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4 A TEORIA DA ATIVIDADE

4.3 Ferramentas Analíticas da Teoria da Atividade

A Teoria da Atividade vem sendo aplicada, em geral, em estudos monográficos e possui alguns mecanismos para análise. Para Kapetelinin (2013), a maioria das ferramentas utilizadas para aplicação da Teoria da Atividade em diversas áreas, especialmente em Design de Interação, tem o formato de uma lista de verificação (checklists). Para ele, são, essencialmente, listas organizadas de dúvidas ou questões que os pesquisadores ou profissionais precisam prestar atenção, a fim de certificar-se que os aspectos mais importantes da atividade humana serão levados em conta. O autor ainda explica que a escolha do formato de lista se destina a ajudar a preencher a lacuna entre o alto nível da abstração da teoria e da necessidade de resolver problemas concretos em análise e design, buscando uma maior sistematização. Eles têm sido utilizados para ajudar a identificar e caracterizar os elementos do Sistema de Atividades e auxiliar a encontrar as contradições do sistema e projetar a hierarquia dos artefatos mediadores. Assim, identificam-se problemas no sistema e nos artefatos utilizados, propondo novas ou mais adequadas ferramentas para seus usuários, em termos de interface, de interação e de funcionalidade. Além disso, para mapear e analisar de forma mais adequada, além dos checklists, os autores geralmente utilizam métodos etnográficos como entrevistas, questionários e observações em campo.

4.3.1 Contradições no Sistema de Atividades

Kuuitti (1996) explica o uso do termo contradições na Teoria da Atividade para indicar desajuste dentro dos elementos, entre diferentes atividades ou entre diferentes fases de desenvolvimento de uma mesma atividade, as enxergando como fonte de desenvolvimento. Entretanto, Barab et al. (2002) tentam deixar claro que, paradoxalmente, as contradições não devem ser confundidas como disfunções, mas como funções de um Sistema de Atividade em crescimento e expansão. As contradições podem emergir entre ou dentro dos elementos do sistema de atividades ou quando os seus participantes possuem diferentes objetos ou motivos (RUSSELL, 2002). A lógica tradicional considera invariavelmente

contradições como indicadores de problemas que precisam ser resolvidos, devendo ser eliminadas a fim de criar um sistema perfeitamente lógico (KAPTELININ, 2013). Em um dado Sistema de Atividades, podem ocorrer contradições em diferentes níveis. Kaptelin (2013), baseado em Engeström (1999) traz um resumo dos tipos de contradições existentes. Em um nível mais primário, o problema é observado dentro de cada elemento, como, por exemplo, nas ferramentas. De forma secundária, pode ocorrer entre diferentes elementos do sistema, quando existem “tensões” em suas relações. O tipo de contradição terciária diz respeito aos possíveis problemas emergentes na relação entre as formas existentes de um sistema e do seu real potencial, buscando objetos e resultados mais avançados. Finalizando, o tipo mais complexo sai da análise do sistema de forma mais isolada e observa as integrações e relações com outros sistemas de atividades que interferem direta ou indiretamente no seu funcionamento. A Tabela 4.4 ilustra os tipos de contradições.

Tabela 4.4. Resumo dos tipos de Contradições em um Sistema de Atividade

Tipo de Contradições Descrição

Primárias Internas, dentro dos elementos do Sistema de Atividades Secundárias Entre os elementos do Sistema de Atividades

Terciárias Entre as formas existentes e potenciais do Sistema de Atividades Quaternárias Entre diferentes Sistemas de Atividades

Fonte: adaptado Engeström apud Kapetelinin (2013).

A análise ou mapeamento das contradições do Sistema de Atividades tem sido uma ferramenta útil aplicada para entender os problemas ocorrentes em sua estrutura e facilitar na proposição de soluções mais adequadas que potencializem sua eficácia e eficiência. Assim, alguns teóricos vêm produzindo contribuições e aperfeiçoamentos nas técnicas de análise destas contradições. Alguns autores utilizam apenas os três primeiros tipos, entretanto, estudos mais recentes trabalham com a quarta abordagem, a qual possibilita um entendimento amplificado do problema. Isto ocorre porque não se observa apenas uma atividade isolada, e sim contextualizada em relações com outros sistemas de atividades. Abaixo, a Figura 4.4 ilustra os tipos de contradições nos Sistemas de Atividade.

Figura 4.4. Contradições entre diferentes Sistemas de Atividades

Fonte: Cruz Neto et al. (2005).

4.3.2 Hierarquia dos Artefatos Mediadores

Uma atividade sempre contém diversos artefatos em sua composição (e.g. instrumentos, signos, máquinas, leis), os quais têm sido criados e transformados durante o desenvolvimento da atividade e carregam com eles uma cultura particular – um resíduo histórico do desenvolvimento (KUUITTI, 1996). Daniels (2008) explica que a noção de artefato levanta uma preocupação central na filosofia sob a psicologia sociocultural: a relação entre o material e o ideal. O autor ainda afirma a mediação através dos artefatos infere que o significado da atividade humana é sedimentado, acumulado ou depositado em coisas relembrando o coletivo e o individual, onde os artefatos exercem, simultaneamente, as funções material e ideal. Wartofsky (1979) formulou três níveis de categorização dos artefatos, classificando-os em primários, secundários e terciários. Susi (2006) explica esta proposição: (i) os primários são brutos, usados diretamente na produção, como machados e agulhas; (ii) os secundários são representações internas e externas daqueles, na preservação e transmissão de conhecimentos ou modo de ação; e (iii) os terciários são imaginários e não aparecem de forma prática, trata-se da abstração de sua utilização na

práxis produtiva. Baseado nesta ideia, Engeström (1999) propõe uma outra classificação, organizando-lhes sobre uma perspectiva de questionamentos sobre suas características: (a) what (o quê?); (b) how (como?); (c) why (porquê?); e (d) where-to (para onde?). A tabela 4.5 faz uma comparação das classificações, explicando suas características primárias.

Tabela 4.5. Hierarquia dos Artefatos Mediadores por Wartofsky (1979) e Engeström (1999)

Wartofsky Engeström Característica Primária

Artefatos Terciários

Artefatos imaginários

Where-to: “para onde” Motiva a evolução dos elementos do Sistema de Atividades.

Artefatos Secundários

Representações internas e externas dos artefatos primários

How: “como” Contribui para compreensão de

como alcançar o objeto. Why: “porquê” Motiva a realização do objeto. Artefatos Primários

Utilizados na produção

What: “o quê” Contribui para um meio de alcançar o objeto.

Fonte: adaptado Susi (2006); Collins et al. (2002).

Complementando estas classes, Engeström (2007) traz novas categorias: who (quem), when (quando), in which order (em que ordem), in which location (em qual localização). O autor explica que a hierarquia da Figura 4.5 indica que, na parte superior, um modelo de células germinativas abre uma vasta paisagem de aplicações; enquanto que na parte inferior, as imagens e as histórias são normalmente bastante específicas e ligadas a uma situação ou um caso particular. No entanto, o mesmo artefato pode ser utilizado em formas radicalmente diferentes. Para facilitar a compreensão, o autor cita também exemplos.

Figura 4.5. Níveis epistemológicos dos Artefatos Mediadores