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UM MODELO DE ANÁLISE TEXTUAL ORIENTADO PARA TRADUÇÃO

3. OS FATORES DE ANÁLISE DO TEXTO FONTE

3.2. Fatores intratextuais 0 Noções básicas

a. Especificação dos fatores intratextuais

A fórmula de Lasswell ampliada e escolhida como ponto de par- tida para o nosso modelo de análise tinha apenas duas perguntas sobre o texto propriamente dito — O que diz o emissor? e Como ele o diz? —, e ambas referem-se aos aspectos tradicionais de conteúdo e forma. A discussão acerca de se é possível ou aconselhável separar a forma e o conteúdo no signo linguístico não tem fim.161 No caso

161 Pode-se demonstrar facilmente que, em cada texto, os fenômenos semânticos, como a coerência, por exemplo, têm correspondências formais (tais como os mecanismos de coesão) e que cadacaracterística formal carrega um elemento semântico, na medida em que informa o leitor sobre a atitude do falante, sua avaliação sobre a informação dada ou sobre a sua intenção no que diz respeito ao receptor. Em algumas áreas da comunicação (por exemplo, a comunicação entre experts), o elemento semântico das características formais é radicalmente reduzido (WILSS, 1977, p. 673) e algumas vezes o skopos da tradução exige a diferenciação de conteúdo e forma. Portanto, não pode- mos abandonar a ideia de distinguir (não separar) os fatores semânticos e formais no caso de uma análise textual direcionada à tradução. Por exemplo, quando o iniciador

de uma análise de texto orientada à tradução, foi extremamente di- fícil usar essas duas categorias como ponto de partida para a análise. Partindo da hipótese de que o inverso de um modelo de sínte- se textual deve levar a um modelo de análise textual, adotamos a perspectiva de um emissor que produz um texto com um propósito comunicativo, a fim de averiguar quais são os fatores intratextuais que devem ser considerados no processo de produção textual.

O emissor geralmente inicia o processo de comunicação por- que deseja transmitir uma mensagem para o receptor. Entende- -se “mensagem” aqui em um sentido amplo, que inclui: pedidos, ordens, perguntas e até mesmo o esforço dos interlocutores para estabelecer contato, ou seja, todos os enunciados que preencham as funções básicas da comunicação humana, já descritos ante- riormente. Através da mensagem, o emissor faz referência a uma parte da realidade extralinguística que constitui o tema ou as- sunto do enunciado. Uma vez decidido o assunto, o emissor se- leciona as informações que podem ser novas ou de interesse para o receptor, pois são elas que constituem o conteúdo do texto que está sendo produzido.

Ao formular a mensagem, o emissor deve levar em conside- ração a bagagem presumida do receptor. O emissor deseja que o texto seja “comunicativo” e, por isso, evitará incluir informações “presumivelmente” conhecidas pelo receptor, pois, mesmo não verbalizadas, essas informações estão presentes no texto como pressuposições. Logo que o assunto, o conteúdo e as pressupo- sições sejam determinados, o emissor decide a ordem em que o conteúdo deve ser apresentado e como as diferentes informações pede uma tradução prévia, não revisada, ou um resumo rápido do conteúdo do TF na língua alvo, todos os elementos do TF pertencentes ao componente formal (marcas estilísticas, mecanismos retóricos, escolha do léxico etc.) têm importância secundária.

podem ser relacionadas umas com as outras. Esse aspecto é com- preendido pela categoria da estruturação textual, que engloba tan- to as macroestruturas do texto (capítulos, parágrafos etc.) como as microestruturas das orações e frases.

A estruturação do texto é geralmente marcada por sua aparên- cia externa. Aberturas de parágrafo, títulos e números de capítu- los, asteriscos, disposição formal do texto na página, ilustrações, tabelas, iniciais, negritos e itálicos ou (na comunicação face-a-face) gestos e expressões faciais, que naturalmente podem servir também a outros propósitos, são chamados de elementos não verbais.

Os elementos mais importantes para transmitir a mensagem são os elementos verbais: léxico, sintaxe e as assim chamadas caracterís- ticas suprassegmentais, que ditam o “tom” do texto e enfatizam ou destacam determinadas partes dele, relegando outras a um segundo plano. Todos esses elementos não só têm uma função informativa (ou seja, denotativa), mas também estilística (ou seja, conotativa).

Conforme já mencionado, as características intratextuais são amplamente influenciadas pelos fatores situacionais (por exemplo, origem geográfica do emissor, exigências especiais do meio esco- lhido, condições de tempo e lugar da produção textual etc.), mas podem ser determinadas também pelas convenções de gênero ou pela intenção comunicativa específica do emissor, que, por sua vez, afeta a escolha dos meios intratextuais para a comunicação. Deve-se considerar também o fato de as decisões estilísticas serem frequen- temente interdependentes, ou seja, se o emissor adota um estilo no- minal no âmbito lexical, por exemplo, essa decisão afetará a escolha das estruturas sintáticas.

Na nossa perspectiva orientada ao emissor, é possível, no en- tanto, destacar oito fatores intratextuais: assunto, conteúdo, pres- suposições, estruturação, elementos não verbais, léxico, sintaxe e características suprassegmentais. Na prática, o trabalho com os

fatores analisados nessa ordem tem se mostrado bastante eficien- te, o que não significa que ela não possa ser alterada, desde que o princípio da recursividade permita retroalimentações constantes, se necessárias.

A separação dos fatores se deve a considerações puramente me- todológicas. Na prática, eles formam um sistema intricado de inter- dependência, como ilustrado na Figura 6. O assunto, por exemplo, pode determinar a estruturação do texto (por exemplo, ordem cro- nológica dos eventos em um relatório) ou a escolha dos itens lexicais (por exemplo, terminologia jurídica em um contrato). Já a inserção de elementos não verbais pode influenciar a estruturação do texto, que, por sua vez, pode afetar a escolha das estruturas sintáticas etc.

Por essa razão, nem sempre é necessário, na aplicação prática do modelo, que toda a análise intratextual seja executada passo a passo. Em alguns encargos de tradução, a análise dos elementos in- tratextuais já é suficiente para determinar, por exemplo, se o texto corresponde ou não aos padrões de gênero, enquanto outros podem exigir uma análise detalhada ao nível de morfemas ou fonemas.

Exemplo 3.2.0/1

Se um texto altamente convencionalizado, como um boletim meteorológico, tem que ser traduzido de tal modo que o TA siga o padrão desse gênero na cul- tura alvo, então não é necessário analisar todos os detalhes intratextuais do TF, desde que se tenha determinado que são “convencionais”. Considerando que, neste caso, as marcas intratextuais do TA devem ser adaptadas às convenções da cultura alvo, as características intratextuais do TF podem ser consideradas irrelevantes para a tradução.

Em alguns tipos textuais, a análise deverá concentrar-se em cer- tos aspectos intratextuais específicos, já em outros, esses aspectos

serão convencionais e, portanto, previsíveis. Essa consideração abre a possibilidade de esquematizarmos uma aplicação didática do mo- delo, o que permitiria que a análise textual pudesse ser estabelecida em aulas de tradução sem que se perdesse um tempo excessivo em detriemento da prática tradutória.162

b. Estado da arte

Esse item discute como e até que ponto as abordagens existentes para uma análise textual orientada para a tradução consideram os aspectos intratextuais descritos anteriormente.

Todas as abordagens enfatizam a importância da referência a uma realidade extralinguística. Assunto e conteúdo geralmente não são mencionados como fatores separados um do outro163 e, às vezes,

apenas um é mencionado.164

A importância das pressuposições é explicitada somente por Reiss.165 Koller166 não faz menção alguma a isso, mas parece for-

necer uma pista sobre as pressuposições quando baseia sua tipo- logia textual no fato de o conteúdo do TF estar ou não vinculado ao entorno da LF e em se o contexto da LF é verbalizado ou não no TF. Thiel167 sustenta que o tradutor deverá suscitar o “conhe-

162 Christiane Nord, „Textanalyse im Übersetzungsunterricht? Überlegungen zur Verhältnismäßigkeit der Mittel:Verhindert die Textanalyse im Übersetzungsunter- richt dessen eigentliches Ziel, das Übersetzenlernen?“.

163 Por exemplo, W. Wilss, op. cit., 1977; K. Reiss, op. cit., 1984.

164 Por exemplo, o conteúdo em G. Thiel, op. cit., 1974a e G. Thiel, „Überlegungen zur übersetzungsrelevanten Textanalyse“; o assunto em C. Cartellieri, op. cit., 1979; G. Thiel, op. cit., 1980; W. Wilss, „Semiotik und Übersetzungswissenschaft“ e H. Bühler,

op. cit., 1984.

165 K. Reiss, op. cit., 1984. 166 W. Koller, op. cit., 1979, p. 213. 167 G. Thiel, op. cit., 1974a.

cimento especializado exigido para a compreensão textual”, o que também parece apontar para a questão das pressuposições.

A estruturação textual é enfatizada, sobretudo, nas contribui- ções de Thiel. Wilss168 também menciona esse fator em conjun-

to com a análise prática de um texto-amostra169 quando fala da

“composição temática” do texto. Ele se refere a parágrafos intro- dutórios, citações, sequências temáticas etc. como segmentos tex- tuais separáveis.

Já quanto aos elementos não verbais, eles não são normalmente mencionados nessas abordagens, fundamentadas em um conceito mais restrito de texto, que exclui elementos não linguísticos. So- mente Thiel170 enfatiza a importância de “estruturas textuais for-

mais” e “marcações óticas”.

Geralmente, o léxico e a sintaxe são analisados juntamente com os aspectos estilísticos ou linguísticos da análise textual, que abar- cam as figuras retóricas, como metáforas, comparações, formação criativa de palavras, elipses etc.,171 bem como os níveis de estilo,172

convenções de gênero173 e a “organização artística” de textos lite-

rários.174 Em nossa opinião, os elementos onomatopeicos, rimas,

ritmo e outras características agrupadas por Koller na categoria “características estético-formais” devem ser classificadas como ca- racterísticas suprassegmentais.

168 W. Wilss, op. cit., 1977. 169 Idem, p. 641.

170 G. Thiel, op. cit., 1978a. 171 W. Wilss, op. cit., 1977 172 G. Thiel, op. cit., 1974a.

173 K. Reiss, op. cit., 1974a; C. Cartellieri, op. cit., 1979. 174 K. Reiss, op. cit., 1980a.

A especificação da “função linguística dominante”,175 considera-

da por Koller176 uma das fases mais importantes na análise textual

orientada à tradução, parece ir além dos limites de análise intratex- tual, visto que esta não pode ser determinada sem que sejam con- sideradas as características extratextuais da situação comunicativa.

Quando analisamos as características linguísticas de um deter- minado texto, logo percebemos que devem ser avaliadas de ma- neiras diferentes, dependendo da função que exercem. Algumas características dependem de condições situacionais que não podem ser controladas ou modificadas pelo emissor (por exemplo, prag- máticas de tempo e de espaço, origem geográfica ou sociocultural do próprio emissor) ou de características que tenham sido determi- nadas por uma decisão anterior à produção textual (como a escolha do meio ou do público). Existem, além disso, outras características ditadas pelas normas sociais (por exemplo, convenções de gêne- ro). Por essa razão, durante o processo de análise, o tradutor deve retornar, constantemente, aos fatores já analisados (= princípio da recursividade). Por fim, existe um tipo de característica que depende da escolha do emissor dentre vários meios alternativos de expressão e que é determinada pela intenção de produzir um deter- minado efeito no receptor. Essa inter-relação entre os fatores extra e intratex tuais é ilustrada na Figura 7, que pode servir de matriz para a análise textual no ensino de tradução.

175 O primeiro passo na análise do texto voltada à tradução de Koller (1979) consiste em determinar a “função linguistica dominante” (BÜHLER, 1934). No nosso enten- der, isso somente pode ser elicitado depois de uma análise cuidadosa de todos os fato- res intratextuais. Um alinhamento mais ou menos “automático” da função linguística dominante com o método otimizado de tradução, que Reiss (1971) e Koller (1979) parecem ter em mente, só é concebível no contexto de uma teoria tradutória baseada na equivalência.

c. Considerações gerais sobre o conceito de estilo

A informação semântica, que é transmitida essencialmente pelos elementos lexicais, deve ser analisada ao nível do texto. Isso significa que, com a inclusão dos mecanismos globais de coesão e coerência, elementos e estruturas textuais (verbais e não verbais) ambíguos podem ser mais facilmente esclarecidos. Assim, a infor- mação semântica pode ser atribuída às categorias de assunto, conte- údo e pressuposições. Já a estruturação, os elementos não verbais, o léxico, a sintaxe e os elementos suprassegmentais referem-se, prin- cipalmente, às implicações estilísticas da Gestalt, ou seja, à aparên- cia externa do texto. Aqui, parece necessária uma explicação sobre o nosso conceito de estilo.

Estilo diz respeito ao modo como o texto é apresentado ao re- ceptor. Portanto, o termo não é empregado no seu sentido avalia- tivo (como quando falamos de um estilo “claro” ou “bonito”,177 ou

dizemos que alguém ou alguma coisa “tem estilo”). Estilo tampouco é um meio de definir o “desvio” de uma convenção ou norma esti- lística ou literária, pois isso implicaria na existência de textos “des- tituídos de estilo”. Tal conceito choca-se com a observação empírica de que existem desvios sem valor estilístico e de que existem valores estilísticos que não se devem a desvios.

O nosso conceito de estilo é puramente descritivo e refere-se às características formais de um texto, sejam elas estabelecidas por normas e convenções ou determinadas pela intenção do emissor. Em ambos os casos, o estilo do texto diz alguma coisa sobre o emis- sor e sua atitude, e envia determinados sinais prévios para o recep- tor sobre como (isto é, em qual função) o texto deve ser lido.

Para ser capaz de entender um signo ou sinal extralinguísti- co, o receptor, da mesma forma que o emissor, precisa conhecer e

dominar os padrões estilísticos e as funções que eles normalmente exercem. Esse conhecimento constitui o que se chama de compe- tência textual e permite ao receptor inferir as intenções ou atitudes do emissor a partir do estilo apresentado no texto. Isso se baseia no fato de que muitas ações comunicativas são convencionalizadas e muitos produtores textuais também procedem de acordo com um padrão determinado. Na comunicação habitual, ter um conheci- mento intuitivo, inconsciente ou “passivo” dos padrões estilísticos é mais do que suficiente para assegurar a compreensão do texto, porém o receptor/tradutor não pode se orientar sem um bom co- nhecimento ativo acerca desses padrões, tanto na LF como na LA, pois é esse conhecimento que permite a ele analisar a função dos elementos estilísticos empregados no TF e decidir quais podem ser reproduzidos para se alcançar a função alvo e quais devem ser mo- dificados ou adaptados.

Em diversas culturas, muitas categorias estilísticas foram her- dadas da retórica antiga — ainda que seus valores estilísticos atuais possam variar sutilmente devido às características específicas das diferentes línguas —, e isso parece ser bastante vantajoso para o tradutor, pelo menos no que se refere às culturas ocidentais.

3.2.1. Assunto

a. Considerações gerais

A questão do assunto é fundamental em todas as abordagens de análise textual orientada à tradução, embora nem sempre a re- ferência a ele se faça sob este nome. Reiss178 classifica o assunto e o

conteúdo mediante o questionamento “Sobre o que o emissor fala?”, que parece englobar o “potencial adicional” de significação que a

organização artística pode dar a um texto literário. Tomando o en- saio Miseria y esplendor de la traducción, de José Ortega y Gasset, como exemplo, Reiss179 demonstra que o assunto “real” do texto

pode ficar escondido atrás de recursos estilísticos como metáforas ou comparações.

Wilss180 classifica o assunto como fator pragmático, mas não

justifica sua classificação. Quando descreve o tema como “assunto central” — que, como uma tônica, pode ser reconstruído cognitiva- mente ao se analisarem os mecanismos de coerência —, faz referên- cia a um fator intratextual. Cartellieri,181 por outro lado, menciona

claramente o aspecto pragmático ao tentar estabelecer a “relevância sociológica” do assunto.

Com exceção de Reiss,182 que exemplifica suas análises através

de texto amostra, somente Thiel discute explicitamente a questão de como descobrir o assunto do texto. Segundo Thiel, para alguns tipos de texto (o seu texto amostra é uma resolução) existe uma convenção de que o assunto deve ser indicado no título ou em algu- ma outra parte do texto.

Para o tradutor, analisar o assunto é importante por diversas razões:

1. Se um assunto domina consistentemente todo o texto, tra- ta-se de um indício de que o texto é coerente. Se um texto não tem somente um assunto ou uma hierarquia de assuntos compatíveis, mas um número de assuntos diferenciados, ele apresenta uma “combinação textual”. Plett183 cita o Question

time parlamentar, um item da ordem do dia no qual cada

179 K. Reiss, op. cit., 1980a. 180 W. Wills, op. cit., 1977. 181 C. Cartellieri, op. cit., 1979. 182 K. Reiss, op. cit., 1980a.

deputado pode questionar o Governo sobre qualquer assun- to, como exemplo dessa combinação textual com variedade temática. A mudança temática pode ser sinalizada por ele- mentos não verbais. Ela pode ser um problema para o tra- dutor se o texto a ser traduzido tratar de diferentes assuntos, visto que as condições da situação alvo podem variar de acor- do com essas mudanças (por exemplo, com respeito à baga- gem do receptor). Nesse caso, o assunto deve ser identificado separadamente pelos componentes individuais da combina- ção textual.

2. A inserção do assunto em um contexto cultural específico184

pode indicar possíveis pressuposições e sua relevância para a tradução. Se o contexto cultural não for universal, não sig- nifica necessariamente que deva estar vinculado à cultura da LF, como afirma Koller.185 O contexto pode estar igualmente

vinculado à cultura alvo (ou ao que o emissor imagina que seja a cultura alvo). O contexto cultural pode também não ser real, mas fictício. Nesse caso, pode variar do quase realista ao não muito realista, ao utópico etc.

3. Como a elicitação do assunto restringe o número de reali- dades extralinguísticas possíveis descritas no texto,186 ela

capacita o tradutor a decidir se possui o conhecimento espe- cializado (incluindo terminológico) exigido para a compre- ensão e tradução do texto e/ou que tipo de pesquisa deve ser realizada antes de se traduzi-lo.

4. A análise do assunto pode também demonstrar a tradu- zibilidade do texto, se for conduzida na primeira fase da

184 A. Popovič, op. cit., 1977. 185 W. Koller, op. cit., 1979, p. 213. 186 G. Thiel, op. cit., 1980.

análise do TF (possivelmente na fase do controle de viabi- lidade do encargo).

5. Quando o assunto já tiver sido analisado, pode-se identi- ficar a função do título ou cabeçalho. Quando os títulos ou cabeçalhos indicam o tema de textos científicos, como ocorre frequentemente nas culturas ocidentais,187 eles po-

dem muitas vezes ser traduzidos de forma literal, seguindo as convenções sintáticas.188

6. O questionamento sobre o assunto revela, muitas vezes, in- formações sobre certos fatores extratextuais (por exemplo, emissor, tempo, função textual), quando estes não tiverem sido determinados por uma análise externa. Por outro lado, certas expectativas sobre o assunto, construídas no curso da análise externa, podem ser confirmadas ou corrigidas pela análise interna.

b. Como obter informações sobre o assunto

As convenções de certos tipos de texto parecem requerer que o título, o cabeçalho ou o contexto do título (isto é, o título e os sub- títulos) representem um tipo de programa temático. Um exemplo em um artigo científico: “Teoria e software: reflexões sobre a divi- são de trabalho nas Letras ontem e hoje” (Cadernos de Tradução, n. 30, 2012/2).

Quando a informação não é transmitida por um título temáti- co como este, o assunto do texto pode ser formulado em um lead introdutório, como é o caso de muitos artigos jornalísticos,189 ou

187 G. Graustein, W. Thiele, op. cit., 1981, p. 10.

188 Christiane Nord, “Funcionalismo y lealtad: algunas consideraciones en torno a la traducción de títulos” e Christiane Nord, Lernziel: Professionelles Übersetzen

Spanisch-Deutsch.

na primeira frase, que pode, então, ser considerada uma “oração temática”, parafraseando a essência do assunto textual.

Exemplo 3.2.1/1

Governo do Rio protela decisão sobre concessão do Maracanã  Investimentos estão suspensos, o que beneficia o concessionário 

Jornal do Brasil

Caio Lima

O governo do Estado adiou a data em que deveria receber a resposta do Consór- cio Maracanã S.A. sobre o futuro do complexo do estádio. O prazo expirou nesta quinta-feira (22), com o anúncio da suspensão das demolições dos equipamen- tos ali instalados, feito no dia 2 de agosto pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, na tentativa de recuperar sua popularidade. [...] Jornal do Brasil, sexta-feira, 23