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2.2 GESTÃO DO CONHECIMENTO

2.2.3 Fatores Facilitadores e Limitantes da Gestão do Conhecimento

A adoção de um modelo de gestão baseado no conhecimento é uma configuração complexa de processos que sugere que muitos dos desafios a serem enfrentados são comuns a outras atividades de gestão (PINHO; REGO E CUNHA, 2012). Segundo os autores, essa configuração complexa de processos requer que sejam considerados fatores não relacionados diretamente com a gestão do conhecimento, pois a união desses fatores tem consequências importantes para a forma como o conhecimento será colocado ou não a serviço da organização.

Um desafio fundamental para as organizações que iniciam a gestão do conhecimento é a dificuldade de incentivar o compartilhamento de conhecimento internamente entre os colaboradores (HONG; SUH; KOO, 2011). Terra (2001) ressalta que a necessidade de se mostrar resultados no curto prazo com o processo de gestão do conhecimento joga contra ao sucesso do mesmo. Além disso, os indivíduos não

devem ser forçados a cultivar o espírito da criatividade e de compartilhamento das informações e do conhecimento, especialmente quando na organização não há relação direta entre estas iniciativas e a promoção dos colaboradores (VON KROCH et al., 2001).

Embora a criação do conhecimento seja um processo social e individual (NONAKA; TAKEUCHI, 1997; 2008), a organização deve exercer seu papel de elemento ampliador e gestor do conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). Segundo os estudos de Margilaj e Bello (2015), a partir do momento em que as pessoas se encontram relutantes em compartilhar seus conhecimentos, cria-se uma série de barreiras para a sua implementação. Segundo os autores, as barreiras para a gestão do conhecimento são desafios comuns e que devem ser enfrentadas para o seu desenvolvimento e implantação. Nesse processo, buscar-se-á envolver as pessoas para que participem das atividades e do gerenciamento efetivo da gestão do conhecimento organizacional (DAVENPORT; PRUSAK, 1998).

Com o objetivo de ampliar o conhecimento a respeito dos fatores facilitadores e limitantes, Shinoda, Maximiano e Sbragia (2015), apontam os fatores com potencial de influenciar a gestão do conhecimento. Os autores fizeram um comparativo com cinco agentes que, segundo o estudo, exerceriam influência sobre o processo de gestão do conhecimento nas organizações.

Os fatores identificados no estudo dos autores foram: a estratégia/apoio da alta direção; a cultura e o ambiente organizacional; estrutura/papéis; os processos e a tecnologia e, os fatores individuais. Esses cinco influenciadores identificados pelos autores, vêm permeando as discussões acadêmicas ao logo dos anos, sendo ilustrados pelo Quadro 4.

Quadro 4 - Fatores Influenciadores da Gestão do Conhecimento Fatores influenciadores consolidados Autores

Estratégia/apoio da alta direção

(Nonaka; Takeuchi, 1997; Von Krogh et al., 2001; Koskinen; Pilhlanto, 2008; Joia;

Lemos, 2010; Chiri; Klobas, 2010)

Cultura/Ambiente

(Nonaka; Takeuchi, 1997; Von Krogh et al., 2001; Prencipe et al., 2005; Koskinen; Pilhlanto, 2008; Joia; Lemos, 2010; Chiri;

Klobas, 2010)

Estrutura/ Papéis

(Nonaka; Takeuchi, 1997; Von Krogh et al., 2001. Prencipe et al., 2005; Koskinen;

Pilhlanto, 2008; Joia; Lemos, 2010) Processos/Tecnologia (Nonaka; Takeuchi, 1997; Von Krogh at al., 2001. Prencipe et al., 2005)

Fatores Individuais

(Nonaka; Takeuchi, 1997; Von Krogh et al., 2001; Koskinen; Pilhlanto, 2008; Chiri;

Klobas, 2010)

Fonte: elaborado pelo autor, 2019, adaptado de Shinoda; Maximiano; Sbragia, 2015.

Como pode ser observado no Quadro 4, os cinco fatores apontados no estudo de Shinoda, Maximiano e Sbragia (2015), como influenciadores consolidados, também foram abordados em estudos anteriores, alguns datados de 1997.

É possível afirmar que os fatores influenciadores podem atuar como facilitadores ou como dificultadores a implantação da metodologia baseada no conhecimento (SHINODA; MAXIMIANO; SBRAGIA, 2015). Essa influência depende da forma como eles forem trabalhados dentro da organização, por meio da atuação direta da alta gestão organizacional.

O Quadro 5, de autoria de Fernandes, Mendieta, Silva e Leite (2015), apresenta um resumo dos fatores facilitadores à gestão do conhecimento encontrados pelos autores em uma grande organização do setor industrial. Os fatores encontrados não são diferentes dos fatores que vem sendo apontados em pesquisas realizadas em países diferentes ou setores distintos.

Nesse sentido, amplia-se a possibilidade de adotar estratégias e metodologias processuais que já foram implantadas e testadas por outras organizações, desde que, devidamente adaptadas a realidade local e construídas de acordo com a missão e a visão da organização.

Quadro 5 - Fatores Facilitadores à Gestão do Conhecimento

Fatores facilitadores à Gestão do Conhecimento pelas dimensões

Dimensões Fatores facilitadores

Estratégia e alta administração

Existência de pessoas com função de disseminar e organizar os conhecimentos

estratégicos para a organização.

Transparência no processo de comunicação nos e entre os diferentes níveis hierárquicos.

Sistemas de informação e comunicação

Existência de portais de conhecimentos ou sistema e-learning via tecnologia da informação.

Estações de trabalho disponíveis e localizadas de forma a promover o compartilhamento

informal de informações

Cultura organizacional

Adequação dos meios de compartilhamento de conhecimento.

Valorização do aprendizado e do saber. Desenvolvimento de estímulos à troca de ideias

e trabalho em equipe.

Organização e processos de trabalho

Uso de equipes multidisciplinares ou temporárias com autonomia.

Rodízio de funções que promovam a troca de conhecimento e fomente preocupação com toda

a organização.

Políticas e práticas para administração de recursos humanos

Evolução de remuneração relacionada à aquisição de competências. Esquemas de pagamentos associados ao

desempenho da equipe.

Investimento e incentivo ao treinamento e desenvolvimento tanto pessoal quanto

profissional dos empregados. Planejamento de carreira que busque a evolução das perspectivas e das experiências

dos empregados.

Mensuração do resultado

Mensuração e divulgação da utilização das pessoas aos meios de compartilhamento de

conhecimento disponibilizados pela organização.

Mensuração da relação entre os resultados financeiros obtidos e o aumento do capital

intelectual da organização. Fonte: Fernandes, Mendieta, Silva, Leite, 2015.

O Quadro 5, a respeito dos fatores facilitadores do processo de gestão do conhecimento, foram os mesmos encontrados por Terra (2007). Observa-se que o Quadro identifica os fatores separando-os por dimensões, o que facilita sua compreensão.

Os estudos de Shinoda, Maximiano e Sbragia (2015) Quadro 4 e Fernandes, Mendieta, Silva e Leite (2015) Quadro 5, retomam a abordagem de fatores apontados anteriormente nos estudos de Nonaka e Takeuchi (1997) e Prusak (1998). De acordo com os resultados apresentados pelos estudos, fatores como o papel da liderança ou da alta gestão, a cultura organizacional, a estrutura de trabalho dos sistemas de comunicação e informação, as políticas e práticas de gestão de pessoas e, a mensuração dos resultados, continuam figurando como instrumentos com potencial de facilitar a implantação das metodologias que circundam a gestão do conhecimento organizacional.

A literatura é recorrente ao afirmar que as pessoas podem assumir posições defensivas em relação aos processos de gestão do conhecimento (VON KROCH et al., 2001; HONG; SUH; KOO, 2011; MARGILAJ; BELLO, 2015). Entretanto, conforme sugerido por Davenport e Prusak (1998), o Quadro 6 ilustra os fatores inibidores ao compartilhamento do conhecimento, bem como soluções possíveis com o objetivo de sanar algumas barreiras que são costumeiramente enfrentadas pelas organizações relacionadas ao processo de compartilhamento do conhecimento.

Quadro 6 - Fatores Inibidores do Compartilhamento do Conhecimento e Soluções Possíveis

Fatores Inibidores Soluções Possíveis

Falta de confiança mútua Construir relacionamentos de confiança através de reuniões face a face

Diferentes culturas, vocabulários e quadros de referência

Estabelecer um consenso através da educação, discussão, publicações, trabalho em equipe e

rodízio de funções Status e recompensas vão para os possuidores

do conhecimento

Avaliar o desempenho e oferecer incentivos baseados no compartilhamento

Falta de capacitação e absorção pelos recipientes

Educar funcionários para a flexibilidade, propiciar tempo para aprendizagem, basear as

contratações na abertura de ideias Crença de que o conhecimento é prerrogativa

de determinados grupos, síndrome do “não inventado aqui”

Estimular a aproximação não hierárquica do conhecimento, a qualidade das ideias é mais

Intolerância com erros ou necessidade de ajuda

Aceitar e recompensar erros criativos e colaboração, não há perda de status por não se

saber tudo. Fonte: Davenport e Prusak (1998, p. 97).

No Quadro 6, Davenport e Prusak (1998) destacam sete fatores inibidores ao processo de compartilhamento do conhecimento. Segundo os autores, esses sete fatores precisam ser trabalhados pela liderança para que o processo de implantação da gestão do conhecimento nas organizações seja exitoso.

De acordo com Terra (2001), a gestão do conhecimento tem caráter universal, ou seja, seu conjunto de princípios e premissas, aplicam-se a qualquer organização. Não obstante, o autor alerta que sua efetividade depende da criação de uma nova infraestrutura organizacional. Essa nova infraestrutura, deverá envolver fatores como a estrutura, a cultura, os processos e o estilo gerencial, adotando novas posições quanto à capacidade intelectual de cada membro da organização, por meio de uma liderança efetiva e que esteja disposta a enfrentar ativamente as barreiras impostas pelo processo de transformação (TERRA, 2001).

Ao se considerar a gestão do conhecimento em IES uma das perspectivas de análise desta pesquisa, cabe inicialmente, explorar pesquisas com aplicações semelhantes, buscando compreender os conceitos que foram considerados.