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6 COMPREENSÕES ELABORADAS PELO CAMPO DE PESQUISA DA EDUCAÇÃO

6.3 O FENÔMENO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS APRESENTADO POR MEIO DE UMA

Durante a análise dos excertos apresentados em cada categoria, em alguns momentos discutimos sobre algumas ideias presentes nestes trechos e que poderiam remeter a algumas

complexidades associadas ao fenômeno. Entretanto, entendemos ser relevante apresentar de maneira mais explícita os excertos em que esta ideia foi divulgada.

Dentre os excertos selecionados, na análise dessas compreensões, foi possível identificar algumas citações nas dissertações analisadas que indicam a apresentação do fenômeno mudanças climáticas por meio de uma visão complexa. Embora sejam poucos os excertos que apresentam esta característica do fenômeno, identificamos que as principais complexidades apresentadas relacionam-se com o entendimento do ecossistema terrestre como um sistema complexo, sujeito à interferência de diversas variáveis tanto naturais quanto antrópicas.

Na dissertação D7, por exemplo, o autor considera a complexidade associada ao meio ambiente e as mudanças climáticas, o que o leva a apresentar a Teoria da Complexidade como uma abordagem que nos daria grandes contribuições para o estudo do meio ambiente e compreensão do fenômeno em questão:

[...] devido ao quadro das mudanças climáticas globais, o estudo do meio ambiente tem sido considerado particularmente importante pela comunidade científica. Os ecossistemas são sistemas abertos que estabelecem trocas de energia, matéria e quantidade de movimento com o entorno. A compreensão de como se dão os principais processos que regem a dinâmica dos ecossistemas ainda está engatinhando e a Teoria da Complexidade tem sido considerada uma abordagem promissora para a melhoria da compreensão desses sistemas, uma vez que esses têm as características fundamentais dos objetos de estudo da teoria (HOUGHTON, 2002) (D7, p. 4, grifos nossos).

Este excerto nos apresenta grandes evidencias de que o pesquisador reconhece o sistema climático como um todo integrado de modo que apresenta que a compreensão das inter-relações estabelecidas entre os constituintes desse sistema podem ser corroborados com o auxílio da Teoria da Complexidade. Isso ocorre já que esta teoria apresenta o entendimento de que o real deve ser compreendido em sua totalidade, em que as consequências interferem diretamente nas causas e, devido a esta interação mútua, esses sistemas estão associados à multiplicidade de comportamentos, cujos futuros não podem ser previstos.

Esta teoria auxilia a compreensão das mudanças climáticas globais. São diversos os fatores que interferem nos sistemas climáticos, causando modificações no sistema terrestre como um todo. Uma pequena mudança nas condições iniciais de um dos componentes deste sistema pode gerar grandes efeitos em longo prazo, fator este responsável por caracterizar o fenômeno como intrínseco a um sistema complexo de diversas variáveis.

A autora da dissertação D1 apresenta algumas considerações referentes às complexidades envolvidas nos modelos climáticos, o que, de acordo com a sua opinião, dificulta a apresentação de causas e previsões sobre as consequências do fenômeno. Nas palavras da autora:

Uma séria questão na verificação de qualquer hipótese relativa à causa da mudança na temperatura média, além da dificuldade de fazer previsões, é sobre a tomada de medidas no tempo e no espaço. Há pouco mais de um século que temos dados de temperatura, e mesmo esses dados não são todos os locais que medimos atualmente. O conhecimento sobre essa parcela do clima terrestre está em andamento, mas não completamente definida. Por mais que os modelos climáticos estejam avançados, ainda não atingem toda a complexidade da questão em estudo (D1, p.49).

Verificamos que alguns trechos da dissertação D11 também mencionam, mesmo que indiretamente, alguns aspectos da complexidade. O autor deste trabalho afirma que “[...] as causas e efeitos das mudanças climáticas são sistêmicas, resultando grandes alterações no ecossistema terrestre” (D11, p. 52). Ainda na mesma dissertação identificamos um excerto em que o autor reconhece a interação sistêmica entre os diversos componentes do ecossistema terrestre:

A questão das mudanças climáticas denota aqui o fenômeno associado aos desequilíbrios sistêmicos ocasionados pelos impactos destrutivos gerados pela ação antrópica sobre o funcionamento dos sistemas ecossociais numa escala planetária (D11, p. 48).

Tal concepção denota o ser humano como uma das variáveis que interferem no clima terrestre. Entretanto, devemos levar em consideração que tanto fenômenos naturais quanto fenômenos antrópicos modificam constantemente o futuro climático do nosso planeta, do mesmo modo que as mudanças climáticas interferem no curso destes fenômenos naturais e na vida do ser humano, ou seja, aqui existe uma interação mútua, sendo válida a constatação de que a causa age sobre o efeito e o efeito age sobre a causa.

Deste modo, ao tratarmos sobre possíveis causas das mudanças climáticas não podemos levar em consideração apenas uma única variável constituinte do sistema em que se enquadram, já que os fatos relativos ao fenômeno devem ser abordados em uma visão sistêmica, buscando compreender “[...] todos os ângulos de um mesmo fato, compreendendo as mudanças climáticas tanto na sua totalidade quanto na sua particularidade” (D10, p. 79).

Este aspecto complexo das causas das mudanças climáticas é destacado na dissertação D11. De acordo com o autor deste trabalho, essas causas “[...] não podem ser problematizadas apenas pelo constante aumento dos gases de efeito estufa, mas compreendido dentro de uma complexa trama de processos históricos, sociais, biológicos, das múltiplas inter-relações de todos os fenômenos com a realidade global e local” (D11, p. 23).

Considerando-se que dentro dos sistemas existem hierarquias de sistemas menores, podemos afirmar que o sistema ao qual o ser humano faz parte é constituído por outras variáveis e que interferem constantemente na sua tomada de decisão em relação à sua relação com a natureza.

Não podemos deixar de lado que as intenções políticas, econômicas e sociais interferem, por exemplo, na tomada de decisão relacionada com a intenção de aderir ou não as medidas de mitigação. Deste modo, aprovar e colocar em prática a uma medida que tenha a intenção de “frear” os efeitos das mudanças climáticas não interferirá apenas no clima, mas também nos modelos de vida da sociedade como um todo.

Com estes poucos excertos encontrados que fazem alguma menção à natureza complexa do fenômeno entendemos que os textos analisados até o momento não apresentam muitas considerações ligadas ao que, de fato, se entende por complexidade em nossos referenciais teóricos. Não há uma clareza sobre o assunto nestas dissertações analisadas ou, até mesmo, nada sobre isto é mostrado de forma explícita.