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Relativamente à análise de fatores sociodemográficos no âmbito da interação entre o trabalho e a família, o género constitui a variável mais frequentemente analisada por diferentes autores (Geurts & Demerouti, 2003). De facto, desde cedo que as diferenças entre homens e mulheres suscitaram interesse na investigação desta temática. No entanto, os estudos que analisam esta variável têm produzido resultados ambivalentes (Fahlen, 2014). Alguns estudos não verificam diferenças significativas entre homens e mulheres, quer nos níveis de interação negativa entre o trabalho e a família (Bellavia & Frone, 2005; Geurts & Demerouti, 2003; Grzywacz e Marks, 2000; Lu, Kao, Chang, Wu & Cooper, 2008; Peeters et al., 2005), quer nos níveis de interação positiva (Andrade & Matias, 2009; Balmforth & Gardner, 2006; Hill, 2005; Schenewark & Dixon, 2012), enquanto outros estudos concluem que existem diferenças significativas. Estes últimos têm igualmente revelado resultados contraditórios, pois se alguns verificam que os homens reportam

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maiores níveis de interação trabalho-família negativa e as mulheres maiores níveis de interação família-trabalho negativa (Allen & Finkelstein, 2014; Byron, 2005; Fahlen, 2014; Silva, 2007), outros concluem que são as mulheres que reportam maiores níveis de interação trabalho-família negativa (Gutek et al., 1991; Mcelwain, Korabik & Rosin, 2005). De igual modo, também na interação positiva, os estudos ora concluem que as mulheres apresentam maiores níveis de interação trabalho-família positiva (Grzywacz & Marks, 2000) ou maiores níveis de interação família-trabalho positiva (Rothbard, 2001), ora verificam que os homens reportam maiores níveis de interação trabalho-família positiva (Mostert & Oldfield, 2009).

No que diz respeito à idade também se verificam resultados ambivalentes. Alguns estudos concluem que não existem diferenças significativas relativamente às duas dimensões da interação negativa (Balmforth & Gardner, 2006; Bellavia & Frone, 2005) e também nas duas dimensões da interação positiva (Balmforth & Gardner, 2006). Já outros estudos revelam que os profissionais mais novos tendem a reportar níveis mais elevados em ambas as direções da interação negativa, ao passo que os profissionais mais velhos reportam níveis mais elevados quer de interação trabalho-família positiva, quer de interação família-trabalho positiva (Klerk & Mostert, 2010). Mais recentemente, Demerouti, Peeters e Van der Heijden (2012), adotando uma perspetiva de ciclo de vida na sua revisão da literatura, obtiveram resultados semelhantes, concluindo que existem diferenças significativas na interação entre o trabalho e a família positiva e negativa considerando o estádio de vida. Concretamente, as autoras verificaram que os profissionais mais novos (com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos) e na fase intermédia da idade adulta (com idades compreendidas entre os 36 e 45 anos) apresentam níveis elevados de interação negativa. Já os profissionais mais velhos (com idade acima dos 45 anos) apresentam níveis reduzidos de interação negativa e níveis elevados de interação positiva entre o trabalho e a família.

Relativamente ao impacto do estado civil, verifica-se que este é pouco analisado, na medida em que muitos estudos tendem a considerar apenas profissionais casados nas suas amostras (Geurts & Demerouti, 2003). No entanto, considerando os resultados dos estudos que analisam de forma diferenciada esta variável verificam-se, uma vez mais, resultados ambivalentes. Alguns estudos que concluíram que existem diferenças significativas em função do estado civil, verificaram que os profissionais solteiros apresentam maiores níveis de interação trabalho-família negativa (Michel et al., 2011) e os

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não casados (solteiros/divorciados/separados) menores níveis de interação trabalho-família positiva (Balmforth & Gardner, 2006) e de interação família-trabalho positiva (Grzywackz & Marks, 2000). Por outro lado, um estudo mais recente concluiu que o estado civil não constitui um preditor significativo da interação entre o trabalho e a família negativa e positiva, não se verificando diferenças significativas em nenhuma das quatro dimensões da interação (Klerk & Mostert, 2010).

Também o impacto da existência de filhos tem sido analisado, verificando-se que os profissionais com filhos reportam maiores níveis de interação família-trabalho negativa, mas também maiores níveis de interação família-trabalho positiva (Klerk & Mostert, 2010). Além disso verifica-se que o número de filhos ou dependentes está positivamente correlacionado com ambas as direções da interação negativa entre o trabalho e a família (Byron, 2005; Geurts & Demerouti, 2003; Michel et al., 2011) e a idade dos filhos está negativamente associada à interação trabalho-família negativa (Lu et al., 2009). Cruzando o estado civil com a idade dos filhos, verifica-se que os profissionais casados e com filhos com idades abaixo dos 18 anos, apresentam níveis mais elevados de interação família- trabalho negativa (Bellavia & Frone, 2005), sendo esta relação mais significativa para as mulheres com filhos em idade escolar e pré-escolar (Geurts & Demerouti, 2003).

Relativamente às habilitações literárias, os estudos revelam que os profissionais mais graduados experienciam níveis mais elevados de interação família-trabalho positiva (Klerk & Mostert, 2010). Já os profissionais menos graduados tendem a experienciar níveis mais reduzidos de interação trabalho-família positiva (Grzywacz & Marks, 2000).

No que diz respeito aos fatores individuais, as características de personalidade e o locus de controlo constituem as principais variáveis analisadas enquanto preditores da interação entre o trabalho e a família (Michel et al., 2011). Relativamente à interação negativa, as características de personalidade podem constituir fatores de risco ou fatores protetores (Bellavia & Frone, 2005). Concretamente, traços de afetividade negativa e de neuroticismo correlacionam-se positivamente com ambas as direções da interação entre o trabalho e a família negativa (Bellavia & Frone, 2005; Michel et al., 2011; Wayne et al., 2004). Em contrapartida, a robustez psicológica (hardiness) e um maior sentido de organização têm sido apontados como fatores protetores, pois conduzem a menores níveis de interação trabalho-família negativa (Bellavia & Frone, 2005). Ainda relativamente à hardiness, realçamos um estudo da nossa autoria realizado com enfermeiros, no qual verificamos que ambas as direções da interação negativa se correlacionam de forma

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negativa com a hardiness e a interação trabalho-família positiva de forma positiva (Dias, Pereira & Queirós, 2010). Relativamente à interação positiva, sobretudo a extroversão tem apresentado uma correlação positiva quer com a interação trabalho-família positiva, quer com a interação família-trabalho positiva (Wayne et al., 2004). Quanto ao locus de controlo, Michel e colaboradores (2011) na sua meta-análise concluem que quanto maior o locus de controlo interno que o profissional apresente, maior a interação negativa entre o trabalho e a família em ambas as direções. Adicionalmente, a adoção de estilos de coping mais positivos constitui um fator protetor de ambas as direções da interação negativa (Byron, 2005), enquanto que estilos de coping desadaptativos, como a resignação ou o evitamento, estão associados a maiores níveis de interação trabalho-família negativa (Bellavia & Frone, 2005).

Por último, alguns autores verificaram que algumas variáveis sociodemográficas podem ter um efeito moderador na relação entre os antecedentes e a interação entre o trabalho e a família, nomeadamente, o género e o estado civil. Em relação ao género, o envolvimento psicológico no trabalho e a ambiguidade de papéis no trabalho constituem preditores mais fortes da interação negativa para os homens (Byron, 2005; Michel et al., 2011). Em contrapartida, a flexibilidade de horários parece constituir um fator protetor da interação negativa entre o trabalho e a família mais para as mulheres (Byron, 2005). Quando analisado o efeito moderador do estado civil, verifica-se que a sobrecarga de trabalho constitui um preditor significativo mais forte da interação negativa para os profissionais não casados (Michel et al., 2011).

2.4 O Modelo das Exigências-Recursos no Trabalho (Job Demands-Resources Model)