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PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA CARNE DAS RAÇAS DE GALINHAS AUTÓCTONES PORTUGUESAS: AMARELA, PRETA LUSITÂNICA E PEDRÊS

3.3 Transformação do músculo em carne: Rigor mortis

3.5.1 Rendimento de carcaça e peças nobres

A Tabela 3.3 apresenta os pesos médios ajustados das carcaças e das peças de corte estudadas das raças AM, PL e PP. Não se verificaram diferenças significativas entre os PV, as 4 medidas de carcaça (PC) e as VC, nos 3 genótipos. Diferentemente, os pesos ajustados nas várias combinações das peças nobres (Pt e Cp), apresentaram diferenças (P<0,05) que permitiram distinguir as 3 raças. A raça AM apresentou pesos mais leves nas 3 combinações realizadas (Pt1, Pt2 e Pt3). Para as medições da coxa-perna (Cp) só a raça PP apresentou diferenças significativas em comparação com as outras duas raças, exceto para a combinação Cp3 onde a raça PP e a AM, não apresentaram diferenças, sugerindo uma estrutura óssea mais pesada na raça PP.

77 Tabela 3.3 Médias ajustadas ± EP, para pesos carcaça, vísceras comestíveis, peito e coxa-perna para machos das raças autóctones de galinhas Amarela (AM), Preta Lusitânica (PL) e Pedrês Portuguesa (PP)*.

Caracteristicas1 (g) AM PL PP PV 2713,8 ± 121,33 2718,9 ± 114,39 2833,0 ± 108,52 PC1 2467,5 ± 114,64 2460,0 ± 108,08 2609,0 ± 102,54 PC2 2083,8 ± 91,84 2086,7 ± 86,59 2284,0 ± 82,14 PC3 1866,2 ± 88,19 1779,9 ± 83,15 2006,0 ± 78,88 PC4 2197,7 ± 95,15 2203,1 ± 89,71 2400,2 ± 85,11 VC 113,9 ± 5,04 116,4 ± 4,75 116,2 ± 4,51 Pt1 365,3a ± 30,66 492,6b ± 28,90 521,2b ± 27,42 Pt2 336,5a ± 26,11 451,1b ± 24,62 446,7b ± 23,36 Pt3 293,6a ± 19,97 365,8b ± 18,83 372,1b ± 17,86 Cp1 619,4a ± 32,51 638,0a ± 30,65 728,7b ± 29,07 Cp2 548,6a ± 29,59 572,4a ± 27,90 655,3b ± 26,47 Cp3 449,9ab ± 26,95 446,3a ± 25,41 521,5b ± 24,10

*letras diferentes na mesma linha indicam diferenças significativas (P<0.05). 1

PV = peso vivo aos 240 dias de idade; PC1 = peso carcaça sangrada e depenada; PC2 = peso carcaça eviscerada com cabeça e patas; PC3 = peso carcaça eviscerada sem cabeça e patas; PC4 = peso carcaça eviscerada com cabeça, patas e vísceras comestíveis: VC = peso vísceras comestíveis (moela, coração, fígado e rins); Pt1 = peso peito com pele e osso; Pt2 = peso peito sem pele; Pt3 = peso peito sem pele e sem osso; Cp1 = peso coxa-perna com pele e com osso; Cp2= peso coxa- perna sem pele e com osso; Cp3 = peso coxa-perna sem pele e sem osso.

Embora com idades de abate diferentes, em outras raças autóctones foram encontrados pesos aproximados para as mesmas características apesar das diferenças ao nível do maneio alimentar. Para a Gallina De Mós, com 210 e 270 dias ao abate o PV foi de 2790 g e 3390 g, respetivamente (Sanchez et al., 2005). Com idade ao abate de 210 dias, Miguel et al. (2008a; 2011a) referem 2006 g e 1854 g de PV para a Castelhana Negra. Sabbioni et al. (2006) obtiveram 2142 g e 2175 g para as raças italianas Modenese e Romagnolo, respetivamente. Em outro estudo, Zanetti et al. (2010), trabalhando com as raças Padovana, Ermellinata e Pèpoi, também raças de galinhas autóctones italianas, obtiveram respetivamente pesos vivos de 2144 g, 2718 g e 1434 g, para uma idade de abate de 190 dias.

Os rendimentos de carcaça e das peças nobres são também importantes para a caracterização de raças autóctones, tendo em conta a promoção que é necessário desenvolver para estimular a criação e o consumo de animais destas raças. Neste sentido, foram estudadas 11 características de rendimentos as quais estão descritas na Tabela 3.4. Para as 4 características que medem o rendimento das carcaças (RC1 a

78 RC4), verificou-se que a raça PP teve o melhor desempenho das 3, com exceção para o RC1 e RC3, onde as raças PP e AM não apresentam diferenças significativas. Tradicionalmente as raças autóctones portuguesas são comercializadas inteiras (carcaça com cabeça, patas e vísceras comestíveis – RC4) e, mais uma vez, a raça PP obteve a carcaça mais pesada e o rendimento mais elevado, sugerindo uma melhor aptidão desta raça para a produção de carne, o que pode trazer vantagens comerciais quando este for o objetivo. Quando comparado o rendimento de carcaça RC4 com RC3 (apresentação de mercado comum do frango industrial), o rendimento nestas raças decresce entre 12 a 16%, com um consequente impacto negativo nos possíveis ganhos do produto, justificando-se assim, para estas raças, a sua comercialização com a apresentação tradicional.

Tabela 3.4 Médias ajustadas ± EP, para rendimentos de carcaça, vísceras comestíveis, peito e coxa-perna para machos das raças autóctones de galinhas Amarela (AM), Preta Lusitânica (PL) e Pedrês Portuguesa (PP)*.

Caracteres1 (%) AM PL PP RC1 90,83ab ± 0,58 90,45a ± 0,55 92,08b ± 0,52 RC2 76,80a ± 0,81 76,80a ± 0,76 80,70b ± 0,72 RC3 68,73b ± 1,10 65,38a ± 1,04 70,86b ± 0,99 RC4 81,04a ± 0,79 81,11a ± 0,74 84,79b ± 0,70 RVC 4,24 ± 0,14 4,31 ± 0,13 4,09 ± 0,12 RPt1 17,55a ± 0,98 23,46b ± 0,92 22,81b ± 0,88 RPt2 16,14a ± 0,82 21,50b ± 0,77 19,57b ± 0,72 RPt3 14,09a ± 0,57 17,41b ± 0,54 16,32b ± 0,51 RCp1 29,73a ± 0,59 30,56ab ± 0,56 31,83b ± 0,53 RCp2 26,32a ± 0,58 27,44ab ± 0,54 28,61b ± 0,52 RCp3 21,58 ± 0,73 21,39 ± 0,68 22,75 ± 0,65

*letras diferentes na mesma linha indicam diferenças significativas (P<0.05). 1

RC1 = rendimento carcaça sangrada e depenada; RC2 = rendimento carcaça eviscerada, com cabeça e patas; RC3 = rendimento carcaça eviscerada, sem cabeça e patas; RC4 = rendimento carcaça eviscerada, com cabeça, patas e vísceras comestíveis; RVC = rendimento vísceras comestíveis (moela, coração, fígado e rins); RPt1 = rendimento peito, com pele e osso; RPt2 = rendimento peito, sem pele; RPt3 = rendimento peito, sem pele e sem osso; RCp1 = rendimento coxa-perna com pele e com osso; RCp2= rendimento coxa-perna sem pele; RCp3 = rendimento coxa-perna sem pele e osso.

Moreira et al. (1998) embora considerem ser mais comum a avaliação do rendimento da carcaça sem patas, pescoço e cabeça, referem que por vezes a avaliação da carcaça inteira pode ser interessante, pois existem algumas características com resposta correlacionada que têm um efeito pequeno mas positivo com o rendimento, como por

79 exemplo, a conformação, pernas, saúde e vigor. O rendimento da carcaça eviscerada, não incluindo as vísceras comestíveis (RVC), variou entre 77 a 81% e foi semelhante a outras raças autóctones: 77% para a Penedesenca Negra, 74% para a Empordanesa Roja (Miguel et al. 2008b), 76% para a Castelhana Negra (Miguel et al., 2011a) e 75% para a Gallina De Mós (Sanchez et al., 2005). Para esta última raça, Franco et al. (2012) também encontraram rendimentos RC2 de 82%, mas em aves com idades mais velhas (abate aos 300 dias de idade).

O rendimento das peças nobres também foi calculado (Tabela 3.4) como percentagens do peso carcaça eviscerada (PC2). A raça AM apresentou um rendimento de peito inferior para todas as combinações realizadas (RPt1, RPt2 e RPt3) quando comparada com as outras raças (P<0,05). Para o rendimento da coxa-perna (RCp1, RCp2 e RCp3), a raça AM continuou a apresentar rendimentos inferiores mas, só quando comparada com a raça PP é que as diferenças se revelaram significativas (P<0,05). A exceção a esta tendência ocorreu na terceira combinação (RCp3), onde as 3 raças não diferiram entre si. A maioria dos estudos indica o peito e conjunto coxa-perna com osso e sem pele (RPt2 e RCp2, respetivamente), como as peças nobres mais relevantes na carcaça. Nas raças espanholas, Miguel et al. (2008a) referem para o RPt2 e RCp2 valores de 16% e 29% para a Penedesenca Negra, de 16% e 30% para a Empordanesa Roja e de 17% e 30% para Castellana Negra. Sanchez et al. (2005) e Franco et al. (2012) obtiveram desempenhos semelhantes de 16% e 33% para a raça Gallina De Mós. As raças italianas Modenese e Romagnolo revelaram desempenhos de 15% para RPt2 e 34% para RCp2 (Sabbioni et al., 2006). As raças Padovana, Ermellinata e Pèpoi, também da Itália, apresentaram um comportamento idêntico para esses parâmetros (Zanetti et al., 2010). Os rendimentos correspondentes obtidos no presente estudo foram muito semelhantes.