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3 A EVASÃO ESCOLAR E A PERMANÊNCIA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA Neste capítulo são apresentados aspectos gerais relacionados à evasão escolar e à

3.2 FATORES RELACIONADOS À EVASÃO ESCOLAR E À PERMANÊNCIA

Para Souza (1999, p.48), “a evasão representa a saída do aluno do curso em que se encontrava matriculado, antes de concluí-lo”. Esse é o conceito mais óbvio para o fenômeno da evasão, o aluno abandona o processo sem concluir todas as etapas previstas e, consequentemente, não pode atingir os objetivos que foram estabelecidos para o processo.

Já Dore (2014, p. 12) afirma que “o problema do abandono deve ser visto sob uma perspectiva humana de enfrentamento, especialmente no que diz respeito à interação entre docentes e alunos”. Aí já começando a tratar de suas causas, que é o aspecto que traz mais discussões aos estudos sobre evasão. Ela foca sua atenção na interação professor-aluno como um dos fatores predominantes para que o aluno permaneça na escola até o fim do processo. Como é ponto pacífico entre os estudiosos do tema, nenhuma causa pode ser considerada isoladamente quando se refere à evasão escolar, e diversos fatores precisam ser considerados, entre eles o proposto pela autora, fator que a análise dos dados levantados nessa pesquisa também considera.

Charlot (2000, p. 14), numa leitura mais ampla sobre o fracasso escolar, sendo a evasão um dos fatores atuantes quando se trata de fracasso escolar, nos afirma que,

a questão do fracasso escolar remete para muitos debates: sobre o aprendizado, obviamente, mas também sobre a eficácia dos docentes, sobre o serviço público, sobre a igualdade das “chances”, sobre os recursos que o país deve investir em seu sistema educativo, sobre a “crise”, sobre os modos de vida e o trabalho na sociedade de amanhã, sobre as formas de cidadania, etc. Todas as noções que encobrem, pois, práticas e experiências muito diversas se beneficiam ao mesmo tempo de uma espécie de evidência encontram-se na encruzilhada de múltiplas relações sociais.

Charlot (2000) caminha na mesma direção de outros estudiosos do tema que veem no fenômeno da evasão uma imbricação de fatores que não podem ser dissociados, quando se quer pensar estratégias para o enfrentamento desse problema tão grave para a educação. Fatores como o aprendizado, o desempenho dos docentes, o tipo de oferta do serviço público, igualdade de oportunidades, os recursos financeiros, as dificuldades pelos quais passa o país, as relações sociais e de trabalho e as formas de se exercer a cidadania estão como ele afirma na “encruzilhada de múltiplas relações sociais”.

Em geral, os estudos analisam a evasão escolar à luz de duas abordagens: aquela que busca respostas em fatores externos à escola e a segunda a partir de fatores internos.

No que se refere aos fatores externos, um estudo realizado por Brandão et al. (1983 apud QUEIROZ, 2002), em cinco países da América latina, apontou que o fator mais importante para compreender o rendimento escolar do aluno é a família, considerando ainda que quanto mais elevado o nível de escolaridade da mãe, maior é a retenção do estudante bem como o seu rendimento.

Portanto, percebe-se que a desigualdade social, presente na sociedade brasileira, revela as diferenças de classe e elas passam a ter forte influência na evasão escolar. Arroyo (2003, p.21), destaca o fator classe social relacionado ao fracasso escolar, ao afirmar que:

é essa escola das classes trabalhadoras que vem fracassando em todo lugar. Não são as diferenças de clima ou de região que marcam as grandes diferenças entre escola possível ou impossível, mas as diferenças de classe. As políticas oficiais tentam ocultar esse caráter de classe no fracasso escolar, apresentado problemas e as soluções com políticas regionais e locais.

Entende-se portanto, que alunos de nível socioeconômico inferior apresentam menores índices de rendimento escolar e geralmente, são mais propícios à evasão.

Outro aspecto significante para evasão apontado pela literatura é a necessidade dos estudantes de trabalhar para sustento próprio ou da família, em sua maioria, sentem-se cansados da rotina diária e, por isso, acabam desmotivados para a escola. Segundo Meksenas (1998, p.98

apud QUEIROZ, 2010), a realidade de alunos de camadas mais populares difere da realidade

dos alunos da classe dominante, visto que, estes desenvolvem atividades artísticas, esportivas, estudam em escolas de idiomas, dentre outras e dispõem de tempo suficiente para se dedicar ao

processo de formação. Outros aspectos ligados a fatores externos apontados pela literatura são a falta de interesse do aluno, falta de esforço, má-alimentação, descaso do governo, mobilidade, desestrutura familiar.

No que se refere a fatores internos à escola, também são profícuos os trabalhos que apresentam a importância de se considerar as questões ligadas à realidade interna da escola. Segundo Dore et al (2011 apud Dore 2014)

Nos estudos revisados, a evasão é associada, sobretudo, aos aspectos individuais e sócio econômicos dos alunos. Contudo, o problema da evasão não se reduz aos fatores econômicos, sociais e culturais dos indivíduos. O processo de permanência no sistema escolar também tem estreita relação com aspectos contextuais da escola, tais como recursos, organização, estrutura e práticas internas.

Autores como Boudieu, Cunha, Fukui apontam a escola como responsável pelo sucesso ou insucesso dos estudantes. Segundo QUEIROZ (2002), Fukui ressalta a responsabilidade da escola, afirmando que a evasão e a repetência não são fruto da individualidade do aluno, tampouco de seus familiares e, sim, refletem como a escola recebe e exerce ação sobre os membros destes segmentos da sociedade.

Tem-se que o professor, por diversas questões, dentre elas a preferência por alunos com comportamentos mais disciplinados, podem provocar a evasão escolar. Além disso, considera- se a infraestrutura da escola, o sistema gestor da escola, o currículo como uns dos principais fatores que podem provocar a evasão.

Percebe-se o quanto essa discussão é desafiadora, pois, enquanto alguns estudiosos defendem os fatores internos como determinantes para a evasão escolar, outros defendem o contrário, exatamente por entenderem que não é o indivíduo e sua família os responsáveis pelo sucesso ou fracasso escolar, livrando a organização social desta responsabilidade. Parece-nos que Dore et al condensam muito bem essa discussão desafiadora quando contemplam os variados aspectos que precisam ser focados quando se trata de pensar os fatores que exterminam o afastamento do aluno do processo educacional.

Assim, a evasão é um fenômeno complexo, multifacetado e multicausal, atrelado a fatores pessoais, sociais e institucionais, que podem resultar na saída provisória do aluno da escola ou na sua saída definitiva do sistema de ensino. Esse problema deve ser analisado por perspectivas diversas, tais como a perspectiva da escola, do sistema de ensino e do indivíduo. Alguns fatores individuais associados à evasão são: o comportamento do aluno; suas atitudes perante a vida escolar; a convivência social com outros estudantes, professores e comunidade escolar; o nível educacional dos pais; a renda familiar. Os fatores institucionais da escola, associados à evasão, incluem: os recursos da instituição; as práticas pedagógicas; o perfil do corpo discente; as características estruturais da escola. No âmbito do sistema de ensino, um importante fator e o mecanismo de retorno do estudante a escola. A sua reintrodução a escola pode ser um problema após um longo período de interrupção do seu processo de escolarização. (DORE et al, 2014, p.387 e 388).

Discutir a questão da evasão escolar vai além do apontamento de um ou outro fator responsável e entende-se que a investigação deve considerar inúmeras particularidades, que abranjam tanto fatores internos quanto fatores externos. Faz-se necessário, também, relacionar as pesquisas sobre evasão escolar com a modalidade de ensino investigada a exemplo, da educação e qualificação profissional, objeto deste estudo, que poderá apresentar novos apontamentos.

Por meio do exposto, evidencia-se a preocupação que existe em melhorar os métodos de controle de retenção e evasão a partir de um acompanhamento e monitoramento adequado voltado principalmente ao público menos favorecido, que é o foco deste trabalho.