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3.2 Primeiro bloco: a descoberta do corpo sexuado

3.3.3 Feminicídio

O terceiro encontro deste bloco, correspondente ao sexto encontro geral e realizado em 4 aulas de 45 minutos, utilizou como elementos textuais o conto “Crime”. de Marcelino Freire (Anexo Q), e a canção Maria da Vila Matilde, de Elza Soares (Anexo R).

No primeiro momento, retomamos as discussões dos dois últimos encontros sobre violência doméstica e contra a mulher e iniciamos a aula esclarecendo algumas dúvidas detectadas com relação ao significado das palavras feminismo51 e feminicídio52. Foi comum, entre os estudantes, a confusão desses termos, o que leva à formação de opiniões equivocadas por não discernirem as diferenças conceituais entre essas palavras.

Após esse momento inicial, foi exibida a entrevista da empresária Elaine Caparróz53

(11min 22s) concedida ao programa da rede Record – Domingo Espetacular sobre a tentativa de feminicídio sofrida por ela. O episódio ganhou muita repercussão na mídia, especialmente pela vítima ter conhecido o agressor Vinícius Batista Serra nas redes sociais. A agressão que se configurou como uma tentativa de feminicídio aconteceu neste ano de 2019 na cidade do Rio de Janeiro, no primeiro encontro da empresária com o agressor após meses de conversas pelo aplicativo do WhatsApp.

Os estudantes assistiram atentamente ao vídeo e descreveram algumas sensações ao ouvir o depoimento da empresária. Algumas alunas disseram sentir “desespero” e “medo de passar pela mesma situação”. Os alunos do sexo masculino não emitiram, à princípio, nenhuma opinião sobre a sensação de assistir ao vídeo, apenas o aluno A comentou:”- Ela deixou o cara

51 Movimento que emergiu ainda em 1837, quando o francês Charles Fourier usou pela primeira vez o termo

féminisme, palavra adotada na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos ao longo das décadas seguintes para descrever um movimento que tinha como objetivo conquistar igualdade social, econômica e legal entre os sexos, e terminar com o sexismo e a opressão às mulheres pelos homens. (Extraído da coleção O livro do Feminismo, p. 14).

52 O termo foi cunhado em 1801, mas politizado pelas feministas na década de 1970 e refere-se ao assassinato de

meninas e mulheres cometido por homens motivados pela questão de gênero. (extraído da coleção O livro do

feminismo, p. 316).

entrar na casa dela só por causa de uma conversa de WhatsApp né, professora?”, indicando uma possível causa para o ato de violência. O aluno F corroborou a opinião do colega ao dizer que a vítima havia dado confiança demais ao agressor. Neste momento, a aluna U contra- argumentou dizendo não pensar da mesma forma, pois, algumas vezes, as agressões partem de pessoas que a vítima já conhece há muitos anos.

Quando perguntado o que teria motivado o crime contra a empresária, nenhum estudante respondeu a esta pergunta de modo assertivo, mencionando apenas que ela teria sido atraída pela aparência física, pelo fato de o agressor ser mais jovem que ela e apresentar um perfil no Instagram com fotos saudáveis e com familiares. A aluna J mencionou que havia lido em noticiários na época do fato, mostrando pessoas julgando a empresária por ser uma mulher madura e ter se sentido envaidecida pelo rapaz mais jovem, o que caracteriza um profundo preconceito e que não é observado em homens mais velhos que namoram mulheres mais novas.

A aluna T mencionou que, possivelmente, o motivo do crime poderia ter sido uma vingança do agressor, por causa das vezes em que ele convidou a empresária para sair e ela recusou, como mostrado na reportagem, citando o fato de o homem não saber lidar com rejeição, segundo a aluna. No entanto, a aluna J disse que o fato dele ter se encorajado a cometer a tentativa de homicídio residia no motivo dela ser mulher, pois, segundo a estudante, se fosse um homem, talvez ele não teria tido a coragem de cometer a violência.

Quando perguntado sobre a existência de alguma atitude feminina que encorajaria um homem a cometer tal violência, a aluna R disse que bastava ele sentir-se contrariado. A aluna L complementou dizendo que, às vezes, só pelo fato de a mulher alterar o tom de voz, isso é motivo para que certos homens revidassem de forma violenta. No entanto, todos concordaram não existir conduta feminina que justificasse o ato, muito embora, no início das discussões tenham tentado encontrar justificativas na atitude da empresária agredida em se relacionar com alguém desconhecido, argumento este visto nas manchetes dos jornais e sites de notícias na época do ocorrido.

Dialogando sobre possíveis fatores que encorajam homens a ter uma atitude violenta, a aluna I mencionou que a traição seria um dos motivos mais recorrentes para a violência doméstica, embora não configurasse uma justificativa plausível. Os estudantes mencionaram ainda que, presenciando uma situação como esta, tomariam a atitude de ligar para a polícia ou intervir na situação de alguma forma, inclusive, o aluno B mencionou já ter passado por situação

parecida com um familiar, envolvendo-se numa luta corporal com o agressor. As falas dos estudantes ressignificam a ideia ultrapassada de que em briga de marido e mulher não se mete a colher.

Este momento permitiu uma reflexão sobre a inclinação da maioria das pessoas, inclusive das próprias mulheres, em transferir a culpa da violência para a vítima. Este ponto permitiu duas elucidações, a primeira sobre a relação entre comportamento agressivo e construção de masculinidade, que, neste caso, não estariam ligados a predisposições genéticas ou necessidades biológicas de adaptação ou sobrevivência ao meio, como observado em outras espécies animais.

Segundo Lorenz (1966 apud RUSE, 1983, p.65), “só existe um ser que possui armas que não fazem parte de seu corpo, cujo modo de funcionamento, por conseguinte, é desconhecido dos instintos de sua espécie e para cuja utilização ele não possui a necessária inibição”. Esta constatação nos leva à conclusão de que a condição de violência por parte de homens que agridem mulheres, muito provavelmente, é algo construído culturalmente. Em segundo lugar, que o comportamento feminino não deve ser apenas de passividade no que se refere à iniciativa em um relacionamento ou de que a mulher deve reprimir suas vontades para se preservar de uma possível violência ou julgamento por outras mulheres, pois, se partirmos deste pensamento, estamos aceitando e acreditando na ideia de que os homens podem agir com uma conduta agressiva e/ou superior.

Na busca por justificativas para os constantes “descontroles emocionais” que têm levado ao aumento dos crimes, especialmente os domésticos, os estudantes encontraram na falta de impunidade uma justificativa plausível. A aluna T falou que o fato de haver uma audiência de custódia em que o agressor é liberado logo em seguida, encorajava a repetição da delito. Nesse momento, houve um momento de conversa da professora sobre a necessidade de denúncia e formalização de queixas, na tentativa de coibir práticas de violência contra a mulher e, sobre a ressignificação de ideias baseadas em sentimentos de honra e macheza tão incrustados na cultura brasileira e que ainda são entendidos como algo que sobrepõe até mesmo à razão e ao bom senso.

Num segundo momento, foi lido o conto “Crime”, de Marcelino Freire, que versa sobre um crime de homicídio da namorada hipotética de um adolescente, que planeja todos os detalhes de um sequestro seguido de práticas violentas contra essa mulher que ele ainda espera

conhecer e que, em seus delírios, o teria traído. O texto representa o protagonista como uma figura revoltada contra a situação socioeconômica na qual está inserido e descreve um ser humano embrutecido com relação ao mundo e às mulheres. O conto desperta sentimentos e opiniões sobre a vida, o amor e sobre a violência, nos motivando a refletir sobre a influência do contexto sociocultural no comportamento humano e discorrer um pouco sobre o conceito de violência estrutural54 que, por sua vez, têm contribuído diretamente para as representações de gênero assimétricas em nossa sociedade.

Além disso, a forma como o texto é escrito, sem parágrafos, proporciona uma leitura sem pausa que causa, no leitor, uma sensação de tensão e aflição, característicos da situação vivida e narrada pelo personagem, em 1ª pessoa. Essa sensação foi percebida pelos estudantes participantes logo após a leitura do conto, que desta vez foi realizada uma única vez pela professora, por tratar-se de um texto mais longo. Assim, algumas palavras foram emitidas despretensiosamente pelos estudantes automaticamente após o término da leitura: “muito doido”, “nossa”, “tenso”, “Graças a Deus” (em alusão ao foto de ter terminado a leitura), e logo em seguida, disseram que a sensação foi de desespero, agonia e aflição. Percebemos que o conto despertou emoções e sensações como revolta, medo, afloramento de sentimentos e opiniões conflitantes sobre a vida e sobre o outro, assim como propõe a literatura.

Conforme Colomer (2007), os textos compartilhados devem oferecer alguma dificuldade para o leitor:

[...] se não há um significado que requeira um esforço de construção, não se pode negociar o sentido; se a estrutura é sempre convencional, não se aprende a estar atento para antecipar ou notar as elipses; ou se não há ambiguidades interessantes, não há porque buscar indícios, reler passagens e discutir as possíveis interpretações. (COLOMER, 2007, p. 149).

As impressões que tivemos com as discussões deste texto foram exatamente as que encerram a ideia da autora, pois os estudantes vivenciaram o conflito do personagem de forma dialética, uma vez que, no decorrer das discussões, eles dialogaram com as contradições do texto, inferindo significados e apresentando pontos de vistas diferentes, que, no final da leitura compartilhada, produziram sentidos para o conto, mediante esse processo interativo.

54Segundo Minayo (1994) violência estrutural é aquela que oferece um marco à violência do comportamento e se

aplica tanto às estruturas organizadas e institucionalizadas da família como aos sistemas econômicos, culturais e políticos que conduzem à opressão de grupos, classes, nações e indivíduos, aos quais são negadas conquistas da sociedade, tornando-os mais vulneráveis que outros ao sofrimento e à morte.

Dando início às interpretações dos estudantes, estes falaram que o objetivo do personagem em armar todo o plano de sequestro e suposto homicídio seria o de chamar atenção e/ou ficar famoso, pelo fato de ter mencionado a presença de alguns canais televisivos e cobertura da mídia durante seu plano de homicídio da namorada. É perceptível a influência da política nas concepções e respostas dos alunos, uma vez que o aluno A mencionou, em tom de brincadeira, que “esse cara deveria armar algum crime lá no Congresso Nacional, o que denotou mais uma vez a insatisfação com relação rumos políticos para com suas questões e realidades sociais”.

Durante as interpretações sobre o conto, discutimos o significado da traição e de como homens e mulheres, no geral, lidam com essa questão. Ao atribuir a motivação do personagem a uma possível traição de sua namorada, alguns estudantes mencionaram que os homens, em sua maioria, se sentem muito desconfortáveis com a traição. O aluno A sugeriu existir homens que “gostam” de ser traídos e exemplificou pessoas do seu convívio que aceitam tal situação. É interessante perceber a contradição entre razão e construção cultural acerca da traição, pois ao passo que os estudantes sugerem que a traição não deve ser considerada um fator importante ou decisivo para uma revolta, demonstram se incomodar com as pessoas que “aceitam” e/ou perdoam uma traição. A aluna J mencionou ter tido um parente que se suicidou por causa de uma traição e, entre os demais estudantes, surgiram vários testemunhos de que conheciam homens que haviam tentado suicídio por causa de separações e/ou traições.

O estudante B sugeriu que a vergonha e a decepção poderiam ser a causa de uma tentativa de suicídio, enquanto para as mulheres seria a ausência de um amor correspondido. Neste momento, as discussões se encaminharam para motivações sobre a necessidade de amor próprio e de desconstrução dessa masculinidade tóxica que obriga os homens a assumirem atitudes de agressividade. A necessidade de ser bem sucedido num relacionamento ou de ter a posse do amor do outro a todo custo, como sinônimo de sucesso e satisfação pessoal, reforça a implícita ideia de honra e “macheza” presente na construção de nossas identidades, tanto no imaginário dos homens quanto no das mulheres, bem como da ideia de dependência emocional e afetiva do outro.

As discussões sugeridas dialogam com os textos trabalhados no encontro anterior ampliando a percepção sobre a gravidade da violência doméstica, bem como ressaltando a necessidade de mudanças desde o âmbito individual até o coletivo e cobrando ações públicas de segurança para o combate ao feminicídio. Relembramos o vídeo da blogueira Jout Jout

Prazer que retratou muito bem as configurações de relacionamentos abusivos, tanto com relação ao outro quanto para si mesmos e enfatizamos a necessidade de transpor a ideia de que os relacionamentos devem ser eternos. Neste momento a aluna Z mencionou que uma das coisas que pesam num relacionamento é o tempo desprendido e “investido” no relacionamento, por isso a dificuldade de término para algumas pessoas, pois terminar um relacionamento longo gera um sentimento de insucesso no que se refere à vida pessoal.

Quanto ao trecho do conto “toda mulher é, sim, uma cadela, menos a senhora, mãe, que é de outro tempo”, os estudantes tiveram visões convergentes de que a mudança do lugar social das mulheres ao longo das gerações vem redefinindo as configurações de relacionamentos interpessoais. A aluna J mencionou que a época, ou seja, o tempo histórico vivido não seria determinante para um comportamento de traição, pois ela sempre existiu no mundo. O aluno A complementou a ideia dizendo que a mudança no comportamento feminino não reside na progressão do tempo, mas na maior independência, especialmente financeira, que a mulher adquiriu ao longo das gerações devido às mudanças de seus papéis na sociedade, e isto tem encorajado sua busca por outras experiências afetivas e desprendimento maior com relação à instituição do casamento.

Com relação à construção de masculinidade do personagem explícito do trecho, “hoje a minha namorada vai me dar valor, vai ver o capeta que eu sou, um homem grande”, os estudantes interpretaram como uma necessidade de mostrar macheza, e o aluno A comparou a atitude do personagem a mesma filosofia de vida de um “homem-bomba” (aquele que se suicida com explosivos em seu corpo, destruindo e matando todas as pessoas que estiverem ao seu redor), que crê, segundo o aluno, que aquilo o levará para uma situação melhor. No contexto do conto, este lugar melhor teria relação com uma satisfação pessoal em sentir-se poderoso, em poder controlar uma situação ou alguém ou vingar-se de uma atitude que fere sua masculinidade.

O conto, que possui uma linguagem e um enredo bastante atual e próximo ao contexto dos estudantes, direciona reflexões para a influência de alguns programas televisivos, como os jornalísticos que tratam de assuntos policiais, como o Brasil Urgente do apresentador Datena, mencionado no texto. Sobre isto, 70% dos estudantes mencionaram ser telespectadores deste tipo de programa, porém julgaram sensacionalistas e depreciativos sobre os problemas humanos. No entanto, quando questionados por que assistiam a tal tipo de mídia, eles mostraram-se confusos e alguns disseram apenas “gostar de assistir”. Para Colomer (2007),

[..] aprender a ler literatura dá oportunidade de se sensibilizar os indícios da linguagem, de converter-se em alguém que não permanece à mercê do discurso alheio, alguém capaz de julgar e analisar, por exemplo, o que se diz na televisão ou perceber as estratégias de persuasão ocultas em um anúncio. (COLOMER, 2007, p. 70)

O posicionamento dos estudantes nos levou a uma reflexão sobre a banalização da vida e dos problemas sociais. É comum em suas comunidades a ocorrência de homicídios ou latrocínios em que as vítimas são encontradas mortas nas calçadas ou becos, assim como é comum que pessoas se dirijam ao local para visualizar, filmar ou fotografar os corpos para, em seguida, divulgar em redes sociais. Da mesma forma, torna-se naturalizado para os telespectadores presenciarem tantas cenas de violência e crimes, de modo que não se consegue parar para processar as implicações deste tipo de mídia sensacionalista nas nossas construções de empatia e valorização da vida.

Voltando às discussões sobre o conto, alguns estudantes tentaram supor possíveis conflitos familiares para justificar o sentimento de revolta que o protagonista apresenta com relação ao pai. A aluna N disse que talvez a mãe apanhasse do pai na sua frente, ou que ele havia sido abandonado pelo pai. Essa resposta indica a consciência de que relações familiares conflituosas influenciam na construção emocional dos filhos/as, podendo ser o desencadeador de traumas e revoltas. Em meio a esta discussão sobre uma possível causa para o sentimento de revolta do personagem do conto, o aluno A demonstrou estar incomodado com o texto mencionando achá-lo um pouco preconceituoso porque coloca como protagonista de uma cena de violência um homem negro, de classe média baixa e da ‘favela’. Foi um momento oportuno para aclarar que a construção de uma masculinidade tóxica independe do contexto social, uma vez que no início desta aula foi assistido uma reportagem cujo agressor era um homem branco, de classe média e de família estruturada, mas que o contexto de vulnerabilidade social potencializa o desencadeamento da violência.

O texto nos apresentou a possibilidade de refletir sobre o fenômeno da violência estrutural, como mencionado anteriormente. Sobre isso os estudantes foram provocados a refletir sobre a influência do contexto de vida do personagem em sua construção de violência, a partir do trecho

[...] passarei na cara de cada um a vida de rato, rá, rá, rá, que a gente vai vivendo, todo dia morrendo, contando a grana, a senhora tendo de se humilhar, lavando cueca na casa de bacana, eu negro tendo de ouvir que emprego está

difícil, sei lá, também lembrarei de citar o meu pai, doido, azedo, mãe, aquele cachorro escroto também será chamado para tirar da minha cabeça essa loucura, se entrega, filho, deixa de criancice, de molecagem, vem para a rua me dar um abraço, como é que eu vou dar um abraço, me diz, que merda de abraço, era o primeiro que eu matava, mãe, juro, esse infeliz, o tanto que eu acreditei nele. (FREIRE, 2015)

Na opinião de 50% dos estudantes, o contexto social não teria influência sobre atitudes de violência, uma vez que muitas pessoas que se encontram na mesma situação de vulnerabilidade, desenhada para o personagem no conto, não apresentam esse comportamento agressivo em razão disso. A aluna P comentou achar que a violência ou agressividade seria “algo que já nascemos com ela”, justificando com exemplos de pessoas que são criadas num ambiente violento e necessariamente não são violentas. Porém, outros entendem que nascer num contexto de violência pode não ser um fator decisivo, mas influenciável nas construções identitárias das pessoas.

Finalizando as discussões, houve uma explanação para elucidar questões sobre a violência estrutural enquanto fenômeno de grande impacto nas nossas construções identitárias e que o contexto vivido nos coloca em situações de vulnerabilidade e/ou opressão. A genética explica algumas predisposições a comportamentos, mas a forma como lidamos com as situações depende em grande parte da forma como o meio nos influencia. Para o sociobiólogo Wilson (1975 apud RUSE, 1083), a agressão entre os seres humanos não seria visto como um traço sombrio mostrando nosso caráter essencialmente sanguinário, e sim como algo amplamente difundido na espécie e de grande significância, no que respeita à adaptação, para a sobrevivência e reprodução do indivíduo, particularmente quando esse indivíduo tem que competir por recursos limitados, como alimento e espaço.

O fato de o texto retratar uma realidade que é próxima do contexto vivido pelos estudantes pode ter despertado um sentimento de indignação pela constante associação de características físicas, de vestimenta e de condição social à criminalidade, o que acontece frequentemente em seus cotidianos. Na nossa prática de sala de aula foram vários os depoimentos de estudantes que mencionam não ser bem atendidos em estabelecimentos comerciais, já terem solicitado transporte por aplicativo e ter a viagem cancelada quando mencionam o bairro onde moram, ver pessoas se afastarem em festas, ônibus ou shows por temerem ser assaltados, e em todas as situações o marcador de raça, a aparência ou vestimentas que os estudantes costumam usar foram as causas.

No entanto, foi aclarado pela professora/pesquisadora que a condição social, raça ou etnia não são, de modo algum, fatores determinantes ou pré-condições para atitudes de violência