• Nenhum resultado encontrado

Fragmentos da história no magistério: os movimentos no espaço formal da

CAPÍTULO 2 – TODAS AS VIDAS DE ZILDA DINIZ FONTES: LUGARES

2.3 Fragmentos da história no magistério: os movimentos no espaço formal da

Observamos que o movimento profissional de Zilda no magistério foi bem diversificado, já que atuou em várias instituições de ensino na cidade de Morrinhos. Diante dessa diversidade de espaços formais, elencamos algumas dessas instituições que ainda se

encontram em funcionamento: Ginásio Senador Hermenegildo de Morais, Colégio Estadual Xavier de Almeida e Colégio Estadual Sylvio de Mello.

O Ginásio Senador Hermenegildo de Morais, instituição privada, foi fundado em 1936, pelo então arcebispo de Goiás, D. Emanuel Gomes de Oliveira, incumbido à direção do Ginásio ao Padre Osvaldo Caselatto. Silva (1995) salienta que suas atividades iniciaram em 15 de março de 1936, funcionando primeiramente em uma sala da Casa Paroquial, com a oferta do curso preparatório para o Ginásio. Funcionaram ainda em salas comerciais e casas particulares, com a oferta de curso ginasial e primário. Para a construção do prédio próprio para o ginásio, a autora destaca a ajuda financeira de D.ª Maria Amabini de Morais, viúva do Senador Hermenegildo de Morais, nome dado à instituição. Sobre isso, Silva (1995, p. 82) afirma que “em homenagem à memória desse saudoso goiano, que foi uma das personalidades mais meritosas que já passaram pelo cenário político de nosso Estado”.

Novamente observamos que a elite política da cidade se destaca nos registros da história da cidade. Como já mencionamos, Hermenegildo Lopes de Moraes fora uma personalidade reconhecida na política morrinhense e precursor da inserção política no Estado. Observamos que o nome dado ao Ginásio reflete a ação comum da época em nomear escolas, ruas, praças, dentro outros locais públicos, como “reconhecimento” do personagem e uma forma de “perpetuar” o reconhecimento na história da cidade. Isso também fica evidente na sua breve biografia destacada por Zilda em seu livro como um dos “Vultos Morrinhenses”:

Em Villa Bella de Morrinhos, Cel. Hermenegildo ampliou bastante os negócios como atacadista, servindo as cidades e vilas circunvizinhas de maneira tão eficiente que a Villa se tornou importante centro comercial. A importância do Cel. Aumentou com o alargamento de suas relações comerciais e da amizade estendidas até o Triângulo Mineiro[...] O seu prestígio crescia à medida que prosperavam os negócios e, como é natural em circunstâncias assim, Cel. Hermenegildo passou a representar papel de destaque na política do município. (FONTES 1980, p. 38).

A doação de terras que Maria Amabini de Morais fez evidencia o poder aquisitivo da família, demonstrando a proximidade da elite social com a igreja, já que a doação fora feita para a Arquidiocese de Goiás, representada pelo bispo D. Emanuel Gomes de Oliveira.

Sobre o funcionamento da instituição, destacamos que obtivemos algumas informações a partir dos relatórios de inspetoria arquivados na instituição7. Em um dos

7

O Ginásio Senador Hermenegildo de Moraes conta com arquivo documental com uma grande diversidade de documentos, dentre eles relatórios, registros de ponto de professores, atas de reuniões, documentos de instituições que ali existiram.

relatórios, emitido em 25 de fevereiro de 1938 pela Inspetoria Geral do Ensino Secundário, do Ministério da Educação e Saúde Pública, o inspetor Theodomiro. Segundo Magalhães, a instituição, sob a responsabilidade da Arquidiocese de Goiás, funcionava em regime de externato, para meninas e meninos, classificado assim como misto. Nesse relatório, o inspetor destacou 17 matrículas de meninos no curso de Admissão, com funcionamento das 7h às 11h da manhã, no ano de 1937. Ressaltou também que no ano de 1938, iniciaria o curso primário e a 1ª série do curso fundamental.

Em outro relatório, escrito em dezembro de 1939 pelo diretor Padre Osvaldo Caselatto, consta que nesse mesmo ano, o Ginásio tinha atingido 84 matrículas: 35, na 1ª série ginasial; 10 na 2ª série; 2 na 3ª série; 20, no curso de admissão (preparatório para ingresso no ginasial); e 17, no curso primário. Nesta relação, não consta nas matrículas quantas eram de meninos e quantas eram de meninas, apenas faz referências a “alunos”, o que não determina que eram do sexo masculino. Nessa instituição, Zilda Diniz Fontes iniciou suas atividades no ano de 1942, no curso primário e no secundário com a disciplina de Português. Zilda se ausentou da instituição em 1944, quando se casou e retornou em 1953, permanecendo até 1971, segundo o que consta em registros de ponto e de folha de pagamento da instituição.

O Ginásio Estadual Xavier de Almeida, como inicialmente foi denominado, foi outra instituição de ensino que Zilda também atuou como professora. Essa instituição foi criada pela Lei nº1.310 de 1º de outubro de 1956, publicada no diário oficial no dia 23 de outubro de 1956. Somente em 1961, a partir da Portaria nº 75, emitida pela Direção de Ensino Secundário do Ministério da Educação e Cultura, passou a se chamar Colégio Estadual Xavier de Almeida (CEXA). O nome dado a instituição mais uma vez reforça o lugar dado aos chamados homens que se projetaram em função do poder econômico na cidade. Refere-se à José Xavier de Almeida que, como já apontamos, casou-se com Amélia Augusta, filha de Hermenegildo Lopes de Moraes e assim passou a também fazer parte da elite política goiana.

Sobre a instituição, Silva (1995) registrou que o início das atividades escolares se deu em 1958, com 50 alunos matriculados, funcionando provisoriamente no prédio do Grupo Escolar Coronel Pedro Nunes. No ano de 1960, passou a funcionar em prédio próprio, construído com verbas do governo do estado, ofertando o ensino secundário e os cursos técnicos. A autora registrou que Zilda pertenceu ao quadro de professores desde a fundação, inicialmente, com a disciplina de Desenho e, depois para os cursos técnicos, com a disciplina de Português. Em 1967, foi designada também a fazer parte do Conselho Técnico Administrativo do CEXA, juntamente com outros professores.

Em 1974, pela Portaria nº 295 da Secretaria de Educação e Cultura de Goiás, foi nomeada diretora da instituição. Sua indicação à direção de uma instituição pública em plena ditadura militar nos serve de indício para considerar que sua atuação no magistério não representava resistência às imposições do governo ditatorial. O que não quer dizer que, de forma velada, ela não possa ter utilizado dos espaços artísticos e culturais em que atuou e se movimentou para fazer denúncias e provocar reflexões sobre a realidade em que estavam inseridos, como nos poemas e nas peças teatrais, que serão abordados ainda neste capítulo e no capítulo seguinte, respectivamente.

Ao assumir a direção, deixou de ministrar a disciplina de Português, mas Silva (1995) salienta que Zilda continuou com muitas atividades pois permaneceu como professora do curso de magistério no Colégio Estadual Sylvio de Mello, ao mesmo tempo, cursava Pedagogia em Ituiutaba (MG). Sobre a dedicação de Zilda ao CEXA, Silva (1995, p.134) afirma que “a professora Zilda tinha um apego muito grande ao Colégio que ela viu nascer e ao qual dedicou parte de sua vida”. Na direção da instituição, permaneceu por 26 anos, até o ano de 1984, quando veio a falecer.

Destacamos, por fim, o Colégio Estadual Sylvio de Mello (CESM) que também foi uma das instituições de ensino em que Zilda atuou. Antes da criação do Colégio, Silva (1995) afirma que alguns professores foram nomeados para comporem uma comissão para elaboração do regimento interno do CESM, Zilda participou desse grupo. Sobre a criação dessa instituição, voltado para a oferta de cursos técnicos, Andrade (2012, p.14) nos esclarece que em 1974 “em plena a ditadura militar, o Colégio Estadual Sylvio de Mello foi inaugurado para receber os cursos técnicos ou Ensino de 2° grau”. Os cursos oferecidos foram, inicialmente, Técnico em Agronomia e Pecuária, com duração de 3 anos. Posteriormente, passou a oferecer os cursos Técnicos em Contabilidade e Magistério, também com duração de 3 anos, sendo dois os cursos de Magistério: um destinado à formação de professores de 1ª a 4ª série e outro voltado à formação de professores de 5ª e 6ª série (também chamados de estudos adicionais).

Apesar dessa oferta de cursos técnicos já ser feita em Morrinhos, mesmo antes da instauração do governo militar, Silva (1995, p. 130) afirma que “a Lei de Ensino 5692/71 trouxe modificações ao currículo da escola que passou a adotar o mesmo regime das outras escolas estaduais, com regimento imposto pela Secretaria de Educação”. Percebemos, assim, a imposição e o controle à organização escolar durante esse período. Nessa instituição, segundo declarações de pontos e de registros de pagamentos, localizados no arquivo da instituição a

que tivemos acesso, consta a atuação de Zilda como professora de Português durante o ano de 1974 e início de 1975.

Sylvio de Mello foi o nome dado à instituição “homenageando o médico pioneiro de Morrinhos, que sem ser morrinhense, aqui prestou os mais relevantes serviços, tanto na assistência médica quanto como na vida política da cidade” (SILVA, 1995, p. 181). Novamente, observamos o nome de personalidades consideradas representativas na cidade como o referido médico, que também é destacado na obra de Zilda como um “Vulto Morrinhense”.

Sobre os cursos ofertados na instituição, ressaltamos que a criação do CESM na cidade de Morrinhos, possivelmente, estava de acordo com a reforma proposta pela Lei 5692/71, que estabeleceu a reforma do ensino de 1º e 2º graus, com o intento principal de formar mão de obra qualificada para o mercado de trabalho. Sobre essa reforma, Jacomeli (2010, p.78) salienta que com a promulgação da Lei 5692/71 “a educação foi reformada para forjar o ‘novo’ cidadão, obediente e pacífico e que a ditadura militar almejava para a sociedade”. Nessa reforma, a autora ressalta que algumas disciplinas impostas como Estudos Sociais, incluindo História e Geografia e a disciplina de Educação Moral e Cívica, “teriam a função de ‘inculcar’ os valores sociais desejáveis para o governo militar”.

Percebe-se que, além desses valores de formação para obediência e passividade, houve também a difusão da ideia de “benefício social” à qualificação de mão de obra dos trabalhadores para ingressarem no mercado de trabalho. Discurso esse presente em Silva (1995, p. 182) quando salienta que

A criação do Colégio Estadual Sylvio de Mello foi um passo a mais na estrutura educacional de Morrinhos, representando esperança e conforto para os que não podem procurar os grandes centros, sendo útil aos que buscam um diploma que lhes permita melhor condição de vida, aos que desejam um crescimento intelectual necessário à evolução do mundo; aos que buscam uma situação de participantes da sociedade”.

Sobre esse discurso de conformação e ainda de enaltecimento, também Jacomeli (2010, p. 77) acentua que “a Lei 5.692/71 foi saudada como a panaceia, como a redenção da educação brasileira, ironicamente, até mesmo entre os educadores no período militar”. Assim, apesar de não nos atermos à uma pesquisa específica sobre a instituição por não ser nosso objeto de estudo, observamos pelos indícios apontados que o Colégio Sylvio de Mello, possivelmente, fora mais uma instituição que seguiu a implantação da reforma educacional imposta pela lei 5692/71.

Após buscarmos apreender, ainda que brevemente, sobre as instituições formais de ensino em que Zilda foi professora e diretora, abordamos nos próximos subcapítulos o seu movimento por espaços que ultrapassaram os muros da escola.

2.4 Morrinhos: de capela a cidade dos pomares – Zilda no lugar de autora memorialista