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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Domínios intervenientes na adesão ao Tratamento da

5.1.1 Fatores relacionados ao usuário

Grande parte dos estudos analisados focalizou os fatores que interferem na adesão ao tratamento da HAS nos usuários. Reiners et al. (2008) ratificam esta afirmação ao realizar uma análise crítica da produção bibliográfica latino-americana dos últimos dez anos acerca da adesão/não-adesão ao tratamento de pessoas com problemas crônicos de saúde e foi verificado que tem sido conferido ao usuário a maior responsabilidade pela adesão ou não ao seu tratamento. Na construção desta tese, não foi conferido a nenhum dos domínios encontrados a maior

responsabilidade pela adesão ao tratamento, por entender que todos são igualmente responsáveis pela ocorrência deste complexo fenômeno.

Entre os fatores relacionados ao usuário, destacam-se: sexo, idade, raça, estado civil, ocupação, condição socioeconômica, nível de escolaridade, negação, medo do estigma, crenças, confusão sobre a prescrição medicamentosa, conhecimento adequado sobre a doença, uso de terapias alternativas, valor da PA, maior valor do IMC, apoio familiar, confiança em Deus, motivação, desejo de alcançar a longevidade, sentir-se responsável, ser propenso ao tratamento, qualidade de vida, condição física, autonomia, dependência funcional e cognitiva, não ser vítima de maltrato, não fazer uso de drogas e álcool, acompanhamento médico de rotina (MARÍN REYES; RODRÍGUEZ MORÁN, 2001; WANG et al. 2002; STEINER; GUERREIRO, M. M.; MARQUES-DE-FARIA, 2003; CHAPMAN et al.

2005; MENDOZA-PARRA et al. 2006; SICRAS MAINAR et al. 2006; TUESCA-MOLINA et al. 2006; HASHMI et al. 2007; QURESHI et al. 2007; ROSA MATOS; MARTÍN ALFONSO; BAYARRE VEA, 2007; FONGWA et al. 2008; FONGWA et al.

2008; GOHAR et al. 2008; KIM et al. 2008; KRESSIN et al. 2008; LACHAINE; PETRELLA; MERIKLE, 2008; NABI et al. 2008; KARAEREN et al. 2009; MENDOZA-PARRA; MERINO; BARRIGA, 2009; STEINER et al. 2009; REINERS; NOGUEIRA, 2009; VELANDIA-ARIAS; RIVERA-ÁLVAREZ, 2009; UZUN et al. 2009; ADAMS; CARTER, 2010; KRESSIN et al. 2010; LIMA et al. 2010).

Com relação ao sexo, Araújo e Garcia (2006), realizando análise conceitual da adesão ao tratamento anti-hipertensivo, encontraram que o sexo feminino está relacionado com maior adesão ao tratamento e atribuem este achado possivelmente porque as mulheres demonstram maior preocupação com a saúde. Resultado semelhante foi encontrado por Gohar et al. (2008) e Steiner, Guerreiro e Marques-de-Faria (2003). Entretanto, o sexo feminino também foi associado com menor adesão em estudo com hipertensos idosos realizado por Mendoza-Parra et al. (2006). Em estudo realizado por Kim et al. (2008), foi observado maior adesão das mulheres ao ser realizado a análise bivariada e maior adesão do sexo masculino na analise multivariada.

A idade também mostrou-se significativa em alguns estudos, nos quais foi observado que com o aumento da idade aumenta a adesão (STEINER;

GUERREIRO; MARQUES-DE-FARIA, 2003; ARAÚJO; GARCIA, 2006; GOHAR et al. 2008; LACHAINE; PETRELLA; MERIKLE, 2008; VELANDIA-ARIAS; RIVERA-ÁLVAREZ, 2009).

A raça tem sido frequentemente relatada como um preditor de adesão, independentemente de os membros de uma raça em particular viverem no seu país de origem ou em outro local. Em estudo realizado por Gohar et al. (2008), no Reino Unido, e por Steiner et al. (2009) e Kressin et al. (2010), nos Estados Unidos, a maior adesão esteve associada à raça branca.

Os casados apresentaram maior adesão ao tratamento (STEINER; GUERREIRO; MARQUES-DE-FARIA, 2003; ARAÚJO, GARCIA, 2006; KIM et al.,

2008), podendo ser justificado pelo incentivo do parceiro em seguir as recomendações de saúde.

A condição financeira é um fator importante no processo de adesão, estando relacionada diretamente à adesão. De acordo com Machado (2008), quanto menor o nível socioeconômico, menor as taxas de adesão ao tratamento anti-hipertensivo. Outros estudos também confirmaram esta relação (SICRAS MAINAR

et al. 2006; TUESCA-MOLINA et al., 2006; CONSTANTINE et al., 2008; KIM et al.,

2008; UZUN et al., 2009; ADAMS; CARTER, 2010).

A situação financeira influencia diretamente o modo de viver das pessoas em geral. No caso dos hipertensos, exerce influência não somente na aquisição dos medicamentos, mas também nos fatores relacionados ao estilo de vida, como atividade física, alimentação saudável e participação em atividades de lazer, dentre outras medidas não farmacológicas de controle da PA.

A maioria dos estudos que relacionam grau de instrução e adesão ao tratamento anti-hipertensivo afirma que quanto mais elevado o grau de instrução, maior será o nível de adesão (STEINER; GUERREIRO; MARQUES-DE-FARIA, 2003; ARAÚJO, GARCIA, 2006; QURESHI et al., 2007; KIM et al., 2008; UZUN et al., 2009). Tal relação pode estar associada ao fato de as pessoas com mais instrução apresentarem menos dificuldade em entender as recomendações fornecidas pelos profissionais de saúde e perceberem a gravidade da doença. Amarante et al. (2010) encontraram que a não compreensão das instruções de uso do medicamento foi um

motivo importante que interfere na adesão ao tratamento da HAS. Entretanto, Tuesca-Molina et al. (2006) encontraram uma melhor adesão ao tratamento por pessoas com baixo nível de escolaridade.

A adesão terapêutica se associa também à presença de apoio familiar (MARÍN REYES; RODRÍGUEZ MORÁN, 2001; QURESHI et al., 2007; ROSA MATOS; MARTIN ALFONSO; BAYARRE VEA, 2007; FONGWA et al., 2008). Assim, o apoio oferecido pela família é um recurso importante de enfrentamento do tratamento de uma doença crônica. Araújo et al. (1998) abordam esta situação ao afirmar que um dos aspectos mais importantes da assistência é ter o apoio da família, o que pode ser exemplificado no comportamento do familiar de lembrar o hipertenso do horário das medicações e de orientá-lo na dieta, ou na disposição de algum dos membros da família para acompanhar o hipertenso às consultas, pois, muitas vezes, em virtude de uma idade já avançada ou de outras limitações, o usuário não tem condições de se deslocar sozinho até o serviço de saúde.

As crenças que os hipertensos têm sobre a doença constituem fatores preditores da adesão ao tratamento da HAS (WANG et al., 2002; KRESSIN et al.,

2007; QURESHI et al., 2007; ROSA MATOS; MARTIN ALFONSO; BAYARRE VEA, 2007; NABI et al., 2008; ADAMS; CARTER, 2010). Assim, para que os indivíduos passem a aderir ao tratamento anti-hipertensivo e mudar seus comportamentos de saúde, necessitam antes de tudo valorizar os benefícios das mudanças de estilo de vida e acreditar que seja possível conviver harmonicamente com a doença e reduzir sua severidade.

Em relação ao comportamento preventivo, o Modelo de Crenças em Saúde, é demonstrado por quatro dimensões ou variáveis: a) susceptibilidade percebida: percepção subjetiva do risco de a pessoa contrair determinada condição ou doença; b) severidade percebida: grau de severidade da doença é avaliado tanto pelo grau de estimulação emocional criado em torno dela como pelas consequências biológicas, sociais, emocionais e financeiras que poderá acarretar; c) benefícios percebidos: à crença na efetividade da ação e na sua percepção, com resultados positivos; d) barreiras percebidas: os aspectos negativos da ação são avaliados em uma análise do tipo custo-benefício, considerando-se os esforços empreendidos, a caracterização invasiva dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos, as

vivências, os aborrecimentos e a dor, que servem como barreiras para a ação e estimulam motivos conflitantes de enfrentamento (DELA COLETA, 1995).

O baixo nível de conhecimento sobre a doença e o seu tratamento também foi apontado como fator significativo de adesão relacionado ao usuário (MENDOZA-PARRA et al., 2006; QURESHI et al., 2007; FONGWA et al.,2008; KARAEREN et al., 2009; UZUN et al., 2009; LIMA, et al., 2010).

Outros estudos que não fizeram parte da revisão integrativa também confirmam esta relação. Em Fortaleza (CE) constatou-se associação significante (p≤0,05) da adesão ao tratamento com o saber sobre alguns aspectos inerentes à HAS, em sete condutas: concepção e uso adequado do sal; assintomatologia e uso de gordura vegetal; abstenção do álcool e concepção, possibilidade de cura e assintomatologia; abstenção do tabaco com possibilidade de cura e assintomatologia; possibilidade de cura com ingestão adequada de café (100 ml/dia), preferência por carnes brancas e concepção e uso regular do medicamento (LIMA et al., 2010).

Por outro lado, têm-se estudos que comprovam que os hipertensos têm conhecimento da doença, porém não conseguem controlar a PA (STRELEC; PIERIN; MION JR, 2003; MANO; PIERIN, 2005). Tal constatação leva-nos a refletir sobre conhecimento, atitude e prática. Reiners e Nogueira (2009) afirmam que esta postura parece mostrar que, para o usuário, mesmo convencido da necessidade de obedecer às determinações do profissional para ter melhor condição de saúde, ainda é mais forte a necessidade de relativizar a prescrição, encontrando formas de seguir o tratamento sem que isso seja penoso. Jesus et al. (2008) salientam que a discrepância entre ter informação a respeito da doença e tratamento e conseguir controlar a pressão arterial aponta para a diferença essencial entre conhecimento e adesão. Enquanto o conhecimento é racional, adesão é um processo complexo que envolve fatores biossociais, emocionais e barreiras concretas, de ordem prática e logística.

Em relação ao uso de terapias alternativas, Marx et al. (2011) apontam que alguns pacientes com hipertensão buscam tratamentos alternativos, visto estarem insatisfeitos com o uso do tratamento farmacológico. Outras vezes, buscam

estas terapias para complementar o tratamento padrão estabelecido, configurando-se como outra opção de tratamento.