• Nenhum resultado encontrado

5.2 E quais são os fatores associados à reprovação escolar?

5.2.1 Síntese dos Resultados Quanti-Quali

Como mencionado anteriormente, o uso das metodologias de pesquisa quanti e quali foi por acreditar na complementaridade que existe entre elas, de modo que o

que não foi possível perceber no quanti pode ter sido esclarecedor com as informações do quali. Lembrando mais uma vez, que na parte quantitativa além de uma amostra pequena, seleta e podem existir possíveis erros de informação, por ser um questionário autoaplicado.

Antes de resumir os achado relativos aos fatores associados propriamente ditos é importante relembrar, que conforme a literatura aponta, o sexo masculino foi o que teve um desempenho pior com uma taxa de reprovação superior a duas vezes em relação ao sexo feminino (26,5% vis-à-vis a 11,0%). Também uma proporção bem mais elevada de alunos (30,7%) com distorção idade-serie para o grupo de 17 a 19 anos em relação ao sexo feminino (19,3%).

Iniciando pelas características demográficas, o que se observou é que o aumento da idade, comparada aos 15 anos, representa maiores riscos à reprovação para ambos os sexos, sendo que se destacam as idades de 16 anos para o sexo feminino, e a idade entre 17 e 19 anos, para o sexo masculino. No que se refere à raça/cor, na parte quanti a variável não foi significativa no modelo univariado, mas no quali, através dos GFs, foi percebido que o tipo reprovado é caracterizado como sendo moreno, pardo, preto e negro. Já o tipo aprovado(a) como sendo branco(a). Com relação à maternidade/paternidade, para ambos os sexos a variável ter filhos não foi significativa no modelo univariado. No quanti, trabalhar foi significativo somente para o sexo masculino, impondo riscos em torno de 64,0% a 91,0% a mais de reprovação na primeira série do EM em relação aos alunos que nunca haviam trabalhado. Já no quali não foi possível perceber nenhuma norma, pois o tipo reprovado poderia ou não trabalhar.

No que se refere ao background familiar também é relevante mencionar que normalmente os efeitos são reduzidos quando se trata de alunos do EM comparados aos do EF o que pode ter contribuído, inclusive, para que algumas variáveis não tenham sido significativas. A variável renda, por exemplo, não foi importante para explicar a reprovação no modelo univariado nem para o sexo feminino, nem para o sexo masculino. Nesse caso, talvez esteja mais relacionado ao fato de se tratar de uma população homogênia em termos de status socioeconômico.

O arranjo familiar, relativo a residir com os pais no domicílio, ou com somente um deles, ou até mesmo com nenhum, também não foi significativo para ambos os sexos. Quanto a ter irmãos(ãs) no domicílio, o sexo masculino tem seus riscos de reprovação reduzidos em torno de 40,0% quando está nessa situação. No quali foi possível perceber que ambos os tipos, reprovado e aprovado, residiam com irmãos(as), mas o tipo reprovado morava ou com a avó e/ou avô, ao passo que o aprovado com os pais no domicílio. No que se refere a participação dos pais na vida escolar dos filhos, no quanti, para o sexo feminino não ter ninguém participando da vida escolar da alunas é fator de proteção à reprovação na primeira série do EM em torno de 73,0%, em relação aquelas que tem a mãe participando da sua vida escolar. Já para o sexo masculino, quando não é a mãe quem participa da vida escolar os riscos à reprovação variam entre 2,27 a 2,66 vezes maior quando essa participa.

No quali foi notório que o aluno do tipo reprovado não tem nenhuma participação da família na sua vida escolar, enquanto que o tipo aprovado essa participação é constante. Para o sexo feminino, ser filha de mães Evangélicas/crentes aumenta o risco de reprovação em cerca de 2,27 vezes em relação às filhas de mães Católicas. Para o sexo masculino, os riscos também são elevados para os filhos de mães Evangélicas/crentes, mas destaca ainda mais aqueles filho de mães sem religião, cujos riscos de reprovação variam em torno de 2 vezes mais em relação aos filhos de mães Católicas.A maior escolaridade da mãe só foi significativa para o sexo feminino no último modelo, sendo que aquelas filhas de mães com a quinta série até o EF completo tinha seus riscos de reprovação reduzidos em quase 40,0% em relação às filhas de mães com até a quarta série do EF. Já para o sexo masculino, o aumento da escolaridade das mães aumenta os riscos de reprovação na primeira série do EM em torno de 2 vezes, quando comparado aos filhos de mães com até a quarta série. Na parte quali, foi enfático que o tipo reprovado tinha mãe com baixa escolaridade, sendo EF incompleto, e o tipo aprovado com mais alta escolaridade, tendo EM ou ES.

Outro aspecto importante ao se analisar o desempenho escolar é a trajetória do aluno na escola. No quanti, para o sexo feminino, não ter freqüentado a pré- escola/escolinha entre os 4 e 6 anos de idade impôs riscos à reprovação na

primeira série do EM de 86,0% a 91,0% em relação aquelas que tiveram tal experiência. Para as alunas que já havia tido reprovação no EF os riscos de serem novamente reprovadas na primeira série do EM foi de 61,0% no último modelo. Já para o sexo masculino, ter abandonado a escola no EF foi fator de proteção à reprovação na ordem de 45,0% comparativamente aos alunos que nunca haviam abandonado a escola no EF. No quali houve menção de que o tipo reprovado teria tido experiências prévias de reprovação e também parado de estudar.

Quanto ao estilo de vida, no quanti verificou-se que para ambos os sexos fazer uso de bebidas acóolicas aumentou o risco de reprovação em mais de duas vezes comparado aqueles(as) que não faziam uso dessa substância. Somente para o sexo masculino não praticar nenhum tipo de esporte aumenta os riscos de reprovação na primeira série do EM em mais de quatro vezes em relação aos alunos que praticavam algum tipo de esporte. No quali ficou muito claro que na visão das alunas e alunos o tipo reprovado na maioria das vezes praticava futebol, enquanto o tipo aprovado poderia também, entre outros esportes, praticar vôlei, natação e academia.

Por fim, quanto às associações entre autoconceito (percepção de si enquanto aprendiz) e motivação (estímulos para o aprendizado) com as chances de reprovação na primeira série do EM foi possível verificar no quanti, para ambos os sexos, que ter notas autoavaliativas como sendo boas e médias é fator de proteção à reprovação. Somente para o sexo feminino, não estar satisfeita consigo mesma age como fator de proteção à reprovação em torno de 70,0% em relação às alunas que estão satisfeitas consigo mesmas. No quali o que se percebeu foi o papel importante do professor como agente estimulador do aprendizado.