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CAPÍTULO 2 – Design Audiovisual: Edição e Linguagem Narrativa

2.6. Fatores intervenientes no processo de edição

A edição é o último recurso da produção audiovisual, mesmo nos cenários mais expressivos, o significado absoluto da mensagem que se pretende transmitir com uma sequência só é alcançável pela combinação correta dos planos e a sua adaptação à unidade total da narrativa. Isto porque, apesar de um plano por si só ter significado, – a representação de um sorriso é um sorriso – a sua causa, o seu resultado e consequência, o significa inerente ao plano só poderão ser desvendados com a adição e interpretação de planos que precedam e sucedam a ação. O significado latente em cada plano é revelado com o corte para o plano seguinte (Balázs, n.d.).

A montagem é a associação de ideias renderizadas visualmente, partilhando a escolha e interpretação intencional do realizador através dos fatores inerentes ao processo de edição adotado pelo editor. Mesmo no caso da edição narrativa mais simples, que consta na junção de planos numa sequência que expresse a história de forma a facilitar a sua compreensão, a edição é considerada como uma extensão da criação artística. A edição pode ser genuinamente criativa ao transmitir até o que não é visível em qualquer um dos planos mostrados (Balázs, n.d.).

O processo de edição está condicionado pelos fatores que caraterizam as capacidades do editor, fatores esses que se enquadram em três dimensões: técnica, criativa e pessoal.

2.6.1. Fatores Técnicos

Como fatores técnicos é possível considerar a estruturação e planificação da narrativa, estes processos de prévia organização permitem ao editor selecionar com mais facilidade e rapidez os planos que se adequam à mensagem que pretende transmitir (Amiel, 2010).

O uso de transições entre planos, de forma a suavizar o efeito do corte, mas sempre com um propósito narrativo, como por exemplo a passagem de um período de tempo desnecessário para a compreensão da narrativa. Para além da subtileza nas transições escolhidas, a subtileza no ato do corte, também se torna uma técnica essencial, com a habilidade de ser “invisível” aos olhos do espetador (Ebiner, n.d.).

A edição tem de funcionar como uma unidade, permitindo que a leitura seja feita de forma inconsciente, como um ato natural.

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2.6.2. Fatores Criativos

Os fatores de dimensão criativa, que intervêm no processo de edição, passam pela escolha dos tipos de planos e enquadramento, e pela continuidade ou descontinuidade (raccord).

Os planos devem a sua designação técnica à distância e ao ângulo composto entre câmara e objeto. A distância pode enumerar os seguintes planos: plano geral (enquadramento da cena na sua totalidade), plano inteiro (mostra as personagens de corpo inteiro), plano americano (enquadra a figura humana do joelho para cima. Tipo de plano usado no cinema Americano), plano médio (enquadramento da cintura para cima), grande plano ou close-up (é enquadrado de uma maneira muito próxima do assunto. Tenta-se captar as expressões, ou chamar a atenção para algo), plano pormenor ou insert (enquadramento um objeto isolado ou parte dele ocupando todo o espaço da imagem.): no caso dos ângulos criados pela câmara podem-se enunciar: picado (vista de cima para baixo, ficando a objetiva acima do nível normal do olhar.) contra-picado (vista de baixo para cima, ficando a objetiva abaixo do nível normal do olhar) objetivo (tenta-se capturar a imagem de uma forma real e impessoal. A imagem tal como ela é) subjetivo (trabalha-se a imagem de acordo com um ponto de vista pessoal, de acordo com o que queremos sugerir) (Machado, 2009; Marner, 2014).

O ritmo é estabelecido pela duração dos planos que constituem uma cena, aumentando ou diminuindo a duração que estabelece um padrão rítmico que pode completar ou contrastar com o ritmo interno de uma cena ou sequência (Fulton et al., 2005).

A continuidade ou descontinuidade de uma cena analisa-se no momento imediato junto ao corte, em que o editor necessita manter a continuidade da ação interna de cada plano, tal como a do olhar do espetador. No entanto, caso o pretendido seja o choque ou mudança radical da estrutura narrativa procede-se à rutura da cena criando descontinuidade espacial, temporal ou de ação (Amiel, 2010).

2.6.3. Fatores Pessoais

Como fatores pessoais podem-se identificar a formação académica, a experiência e percurso profissional do editor audiovisual.

A influência do background académico no editor e no seu trabalho baseia-se no percurso de aquisição das suas bases artísticas que lhe poderão conferir maior ou menor sensibilidade estética, conhecimentos técnicos e artísticos. O percurso que permite chegar à posição de editor pode percorrer alguns caminhos de formação

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diferentes, como formação em design de comunicação, nomeadamente no ramo multimédia e audiovisual; formação em cinema; formação em comunicação social e posteriormente a escolha do percurso profissional depende das ambições pessoais do futuro editor (Amiel, 2010; Marner, 2014).

Inicialmente, o editor audiovisual júnior desempenha funções de assistente e, progressivamente, vai adquirindo experiência e vai-lhe sendo permitido começar a editar de forma independente, desenvolvendo a sua técnica pessoal incutindo o seu cunho pessoal que o irá distinguir dos demais profissionais.

A experiência e o percurso profissional são variáveis de grande influência, uma vez que trabalhar em áreas diversificadas, não só ligadas ao audiovisual, pode enriquecer a técnica e a criatividade do editor, permitindo-lhe uma maior facilidade em alcançar os objetivos definidos pela planificação da narrativa, através das técnicas de edição; tal como, a premissa de que a experiência se adquire com o avançar dos anos.

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O capítulo seguinte (Capítulo 3) relata estudos de casos de aplicação do design audiovisual, mediante experimentação da própria investigadora, no âmbito de estágio na empresa SkyHigh (Finlândia) e o contacto direto e interação (entrevistas) com profissionais de edição.

Nas conclusões do trabalho apresenta-se a resposta à questão de investigação, ou seja, enumeram-se os fatores que intervêm no processo de edição de conteúdo audiovisual, com o intuito de transmitir as emoções pretendidas pelo cliente/proponente de um determinado produto audiovisual.

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