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2.1 Desempenho Escolar

2.2.1 Fatores Associados ao Desempenho Escolar

2.2.1.4 Fatores Associados ao Desempenho Escolar: Outros Aspectos

O período da adolescência é marcado por grandes transformações (Muller & Ellison, 2001; Coutinho, 2011) e são vários os aspectos que podem interferir no desempenho escolar do aluno. Além daqueles relacionados aos atributos

pessoais, ao background familiar, à escola e comunidade acredita-se que para a análise dos fatores associados à reprovação também são importantes os referentes à trajetória escolar, ao estilo de vida do aluno (prática de esportes e uso de bebidas alcoólicas) e ao autoconceito/motivação (visão de si mesmo enquanto aprendiz e os estímulos para o aprendizado, respectivamente).

Parece haver ainda uma lacuna na literatura acadêmica quanto a prática de esportes que demonstra um dos aspectos do estilo de vida do aluno. Normalmente, na área da educação, a prática de esporte é analisada no âmbito da disciplina de Educação Física o que não é o objetivo desta tese. Pois, busca- se verificar como a atividade esportiva extracurricular atua sobre o desempenho escolar do aluno.

Trajetória Escolar

A trajetória escolar (Abril et al, 2008; Menezes-Filho & Curi, 2009; Pazello & Almeida, 2010) tem sido reportada em alguns trabalhos como importante fator no desempenho escolar do aluno. Uma questão pouco estudada, mas que também deve ser levada em conta nos estudos sobre desempenho escolar é o turno em que o aluno estuda. De acordo com Queiroz (2002) e Ribeiro & Gomes (2006), numa situação de necessidade de trabalhar para sustentar a família e com a desmotivação pela baixa qualidade do ensino, os alunos acabam evadindo da escola, principalmente nos cursos noturnos.

Apesar de Tavares et al (2001) não tratar o turno escolar como variável resposta no seu estudo e sim o uso de psicotrópicos (álcool, tabaco, solventes, ansiolíticos, anfetamínicos, anticolinérgicos, barbitúricos, maconha, cocaína, opiáceos, alucinógenos, orexígenos e outros) os resultados apresentados apontaram relações importantes quanto ao desempenho escolar. O estudo foi realizado com alunos entre 10 e 19 anos de idade matriculados a partir da quinta série e no EM, em todas as escolas públicas e particulares da zona urbana de Ribeirão Preto (SP). Verificaram associações positivas entre o uso de drogas e o turno escolar noturno; o maior número de faltas e o maior número de reprovações.

Outro aspecto a ser considerado na trajetória escolar do aluno é a importância da pré-escola no desenvolvimento físico, emocional, social e intelectual da criança. A

pré-escola visa alcançar a autonomia, autocontrole e confiança para se expressar e se comunicar (Menezes-Filho & Curi, 2009). Acredita-se que alunos que freqüentaram a pela pré-escola, possam ter adquirir capacidades cognitivas facilitadores do aprendizado durante o EF, refletindo conseqüentemente no EM.

Menezes-Filho & Curi (2009) analisaram o feito da pré-escola sobre o desempenho escolar. Utilizaram duas bases de dados: a) Pesquisa de Padrão de Vida (PPV), realizada pelo IBGE, entre março de 1996 e março de 1997, nas regiões do Nordeste e do Sudeste do Brasil e b) proficiência em Matemática do SAEB de 2003, para todo o Brasil (INEP), referentes aos alunos da quarta e oitava séries do EF e da terceira série do EM. Encontraram que os alunos que frequentaram a pré-escola obtiveram melhor desempenho nos testes de proficiência em Matemática. Apontam ainda a existência de uma relação positiva entre ter freqüentado a pré-escola e a conclusão dos quatro ciclos escolares (EF I, EF II, EM e ES), bem como o aumento de 1,5 anos de escolaridade e de 16,0% na renda.

Já aqueles alunos que tiveram experiência de repetência no EF apresentaram maiores chances de replicarem tais eventos no futuro (Luz, 2006; Luz; 2008; Gonçalves, 2008; Pereira, 2006), bem como as experiências de abandono escolar ou evasão escolar. Luz (2008) buscou verificar se a repetência influenciava no desempenho escolar dos alunos reprovados em relação aos alunos que foram aprovados, para estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Para verificar o impacto da repetência sobre o desempenho utilizou os escores para as provas de Matemática de 2002 e 2003. Constatou que havia diferença no desempenho em Matemática entre repetentes e promovidos, em favor desses últimos e que eram tão maiores quanto melhor a região analisada em termos de características individuais do aluno ou mesmo das escolas. Segundo a autora, o resultado pode indicar haver uma vantagem para os alunos promovidos em relação aos que repetiram e aos que foram reprovados, sendo que essa vantagem era maior nas regiões com melhores condições.

No trabalho de Gonçalves (2008), a probabilidade de repetência entre alunos de quarta a oitava série do EF que haviam tido experiência de repetência antes da quarta série do EF foi 41,3% maior em relação aos alunos que não haviam

passado por tal experiência. Do mesmo modo Pereira (2006) verificou que a experiência prévia da repetência tem efeito negativo sobre o desempenho escolar, já que os alunos tiveram scores nas disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa inferiores aos alunos que nunca tinham repetido de série.

De fato a experiência negativa pode causar além dos problemas no desempenho em disciplinas repercussões ainda mais graves que vão além do EM. Abril et al (2008) acredita que a reprovação também é uma das principais razões para o abandono escolar entre alunos do ES. Os autores verificaram que 49,0% do abandono escolar entre alunos do nível superior no período de 2003 a 2004, no estado de Sonora (México) pode ser explicado pela a reprovação nas matérias.

Estilo de Vida

De fato o estilo de vida do aluno é um dos aspectos dentre tantos outros importantes de serem discutidos sobre o desempenho escolar. A prática de esportes é reconhecida pela ciência como importante comportamento para que se tenha uma vida saudável (Brasil Escola, 2013) e um bom desenvolvimento das habilidades cognitivas (Not 1, ,2010; Benefícios do Esporte na Educação, Aprendizado e Saúde) .

Dentre alguns dos benefícios da atividade esportiva que se destacam para o adolescente no âmbito da sua vida escolar (Not1, 2010), pode-se citar: a) melhoria da capacidade mental, que ocorre através do aumento dos reflexos; b) aumento do nível de concentração e memória (Brasil Escola, 2013); c) ajuda a “raciocinar, a planejar, a exercitar a memória, a compreender situações, linguagens e estratégias e a resolver problemas” (Not1, 2010); d) aumento da autoestima (Brasil Escola, 2013), pois melhora a confiança e diminui a timidez ou vergonha (Not1, 2010; Guiainfantil.com, 2010); e) trabalha o fator emocional e controle psicológico através das atividades desafiadoras que impõe situações de ganhar, perder, incerteza; f) possibilita que o aluno aprenda a trabalhar em grupo e dividir tarefas e responsabilidades, aperfeiçoando o lado da comunicação; g) desenvolvimento do comportamento para seguir regras, ter espírito mais colaborador e ser menos individualista (Not1, 2010; Guiainfantil.com, 2010); h)

reduz o stress através da liberação dos hormônios acumulados e causa uma sensação de tranqüilidade (Brasil Escola, 2013).

Outro aspecto importante relacionado ao estilo de vida é o uso de bebida alcoólica. A adolescência é o período no qual a exposição ou vulnerabilidade a experimentar e usar de forma abusiva substâncias psicoativas9 dentre elas o

álcool, drogas e tabaco é maior (Costa et al, 2007; Portal Brasil, 2013). O uso precoce do álcool entre os adolescentes (idade média de 13 anos) vem crescendo e antecipando os graves riscos relacionados à saúde como, por exemplo, a hepatite alcoólica, gastrite, hipertensão arterial, diferentes tipos de câncer (esôfago, boca, garganta, cordas vocais, intestino, mama nas mulheres). E nesse sentido as manifestações das doenças ocorrem em idades mais precoces nas mulheres (Adolescência & Saúde, 2007).

Além do risco imposto à saúde, o uso do álcool está normalmente associado ao comportamento de risco como acidentes de trânsito, morte violenta, violência estrutural e sexual, uso de drogas e formação de gangues (Adolescência & Saúde, 2007; Anjos et al, 2012, Pechansky et al, 2004). Está ainda relacionado à prejuízos nas habilidades emocionais, cognitivas, comportamentais (Adolescência e Saúde, 2007) e acadêmicas (Adolescência & Saúde, 2007; Anjos et al, 2012, Pechansky et al, 2004), levando à dificuldades de aprendizado e ao mau desempenho escolar (Adolescência & Saúde, 2007).

Normalmente os adolescentes que fazem uso de bebidas alcoólicas faltam às aulas prejudicando seu desempenho escolar (Anjos et al, 2012). Segundo Pechansky et al (2004), uso do álcool pelos adolescentes pode levá-los à déficits de memória com dificuldades de recordar palavras e desenhos geométricos simples após 10 minutos, quando comparados aos adolescentes que não fazem uso de bebidas alcoólicas. Com o uso do álcool a memória se altera e por isso prejudica o processo de aprendizado. Diante dos prejuízos no aprendizado ocorre

9 Substância psicoativa são produtos que no organismo agem sobre o sistema nervoso central levando à alterações na mente, como humor e cognição bem como no comportamento (Faculdade de Ciências Médicas, FCMPA).

o baixo rendimento escolar e pode levar à baixa autoestima, que por sua vez, dada a essa situação o impulsiona a continuar ou experimentar outras substâncias psicoativas.

Através do questionário do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) aplicado em escolas da rede pública e particular do EF (6º e 8º séries) e do EM da Cidade de Campinas, no ano de 1998, Soldera et al (2004), analisaram a prevalência do uso de bebida alcoólica. Verificaram que, cerca de 12,0% dos alunos de escolas públicas, no turno vespertino, que trabalhavam e pertenciam as classes sociais A e B, que tinham pouco apoio das famílias e com maior defasagem escolar faziam uso pesado de álcool (20 vezes ou mais por mês). Verificaram ainda, que os alunos que faziam uso pesado de álcool tinham cerca de 15,0% a mais de chances de ter mau desempenho escolar em relação `a categoria de referência.

Na atualidade tem-se verificado mudanças no cenário na saúde. No passado se tinha uma prevalência maior no uso de álcool entre os homens em relação às mulheres. Atualmente observa-se que o grupo das mulheres tem tido um aumento no consumo e nos problemas correlacionados ao uso do álcool (Horta et al, 2007).

“O consumo de substâncias psicoativas, bem como uma série de outros comportamentos humanos, parece associar-se a questões de gênero, entre outras variáveis. O sexo de quem respondia às entrevistas esteve associado a distintos padrões de contato com cada um dos grupos de substâncias e isto pode estar relacionado a condições históricas e sociais determinadas pelo modo como se constroem os conceitos de masculino e feminino”(Horta et al, 2007, pág. 779).

No estudo realizado por Horta et al (2007), utilizando dados de entrevistas realizadas em 2002, com adolescentes entre 15 e 18 anos de idade, residentes na área urbana de Pelotas (RS) demonstrou que o uso de álcool, bem como de tabaco e drogas ilícitas variaram segundo sexo e idade dos adolescentes. Enquanto as alunas usam mais cigarros do que os alunos esses consomem mais álcool e drogas ilícitas dos que as alunas. E o consumo maior de álcool, tabaco e drogas ilícitas independentemente do sexo ocorre entre 17 e 18 anos. a A prevalência do uso de álcool era de 16,0% a mais para os que já haviam sido

reprovados em relação aos que nunca tinham sido reprovados. Também no estudo de Matos et al, 2010, realizado com alunos de escolas públicas de Feira de Santana (BA), os alunos apresentaram um percentual superior no consumo freqüente de álcool em relação às mulheres (52,0% contra 48,1%), no entanto para o consumo de menos de três vezes ao mês o percentual de mulheres é bem mais elevado quando comparado aos dos homens (60,1% contra 39,9%).

Autoconceito e Motivação

De modo geral, o autoconceito é a percepção de si mesmo formada com base nas experiências vividas (Green et al, 2006), tanto do passado quanto do presente, e pelos significados a elas atribuídos pelo próprio sujeito (Mendes et al, 2012). Além disso, está em constante modificação e atualização devido às novas experiências vividas (Mendes, et al, 2012).

As experiências positivas ou negativas ocorridas na trajetória escolar fazem parte da formação da autoestima e da motivação do aluno, que por sua vez podem ter efeito sobre o desempenho escolar (Franchin & Barreto, 2006). Green et al (2006) apontam, que a longo prazo, o autoconceito e a motivação estão intimamente ligadas ao sucesso financeiro e ao bem estar do estudante.

O entendimento do autoconceito passa por vários enfoques da psicologia (Mendes et al, 2012) e é visto na literatura como uma experiência que tende a se tornar mais diferenciada, complexa e organizada a medida que ocorre a transição da infância para a vida adulta (Green et al, 2006).

A estruturação do autoconceito se estabelece a partir da conformação da autoestima e da autoimagem que estão relacionadas entre si (Green et al, 2006; Mendes et al, 2012). A autoimagem tem um caráter descritivo, diz respeito ao re(conhecimento) ao que o sujeito é com relação às suas características físicas, comportamentais, suas qualidades emocionais, como enxerga o seu potencial, seus sentimentos, atitudes e idéias. Já a autoestima tem caráter avaliativo, de modo que exprime o quanto o indivíduo gosta dele mesmo com base nas suas qualidades e seus defeitos. Logo, o autoconceito é a percepção que o indivíduo faz de si mesmo formado através da dimensão descritiva conformada através da

autoimagem e da dimensão avaliativa representada pela autoestima (Mendes et al, 2012).

FIGURA 1. Esquema da relação entre utoconceito, autoimagem e autoestima

AUTOCONCEITO

AUTOIMAGEM AUTOESTIMA

Fonte: Mendes et al, 2012

A compreensão do desempenho acadêmico passa também pelo autoconceito ou autopercepção, que tem sido focado cada vez mais como de natureza multidimensional (Green et al, 2006). O autoconceito acadêmico se refere a forma como o aluno se vê como um aprendiz e de certa forma pode ainda ser acompanhada pelo aspecto descrito e avaliativo (Mendes et al, 2012). Na década de 1990, os estudos mostraram que a direção causal entre autoconceito e desempenho escolar só pode ser realmente expressa através do uso de dados longitudinais e que principalmente o autoconceito e o desempenho acadêmico são reciprocamente relacionados e mutuamente reforçados (Green et al, 2006).

No que tange a motivação acadêmica e o desempenho escolar a literatura internacional não tem sido muito clara sobre a relação causal entre as duas variáveis (Green et al, 2006). A motivação também tem um caráter multidimensional e na psicologia é vista como uma força impulsionadora para as ações dos indivíduos que são representadas por um conjunto de fatores psicológicos (conscientes ou inconscientes) de natureza fisiológica, intelectual ou afetiva que se interagem entre si despertando ou não a vontade e o interesse para uma determinada tarefa ou atividade conjunta. Além disso, a motivação pode ser vista como um processo que pode ser ativo, intencional e dirigido à algum objetivo e que depende da interação de fatores pessoais e ambientais. O nível de motivação pode ser determinado pela autoestima, sendo os estados emocionais

como os de alegria, satisfação, vergonha, orgulho entre outros é que afetam diretamente a motivação (Franchin & Barreto, 2006).

Segundo Franchin & Barreto (2006, pág.4) “(...) do ponto de vista pedagógico, a motivação significa fornecer um motivo, ou seja, estimular o aluno a ter vontade de aprender”. Dentre outros fatores determinantes para o aprendizado o nível de motivação tem grande importância o que leva o professor a ter também papel determinante nesse processo (Porto, 2005). Isso implica que para a aprendizagem de determinado conteúdo, por exemplo, o de química, o aluno deve ter a percepção do significado e importância do que está estudando de modo que seja capaz de associar os conteúdos passados pelo professor durante o período letivo com sua realidade local. Isso implica que o professor deva tornar suas aulas contextualizadas funcionando como um dos fatores motivacionais (Pontes et al, 2008). Nesse sentido, gostar da aula ou do professor entre outros fatores pode ser uma motivação para o bom desempenho nas disciplinas (Ribeiro et al, 2004; Porto, 2005; Franchin & Barreto, 2006).

Ribeiro et al (2004), apontam que a desmotivação dos alunos em estudar química passam pela aula, pelo professor, material didático utilizado e etc. Verificaram que para os alunos do 2º ano do EM, residentes em Montes Claros (Minas Gerais), que responderam gostar de química, 52,0% estavam matriculados em escolas públicas e 79,3% em escolas particulares. Dentre os motivos para gostar da disciplina se destacou ser uma aula interessante e de modo geral os fatores preponderantes foram as aulas e os professores, demonstrando a relevância da postura do professor e de sua didática.

No estudo qualitativo direcionado para os alunos do EM, realizados em duas escolas públicas, foi analisado o porquê dos alunos em sua maioria terem a postura somente de assistir as aulas de Educação Física. Entre outras perguntas utilizadas para a busca do entendimento da questão, os autores perguntaram aos alunos se eles gostavam da aula. O resultado para essa quesito apontou que mesmo a maioria tendo respondido gostar das aulas e que achavam que eram interessantes eles não davam importância para a disciplina. De modo geral, os resultados pareceram contraditórios, pois ao mesmo tempo em que os alunos se diziam motivados, os mesmos não participavam das aulas (Franchin & Barreto,

2006). Essa incoerência pode estar relacionada ao fato de que a motivação acadêmica é multdimensional, ou seja, além de gostar da aula é necessário se ter a noção da importância de se fazer aquela atividade.

O próximo item se dedica a uma breve descrição do município de RN considerando os aspectos sociodemográficos e econômicos com intuito de apontar os motivos pelos quais o município foi escolhido para este trabalho.

3 ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIODEMOGRÁFICOS

Neste capítulo são comparados os principais indicadores econômicos e sociodemográficos dos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) – Belo Horizonte (BH), Betim (BT), Brumadinho (BR), Contagem (CO), Esmeraldas (ES), Ibirité (IB) Pedro Leopoldo (PL), Sarzedo (SZ) e Ribeirão das Neves (RN) – que participaram da PJ para se ter uma visão mais clara da motivação para se trabalhar com o município de RN. Na sequência são apresentadas algumas informações com intuito de descrever RN em relação aos aspectos demográficos e socioeconômicos.