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Festa de Arte de Morrinhos: idealizações nas artes

CAPÍTULO 2 – TODAS AS VIDAS DE ZILDA DINIZ FONTES: LUGARES

2.6 Festa de Arte de Morrinhos: idealizações nas artes

A arte o eleva e educa, abre-lhe os olhos para o belo, motivos mais do que suficientes para a existência da Festa de Arte de Morrinhos e para a nossa gratidão a todos os que sempre trabalharam a nosso lado para sua realização.

Fontes (1980, p. 251)

Além de professora, escritora, novelista e poetisa, Zilda Diniz Fontes também atuou em atividades culturais da cidade, com a idealização e criação da Festa de Arte de Morrinhos, festa essa que completou, em 2018, 38 anos de realização. Fontes (1980, p. 233) afirma que ideia da Festa de Arte surgiu com o intuito de mostrar “ao povo o que em Morrinhos se fazia mas se guardava quase sempre para a apreciação do próprio artista ou, quando muito, para um grupo reduzido de amigos”.

Idealizada e criada por Zilda Diniz Fontes e Nilza Diniz Silva, com a ajuda de Hosana Elza Barbosa Coelho, o primeiro evento aconteceu em 1964 com o título “Morrinhos marca encontro com a Arte”. Fontes (1980, p. 233) destaca que

A princípio pensamos em uma noitada de literatura e música morrinhense, para que os jovens conhecessem os valores da própria terra. A idéia ganhou vulto à medida que começou a ser divulgada e se chegou à conclusão de que a simples noitada lítero-musical não bastava. Era necessário haver também a divulgação da pintura e do desenho com Maluba, Ellen Carneiro, Mário Pacheco e Guiomar.

Nesse primeiro evento, foram realizadas apresentações de crônicas e sonetos15 sobre a cidade de Morrinhos, o evento ainda contou com a visita de Bernardo Élis, Bariani Ortêncio e Paulo Lisboa e Costa. Segundo Fontes (1980), diante do sucesso da primeira edição, nos anos seguintes houve a realização de outras Festas de Arte, contando a partir de 1967 com a criação da Sociedade Dramática e Literária de Morrinhos (SDLM)16 como responsável pela organização. Ao final das dez primeiras festas, Fontes (1980, p. 250) destaca que

Em 1964, quando programamos aquele “Morrinhos Marca Encontro com a Arte”, longe estávamos de imaginar que haveria fôlego bastante para novos encontros se repetirem tantas vezes nos anos vindouros; que ele tomaria as proporções que tomou. Exigindo um número cada vez maior de pessoas na sua organização. Muita coisa foi mostrada nas exposições e se deu oportunidade a quem tem pendor artístico de tornar conhecidos os seus trabalhos.

Sobre os investimentos financeiros nas Festas, Fontes (1980, p. 237) salienta que

As três primeiras festas foram custeadas com dinheiro do povo. Uma lista foi levada a um grupo de pessoas e se conseguiu o dinheiro para as despesas indispensáveis. Na IV Festa a Prefeitura contribuiu graças a boa vontade do Sr. Luís Falone, vice- prefeito com exercício na ocasião. Já na V isso não foi possível e a comissão se viu obrigada a recorrer novamente ao povo.[...] A VI Festa, de 31 de outubro a 6 de novembro de 1970, sob o patrocínio da Prefeitura Municipal, teve grande apoio do prefeito, Domingues VillefortOrzil. Não foi, pois, mais necessário recorrer à ajuda do povo para que a festa pudesse continuar existindo.

Assim, podemos considerar que se tratava de uma atividade cultural realizada, predominantemente, com incentivo do poder público da cidade, sem retorno lucrativo à SDLM. Não nos garante que, de fato, era uma festa voltada a toda população morrinhense, tão somente à elite da cidade; entretanto, o fato de ser aberta ao público torna-se um indício de que havia uma possibilidade de uma maior participação social.

15

As crônicas apresentadas foram de autoria de Léo Godoy Otero e Alaor e os sonetos declamados foram do autor Guilherme e “Flamboyant” de Xavier Júnior (FONTES, 1980, p. 233 e 234).

16

Na revista de comemoração aos 42 anos da SDLM17, sob a presidência de Nilza Diniz Silva, há o destaque para as festas que aconteceram entre anos de 1968 e 2007. Sobre cada edição, consta a descrição detalhada das atividades apresentadas, destacando os artistas que participaram dos eventos e as apresentações culturais presentes. No prefácio da revista, a direção da SDLM afirma que a revista tem como objetivo apresentar parte da história da arte e da cultura da cidade de Morrinhos desde a década de 1960 até o ano de 2009, salientando que, ao ler a revista, os leitores terão conhecimento do tempo de riqueza artística em que a cidade de Morrinhos viveu durante as realizações das Festas, tempo em que fazia jus ao nome “Atenas de Goiás”.

Além disso, diante das descrições e apresentações das Festas de Arte, salientamos que não há referência alguma às restrições das atividades culturais durante a ditadura civil-militar (1964-1985). Como pode ser observado no quadro abaixo, as festas sucederam durante esse período e, nos anos ausentes, as justificativas não fazem alusão à repressão do regime militar. Consideramos, assim, duas possibilidades: a organização do evento e as atividades apresentadas não representavam “ameaça”, ou a SDLM, de alguma forma, conseguia organizar os eventos de maneira que não levantassem “suspeitas”. Na ausência de documento para confirmação, ponderamos que, assim como as outras atividades e produções de Zilda que não sofreram repressão, as Festas de Arte de Morrinhos podem também não ter representado resistência ao governo ditatorial que estava no poder.

Quadro 2: Festas de Arte de Morrinhos

Evento Ano

I Festa de Arte 1964 II Festa de Arte 1965 III Festa de Arte 1966 IV Festa de Arte 1968 V Festa de Arte 1969 VI Festa de Arte 1970 VII Festa de Arte 1971 VIII Festa de Arte 1972 IX Festa de Arte 1975 X Festa de Arte 1976 XI Festa de Arte 1978 XII Festa de Arte 1979 XIII Festa de Arte 1981 XIV Festa de Arte 1982

17

Refere-se a uma revista comemorativa, organizada pela Sociedade Dramática e Literária de Morrinhos, impressa pela gráfica Suprema Comunicação Visual (SILVA, 2009).

XV Festa de Arte 1984 XVI Festa de Arte 1990 XVII Festa de Arte 1991 XVIII Festa de Arte 1993 XIX Festa de Arte 1994 XX Festa de Arte 1995 XXI Festa de Arte 1996 XXII Festa de Arte 1997 XXIII Festa de Arte 1998 XXIV Festa de Arte 1999 XV Festa de Arte 2000 XXVI Festa de Arte 2001 XXVII Festa de Arte 2002 XVIII Festa de Arte 2003 XXIX Festa de Arte 2005 XXX Festa de Arte 2006 XXXI Festa de Arte 2007

Elaborado por Bento (2019) a partir de Fontes (1980).

Após o ano de 2007, não localizamos documentos que descrevem as outras festas que sucederam, mas sabemos que em 2018 foi realizada a 38ª Festa de Arte de Morrinhos, ainda sob a gestão da SDLM.

Assim, é importante considerar que até aqui apresentamos fragmentos da trajetória das “várias vidas” de Zilda Diniz Fontes a partir de reflexões acerca das influências recebidas, bem como os seus movimentos em diversificados espaços. Compreendemos que a sua trajetória se constituiu a partir de suas vivências familiares, perpassando pela sua formação educacional e atuação profissional. Além do espaço formal da escola, seja ele enquanto aluna ou professora, Zilda também se fez presente na literatura, expressando perspectivas, interpretações e sua subjetividade acerca da realidade, de suas vivências e das experiências vividas por ela.

Além das produções que até aqui conhecemos, destacamos que no próximo capítulo nos dedicamos à trajetória de Zilda na dramaturgia por meio de um estudo de suas produções textuais. No terceiro capítulo, então, elegemos a “vida” de Zilda em meio à dramaturgia para nos aprofundarmos.