• Nenhum resultado encontrado

Fatores de risco individuais

No documento Rui Miguel de Sousa dos Santos Simões (páginas 39-41)

2. Movimentação manual de cargas Enquadramento Teórico

2.3. Fatores de risco

2.3.2. Fatores de risco individuais

Os fatores de risco individuais estão associados a características do trabalhador que afetam a capacidade de executar a MMC e aumentam o risco de lombalgias como sejam a idade, o sexo, as características antropométricas, a constituição física e a situação clínica.

a) Idade

O aumento da idade pode limitar a capacidade de executar tarefas de MMC devido a serem tarefas fisicamente exigentes, que impõem elevada coordenação muscular e articular. No entanto, a relação entre a limitação da capacidade física do trabalhador e o aumento da idade não é consensual nos estudos científicos realizados na temática da MMC. Estudos psicofísicos com o objetivo de comparar os pesos máximos aceitáveis na MMC por uma população jovem (18-35 anos de idade) e uma população mais velha (55-74 anos de idade) não chegaram a diferenças significativas entre as duas populações (Wright & Mital, 1999a, 1999b). Os autores dos estudos afirmam que a idade do trabalhador não deve ser um fator de risco que deva ter uma preocupação exagerada, desde que a população mais velha tenha capacidade física para realizar a MMC. Por outro lado, ao aumento da idade está associado o aumento da experiência de trabalho. De acordo com os estudos desenvolvidos por Plamondon et al. (2013; 2010) e por Gagnon (2005), em tarefas de MMC os trabalhadores mais experientes, em comparação com os menos experientes, evitam fletir a coluna vertebral, têm a carga mais junto ao corpo e inclinam a carga para iniciar a movimentação. Segundo estes autores, a adoção destas posturas e técnicas podem estar relacionadas com a experiência devido ao aumento da idade. Contudo, deve ter-se em conta que o aumento da idade implica o aumento do risco de lesões músculo-esqueléticas como é o caso das lombalgias e, por essa razão, sempre que seja possível os trabalhadores mais velhos, especialmente com mais de 50 anos de idade, não devem executar tarefas de MMC (Wright & Mital, 1999a; Mital et al., 1997). Além disso, o aumento da idade provoca mudanças físicas no sistema músculo-esquelético e no sistema cardiovascular que se manifestam na diminuição da força muscular, da flexibilidade das articulações e da resistência do corpo a desgastes crónicos e degenerativos (Kenny et al., 2008; Shephard, 2010).

b) Sexo

No que se refere ao sexo do trabalhador, existem diferenças significativas tanto na sua representatividade a executar tarefas de MMC como na capacidade de as executar. Segundo o 5º

16

IECT, na EU-27, 42% dos trabalhadores do sexo masculino e 24% do sexo feminino executam tarefas de MMC (Eurofound, 2012). Nas tarefas de MMC o sexo masculino também apresenta pesos máximos aceitáveis/recomendados de carga mais altos que o sexo feminino (Ciriello et al., 2011; Mital et al., 1997). No entanto, o sexo feminino demonstra ter maior resistência física a executar tarefas de MMC repetitivas (Hidalgo et al., 1997). De acordo com Marras et al. (2002), o maior Índice de Massa Corporal (IMC) do sexo masculino, em termos gerais, provoca maiores forças compressivas na coluna lombar comparativamente com o sexo feminino quando executam tarefas de MMC, contudo no sexo feminino os valores dessas forças estão mais próximos dos limites de tolerância, estando por isso sujeitas a um risco mais elevado de contrair lesões lombares. Além disso, as alterações hormonais das mulheres (por exemplo: gravidez e menopausa) e a execução de tarefas domésticas também contribuem para a sobrecarga do sistema músculo-esquelético e para o desenvolvimento de lombalgias (Hoogendoorn et al., 1999; Paul et al., 1994).

c) Características antropométricas e constituição física

A adaptação do posto de trabalho e das tarefas às diferentes características antropométricas dos trabalhadores (por exemplo: altura, dimensão de diferentes segmentos corporais) têm constituído um desafio para as empresas. Trabalhadores com percentis que se afastam das dimensões médias da população têm dificuldade em executar as tarefas sendo por vezes obrigados a adotar posturas inadequadas. A altura dos trabalhadores pode constituir uma desvantagem na execução de tarefas de MMC. Os trabalhadores mais altos podem estar em desvantagem em relação aos mais baixos em situações em que é necessário levantar ou baixar cargas junto ao chão, uma vez que precisam de fletir mais a coluna vertebral, situação que provoca forças biomecânicas maiores na mesma (Splittstoesser et al., 2007).

A constituição física do trabalhador também se assume como uma característica individual que pode afetar a execução de tarefas de MMC. Trabalhadores com maior força muscular são mais capazes de executar tarefas de MMC e têm tendência a contrair menos lesões que trabalhadores com menor força muscular (Mital & Kumar, 1998). Contudo, os trabalhadores com maior força muscular podem sobrestimar a sua força e adotar uma estratégia de movimentar maior quantidade de cargas por deslocação, implicando maior peso, em vez de dividir o peso das cargas por várias deslocações (Bartlett et al., 2007; Mital et al., 1997).

A obesidade dos trabalhadores (IMC ≥ 30 kg/m2) pode ter consequências negativas nas atividades de trabalho como, por exemplo, no aumento do absentismo e na diminuição da produtividade. Na execução de tarefas de MMC os trabalhadores obesos apresentam dificuldades locomotivas, cansam-se mais rapidamente e têm tendência a contrair mais lesões (Mital & Kumar, 1998; Craig et al., 1998). Na elevação ou no abaixamento de cargas o excesso

17

de gordura dos trabalhadores demostrou ser responsável por maiores picos de forças biomecânicas na coluna lombo-sagrada (Corbeil et al., 2013). No entanto, de acordo com a revisão sistemática desenvolvida por Leboeuf-Yde (2000), não existe evidência clara entre o aumento do peso corporal e o desenvolvimento de lombalgias.

De acordo com Mital et al. (1997) os trabalhadores mais altos, obesos ou com menor força muscular apresentam desvantagens na execução de tarefas de MMC, particularmente nas repetitivas.

d) Situação clínica

O histórico clínico dos trabalhadores que vão executar ou executam tarefas de MMC deve ser analisado e, sempre que possível, deve evitar-se a (re)introdução de trabalhadores com um historial de lombalgias. De acordo com Violante et al. (2000), embora a maioria dos trabalhadores recupere totalmente de um episódio de lombalgia, a taxa de reincidência é muito elevada. Os valores das taxas de reincidência variam muito entre estudos devido à utilização de diferentes metodologias de recolha de dados ou a diferentes definições de reincidência ou de lombalgia. No entanto, segundo a EU-OSHA (Beek & Hermans, 2000) entre 60% a 90% das pessoas vão sofrer de lombalgias pelo menos uma vez nada vida, a taxa de reincidência de lombalgia ao fim de um ano é de 20% a 44% e ao longo da vida é superior a 85%.

No documento Rui Miguel de Sousa dos Santos Simões (páginas 39-41)