• Nenhum resultado encontrado

UM MODELO DE ANÁLISE TEXTUAL ORIENTADO PARA TRADUÇÃO

1. PRINCÍPIOS TEÓRICOS

1.1. Fundamentos tradutológicos

Após uma breve descrição das condições gerais e dos constituintes da situação na qual a tradução acontece, partimos para uma análise mais detalhada do papel do “iniciador” (proponente) e do tradutor, considerando que ambos são elementos de relevância na produção de uma tradução.

1.1.1. Condições e elementos do processo de ação tradutória

Nosso conceito de tradução é basicamente funcional1 e essa abor-

dagem é o critério norteador para o modelo do processo de ação tradutória2 descrito na Figura 1 e na Figura 3.

Um processo de ação tradutória é geralmente iniciado por um cliente ou “iniciador” (INI), que contrata um tradutor (TRD), uma vez que ele necessita de certo texto alvo (TA) para um destinatário ou receptor determinado (R-TA).3 Pode também acontecer de pre-

cisamente ser o iniciador quem queira entender na língua alvo (LA) um determinado texto fonte (TF) escrito em uma língua fonte (LF) por um autor inserido em uma cultura fonte (CF), ou ainda trans- mitido por um emissor desta língua fonte (E-TF).

1 A abordagem funcional para a tradução foi primeiramente sugerida por Reiss ([1971] 2000, p. 92),quando ela incluiu a “função especial de uma tradução” como uma cate- goria adicional em seu modelo de crítica de tradução — uma categoria que visa reco- locar o critério normal de crítica baseada na equivalência nos casos (especiais) em que o texto alvo exercia um propósito diferente do texto fonte. Esse ponto de vista é tam- bém expresso por Reiss (1976a). A partir de 1978, Reiss e, particularmente, Vermeer frequentemente postularam como uma regra geral que o propósito do TA (texto alvo) é que deve determinar os métodos e as estratégias de tradução, e não a função do TF (texto fonte). Em 1978, Vermeer formulou esse postulado como skopos ([1978]1983, p. 54), o qual mais tarde se tornou o componente principal de sua teoria geral da tra- dução — Skopostheorie (REISS; VERMEER, 1984). Holz-Mänttäri também considera a função alvo o núcleo da “especificação do produto”, que é como ela se refere à descri- ção das propriedades e características esperadas do texto alvo (1984a, p. 114). 2 De forma a estabelecer uma distinção entre a totalidade do processo de tradução, isto é, o conjunto dos fatores e os elementos relacionados com o fazer tradutório (nord [1988a] 2012, p. 15-19), e o processo da tradução de forma estrita, ou seja, a rotina que leva da análise do TF até a produção do ta, vamos nos referir aqui ao primeiro como “processo de ação tradutória”. Entretanto, em ambos os casos, nosso conceito de processo não deve ser confundido com a noção psicolinguística de “o que está aconte- cendo na cabeça do tradutor”, a qual é empiricamente estudada nas técnicas do think-

-aloud protocols — TAP ( KUSSMAUL 1995, p. 5).

Parece sensato fazer uma distinção metodológica entre o pro- dutor do texto (P), que, na verdade, produz o texto, e o emissor (E), que transmite um texto para veicular certa mensagem. Os emis- sores que utilizam um texto escrito por eles podem ser conside- rados produtores do texto e emissores ao mesmo tempo. Por isso, são responsáveis por cada elemento da formulação, e, assim sendo, preferimos chamá-los de “autores” em vez de emissores ou produ- tores de texto. No entanto, a distinção entre emissor e produtor do texto de partida precisa ser feita. Se um especialista em produção textual é convidado a escrever um texto para o emissor original, pode acontecer uma incoerência entre a intenção do emissor e a efetiva realização pelo produtor do texto. Ainda assim, o emissor pode conceder ao produtor do texto um certo espaço de criativida- de estilística, que pode então ser refletida em aspectos internos do texto, mas nem por isso retratar a intenção do emissor (ver Capítulo 1.1.3 e Exemplo 3.1.1/1).

Uma vez que o processo de ação tradutória tenha sido iniciado, o tradutor pode ser considerado o receptor momentâneo do TF, mesmo que ele não seja previsto como destinatário, pois textos nor- malmente não são concebidos para tradução, mas sim produzidos para um grupo de receptores mais ou menos definidos.

Exemplo 1.1.1/1

a) Na tradução de uma carta comercial, o receptor do TF está claramente iden- tificado tanto pelo endereçamento quanto pela saudação. b) Um texto marcado como “livro infantil” é direcionado para um grupo de certa faixa etária. c) Um tra- dutor que deve traduzir um texto literário de outra época frequentemente tem que recorrer a métodos de análise textual para determinar as condições de sua recepção. Nesse caso, pode ser necessário distinguir entre o receptor “original” na época do autor e o receptor na época da tradução.

Apesar de não terem normalmente parte ativa no processo de ação tradutória (salvo no caso especial da interpretação), os des- tinatários do TF são um fator importante para a situação do TF porque as características linguísticas e estilísticas do TF podem ter sido escolhidas de acordo com o que o produtor do texto con- sidera que eles esperem. Além disso, a “imitação” dos efeitos da recepção do TF pode ser parte do skopos da tradução (ver abaixo, Capítulo 3.1.8c).

Por todas essas razões, incluímos a recepção do TF como uma segunda pista do diagrama, retratando o processo da ação tradutória.

Os elementos e componentes essenciais do processo de ação tradutória são, em ordem cronológica: produtor do TF, emissor do TF, texto fonte, receptor do TF, iniciador, tradutor, texto alvo, re- ceptor do TA. Estes são os papéis comunicativos que podem, na prática, ser representados por um mesmo indivíduo. Por exemplo, o próprio autor do TF, o receptor do TA ou mesmo o tradutor podem agir como iniciadores de uma tradução.

Exemplo 1.1.1/2

a) Uma professora de medicina alemã fará uma palestra em uma conferência internacional, na qual a língua oficial é o inglês. Ela possui suficiente fluência em inglês para ler um texto escrito neste idioma, mas não para escrever sua palestra em inglês. Então, escreve um texto em alemão e pede para que um tradutor o traduza para o inglês (P-TF = INI = E-TA). b) Um tradutor faz uma tradução como exemplo de seu trabalho para se candidatar a um emprego (TRD = INI). c) Um profissional especialista em publicidade pede uma tradução de um anúncio es- trangeiro para ter uma noção das estratégias de marketing utilizadas em outros países (R-TA = INI). d) Um autor cubano exilado na França traduz seu próprio ro- mance do espanhol para o francês (P-TF = INI = TRD).

Além destes constituintes essenciais, também temos que pen- sar em um número de componentes não essenciais. No diagrama (Figura 1) deixamos espaços vazios ou lacunas [X] que podem re- presentar outras pessoas ou instituições que eventualmente estejam envolvidas no processo da ação tradutória.

Exemplo 1.1.1/3

a) Uma agência publicitária solicita um TF de um autor (P-TF), apontando certas especificações para uma futura tradução (X = agência publicitária). b) O layout final do ta é submetido ao designer gráfico de modo que o tradutor não precise se preocupar com a diagramação (X = designer gráfico). c) Antes de ser enviado para impressão, o TA é revisado por um especialista que o adapta para a termi- nologia da empresa (X = especialista).

Interpretação é uma forma especial de tradução, porque a si- tuação requer a presença do receptor do TF (R-TF), bem como do tradutor e do receptor do TA (R-TA). Visto que a interpretação é uma forma de comunicação face a face, tanto o emissor quanto o receptor estão presentes, como é mostrado nos usuais modelos de comunicação — em conjunto com o tradutor no papel de produtor do TA. Todos os participantes se comunicam no mesmo lugar, ao mesmo tempo, usando o mesmo meio, e a função do texto é a mes- ma para todos os participantes, exceto para o tradutor. No entanto, o que é diferente é a base cultural do E-TF e do R-TF por um lado, e do R-TA, por outro.

A tradução de textos escritos em geral tem lugar em uma si- tuação diferente. Mesmo que o meio através do qual o texto seja transmitido permaneça o mesmo, o emissor do TF, o TF e os re- ceptores do TA estão separados pelo tempo e espaço, e sua comu- nicação é uma comunicação de “um único sentido”, a qual não

permite retroalimentações. Além disso, os textos escritos podem existir fora da sua situação original, podendo assim ser aplicados a novas situações — um processo que pode mudar completamente sua função ou suas funções. Uma dessas situações novas é a tra- dução. Para entender se o texto é adequado para a nova situação da cultura alvo, o tradutor tem que considerar os fatores e compo- nentes da situação original.

Estando os signos comunicativos vinculados à cultura, tanto o texto fonte como o texto alvo são determinados pela situação comunicativa na qual

estão inseridos para transmitir uma mensagem.

Uma vez que, na comunicação escrita, o emissor e o receptor estão geralmente separados no tempo e no espaço, temos que fa- zer uma distinção entre a situação da produção do texto e aquela da recepção do texto, seja na cultura fonte (CF) ou na cultura alvo (CA). Na CF, temos que distinguir entre a recepção original e a recepção do tradutor, exceto nos casos em que o texto origi- nal é produzido especificamente como um texto fonte, ou seja, apenas para tradução. Como esses textos não têm destinatário na CF, à faixa de recepção da CF do modelo será então atribuído o valor de zero.

Exemplo 1.1.1/4

Textos produzidos para publicidade no exterior, cartas comerciais e panfletos turísticos às vezes não possuem receptores na cultura fonte, mas apenas na cul- tura alvo. Nesses casos o tradutor será o único receptor do TF.

Consequentemente, o diagrama que representa o processo de ação tradutória mostra uma situação do TF (SITF) e uma situação do TA

(SITA), ambas divididas em produção e recepção do texto. Na tradução

escrita, a recepção do TF e a produção do TA pelo tradutor normal- mente coincidem em tempo e lugar, enquanto na interpretação é o con- junto da SITF e da SITA que forma uma mesma situação comunicativa.

Figura 1: O processo de ação tradutória (1) PRODUÇÃO TF RECEPÇÃO TF

SITUAÇÃO COMUNICATIVA SIT-F SITUAÇÃO COMUNICATIVA SIT-A

TF-R INI TF-R TA-R TRD X TF X X X X PRODUÇÃO TA RECEPÇÃO TA E X TA X X TRADUÇÃO

Como ilustrado anteriormente pelos Exemplos 1.1.1/2, o ini- ciador (INI) não tem necessariamente de ser parte da SIT-F, mas também pode ser parte da SIT-A. É por isso que o INI aparece “re- baixado” no diagrama; é apenas a função do INI que o coloca cro- nologicamente neste lugar.

1.1.2. O papel do iniciador

No processo representado acima, o iniciador desempenha um pa- pel fundamental. Além de ser um indivíduo (a não ser que, eviden- temente, o papel do iniciador seja feito pelo tradutor, o receptor do TA etc.), com suas próprias características pessoais, o iniciador é o fator que começa o processo e determina seu curso.

O processo de ação tradutória é iniciado porque o iniciador precisa de um instrumento comunicativo específico: o texto alvo. Isso pressupõe que o iniciador necessita desse texto alvo para um determinado propósito. A recepção do texto alvo pelo iniciador, ou por qualquer outra pessoa à qual o texto alvo possa ser passado, depende desse propósito, que determina os requisitos que devem ser preenchidos pela tradução.

Exemplo 1.1.2/1

a) Um físico americano solicita a tradução de alguns livros técnicos em russo para se familiarizar com as últimas informações envolvendo pesquisas cientí- ficas na Rússia. b) Uma empresa alemã quer apresentar seus produtos ou fazer uma oferta para um vendedor brasileiro. c) Um editor britânico quer lançar um

best-seller no mercado por meio da tradução de um romance francês para o in-

glês. d) Um professor de idiomas quer avaliar através de uma tradução se seus alunos compreendem as diferentes funções do gerúndio e do particípio presen- tes no inglês.

Se a tradução pretende ser adequada para um determinado propósito, ela deve satisfazer determinados requisitos, os quais são os encargos de tradução.4 Os encargos consistem de uma definição

prospectiva (explícita ou implícita) da situação alvo, a qual chama- mos de skopos do texto alvo. Como os iniciadores não são peritos em tradução, muitas vezes são incapazes de formular exigências específicas. Simplesmente diriam, por exemplo: “Você pode, por

4 O termo alemão Übersetzungsauftrag (Nord, 1986a) literalmente significa “en- comenda de tradução”. Em português, preferimos falar de “instruções de tradução”, sempre que o termo destinar-se a destacar o aspecto pedagógico, e de “encargo de tradução”, quando o foco de atenção recair sobre aspectos profissionais (Nord, 1997a, p. 30).

favor, traduzir o texto para o russo?”. No entanto, não há dúvida de que eles têm em mente o propósito daquela tradução. Nesse caso é o tradutor, como especialista na cultura alvo, que converte as infor- mações fornecidas pelo iniciador referentes à situação prospectiva do TA em uma definição viável do skopos do TA.

O ponto principal sobre a abordagem funcional é o seguinte: não é o texto fonte como tal, ou seu efeito sobre o receptor do TF, ou a função que lhe foi atribuída pelo autor, que determinam o pro- cesso de tradução, tal como postulado pela teoria da equivalência, mas sim a função pretendida ou o skopos do texto alvo, tal como determinado pelas necessidades do iniciador. Este ponto de vista corresponde à Skopostheorie de Vermeer.5

Embora o iniciador seja aqui apresentado como a pessoa que efetivamente define o skopos do TA (mesmo que não seja capaz de formular um encargo concretamente), a responsabilidade pela tra- dução estará sempre com o tradutor. É o tradutor que, sozinho, tem a competência para decidir se a tradução que o iniciador pede pode realmente ser produzida a partir de um determinado texto fonte — e, em caso afirmativo, de que forma, ou seja, mediante quais procedimentos e técnicas ela seria mais adequadamente produzida. Concluindo, é o tradutor, e não o iniciador, o especialista em tradu- ção (ver Capítulo 2.2.3).

5 Reiss e Vermeer (1984) sustentam que é o tradutor quem determina o skopos da tradução. É, sem dúvida, verdade que certos tipos de situação de transferência são convencionalmente ligados a certos skopos do ta. Nesses casos, o tradutor pode, mui- tas vezes, inferir as instruções de tradução a partir da situação e, se necessário, buscar um consenso com o iniciador. Mas, em princípio, o skopos do ta ainda é uma decisão do iniciador e não um critério do tradutor. É o iniciador, depois de tudo, que julga se a tradução satisfaz as suas necessidades ou não. K. Reiss, H. J. Vermeer, Grundlagen einer

A função do texto alvo não é alcançada automaticamente a partir de uma análise do texto fonte, mas é pragmaticamente

definida pelo propósito da ação tradutória.

Como a função do texto é determinada pela situação em que ele serve como um instrumento de comunicação,6 o encargo de tradu-

ção deveria conter o maior número possível de informações sobre os fatores situacionais de recepção previstos do TA, tais como o(s) público(s), tempo e lugar de recepção, meios, etc.

Como foi apontado por Reiss e Vermeer,7 as informações so-

bre o público (contexto sociocultural, expectativas para o texto, influenciabilidade, etc.) são de especial importância. Quanto mais clara e definitiva for a descrição do público do TA, mais fácil será para os tradutores tomarem suas decisões no curso do processo de tradução. O tradutor, então, deveria insistir para que o iniciador lhe fornecesse o maior número de detalhes possível.

Em vista dessa estrita orientação voltada ao público, pode muito bem ser que os tradutores tenham informações mais detalhadas so- bre “seu” público do que o próprio autor, considerando que os leitores podem ser encontrados não apenas na cultura fonte, mas, no caso de uma tradução posterior, também nas respectivas culturas alvo.

Exemplo 1.1.2/2

Um romancista vencedor do prêmio Nobel pode escrever um novo roman- ce não só para os leitores de seu país, mas também tendo em mente leitores 6 Christiane Nord, “The Relationship between text function and meaning in translation”. 7 K. Reiss, H. J. Vermeer, op. cit., p. 101.

estrangeiros, se tiver a expectativa de que essa obra seja futuramente traduzida. O tradutor que venha a traduzir o romance para o alemão normalmente não terá que considerar qualquer leitor francês ou italiano.

1.1.3. O papel do tradutor

No diagrama que representa o processo da ação tradutória (Figura 1), o tradutor (TRD) ocupa a posição central. Sendo um receptor do texto fonte, bem como o produtor do texto alvo, o TRD faz parte tanto da situação do TF (SITF), quanto da situação do TA (SITA).

No entanto, os tradutores não são participantes “normais” no pro- cesso de comunicação, pois enquanto atuam em sua função como tradutores, eles não pertencem ao grupo dos destinatários para o qual o TF é direcionado pelo emissor em uma situação comuni- cativa normal. Isto também se aplica quando o TF for produzido apenas para uma tradução, ou seja, para o público alvo. Do ponto de vista do emissor, o tradutor pode ser comparado a um escritor- -fantasma, que produz um texto a pedido e para o uso de outrem.

Os tradutores representam um tipo muito especial de receptor, não apenas do ponto de vista do emissor, mas também porque rece- bem o texto em uma situação muito peculiar. Eles não leem o texto em virtude de seus próprios propósitos (ou seja, para se informar, ou para se divertir, ou para saber como utilizar uma nova máquina). Ao contrário de um professor que lê certo livro com o propósito de preparar a sua palestra, ou um crítico literário que lê um romance para escrever uma resenha sobre ele, os tradutores não têm, por assim dizer, “necessidades pessoais” para ler o texto. Eles leem o TF no lugar do iniciador, ou algum outro receptor que pertença a uma cultura alvo que pode ser bastante diferente da cultura fonte. Uma vez recebido o texto, o tradutor vai transmitir, por meio da tradução, certas informações extraídas do ou acerca do texto fonte.

A recepção do tradutor (isto é, a maneira como recebe o texto) acontece, portanto, tendo em vista as necessidades

comunicativas do iniciador ou do público do TA, como se a leitura do TF fora feita pelo olhar do Outro.

Na prática, os tradutores costumam receber o encargo (ou in- feri-lo a partir da situação) antes de começarem a ler o TF. Então, o processo de recepção, inevitavelmente, será influenciado por este saber, ainda que eles façam o seu melhor para receber o texto do modo mais imparcial possível. Além disso, como um crítico literá- rio ou um linguista, o tradutor profissional nunca vai ler um texto a ser traduzido de forma ingênua ou intuitiva, mas terá como objeti- vo uma análise crítica, global e de boa compreensão orientada para a tradução.

Tradutores profissionais leem cada novo TF à luz de sua experiên cia como leitores críticos e tradutores. Essa experiência constitui um quadro no qual se integram as conclusões de cada nova recepção de TF. Na formação de tradutores, esse olhar profis- sional deve ser cultivado.

Por último, mas não menos importante, a recepção de um texto é determinada pelas competências do receptor. O tradutor- -como-receptor (idealmente) é bicultural, o que significa que tem um domínio perfeito tanto da cultura fonte quanto da cultura alvo (incluindo as línguas), e possui uma competência de transferência que inclui habilidades de recepção e produção do texto, a utili- zação de ferramentas de tradução e capacidade de “sincronizar” a recepção do TF e a produção do TA.8 Seu domínio da cultura

fonte (CF) deve permitir a reconstrução das possíveis reações de um receptor da CF (caso o skopos do TA exija uma “imitação” das funções do TF pelo texto alvo), enquanto que seu domínio da cultura alvo (CA) deve permitir que se antecipe às possíveis reações de um receptor do TA, verificando-se assim a adequação funcional da tradução que produz.

A situação particular de os tradutores terem de simular uma situação comunicativa não determinada por suas necessidades pes- soais, mas pelas de outra pessoa, produz as condições especiais de produção do TA.

O tradutor não é o emissor da mensagem do TA, mas sim um produtor do texto na cultura alvo, que se apropria da intenção do emissor ou do iniciador para produzir um instrumento comunicativo para a

cultura alvo, ou um documento para a cultura alvo a partir de uma comunicação da cultura fonte.9