo de estudo proposto para a análise de evolução da rede de cooperação APROVALE, bem como, adotando a literatura definida no marco teórico, o nível de análise de redes é demonstrado como o mais indicado para a consecução do objetivo geral. No entanto, neste estudo, nota-se que o nível de análise de redes envolve elementos contidos no nível vertical e horizontal da rede APROVALE. No nível vertical considera as influências exercidas pelos determinantes à inovação nas modalidades de gerenciamento dos mecanismos que coordenam as atividades evolutivas da rede. No nível horizontal, por sua vez, engloba os condicionantes de consecução das fases evolutivas das

redes na superação de limitações internas e externas relacionadas ao seu desenvolvimento por meio da criação de um ambiente propício a geração da inovação.

No contexto da APROVALE a relação entre esses dois níveis ocorre com a gestão das atividades de coordenação que promoveram/promovem a evolução desta rede, as quais, em momentos distintos de tempo, influenciam e são influenciadas por variáveis presentes no contexto interno e externo de atuação da APROVALE. Portanto, a escolha da contextualização como o paradigma dominante ao contemplar esses diferentes aspectos se justifica, pois, esse paradigma leva em consideração a complexidade advinda da observação de aspectos envolvidos na evolução de uma rede de cooperação, na qual, as evidências de pesquisa podem estar contidas nas três categorias definidas no modelo de estudo proposto.

Assim, tendo por base a contextualização como paradigma dominante, na operacionalização desta pesquisa foram desenvolvidos três estudos, abordando aspectos históricos e atuais presentes no nível vertical e horizontal especificados para a rede APROVALE. No primeiro estudo é efetuado um levantamento de documentos sobre o histórico da rede APROVALE a partir de fontes de dados secundários. Esse estudo permitiu proporcionar um entendimento qualitativo a respeito do contexto passado e presente que envolve a região do Vale dos Vinhedos, o estado do Rio Grande do Sul e sobre o cenário vitivinícola brasileiro. O segundo estudo desenvolvido, compreendendo uma análise quantitativa a partir da aplicação de questionários com o gestores das vinícolas que compõem a rede, teve por objetivo identificar aspectos gerais da rede sobre os principais elementos que permitiram a consecução de cada fase evolutiva. Para tanto, esse segundo estudo abordou junto a esses gestores características de relacionamentos interorganizacionais mantidos entre as vinícolas as demais organizações, sendo essas últimas associadas ou não a rede APROVALE.

O terceiro estudo desenvolvido conteve maior complexidade para sua operacionalização. Como o mesmo analisou a rede de forma qualitativa, os dados obtidos via entrevistas foram gerados e analisados com o objetivo de demonstrar a dinâmica contida no modelo de estudo proposto. Esta análise foi desenvolvida com base em uma lista de variáveis geradas em estudos precedentes de maneira isolada, ou seja, as considerações sobre as relações existentes sobre as variáveis adotadas, no nível de análise de redes, são inéditas para a rede abordada, tanto de forma qualitativa quanto quantitativa. Portanto, a realização destes três estudos e seus relacionamentos, nesta tese, são considerados complementares, demonstrando que os mesmos constituem-se como elementos formadores do nível de análise de redes.

Com base na discussão epistemológica e nas características de pesquisas definidas como apropriadas para a consecução do objetivo principal deste estudo, a seguir são especificadas as características metodológicas da pesquisa, que envolvem uma descrição geral da rede pesquisada, da amostra utilizada, dos instrumentos e procedimentos de coleta e tratamento dos dados que envolveram a realização de cada um dos três estudos efetuados.