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O perfil do corpo docente que atua no Ensino Médio do turno da noite

2.4 Das representações de gênero na escola: os lugares, perfis e narrativas dos

2.4.1 O perfil do corpo docente que atua no Ensino Médio do turno da noite

O corpo docente do turno da noite da E.E.E.F.M Tenente Lucena é constituído por 19 educadores, 100% com formação acadêmica em cursos de licenciatura e 42% com alguma pós- graduação, como mostra o gráfico 3. Apesar de a maioria dos professores/as entrevistados/as mencionarem, em algum momento da entrevista, a necessidade de formação continuada para lidar com temáticas transversais como a educação sexual, apenas uma professora mencionou ter participado de um curso de capacitação sobre educação sexual.

Gráfico 3 – Formação acadêmica do corpo docente da escola do turno da noite

Dos profissionais entrevistados, 50% mencionou já ter trabalhado com a temática de Educação Sexual em sua prática docente. Dos conteúdos trabalhados, observamos algumas limitações de abordagem, uma vez que a maioria dos docentes entrevistados mencionou trabalhar com temáticas de ordem mais biológica, como questões do corpo, aparelho sexual e gravidez na adolescência. No entanto, alguns citaram ter abordado questões como pedofilia, homossexualidade e violência contra a mulher (doméstica e sexual) e liberdade sexual da mulher. Essas respostas podem ser melhor observadas no gráfico 4.

58% 23% 10% 9% NENUMA PÓS- GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO MESTRADO DOUTORADO

Gráfico 4 – Conteúdos trabalhados pelos docentes que já realizaram trabalhos de orientação sexual na escola.

Esses dados reiteram o trabalho desenvolvido por Soares (2014) com professores de ciências de escolas municipais de João Pessoa, onde constatou-se que os discursos apresentados pelos docentes restringem a discussão à apresentação dos aparelhos reprodutivos, reproduzindo nas escolas um discurso, uma concepção de educação sexual que prioriza questões relacionadas ao corpo biológico, constituído, primariamente, por uma linguagem médica marcada pela autoridade da produção do conhecimento científico, considerado, por sua vez, imutável.

A faixa etária dos docentes está compreendida entre 26 e 57 anos, conforme gráfico 5. Não foi observado uma influência considerável advinda do marcador geracional no que se refere ao reconhecimento sobre a importância e/ou entendimentos conceituais sobre as questões da educação sexual na escola, uma vez que 100% dos docentes sinalizaram como um trabalho necessário e positivo. Da mesma forma, o entendimento sobre a sexualidade e o gênero variou, não de acordo com a idade, mas com as experiências pessoais de cada educador e seus entrecruzamentos com o discurso religioso, como será explicitado a seguir. No entanto, observamos que entre os educadores acima de 45 anos, algumas palavras como “homossexualidade”, “gays” e “lésbicas” foram evitadas e substituídas, durante a entrevista, por expressões como “essas questões aí”, “a diversidade” entre outros. Isso nos demostra ainda a existência de um tabu em lidar com as questões sobre orientação sexual e gênero, na escola, ou de um provável preconceito por parte dos docentes.

57,20% 28,60% 14,10% 28,60% 14% 14% 14%

APARELHO REPRODUTOR E GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

VIOLÊNCIA CONTRA AMULHER DIVERSIDADE

HOMOSSEXUALIDADE

LIBERDADE SEXUAL DA MULHER PEDOFILIA

Gráfico 5 – Faixa etária dos docentes

Uma outro aspecto analisado foi o estado civil dos/as docentes, que nos revela um pouco sobre a orientação sexual dos sujeitos envolvidos. Temos que a grande maioria dos docentes (70%) apresenta uma orientação sexual normativa, por estarem casadas/os com pessoas do sexo oposto, conforme configuração do gráfico 6.

Dos docentes separados e/ou divorciados, 100% é do sexo feminino. Nesse caso, podemos observar uma configuração social sexista, bastante incidente na nossa cultura no que se refere às condições do divórcio e/ou separação. Ou seja, todas as professoras possuem a guarda dos/das filhos/as e a maior responsabilidade sobre a educação e sustento financeiro. A importância de observarmos este detalhe na representação de gênero dos docentes nos transfere para a ideia naturalizada de que cabe à mulher a responsabilidade para com a criação dos/das filhos/as. O discurso de que a mulher, por natureza, é a mais capacitada para lidar com as crianças, por ser a que gera em seu ventre, a que amamenta e que, solidificado por um discurso romantizado, possui um vínculo único e insubstituível de amor para com a sua prole, faz com que a responsabilidade dos homens seja diminuída e colocada em segundo plano.

Para Lins et al. (2016, p.42) “as mulheres são tidas como as responsáveis pelo lar, enquanto aos homens cabe, em geral, “auxiliar”, “ajudar” nas tarefas. Nota-se como esse pressuposto deixa a eles um grau de comprometimento menor do que aquele esperado delas”.

58%

23%

10%

9%

ABAIXO DE 30 ANOS ENTRE 30 E 40 ANOS ENTRE 40 E 50 ANOS ACIMA DE 50 ANOS

Gráfico 6 – Estado civil dos docentes

O quadro profissional dos docentes da escola Tenente Lucena reflete a crescente demanda de profissionais que, ao terminarem seus cursos de graduação se submetem a concursos públicos para ocupação de cargos efetivos na educação básica. Sobre o tempo de prática docente dos/as professores/as, observamos uma maior presença de profissionais na escola com tempo compreendido entre 5 e 15 anos de sala de aula. Os profissionais com mais tempo de serviço estão sendo, aos poucos, substituídos pelos/pelas colegas novatos e com menor idade. Dentre os motivos que explicam a atual configuração, podemos destacar a intensa procura pela aposentadoria por parte dos profissionais com mais idade e com mais tempo de serviço, que se deve, em parte, às novas configurações políticas no tocante à reforma da previdência, que prevê um maior tempo de contribuição e de idade para o servidor. Os profissionais com 25 anos de tempo de serviço em sala de aula e 50 anos de sala de aula, que ainda não requereram suas aposentadorias, alegam motivos de perdas salariais, uma vez que o salário do professor do estado da Paraíba é composto por um valor base e uma bolsa avaliação desempenho docente, esta última variável e que não é incorporada ao salário em caso de aposentadoria ou licença médica.

Apesar da maioria do corpo docente trabalhar por cerca de 20 horas/aulas semanais, alguns docentes apresentaram uma carga excessiva de trabalho, chegando a mais de 40 horas/aulas semanais, o que justifica a dificuldade, cansaço ou a falta de tempo para realizarem cursos de capacitação e/ou formação continuada ou cursos de pós-graduação. O tempo de prática docente dos professores que compõem o turno da noite e suas cargas horárias de trabalho semanais estão expressos nos gráficos 7 e 8, respectivamente.

15% 15% CASADO/A DICORCIADO/A SOLTEIRO/A 70%

Gráfico 7 – Tempo de prática docente

Gráfico 8 – Carga horária de aulas semanais dos docentes

No que se refere à orientação religiosa, 100% dos educadores declararam crenças de matriz cristã, porém, com divergentes correntes doutrinárias, conforme gráfico 9, onde 15% dos docentes não especificaram nenhuma doutrina e se declararam apenas como cristãos. A orientação religiosa possui, entre os docentes, uma velada influência sobre as concepções e receios de como a educação sexual pode ou deve ser trabalhada no contexto de sala de aula.

23% 23% 23% 23% 8% MENOS DE 5 ANOS DE 5 A 10 ANOS DE 10 A 15 ANOS DE 15 A 20 ANOS MAIS DE 30 ANOS 50% 7% 7% 22% 7% 7% DE 20 A 24 HORAS/AULAS SEMANAIS 28 HORAS/AULAS SEMANAIS 36 HORAS/AULAS SEMANAIS 40 HORAS/AULAS SEMANAIS 56 HORAS/AULAS SEMANAIS 70 HORAS/AULAS SEMANAIS

Gráfico 9 – Orientação religiosa dos docentes.

Quando perguntado na entrevista semiestruturada: “Sua formação religiosa interfere, de alguma forma, na abordagem ou para a não abordagem do tema?”, um total de 100% dos decentes inferiram dizer que sua formação ou orientação religiosa não interfere na abordagem da temática sobre sexualidade. No entanto, as falas dos docentes expressas a seguir demonstram ressalvas, pois se utilizam de elementos adversativos em suas afirmações, ao entrecruzarem suas convicções religiosas com a possibilidade de realização de um trabalho de orientação sexual. Isso pode ser indicativo de que a religião pode ser um elemento de restrição à abordagem dessa temática, uma vez que, apesar de julgarem que o direcionamento religioso não interfere, assim o dizem por não se considerarem muito praticantes ou conservadores, o que nos deixa a dúvida de que, caso o fossem, houvesse alguma interdição na aplicabilidade do tema sobre sexualidade. As ressalvas e/ou possíveis interdições estão destacadas em itálico nos trechos a seguir. Os docentes assim se expressaram:

“Não sou uma católica muito conservadora, eu procuro respeitar a diversidade (...) sei que tem muitos alunos que precisam desse suporte” (Virgínia, 54 anos, 37 de magistério).

“Num sei, acho que não. Mas eu não sou muito praticante, eu acho que não, num interferiu não”. (Nísia, 44 anos, 14 de magistério).

“Apesar de ter uma formação religiosa católica, onde a instituição fala muito em pecado, e o pecado tá muito relacionado a nossa conduta e o catolicismo eu acho que é uma religião bem preconceituosa com relação à orientação sexual que não seja heteronormativa. Mas, graças a Deus, eu me sinto uma pessoa de mente aberta e mais esclarecida com relação a assuntos que correspondem a gênero e a orientação sexual” (Judith, 42 anos, 12 de magistério). 54% 16% 15% 15% CATÓLICA ESPÍRITA PROTESTANTE CRISTÃ

“Não, não, acredito que não, no meu caso específico não, embora eu tenha a formação religiosa católica, mas no meu caso não acredito que não seja um empecilho” (Wiliam, 26 anos, 3 de magistério).

“No passado, talvez sim. Hoje, de forma alguma, isso seria impedimento” (Dandara, 34 anos, 7 anos de magistério).

“Sou protestante, mas meu trabalho é uma coisa, minha religião é outra” (Bertha, 36 anos, 15 de magistério).

Por outro lado, dois docentes sinalizaram que a religião seria, na verdade, uma aliada para se trabalhar a educação sexual. Vejamos:

“Não, não causa impedimento não. Até porque dentro, no caso, do cristianismo, há esse espaço pra se falar. Então não existe esse tabu, lógico que existe as posições, mas isso aí, a gente não vai jogar isso na sala de aula. A gente vai falar disso, numa parte, digamos assim mais científica da coisa, né?” (Charles, 46 anos, 10 de magistério).

“Eu acho que seria até bom, porque muita coisa da minha religião eles poderiam usar e eu acho que muita coisa... Se eu fosse falar, quer dizer, falar é uma coisa, né? Pelo menos se um entendesse realmente o que eu penso enquanto religião e pudesse falar eu acho que algumas coisas seriam diferentes. Não impede, seria até bom, em todos os aspectos, no aspecto na questão da sexualidade de você se preservar sexualmente em alguns casos, né? Porque eu acho que a sexualidade pra eles tá muito ligada à questão do amor próprio porque eles não têm esse amor. É uma carência. Porque eles acham que esse amor é suprido pelo ato sexual. (...) Não é que o sexo é proibido pra religião, é que alguns aspectos que normalmente as pessoas fazem que não é certo, e não é certo porque a gente vê as consequências negativas que isso traz.” (Simone, 38 anos, 15 de magistério).

Na fala do professor Charles, observamos a justificativa de um trabalho de educação sexual a partir de uma possível “permissão” dentro do cristianismo, como destacado no trecho abaixo. No entanto, o professor sinaliza a necessidade de uma abordagem científica, o que poderia estar excluindo do debate vivências, curiosidades ou expressões que estivessem fora do que o docente considera como ciência ou julga conveniente dentro desse “espaço religioso permitido”, já que se refere a uma religião específica, e não a todas as formas de crenças.

Já na resposta da professora Simone, ela indica possíveis contribuições da religião na formação de valores humanos dos estudantes, no entanto, os trechos destacados em sua fala também indicam um crescente risco de restrição e uma moral reguladora da sexualidade quando ela fala de ‘preservar-se sexualmente’, e ainda pode nos levar à propositura de que esteja

falando apenas das meninas. Outro ponto é que parece que essa moral sobre a sexualidade, a conduta de como vivê-la é dada pela religião, o que torna problemático, uma vez que partiriam do entendimento e/ou das convicções religiosas particulares da docente.

O que devemos considerar no contexto escolar é que a multiplicidade de configurações de estudantes dentro da escola, no que se refere a suas formações, convicções ou direcionamentos religiosos, não nos permite abordagens baseadas em doutrinas específicas ou interpretações particulares, uma vez que pode gerar condutas discriminatórias ou uma postura pouco reflexiva, na medida em que a educação sexual é confundida com convicções, experiências e condutas pessoais e/ou religiosas. De acordo com os PCN (1997, p.302), “a escola deve informar, problematizar e debater os diferentes tabus, preconceitos, crenças e atitudes existentes na sociedade, buscando não a isenção total, o que é impossível, mas um maior distanciamento das opiniões e aspectos pessoais dos professores para empreender essa tarefa”.

Para a abordagem de quaisquer questões dentro do espaço escolar, nossas posturas individuais não devem ser priorizadas, pelo entendimento de que todas as formas de crença ou ideologias de vida devem ser valorizadas e consideradas dentro do espaço escolar, salvo exceção aquelas que coloquem o outro ou a si mesmo em situação de perigo ou inferiorização, estas devem ser repensadas, ressignificadas e combatidas. De acordo com Louro (2003, p. 90), “(...) à escola foi atribuída, em diferentes momentos, a reprodução do cristão, do cidadão responsável, dos homens e da mulheres virtuosos, das elites condutoras, do povo sadio e operoso”. Nesse contexto, o pertencimento a um credo religioso, as construções de identidade com base em modelos normativos e os valores morais e familiares construídos, individualmente, pelos docentes se entrecruzam e tolhem o trabalho de orientação sexual, uma vez que, segundo Louro (2000), embora a escola não tenha o poder de explicar ou determinar as identidades sociais de maneira definitiva, suas proposições, imposições ou proibições, fazem sentido ao possuírem “efeitos de verdade” e se constituem parte significativa das histórias pessoais.

Em contraponto, uma resposta interessante foi observada na fala da professora Leila, que apresenta como empecilho para a realização de um trabalho de orientação sexual não a sua formação religiosa, mas a dos próprios estudantes, indicando o quão frágil e delicado é esse terreno da sexualidade quando associado a crenças religiosas. A fala da professora foi:

“Eu tento não passar nenhuma ideologia religiosa pra eles (...) Agora eu noto que os meninos têm muita dificuldade, os que são muito religiosos, que têm são protestantes, eles são bem resistentes” (Leila, 31 anos, 7 de magistério) .

Uma outra questão que retrata essa barreira por parte dos estudantes e/ou famílias foi observada na fala de um dos docentes, quando perguntado se se sentiria seguro para a abordagem desta temática. Ele disse:

“Devido à rejeição a barreiras que a própria família tem em relação a esse tema, né? E, às vezes você afronta conceitos que são usados em famílias mais tradicionais que acaba prejudicando o desenvolver dessa temática. E dependendo da idade dos alunos e de onde essa aluno é, de uma classe mais abastarda ou de uma classe mais carente e do próprio aluno. Na escola particular é mais por parte da família, na pública é mais por parte deles. (Augusto 37 anos, 14 de magistério).

Quando perguntado “Você acha que o/a professor/a deve ter alguma postura para se trabalhar essa temática? Qual(is)?”, 43% dos docentes reconheceram que a postura deve ser neutra, ou seja, não impor suas convicções e posicionamentos, a exemplo das falas a seguir:

“Acho que tem que ter, contanto que ela não assuma partidos, no sentido de dizer eu acho que é melhor isso ou aquilo, não! que seja uma pessoa que explique a situação e seja imparcial, senão vai atrapalhar! (Dandara, 34 anos, 7 de magistério).

Dos demais docentes, 21% mencionou que a educação sexual deve ser trabalhada de forma científica, o que corrobora as orientações curriculares como visto no trecho dos PCN (1997, p. 300) “a escola, ao propiciar informações atualizadas do ponto de vista científico e ao explicitar e debater os diversos valores associados à sexualidade e aos comportamentos sexuais existentes na sociedade, possibilita ao aluno desenvolver atitudes coerentes com os valores que ele próprio eleger como seus”. Essa ideia exposta pelos docentes pode ser observada na fala a seguir.

“Sim, você tem que trabalhar o tema de forma científica. E não, trabalhando ele de forma, a gente costuma dizer, o achismo ou o seu ponto de vista, né? A gente tem que trabalhar em cima da ciência” (Augusto, 37 anos, 14 de magistério).

Ressaltamos a fala da professora Leila que indica a compreensão de uma postura livre de concepções religiosas. Ela diz:

“Eu acho que o professor não pode, de jeito nenhum...o que mais prejudica é passar as ideologias religiosas. Esse é o grande problema, é você não passar

suas ideologias religiosas. Trabalhar de uma maneira imparcial”. (Leila, 31 anos, 7 anos de magistério).

Foi observado na fala da professora Nísia uma posição conservadora acerca da prática sexual, pois, ao explicar a postura que o educador deve adotar num trabalho de orientação sexual, a docente mencionou:

“(...) eles têm dificuldade de como usar o preservativo, de que eles começam a sexualidade muito cedo, e não sabem utilizar essas informações, eu acredito que sim. Por exemplo aqui no turno da noite, porque a gente vê muitos alunos aqui, a gente não sabe quem é casado, a gente vê muitas alunas aqui que dizem assim, professora eu sou casada, mas casada no papel mesmo de fato? Vive junto, mas quantos filhos tem, a gente sabe que tem muitos filhos, mas a questão assim de se preservar, de usar um preservativo, de ter esse controle da natalidade, até pra se preservar mais, né? (Nísia, 44 anos, 14 de magistério).

É comum, dentro de qualquer espaço social e de discussão, que nossas convicções e ideologias de vida estejam implícitas em nossas práticas, pois somos fruto de um entrelaçamento de vários discursos que operam na construção de nossas identidades ao longo das nossas vidas. Louro (2003, p. 100) complementa essa ideia ao dizer que

observando a imprensa, a televisão e o cinema, a propaganda e a moda, as igrejas, os regulamentos jurídicos e educacionais, percebemos que todos lançam mão, dentro de suas formas específicas de discurso, de diferentes códigos, símbolos e recursos, no processo de constituição dos sujeitos. Desta forma, é preciso estarmos conscientes sobre a influência das nossas concepções ideológicas na vida dos estudantes, pois, ao considerá-los igualmente como sujeitos de direitos, devemos permitir que suas livres escolhas determinem o rumo de suas construções identitárias, bem como que suas diversas formas de ser e de viver sejam consideradas legítimas. Assim, regulamentando este pensamento e indicando uma possibilidade de lidar com a temática da sexualidade na escola, os PCN (1997. p. 299) apresentam em seu documento que

[...] a Orientação Sexual aqui proposta não pretende ser diretiva e está circunscrita ao âmbito pedagógico e coletivo, não tendo, portanto, caráter de aconselhamento individual nem psicoterapêutico. Isso quer dizer que as diferentes temáticas da sexualidade devem ser trabalhadas dentro do limite da ação pedagógica, sem invadir a intimidade e o comportamento de cada aluno ou professor.

De um modo geral, o corpo docente apresenta um perfil propício ao trabalho com educação sexual, pois mostra-se interessado e ciente de uma postura imparcial e mais formal. Além disso, 100% dos docentes julgaram de considerável importância o trabalho de educação

sexual para com os estudantes. Conquanto, a análise do perfil do corpo docente indica, dentre outras coisas, a necessidade de maior formação acerca das questões da sexualidade, observado nas respostas sobre as conceptualizações em torno das palavras sexualidade e gênero, como será discutido a seguir.

Alguns docentes não possuem a percepção de que há a necessidade de busca de conhecimento para lidar com o tema, associando-o mais uma vez à ideia de que estão dentro de uma dimensão informal cuja experiência de vida é suficiente para contemplá-lo. Dos cinco professores do sexo masculino, 4 responderam que se sentem capacitados para trabalhar com a temática mesmo sem ter participado de uma capacitação complementar. Identificamos este pensamento a partir das falas a seguir:

“Sim, me sentiria motivado e capacitado”. (Tadeu, 28 anos, 6 anos de magistério).

“Eu não vejo assim questão de capacidade, eu vejo assim mais a questão mais de a oportunidade. Tendo a oportunidade sim, sem nenhum problema (...)” (Charles, 46 anos, 10 de magistério).

“Eu acho que todo professor devia se sentir capacitado e estudar pra abordar dentro da sua disciplina a questão. Eu nunca fiz, mas eu acho que a capacidade, na idade da gente e formação, todo mundo tem.” (Tomás, anos, 29 de sala de aula).

“A vontade sim, seguro não. Devido à rejeição, a barreiras que a própria família tem em relação a esse tema, ne? (...)” (Augusto, 37 anos, 14 de sala de aula).

No entanto, a orientação dos PCN (1997, p. 303) é que

[...] os professores necessitam entrar em contato com suas próprias