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3 A EVASÃO ESCOLAR E A PERMANÊNCIA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA Neste capítulo são apresentados aspectos gerais relacionados à evasão escolar e à

3.1 PERMANÊNCIA COMO GARANTIA DOS DIREITOS

A evasão escolar, historicamente, tem sido um dos grandes gargalos do sistema educacional brasileiro, pois atinge todos os níveis de ensino e, atualmente, possui espaço relevante no cenário das políticas públicas, especialmente nas educacionais. O papel da escola, família e estado tem sido os pontos centrais das discussões sobre o tema.

Os esforços dos governos e da sociedade brasileira no sentido da universalização do acesso à educação, que antes dominavam a cena das políticas educacionais, atualmente, diante do relativo sucesso no atingimento desse objetivo, deram lugar àquelas que visam ao sucesso escolar. Não é só necessário trazer o aluno para a escola, mas mantê-lo na escola até o fim do processo e isso com qualidade, de modo que a ele sejam oferecidas todas as condições para um efetivo aprendizado e a consecução dos objetivos educacionais.

A Constituição da República Federativa do Brasil (CF) dispõe que a educação é um direito social (Art.6º) e em seu art. 205 descreve que “a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, e que será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Portanto, como direito alienável do cidadão brasileiro, a educação precisa cumprir seus objetivos para que esse direito seja respeitado e, sem que o cidadão permaneça na escola durante todo o processo educacional, esse direito lhe é negado.

E ainda, no artigo 206 da Carta Magna do Brasil é possível conhecer os princípios norteadores da educação:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei,

planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

Ao ler o que dispõe os artigos da CF a respeito da educação, presume-se que na prática os cidadãos estariam amparados a partir das garantias que este documento descreve. No entanto, a discrepância entre direitos assegurados em lei e aplicabilidade do texto legal é uma realidade inquestionável em nosso país. Entende-se que o não atendimento deste cenário desenhado pela CF contribui para os níveis de evasão escolar que vêm se agravando no contexto educacional, o que evidencia a dívida social do estado brasileiro para com seus cidadãos.

Seguindo adiante no arcabouço legal do Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu art.2º, reforça que é dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, com a finalidade do pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Este mesmo artigo vai colocar que é princípio norteador da educação nacional “a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” e a “garantia do padrão de qualidade”, princípios estes que estão intrinsecamente ligados ao fenômeno da evasão escolar. Neste sentido, percebe-se que a família e o Estado exercem posição importante no processo educacional e pode-se vislumbrar que estas duas células sociais podem ser determinantes para o processo de permanência ou evasão dos estudantes na escola.

A lei n.º 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprovou o atual Plano Nacional de Educação, também coloca essa preocupação com a qualidade do processo educativo e, consequentemente, com a permanência do aluno na escola pelo período necessário para que os objetivos educacionais sejam atingidos, quando coloca como umas das diretrizes do plano a “superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação” e a “melhoria da qualidade da educação”.

Ainda demonstrando essa preocupação, a meta 2 objetiva que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos concluam o Ensino Fundamental na idade recomendada até o último ano de vigência do plano, ou seja, até 2024, além de outros objetivos relacionados à qualidade da educação e à distorção idade-ano, fatores diretamente ligados aos fenômenos da evasão e da permanência escolar.

Destacamos também com relação ao PNE, que todos os estados e municípios brasileiros tiveram acompanhamento de uma rede de apoio do MEC para pensar metas e estratégias para a educação em seus âmbitos e as estratégias para dirimir o processo de evasão no sistema educacional pôde ser refletido a partir das estratégias relacionadas à meta 2, como estas abaixo que visam ao controle individualizado no ensino fundamental e acompanhamento e monitoramento de estudantes participantes de programas de renda e de assistência social.

2.3 criar mecanismos para o acompanhamento individualizado dos (as) alunos (as) do ensino fundamental; 2.4 Fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do acesso e da permanência na escola por parte dos beneficiários de programas de assistência social e transferência de renda, identificando motivos de ausência e baixa frequência e garantir, o regime de colaboração, a frequência e apoio à aprendizagem.

Diante da exposto nesse aspecto relacionado à permanência como garantia de direitos concedidos ao cidadão por instrumentos legais, pode-se concluir que não é por falta de proteção legal que a educação brasileira não consegue melhores índices de sucesso em relação à permanência do alunos na escola, mas por fatores diversos, alguns dos quais iremos abordar adiante.