3 ITINERÁRIO – TURISMO E GUIAS TURÍSTICOS
3.2 O FENÔMENO DO TURISMO NO BRASIL
[...] o turismo, que é indiscutivelmente invenção britânica correlata às duas revoluções industriais, no Brasil se dá como europeização, que seria a aceitação de um padrão cultural anteriormente inexistente por meio da imitação com a adoção e adaptação, no local, dos hábitos aristocráticos e burgueses. Adoção e aceitação que não implicam necessariamente que o país também seja industrial, mas acarretadas pelo processo de uma integração, embora periférica, ao centro, especificamente a partir da instalação da Corte no Rio de Janeiro.
Haroldo Leitão Camargo (2007)
Sobre as condições que possibilitaram o desenvolvimento do turismo no
Brasil, dentro da mesma lógica relatada acima por Camargo, em seus
desdobramentos, Solha afirma que:
No começo do século XX, o Brasil passava por uma transformação difícil e dolorosa. A elite brasileira, afoita por implantar as novas descobertas e tecnologias na área da saúde, das comunicações e dos transportes, impôs as mudanças de maneira abrupta, sob o lema de desenvolvimento a qualquer custo, desencadeando uma série de revoltas e levantes em várias partes do país. [...] Este era o resultado do desejo e das ações para colocar o Brasil no patamar do que se considerava um país desenvolvido. [...] Embora possam ser feitas várias críticas aos meios utilizados para alcançar tais mudanças, observa-se que produziram amplos efeitos na sociedade brasileira [...]. Neste contexto é que se verificou tanto o primeiro impulso para o desenvolvimento do turismo tal como entendido na atualidade, como das primeiras estruturas organizadas para receber estes “novos viajantes. (SOLHA, 2002, p. 129-130).
Nesse sentido, a compreensão do turismo no Brasil passa, assim como em
qualquer sociedade, pelas conjunturas econômicas, sociais e culturais, além dos
avanços tecnológicos, mas, passa também, por essas adequações e adaptações a
uma ideia e um ideal de desenvolvimento no país
114.
Em um esforço para traçar um percurso histórico do turismo no Brasil, Solha
(2002)aponta como dificuldades a inexistência de uma memória histórica do tema,
114
Lembrando que, se a partir da década de 1870, com a Revolução Científico-tecnológica, inovações
inimagináveis adentraram o cotidiano das pessoas, modificando completamente a vida desse ponto em diante, é necessário relativizar este período conhecido como modernidade industrial brasileira: em um contexto de transformações intensas, as novidades nem sempre derrubam, da noite para o dia, as práticas sociais; há permanências; ocorrem sobreposições de percepções de mundo e de valores. Os tempos se misturam.
além da falta de sistematização das informações disponíveis, da falta de estudos do
fenômeno em âmbito nacional, da dispersão de tais estudos, bem como, da
escassez das informações empresariais que, além de tudo, se encontram dispersas
nos órgãos, entidades e associações. No entanto, na última década se multiplicaram
os estudos que se debruçam sobre a história do turismo no Brasil, sob diversos
aspectos, ainda que em muitos casos esta preocupação histórica seja periférica em
relação ao eixo central da discussão – do caráter econômico da atividade aos
aspectos jurídicos da mesma, passando pela segmentação do setor. Desta forma,
para os fins desta pesquisa, a bibliografia recente ajuda a desenhar os contornos
essenciais do desenvolvimento do turismo no Brasil que, por sua vez, auxiliam a
compreensão do objeto específico aqui focalizado – a afirmação e legitimação das
comidas regionais no Brasil como atrativo e produto turístico.
De acordo com Barreto (2003, p. 33), o papel das políticas públicas voltadas
para o turismo deveria ser o de propiciar o desenvolvimento harmônico da atividade.
Na perspectiva desta autora, fica bem claro que seria através da ação do Estado no
planejamento e controle do turismo é que se criariam as condições para o
desenvolvimento da iniciativa privada. No entanto, é importante destacar que,
quando se fala em turismo, na prática, não há necessariamente um compasso entre
o desenvolvimento da atividade e o planejamento da mesma pelas instâncias
governamentais. Em outras palavras, nem sempre as políticas públicas preparam o
terreno para o desenvolvimento do turismo, como se poderia supor.
Nesse sentido, Gimenes destaca, em sua reflexão sobre a trajetória do
barreado como prato típico paranaense, que a oferta da iguaria nasceu e se
desenvolveu a partir da iniciativa privada, sem a interferência de um plano ou
programa da gestão pública. Esta autora revela que:
[...] em um primeiro momento, diante da idéia de estudar o Barreado e a sua consolidação como prato típico do Estado do Paraná, imaginou-se que o processo havia sido promovido pela iniciativa e mediante o apoio da gestão pública, do estado e dos municípios. Contudo, a partir da análise das fontes [...], descobriu-se que sua exploração comercial originou-se da iniciativa de empresários e, apenas quando muitos dos respectivos estabelecimentos comerciais já possuíam uma clientela formada - e, por conseqüência, um fluxo de visitação estabelecido –, é que as prefeituras e o próprio Governo do Estado despertam para o potencial de atratividade do Barreado, e incorporam-no em materiais promocionais e em outras formas de divulgação.(GIMENES, 2008, p. 199).
A colocação de Gimenes, embora faça referência a uma situação específica,
é reveladora de uma situação comum no que diz respeito à consolidação de
atrativos turísticos no Brasil, e a demora na organização da gestão pública do setor
dialoga de perto com uma atuação precária da iniciativa privada explicando porque,
até meados da década de 1960, se a atividade turística no Paraná era quase que
rudimentar, isto refletia uma situação compartilhada por diversos estados brasileiros.
(GIMENES, 2008, p. 203).
Sublinha-se, portanto, que é neste contexto que tem lugar a primeira edição
do Guia Quatro Rodas Brasil, a fonte primordial sobre a qual se apoia a reflexão aqui
empreendida. E analisar os caminhos percorridos pelo guia, ainda que o foco
específico desta análise seja apenas a culinária é, de certa maneira, trilhar pela
trajetória do turismo e das políticas voltadas para a atividade no Brasil
115.
Solha (2002 e 2005), investigando o desenvolvimento do turismo no Brasil
(2002) e sua relação com a institucionalização do setor no âmbito regional (2005)
realizou periodizações interessantes para a reflexão aqui empreendida. Se de um
lado este tipo de organização periódica pode acarretar a simplificação de
movimentos mais complexos do setor, com nuances que extrapolam esta
compartimentação, por outro lado, trata-se de uma ferramenta operacional
extremamente útil para a compreensão da dinâmica mais ampla do turismo no Brasil
e os fatores a ela relacionados. Para os objetivos aqui propostos, estas
periodizações propostas por Solha são extremamente úteis, justamente por
realizarem um panorama da atividade numa linha temporal, bem como o processo
de sua institucionalização no que diz respeito às políticas estaduais. Em ambos os
casos, ajudam a compreender o processo de ascensão e consolidação das comidas
regionais, esboçado pelo Guia Quatro Rodas Brasil e demais fontes consultadas
durante a pesquisa.
Em 2002 foi publicado o texto Evolução do turismo no Brasil, de autoria de
Solha, no interior da obra Turismo no percurso do tempo, organizado por Rejowisk.
Neste primeiro esforço de organização das informações sobre o turismo no Brasil ao
115
É necessário ressaltar que não se trata, nesse momento, de realizar a análise das políticas públicas no Brasil e sua história, esta discussão aparecerá apenas quando for pertinente ao objeto específico aqui focalizado.
longo do tempo, a autora sugeriu 5 períodos que classificariam a evolução do
turismo em terras brasileiras.
Em um primeiro momento, denominado Primórdios, que compreenderia o
intervalo entre o século XVII e XIX, a autora relaciona o tropeirismo e as viagens da
elite cafeicultora à Europa, além das expedições científicas ao Brasil no século XIX.
É nesta época que se localiza a construção das primeiras estradas de ferro no país,
que permitiu, o desenvolvimento das estações termais em Minas Gerais e Petrópolis,
bem como a identificação do Rio de Janeiro como local de Veraneio (SOLHA, 2002,
p. 127).
O período subsequente (entre 1900 e 1949) foi denominado pela autora de
Primeiras manifestações, indicando a associação entre ações que pretendiam o que
chamou de desenvolvimento a qualquer custo com o primeiro impulso para o
desenvolvimento do turismo e das primeiras estruturas receptoras. A autora ainda
estabelece uma relação entre o aumento da procura dos atrativos locais com as
dificuldades de se viajar para o exterior decorrentes da Primeira Guerra Mundial.
Além disso, indica a inserção do Brasil na moda do cassinismo, principalmente entre
os anos de 1936 e 1946 (Ibid p. 130-131)
116. Neste período ainda é bastante
presente a dificuldade em relação aos meios de transporte e, se houve o
desenvolvimento do transporte aéreo no Brasil, que em 1948 chegou a liderar a
aviação comercial na América Latina, o transporte ferroviário continuava a ser o
maior responsável pelo transporte de cargas e passageiros.
Uma vez que o Guia Quatro Rodas Brasil se trata de um guia turístico
essencialmente rodoviário, é interessante registrar que a autora identifica neste
momento o pontapé inicial da indústria automobilística no país:
A grande novidade do período foi o início da utilização do automóvel como veículo de passeio, que ainda era acessível a pouquíssimas pessoas, mas que acabou tornando-se uma “paixão nacional”. Com a inexistência de infraestrutura viária, o uso desses veículos criou uma situação de caos [...]. O país tornou-se então um mercado promissor para os fabricantes de
116
Em 1946 o Presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu a realização de jogos de azar no país através do Decreto-Lei 9215.
automóveis e, em 1925, a General Motors implantou a primeira montadora de automóveis no Brasil. (Ibid, p. 133)117.
O período identificado por Solha como Desafios compreende os anos de 1950
a 1970 e, desta maneira, o fim deste momento coincide com o início do recorte
temporal proposto por esta pesquisa. Nesta época, as mudanças estruturais na
produção, além do desenvolvimento da indústria e da criação de um mercado para
bens de consumo, resultou na consolidação de uma classe média no Brasil. O
incentivo à ocupação populacional do interior do país também é uma marca deste
momento, além das transformações provocadas pela maior inserção dos veículos de
comunicação no cotidiano das pessoas, inclusive falando de turismo. Nestas
condições, desenvolvimento da atividade turística – empreendimentos imobiliários no
litoral e entorno das grandes cidades, aumento das frotas das companhias aéreas,
início da organização das agências de viagens brasileiras, além da organização no
âmbito do governo federal, com a criação da Comissão Brasileira de Turismo, que foi
substituída na sequência pela Divisão de Turismo e Certames do Ministério da
Indústria e do Comércio, que lançou as bases do turismo nacional, inclusive com o
lançamento dos primeiros guias de turismo nacional (Ibid, p. 135-138).
O desenvolvimento dessas inúmeras atividades, o crescimento do setor turístico no mundo e as perspectivas de uma atividade econômica promissora estimularam a criação de um órgão público que pudesse atender às necessidades urgentes do setor. Assim, em 1966, criaram-se a Empresa Brasileira de Turismo – Embratur – e o Conselho Nacional de Turismo – CNTur –, e começou a ser discutida a necessidade de se traçarem as diretrizes de uma Política Nacional de Turismo. (Ibid, p. 138).
É fundamental complementar, ainda, que, como já se sublinhou
anteriormente, deste mesmo ano data o Decreto-Lei nº 55, de 18 de novembro de
1966, que inaugurou uma perspectiva de planejamento e gestão centralizada para o
setor. Neste sentido, ainda que o recorte temporal da pesquisa se inicie na década
de 1970, optou-se por consultar o Guia Quatro Rodas Brasil, cuja primeira edição é
de 1966, já que é possível dizer que foi neste momento que a atividade ganhou
destaque nacional. Também é importante observar, em articulação com estas
informações, que neste mesmo momento há uma maior preocupação governamental
com a ampliação da malha rodoviária em todo o país (Ibid, p. 137).
117
De acordo com Caio Luiz de Carvalho, em 1950 o Brasil contava apenas com apenas 370 mil quilômetros de estradas de rodagem. Cf. CARVALHO, Caio Luiz. Breves histórias do turismo no Brasil. In: TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi (editor). Análises regionais e globais do turismo brasileiro. São Paulo: Roca, 2005.
O período posterior, de 1970 a 1989 é denominado por esta autora como Do
sonho à decepção e compreende, num plano interno, ao chamado milagre
econômico brasileiro, e a superação da população rural pela população urbana, além
do maior acesso aos bens de consumo como carros, eletrodomésticos e vestuário.
Foi também nesta época que o turismo assumiu proporções mundiais (Ibid, p. 140).
Neste cenário, o turismo aparecia como a atividade econômica do futuro, responsável pelo desenvolvimento do país. Todavia, a viagem ainda não era um hábito popular [...]. O ritmo do desenvolvimento do setor ainda era lento e muitos dos empreendimentos e das experiências na área era amadores, caracterizados pela improvisação e pelo autodidatismo. A malha rodoviária, que sofreu uma grande expansão na década anterior, agora crescia mais lentamente, embora a preocupação governamental ainda fosse a integração nacional. (Ibid, p. 141).
Há, nesse período, a expansão da rede hoteleira de luxo e também da
hospedagem alternativa, como o campismo, que teve impulso com o
desenvolvimento da indústria de automóveis e das estradas. Com a expansão do
setor, em 1978 a Embratur elaborou o Regulamento Geral para a Classificação dos
Meios de Hospedagem Brasileiros.
Na década de 1980 a autora sublinha a precariedade das malhas rodoviária e
ferroviária no Brasil, cuja expansão não foi seguida pela manutenção necessária.
“Todavia, ainda se verificava a predominância do turismo rodoviário, acessível a uma
maior parcela da população, em razão do preço mais baixo e pela simplicidade dos
serviços oferecidos.” (Ibid, p. 146).
Para sintetizar este momento, Solha ressalta que mesmo com todas as
dificuldades enfrentadas, foi determinante a percepção pela iniciativa privada e
poder público, de que o investimento no turismo ultrapassa em muito a expansão da
rede hoteleira.
A década de 1990, por sua vez, é reconhecida pela autora como o período de
Retomada. No Brasil, foi um momento histórico importante, pela realização das
primeiras eleições diretas para a presidência da república, após o país ter saído do
período ditatorial e passado por um processo de transição política. Quanto ao
turismo, a inexistência de uma política nacional para o setor, juntamente com a falta
de informações relativas à atividade, bem como as dificuldades de criação de novos
produtos adequados à nova perspectiva de sustentabilidade, prejudicavam seu
desenvolvimento.
No entanto, entre as prioridades do novo governo federal estava o turismo e,
nesta conjuntura, a Embratur foi transformada em autarquia especial. Dada a
urgência de questões como desenvolvimento e planejamento e política do turismo, a
instituição incorporou as funções de formulação, coordenação e execução da
Política Nacional de Turismo. A Política Nacional de Turismo, em 1992, teve suas
diretrizes estabelecidas e contou com a criação do Plano Nacional de Turismo –
Plantur – para operacionalizá-la (SOLHA, 2002).
Neste momento faz-se necessário chamar a atenção para as ações
governamentais no setor, porque entende-se que a partir daí o direcionamento da
atividade em consonância com as diretrizes da OMT se encaminhou de maneira
mais efetiva e, ainda que as alternâncias governamentais tenham trazido alterações
que podem ser interpretadas como avanços ou retrocessos, é possível perceber um
mesmo princípio norteador das políticas em turismo, qual seja, a descentralização
administrativa e o entendimento do turismo como estratégia de desenvolvimento.
Em 1994, a Embratur criou o PNMT – Programa Nacional de Municipalização do Turismo, numa iniciativa de realizar o planejamento participativo a partir de metodologia da OMT. As linhas mestras do programa consistiam na descentralização do desenvolvimento turístico, na identificação dos municípios brasileiros com potencial turístico e no oferecimento de orientação técnica para que as comunidades locais realizassem seu próprio planejamento e desenvolvimento do turismo sustentável. [...] Somente em 1996 foi lançado um documento instituindo a Política Nacional de Turismo, para o triênio 1996-1999, caracterizado por inúmeros programas, destacando-se os de infra-estrutura básica e turística. (Ibdi., p. 149).
É neste cenário que será possível perceber, de maneira mais contundente no
período imediatamente posterior, as culinárias regionais no Guia Quatro Rodas
Brasil se espalhando pelo território brasileiro. Assim, a partir de 1999, praticamente
todas as capitais brasileiras contam com a indicação de uma cozinha ou de um prato
regional. Neste ano, no Guia, considerando as capitais, apenas os municípios de Rio
Branco (AC), Macapá (AP), Brasília (DF), Curitiba (PR), Porto Velho (RD), Boa Vista
(RR), São Paulo (SP) e Aracaju (SE) não tiveram referência alguma à culinária
regional. As demais capitais brasileiras tinham tal referência, mesmo quando o guia
indicava ler mais sobre comida típica em outro município do Estado.
Uma vez que São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro
118, desde o início do
período analisado nunca tiveram presença de restaurantes de comida regional, mas
apenas de comida brasileira, não houve surpresas. A novidade ficou por conta da
eloquência da ausência da comida regional nas demais capitais que, mesmo de
maneira tímida vinham trazendo vez ou outra alguma indicação de comida regional
ou prato típico. E este silêncio é especialmente revelador quando o olhar recai sobre
a capital do Paraná, Curitiba, que se trata de um dos casos estudados aqui. Estes
aspectos serão aprofundados nos capítulos subsequentes e, neste momento, houve
apenas a intenção de indicar que o início de uma maior preocupação com o
planejamento do turismo e o desenvolvimento de políticas descentralizadoras pode
ter influenciado uma maior atenção do turismo à culinária como produto turístico.
Refletindo sobre a articulação entre os pratos típicos regionais, a atividade
turística e o planejamento da mesma, voltado para o desenvolvimento regional, tal
como se configura no Brasil a partir deste período, é possível recorrer a Gimenes
para ilustrar tal relação. Segundo esta autora:
[...] pode-se citar a operacionalização de pratos típicos sob a ótica do turismo. Segundo esta lógica, iguarias podem ser convertidas em elementos diferenciadores e divulgadores de localidades turísticas, dando base para a criação de estratégias para o desenvolvimento regional. Assim, alguns pratos passam a ser associados em maior ou menor escala com uma determinada localidade ou grupo, terminando por representá-lo com maior ou menor força, tanto para “os de dentro quanto para os de fora”. (GIMENES, 2008, p. 56).
Voltando à periodização proposta por Solha, neste período de Retomada
ainda se identifica um outro elemento que dialoga de perto com a ascensão das
comidas regionais no país. A autora lembra que:
Em meados da década de 1990, observava-se um tendência para o resgate do patrimônio e da cultura, estimulado pela possibilidade de atender a uma nova demanda turística e também pelo tombamento de várias cidades brasileiras como Patrimônio da Humanidade pela Unesco: Diamantina e
118
A cidade do Rio de Janeiro, somente a partir de 1999 teve a Sopa Leão Veloso indicada como prato típico, mas sem indicação de onde era servida. Ainda assim, não há referência a restaurantes de comida regional neste município, mas apenas de comida brasileira.
Ouro Preto em Minas Gerais, Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul, e Olinda, em Pernambuco etc. (SOLHA, 2002, p. 152).
A respeito da relação entre o turismo, o patrimônio e os guias turísticos
impressos, Matos e Santos esclarecem:
Tem-se associado com alguma frequência o desenvolvimento do fenómeno turístico ao romantismo, ressaltando nos primeiros guias turísticos a exaltação das antiguidades e de todos os edifícios e monumentos ligados à época medieval. A ligação estreita entre esta corrente e o conceito emergente de património reflecte-se, de facto, nos guias. E estudá-los é também perceber em que medida eles são reflexo da evolução do conceito de património e de que forma influenciam os seus principais destinatários – os turistas. (MATOS; SANTOS, 2004, s.p.).