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Questão 2 Assinale as características que você percebe como as mais comuns entre sua organização e os demais associados da APROVALE para cada momento evolutivo da rede (Formação: até 1995; Consolidação:

4.1 Resultados do Levantamento de Documentos

Os resultados do levantamento documental são expressos tendo por base informações obtidas e sistematizadas junto às fontes secundárias de pesquisa especificadas no capítulo anterior. Dessa forma, os resultados são classificados em três partes: a primeira parte envolve uma análise descritiva da história da vitivinicultura no Brasil, demonstrando a origem do setor vitivinícola nacional; a segunda parte, por sua vez, compreende a vitivinicultura no estado do Rio Grande do Sul, constituindo-se em uma visão geral do estado brasileiro com a maior representatividade em termos de quantidade e qualidade no processo de elaboração e comercialização de vinhos finos e espumantes; Finalmente, a terceira parte aborda características gerais do Vale dos Vinhedos, contexto no qual, a evolução da rede APROVALE é analisada. Assim, na sequência, são especificados os resultados encontrados.

4.1.1 Histórico da Vitivinicultura no Brasil

Para Gollo (2006), no início do século XVI, os portugueses introduziram as primeiras mudas dos ramos de videiras no Brasil. Essa autora afirma que a videira foi introduzida em 1532, por Martin Afonso de Souza em São Vicente, litoral de São Paulo, que em sua expedição trouxe agricultores com tradição vinícola da Ilha da Madeira e Açores. Portanto, este fato demonstra que por meio destas informações, quando foi iniciada a agricultura brasileira, conjuntamente, nasceu a viticultura no país.

Ainda para essa autora, Brás Cubas chegou nesta expedição e na capitania de São Vicente plantou videiras nas sesmarias que lhe foram doadas, tornando-se, assim, no primeiro viticultor brasileiro. Devido às adversidades climáticas, as videiras não prosperaram no litoral paulista, fazendo que em 1551, fossem constituídos vinhedos nas cercanias de Tatuapé, no planalto de Piratininga, quando foi produzido o primeiro vinho brasileiro. No planalto paulista, a videira se desenvolveu, sendo então elaborados os primeiros vinhos do Brasil, com mudas vindas da região do Douro-Portugal. Posteriormente, foram plantadas videiras na Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina tendo como objetivo principal a elaboração de vinhos. Em 1535, Duarte Coelho introduziu as vinhas na Bahia e Pernambuco, no entanto, somente evoluíram em 1542 quando João Gonçalves às cultivou na Ilha de Itamaracá (GOLLO, 2006).

Para Suzin (2003), com o passar do tempo, a videira foi levada para diferentes pontos do país, como em 1800, para o sertão nordestino. Todavia, para essa autora, este processo não chegou constituir importância econômica desta cultura, em razão, principalmente da falta de adaptação das variedades europeias às condições ambientais brasileiras, pois nessa época plantavam-se somente variedades vitis viníferas que não se desenvolviam adequadamente em função das adversidades climáticas, inexistência de tecnologia agrícola específica para os tratamentos fitossanitários e o desconhecimento de técnicas adequadas de cultivo. Além disso, no momento em que a viticultura paulista se evidenciava, sobreveio a mineração do ouro no século XVIII, especialmente em Minas Gerais e Goiás, relegando a exploração agrícola para um segundo nível de importância entre 1750 a 1785.

Tonietto (2002) destaca que, após 1790, a agricultura começou a renascer com a decadência da mineração. No entanto, as prioridades eram outras, tais como, exploração do café, algodão e cana de açúcar, facilitando a importação de vinhos, principalmente de Portugal. Para esse autor, em 1785, por meio de um decreto-lei, Dona Maria I proibiu o plantio de videiras e elaboração de vinhos no Brasil. Tal medida favorecia o comércio de vinhos portugueses. Em 1808, este decreto foi revogado, mas praticamente seu efeito fez com

que a viticultura praticamente desaparecesse no Brasil durante o século XVIII e parte do século XIX. O interesse nesta época era o enriquecimento rápido, inicialmente proporcionado pela atividade canavieira e pelo cultivo do café.

Para Souza (2005), a viticultura brasileira adquiriu importância econômica somente no século XX, com o advento da imigração italiana que se estabeleceu no estado do Rio Grande do Sul. No entanto, continua esse autor, nota-se que a viticultura tropical brasileira foi efetivamente desenvolvida a partir da década de 1960, com o plantio de vinhedos comerciais de uvas de mesa na região do Vale do São Francisco. No final dos anos de 1960, com a chegada de algumas empresas multinacionais na região da Serra Gaúcha e, mais tarde, na região do município de Santana do Livramento, o desenvolvimento desta cultura atingiu o estado do Rio Grande do Sul, o qual, é detalhado no próximo tópico.

4.1.2 Histórico da Vitivinicultura no Estado do Rio Grande do Sul

Para Gollo (2006) em 1620, foram plantadas as primeiras cepas, de origem espanhola, no Rio Grande do Sul, as quais, contudo, desapareceram quando as missões jesuítas foram destruídas pelos bandeirantes paulistas. Na metade do século XVIII, continua essa autora, os imigrantes açorianos que se instalaram no litoral gaúcho trouxeram vinhas de origem portuguesa, que, em razão do clima e do solo local, não vingaram. Com os imigrantes alemães chegaram ao Rio Grande do Sul videiras de origem americana, que foram plantadas nos limites de São Leopoldo e São Sebastião do Caí.

De acordo com Souza (2005), quando os imigrantes italianos chegaram, em 1875, trouxeram cepas de vinhas americanas e viníferas, que foram plantaram na Serra Gaúcha, porém não se adaptaram facilmente; as americanas, em especial a Isabel, cresceram vigorosas e sadias. Em 1886, para esse autor, um grupo de produtores de uvas de Caxias do Sul começou a importar variedades de videiras europeias, iniciando um movimento no sentido de dotar a vitivinicultura da época de melhores castas. Assim, no início do século XX, a produção de vinho apresentou um grande crescimento, tanto que os mercados locais e regionais foram insuficientes para absorver a oferta, tornando-se necessário buscar novas áreas de comercialização, como, inicialmente, a cidade de São Paulo.

Jezyorni (2009) destaca que em 1928, foi oficializado o Sindicato do Vinho no estado do Rio Grande do Sul, cujo objetivo era congregar e defender os interesses dos vitivinicultores e intervir no setor como órgão regulador da oferta e procura, mantendo a ordem dos preços e da qualidade. Em 1929, foi criada a Sociedade Vinícola Riograndense Ltda., que atuava no sentido de melhorar a imagem, a reputação e a conotação do vinho

gaúcho no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Essa ação levou ao surgimento de cooperativas vitivinícolas em toda a região. Em 1967, foi fundada a União Brasileira de Vinhos.

Porém, conforme argumenta Suzin (2003) as décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pela entrada de empresas internacionais, como a Chandon, Maison Forestier, Martini, National Distillers, Chateau Lacave, Welch Foods, entre outras, que atuavam na produção e comercialização de vinhos. Foi um período de adaptação das videiras viníferas, de crescimento da comercialização do vinho fino e da entrada no mercado externo. Um fato marcante desta fase aconteceu quando a Vinícola e Cooperativa Aurora foi encarregada da criação da empresa Maison Forestier no Brasil, com recursos financeiros e tecnológicos do grupo Seagrams, considerado, na época, a maior organização de bebidas alcoólicas do mundo. Para Jezyorni (2009), esse fato pode ser considerado um marco importantíssimo da vitivinicultura brasileira, pois, foi somente nesta década que as organizações nacionais começaram a incorporar e ter acesso a tecnologias de alto nível, seja no campo ou na indústria.

Para as pequenas empresas vinícolas, daquela época, a entrada destas nova tecnologias no setor a partir da metade década de 1960 provocou uma crise. Isso aconteceu porque a maioria das empresas existentes eram pequenas e familiares, oferecendo ao mercado produtos com qualidade inferior aos das empresas estrangeiras, bem como utilizando métodos de gestão arcaicos (IBRAVIN, 2009). Essa crise e a procura por uma solução foram ganhando peso ao longo desse período. No entanto, somente algumas ações isoladas foram adotadas em decorrência de oportunidades do mercado. Conforme descreve Gollo (2006), um exemplo disso foi o vinho fino denominado Marcus James elaborado pela Vinícola e Cooperativa Aurora que, em meados dos anos de 1980, era a segunda marca de vinho mais comercializada no mercado norte-americano. Todavia, por razões estruturais e de gestão da própria cooperativa, esse vinho acabou perdendo essa condição, no início da década de 1990, não conseguindo recuperá-la mais. Nessa direção, no tópico a seguir são contemplados os resultados que definem características gerais de uma região específica do Rio Grande do Sul: a região do Vale dos Vinhedos.

4.1.3 Características Gerais do Vale dos Vinhedos e da APROVALE

De acordo com Jeziorny (2009) o Vale dos Vinhedos é um território localizado na Serra Gaúcha, mais precisamente na região nordeste do estado do Rio Grande do Sul, sua composição geográfica se dá pela intersecção dos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul. Trata-se de uma área caracterizada por uma bacia hidrográfica com vários

pequenos rios e riachos que banham uma área montanhosa de 81.123 km² com altitude de até 742 metros e temperaturas médias que oscilam entre 16 e 18º C. Ainda para esse autor, a gênese de sua humanização se deu basicamente por meio da colonização italiana por volta de 1875. Os imigrantes italianos eram, em sua maioria, oriundos das regiões do Vêneto e Trento.

Com base em dados obtidos em 2009 (EMBRAPA, 2009), do total da área do Vale dos Vinhedos 26% encontra-se com vinhedos, 43% são de florestas e 31% está destinado para plantio de culturas que não a da uva. Ainda com base nesses dados, tem-se que em relação ao uso do solo, 10% podem ser caracterizados como de uso tipicamente urbano em área rural (EMBRAPA, 2009). O Vale dos Vinhedos está localizado a pouco mais de 120 km da capital estadual, Porto Alegre. Por apresentar um clima temperado, possui as quatro estações bem definidas, sendo que sua paisagem muda em conformidade com as quatro estações do ano. E, nesse sentido a presença de um inverno rigoroso - para os padrões brasileiros - costuma ser muito bem explorada pela indústria turística que se desenvolve no local (APROVALE, 2009).

De acordo com informações extraída do sítio eletrônico do IBRAVIN (IBRAVIN, 2009), nota-se que o território do Vale dos Vinhedos se caracteriza como um espaço da agricultura familiar. Isto e caracterizado pela existência de em torno de 375 viticultores cadastrados no Vale dos Vinhedos, os quais costumam se organizar em forma de núcleos, ou seja, cada produtor se alia a uma vinícola, geralmente aquela que se encontra mais próxima a sua propriedade (IBRAVIN, 2009).

Com a entrada de grandes empresas multinacionais de bebidas alcoólicas no mercado brasileiro entre os anos de 1960 e 1970, elevando a competitividade para as organizações pertencentes ao setor vitivinícola nacional, como resposta dada por esse setor, em 1995, foi criada a Associação dos Produtores do Vale dos Vinhedos (APROVALE) com gerenciamento estratégico e técnico direto da EMBRAPA Uva e Vinho e com assessoramento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por meio de sete vinícolas. Nesse período, essas vinícolas não estavam satisfeitas com seus desempenhos de baixa competitividade que envolviam seus negócios e o setor de modo geral. Era claro para os gestores dessas vinícolas formadoras da APROVALE que alguma coisa necessitava ser efetuada para que seus produtos ganhassem competitividade e mercado, sendo que uma associação cooperativa parecia ser uma alternativa plausível para reverter essa condição.

As organizações que fundaram a APROVALE foram: Vinícola Miolo Ltda. (denominada neste estudo como Miolo Wine Group), Luiz Valduga & Filhos Ltda. (denominada neste estudo como Casa Valduga), Casa Cordelier Ind. de Bebidas Ltda. (denominada neste estudo como Vinícola Cordelier), Vinhos Don Laurindo Ltda.

(denominado neste estudo como Vinícola Don Laurindo), Adega Cavalleri Ltda. (denominada como Vinícola Cavalleri), Adega de Vinhos Finos Dom Cândido Ltda. (denominada como Vinícola Dôm Cândido) e Vinho Casa Graciema Ltda. (denominada como Casa Graciema). Os objetivos de criação dessa associação eram: “formar a primeira indicação de procedência no Brasil, bem como transformar a região do Vale dos Vinhedos em uma rota do Enoturismo nacional” (Trecho da entrevista com o gerente de marketing da Casa Valduga).

Após um processo que perdurou por cerca de 12 anos, em 22 de novembro de 2002, o Vale dos Vinhedos tornou-se a primeira região do Brasil a obter uma Indicação de Procedência (IP) reconhecida pela União Europeia (APROVALE, 2009). O primeiro passo para se atingir a IP foi a caracterização do território e a consequente delimitação de sua área geográfica (MELLO, 2009). Sendo assim, após detalhados estudos que contaram com esforços conjuntos entre os profissionais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a da Universidade de Caxias do Sul, ficou geograficamente caracterizado o território do Vale dos Vinhedos.

O titular da IP Vale dos Vinhedos é a APROVALE que, atualmente, conta com 31 vinícolas associadas e 39 associados não produtores (queijarias, hotéis, restaurantes, entre outros). Com base na produção de 2009 (APROVALE, 2009), as vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, 10,10 milhões de garrafas ao ano de vinhos finos, o que representa 20% da produção gaúcha, sendo que os espumantes equivalem a 35% da produção do Rio Grande do Sul. Cerca de 35% dos vinhos certificados em 2009, foram destinados à exportação (APROVALE, 2009).

Dessa maneira, é com base na importância que a APROVALE representa para esse setor produtivo brasileiro que se justifica a análise evolutiva da mesma, sendo apresentados os resultados desta evolução a partir da próxima seção desta tese com a especificação das variáveis envolvidas no modelo de estudo da APROVALE.