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CARACTERIZAÇÃO DA POSTURA DAS RAÇAS DE GALINHAS AUTÓCTONES PORTUGUESAS: AMARELA, PRETA LUSITÂNICA, E PEDRÊS PORTUGUESA

4.4 Fatores ambientais que influenciam a postura

Em condições de produção extensiva, os principais fatores ambientais que influenciam os ciclos de postura são a luz, temperatura e humidade. Na produção intensiva, estes fatores são normalmente monitorizados e controlados de forma artificial com o objetivo de otimizar a produção.

4.4.1 Luz

A intensidade luminosa, a variação do fotoperíodo e a cor da luz são fatores que influenciam a fisiologia e o comportamento da ave, sendo no entanto o número de horas diárias de luz (fotoperíodo), o parâmetro mais relevante no desempenho da ave poedeira (Costa, 2000; Gewehr e Freitas, 2007). No que diz respeito à produção de ovos, o efeito da luz tem um papel crucial na regulação da função reprodutora, estimulando a atividade das gónadas e iniciando assim o ciclo reprodutivo (Buxadé, 1995a; Sauveur, 1996; NꞌDri, 2006). Este processo de foto estimulação só é conseguido quando conjugado com a fase de maior sensibilidade do animal à luz, denominada de fase fotossensível (Costa, 2000). Vários estudos revelam que não é a duração total do período de iluminação (em valor absoluto) que mais influencia a ave mas a existência de luz em dois momentos do dia, o

103 nascer-do-sol (aurora) e após 10 a 15 horas (Buxadé, 1995ab; Sauveur, 1996), o pôr-do- sol (ocaso). Nestes dois momentos a presença de luz com intensidade suficiente deve ocorrer durante um período consecutivo de 2 horas aproximadamente (Sauver, 1996; Costa, 2000). Segundo Costa (2000) é no segundo momento que a ave perceciona se o dia é curto ou longo. Se as aves se aperceberem da existência de luz na fase fotossensível o ovário mantem-se funcional, libertando hormonas que controlam a ovulação. É este padrão aurora/ocaso que, quer em sistemas de ambiente de luz natural, quer em sistemas artificiais fechados, com sistemas automáticos de luz, estabelece o ritmo circadiano da ave. Em Portugal, é entre o solstício de inverno e o de verão que o fotoperíodo é crescente estimulando a maturidade sexual e a produção de ovos. É a variação do fotoperíodo ao longo do ano (Figura 4.1) que regula a postura das galinhas, quando sujeitas a ambientes de luz natural (Costa, 2000). A época de nascimento das aves, em condições de ambiente natural, vai condicionar o tipo de fotoperíodo a que a ave vai estar exposta durante o seu ciclo produtivo podendo originar resultados distintos.

Figura 4.1. Variação, em latitudes médias, do número diário de horas luz em 3 situações de produção: Ambiente natural com animais nascidos na Primavera, solstício de Inverno (

----

) e animais nascidos no Outono, solstício de Verão (----

);

Ambiente controlado, sistema clássico (----) (adaptado de NꞌDri, 2006).

4.4.1.1 Efeito da luz na idade à maturidade sexual

A idade à maturidade sexual, embora dependa da espécie, raça ou estirpe, pode ser diferente com as alterações na duração do dia (Rose, 1997). Sauver (1996) refere que o efeito do fotoperíodo pode originar diferenças de até 5 semanas na idade à maturidade sexual. Os animais nascidos no Inverno, cuja recria se faz em dias crescentes, serão mais precoces, iniciando a postura mais cedo. Este facto faz com que o tamanho dos

104 ovos no início da postura sejam relativamente menores quando comparados com os ovos dos animais nascidos no Verão (NꞌDri, 2006), para além de diminuir o ciclo de postura. A sensibilidade da ave a um aumento de fotoperíodo é diferente consoante a sua idade (Sauver, 1996). Considerando que o desenvolvimento da ave é multifásico, é de esperar que a estimulação luminosa seja mais determinante na fase do desenvolvimento do aparelho reprodutor, isto é, entre as 13 e 18 semanas (Mazzuco, 2006). Antes deste período, a sensibilidade da ave à luz é praticamente nula (Sauver, 1996). O atraso ou a antecipação do início da postura, as alterações da taxa de postura, a qualidade da casca, o tamanho do ovo, a eficiência alimentar, entre outros, são fatores que podem ser maximizados com um programa luminoso apropriado (Buxadé, 1995a; Etches, 1996).

4.4.2 Temperatura e humidade

Entre os fatores ambientais, os fatores térmicos afetam diretamente as aves comprometendo a manutenção da homeotermia e indiretamente a sua capacidade produtiva. Em climas quentes a taxa de postura chega a ser 54% mais reduzida que em zonas temperadas, sendo esta redução refletida pelo aumento de pausas durante o ciclo de postura (N`Dri, 2006). O efeito da temperatura será tanto mais nefasto quanto mais elevada for a humidade, podendo modificar a perceção de calor por parte das aves entre 2 a 3ºC, o que obriga a uma monitorização e controlo cuidadoso deste fator (N`Dri, 2006; Oliveira et al., 2006).

As galinhas são animais homeotérmicos a partir aproximadamente das 2 semanas de vida (Garcês, 2008). A sua temperatura interna oscila entre 41 a 42ºC (N`Dri, 2006; Garcês, 2008) e a ave mantém-na constante através do processo de termorregulação: a termólise, perda de calor por evaporação e a termogénese, produção de calor metabólico (N`Dri, 2006). A zona de neutralidade térmica ou zona de conforto situa-se entre os 18 e 26ºC (Rose, 1997; Garcês, 2008) e os 50 e 70% de humidade (Oliveira et al., 2006). Nesta situação a perda de calor deverá ser igual à produção de calor, permitindo à ave a expressão máxima da sua capacidade produtiva.

Com temperaturas ambientais até 21ºC imperam as perdas de calor por meio dos processos de radiação, condução e convecção. Com temperaturas mais elevadas (acima de 35ºC), o principal e quase único meio de dissipação de calor é a evaporação através do trato respiratório (Buxadé, 1995b; N`Dri, 2006; Oliveira et al., 2006; Garcês, 2008). Nestas condições, a menor eficiência de dissipação de calor corporal devido à plumagem e a correlação negativa entre a temperatura e o consumo de alimentos, provocará uma

105 diminuição significativa do desempenho produtivo da ave (Buxadé, 1995a; Elijah e Adedapo, 2006; Oliveira et al., 2006). Este efeito é mais evidente quanto maior for a idade da ave (Elijah e Adedapo, 2006). Por outro lado, por cada grau abaixo de 21ºC resulta um aumento de aproximadamente 1,5% no consumo de alimentos, a postura diminui 0,5% e o índice de conversão piora (Buxadé, 1995a).

A elevação da temperatura e o aumento da humidade comprometem a produção quer de forma quantitativa, quer qualitativa. As consequências negativas no tamanho do ovo e qualidade da sua casca já foram objeto de vários estudos. Buxadé (1995a) concluiu que o peso do ovo diminui em média 0,3 g com temperaturas entre os 25 e 30ºC enquanto N`Dri (2006) apontou para perdas de 1,2 a 9,5 g por ovo para temperaturas entre os 31 e 35ºC como consequência da diminuição da gema e da espessura da casca, podendo esta ser substancial (cerca de 30%, Mashaly et al., 2004).

O aumento da frequência respiratória provocada pela elevação da temperatura poderá levar a uma maior libertação de dióxido de carbono, alterando o estado do ião cálcio Ca2+ e elevando o pH do sangue (Mahmoud et al., 1996) com consequências no equilíbrio ácido-base (Mashaly et al., 2004). Um possível resultado desta sequência de eventos será uma drástica diminuição na capacidade de transporte do cálcio pelas células duodenais, originando menor disponibilidade de cálcio no útero para a formação da casca (Sauver, 1988), alterando as suas características e comprometendo a integridade óssea (Mahmoud et al., 1996). A diminuição da espessura da casca não só fragiliza a resistência do ovo como também facilita a ocorrência de pequenas fissuras as quais aumentarão a probabilidade de contaminação bacteriana, trazendo riscos ao nível da segurança alimentar (Mazzuco, 2014).

4.4.2.1 Efeito de alguns genes no controlo da temperatura corporal

A resistência ao calor é em parte controlada por fatores genéticos. A redução da plumagem aumenta a taxa de irradiação do calor interno produzido e indica uma melhor capacidade de termorregulação em situações de stress térmico. O controlo genético na redução da plumagem é conhecido e pode ser considerado em programas de melhoramento como uma característica com interesse económico, especialmente em regiões onde a temperatura seja elevada ao ponto de inibir a produtividade das aves. Genes responsáveis pela diminuição das penas, como o gene dominante incompleto (Na), pescoço nu, responsável pela ausência de penas no pescoço (Nacked Neck), o gene dominante incompleto (F) responsável pela plumagem frisada (Frizzle) e o gene

106 recessivo (Sc) responsável pela ausência total de penas (Scaleless), são alguns exemplos já com aplicação prática no melhoramento.

Coquerelle (2000) refere que aves com o genótipo homozigoto (NaNa) têm reduções de 40% de penas e o heterozigoto (Nana) de 30%, permitindo-lhes uma maior capacidade de resistência ao calor. As aves portadoras do gene frisado (F) apresentam uma redução de cerca de 40% da densidade da plumagem por as penas serem mais curtas e enroladas (Coquerelle, 2000; Zerjal et al., 2013). O gene recessivo (Sc) é o responsável pela supressão dos folículos e das escamas nas patas, resultando em aves de pele totalmente lisa (Coquerelle, 2000). Comparações entre aves com estes fenótipos e aves de plumagem normal indicam que aquelas poderão ter índices inferiores de conversão alimentar quando sujeitas a temperaturas normais de 22ºC. No entanto, o reverso acontece a temperaturas acima dos 35ºC (Cahaner et al., 2008; 2012). Nas 3 raças autóctones portuguesas é possível visualizar em alguns exemplares o efeito da presença do gene Na, permitindo especular sobre possíveis novas áreas de investigação.