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4 ADMINISTRANDO O ESTRESSE NO TRABALHO O DESAFIO DE

4.4 FATORES ESTRESSORES

Quais são os principais fatores causais do estresse no trabalho? Apesar de o estresse ser uma experiência individual, os autores consideram que existem numerosos fatores que podem ser considerados como determinantes do mesmo. A pesquisa acadêmica utiliza uma grande diversidade de estressores organizacionais (JOHNSON et al., 2005).

As contínuas descobertas realizadas nos últimos anos sobre a importância dos fatores psicossociais no trabalho, bem como de outras variáveis que ajudam a humanizar e a transformar numa atividade menos nociva para a saúde o bem-estar do empregado, têm aumentado de forma progressiva a lista de estressores.

Do ponto de vista da freqüência e intensidade, os estressores podem ser agudos ou crônicos. Os primeiros, são de curta duração, ocorrem com pouca freqüência e, apresentam

alta intensidade. Os estressores crônicos são de natureza diferente, eles têm duração relativamente longa, podendo a sua intensidade ser alta ou baixa (DICK, 2000).

Lipp (1996) também faz uma distinção entre estressores externos e internos. Os primeiros dizem respeito às condições externas que afetam o organismo, tais como: mudanças de chefia, acidentes, casamento, morte de parentes, mudança de endereço e de emprego, ou outras situações que ocorrem independentemente da pessoa. Os estressores internos são determinados pela própria pessoa, através da sua ansiedade, timidez, insegurança, perfeccionismo.

Na visão de Bauk (1996), o fenômeno do estresse está profundamente relacionado a três conceitos: estressor, os fatores de contexto e os fatores de vulnerabilidade. Os estressores são agentes de mudança representados por diversos tipos de agentes: físicos, químicos, virais, bacterianos, biológicos e sociais, especialmente os resultantes de conflitos interpessoais, manifestos de modo verbal ou simbólico.

Os fatores de contexto são os inerentes ao ambiente em que vivemos, seja ele o familiar, o de uma empresa, da instituição de ensino, de uma nação ou mesmo mundial. Entre eles, pode-se considerar as condições de vida em termos de padrões morais e sociais, econômicos, de segurança e políticos, os quais são utilizados como medidores da qualidade de vida dos indivíduos.

E os fatores de vulnerabilidade são os que dizem respeito à nossa individualidade em termos de hereditariedade, personalidade, idade, sexo, grau de instrução, experiências de vida, dentre outros. São esses fatores, especialmente os de vulnerabilidade, que explicam o porquê de um agente ser estressor para um indivíduo e não o ser para outro. Independente do fato de um estressor ser bom ou ruim, o que conta é a intensidade da demanda de adaptação feita ao organismo.

Para nossa pesquisa, conhecer como os autores apresentam os diversos fatores estressores se mostrou de grande importância, pois tivemos de identificar em nosso Estudo de Caso os fatores estressores que mais afetavam os trabalhadores pesquisados. Por esse motivo, decidimos relatar como diversos autores apresentam tais fatores, ressaltando sua visão particular nessa temática.

Beehr e Newman (1978) apresentam quatro categorias de fatores estressores: (1) exigências e expectativas do papel (ambigüidade, conflito, sobrecarga); (2) exigências do trabalho e características das tarefas (responsabilidade, concentração, viagens); (3) fatores organizacionais (clima, liderança gerencial, estrutura, sistema de comunicação) e (4) fatores

extra-organizacionais (condições de deslocamento para o trabalho, exigências do consumidor, desenvolvimento tecnológico e científico).

Ao investigarem os estressores organizacionais, Cooper e Marshall (1976) definiram cinco fontes de estresse: (1) fatores intrínsecos ao trabalho, incluindo aspectos como baixas condições de trabalho, sobrecarga de informação, pressão de prazos, mudanças tecnológicas; a ambiência física presente em fatores como a qualidade do ar, a iluminação, a decoração, o barulho e o espaço pessoal pode influenciar o humor e o estado mental das pessoas; (2) papel na organização, incluindo ambigüidade e conflito de papéis. A ambigüidade de papéis ocorre quando o indivíduo não tem uma visão clara sobre os objetivos de seu trabalho, da expectativa que seus colegas têm sobre ele, e do escopo e responsabilidade de sua função; (3) desenvolvimento de carreira, incluindo falta de segurança no emprego, falta ou excessos de promoções e obsolescência; (4) relacionamentos no trabalho, incluindo relacionamentos com os colegas e com os superiores. Lidar com os chefes, pares e subordinados pode afetar em alto grau a forma com que o indivíduo se sente ao fim do dia; e (5) estrutura e clima organizacional, incluindo baixo envolvimento na tomada de decisão e em questões políticas.

Para Donovan e Kleiner (1994), o estresse pode ser derivado de três fontes: física, mental e situacional. O estresse físico pode ter origem no excesso de trabalho, falta de descanso e uma dieta pobre. O estresse mental pode estar no estado de esperança, medo e arrependimentos do dia-a-dia. O estresse situacional é devido à nossa interação com o mundo, nosso papel como marido, pai, esposa, mãe e nossa interação com as máquinas modernas como computadores, aparelhos eletrônicos.

Um dos fatores estressores mais citados é o conflito entre trabalho e família. Para O’Driscoll et al. (2003), existem dezenas de estudos que evidenciam possíveis efeitos negativos do conflito trabalho-família, os quais são potencialmente uma fonte significativa de estresse e insatisfação e, portanto, todas as diversas conseqüências que isso ocasiona e atrapalha a vida pessoal e profissional, tanto de homens como de mulheres.

O mesmo pensamento é expresso por Burke (2004, p. 30), para quem a temática do equilíbrio entre família e trabalho é uma das mais importantes fontes de estresse. O autor ilustra a complexidade dessa situação com exemplos e conseqüências resultantes desse contexto:

Muitas empresas têm oferecido benefícios amigáveis às famílias, tais como horas de trabalho flexíveis, trabalho em meio período, saídas de pais, centros de cuidados de idosos e creches, mas parece que eles não têm criado muita diferença. Tem ficado cada vez mais claro que a não ser que a cultura e

estrutura organizacional comece a mudar, pouco avanço será atingido no conflito trabalho-família. Poucos trabalhadores usam os programas de trabalho-família disponíveis a eles, e aqueles que usam (especialmente mulheres) normalmente sofrem conseqüências adversas em suas carreiras.

Brotheridge e Lee (2005) sugerem que os trabalhadores não segmentem suas experiências de trabalho e família em esferas separadas. Ao invés, essas esferas de vida se sobrepõem e interagem de modo que os resultados de cada uma delas são parcialmente originados na outra esfera e influenciam mutuamente seu bem estar geral. Isso mostra como os papéis das pessoas no trabalho e na família têm se tornado crescentemente integrados.

A partir da visão apresentada pelos autores, podemos concluir que qualquer programa de administração do estresse necessita identificar corretamente os estressores organizacionais. O sucesso de qualquer esforço para minimizar o estresse e maximizar a satisfação no trabalho depende deste diagnóstico, porque diferentes tipos de estresse requerem diferentes ações (FULCHERI et al., 1995).

Tem havido um consenso entre os estudiosos da área de que as percepções dos indivíduos são mediadoras do impacto do ambiente de trabalho sobre o indivíduo. É preponderante a idéia de que, para algo na organização ser um estressor, ele precisa ser percebido como tal pelo funcionário (PASCHOAL; TAMAYO, 2004). Tal afirmação teve grande importância na interpretação dos dados coletados em nossa pesquisa e nos orientaram sobremaneira em nosso estudo de caso.

Apresentamos agora a visão de alguns autores sobre as diversas reações que o estresse pode produzir nas pessoas e, em especial, nos trabalhadores. Conhecer tais reações nos pareceu importante para poder melhor compreender como os programas de administração do estresse devem ser estruturados, pois podem agir tanto preventiva como curativamente.

De acordo com Budjoso (2005), os principais sinais de estresse psíquico são: falta de tempo, dificuldade de concentração, outras preocupações, alienações (fantasias), pensamentos sem importância, ansiedade, irritação, nervosismo, tensão, sobrecarga, depressão, cansaço, impaciência, medo, preocupação, raiva, tédio e insatisfação.

Para Molina (1996), os efeitos clínicos do estresse, classificados como primários ou secundários são: perda da memória, perda progressiva do apetite, dores musculares na região da face, costas, pescoço, músculos cervicais e região inferior da coluna vertebral, diminuição da resistência orgânica em geral (o estresse diminui a resistência do sistema imunológico).

Níveis de estresse muito altos no ambiente de trabalho, resultam em queda de desempenho profissional e queda na produtividade, conforme destacam Dias e Ferreira

(2006). A maioria das pessoas, em situação de excessiva pressão, perdem a capacidade de concentração. Essa perda pode levar a erros e acidentes graves. Há uma lista quase infinita de efeitos físicos e mentais causados pelo estresse. Dentre eles, pode-se citar como efeitos físicos: dores de cabeça, palpitações, azia, reações alérgicas, dores lombares, insônia, indigestão, aumento do apetite, suor. Como efeitos mentais: dificuldade de concentração, agressividade, irritabilidade, ansiedade, dificuldade na tomada de decisão, sensação de fracasso, superatividade, perda da libido, medo, depressão, comportamento não cooperativo.

Podemos observar pelas colocações que existem basicamente três categorias de reações ao estresse: física, mental e psicológica. Aprofundar a compreensão sobre a extensão de cada uma delas e o grau de dano que podem causar aos trabalhadores e, por conseqüência, às empresas, é de suma importância na área da administração do estresse.

Buscamos iniciar esse processo, com a apresentação ao longo das sub-seções desse capítulo de dados que ilustram o impacto do estresse em fatores como produtividade, satisfação, empregabilidade e saúde dos colaboradores e também nos resultados financeiros das empresas. Tal compreensão é fundamental para a estruturação de programas que ajudam a administrar o estresse no trabalho, temática que detalhamos na seqüência.