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Grupo teatral Juquinha Diniz – Zilda “entra em cena”

CAPÍTULO 3 – “ENTRANDO EM CENA” – A DRAMATURGIA DE ZILDA

3.3 Dramas entre morros e Morrinhos: os palcos da família Diniz

3.3.2 Grupo teatral Juquinha Diniz – Zilda “entra em cena”

Após o definitivo fim do Teatro Recreio Dramático, trinta anos mais tarde, no início dos anos 1960, Zilda Diniz Fontes, em parceria com sua irmã Nilza Diniz Silva, formou um grupo de teatro amador. Antes de sua iniciativa, Fontes (1980) destaca algumas de suas atuações em peças teatrais apresentadas em escolas de Morrinhos. Afirma que algumas apresentações aconteceram, no entanto, a partir de 1944, quando se casou, deixou de lecionar e de se dedicar à atividade teatral por um tempo, retomando esse projeto a partir de 1960.

Fontes (1980) relata que, em 1962, o grupo amador, conhecido posteriormente como Grupo Teatral Juquinha Diniz, foi formado inicialmente com seus alunos do Colégio Estadual Xavier de Almeida para apresentação da peça A Flor dos Maridos, de autoria de Armando Gonzaga. Com os alunos do Ginásio Senador Hermenegildo de Morais e da Escola Técnica de Comércio “Gaspar Bertoni”, Zilda e sua irmã Nilza formaram outro grupo para apresentação da peça Feia, de Magalhães Júnior. Sobre a apresentação, a autora afirma que “Um bom público compareceu às duas estreias. O interesse pelo teatro tinha avivado em Morrinhos” (FONTES, 1980, p.103).

Algumas experiências ruins foram vivenciadas em apresentações nas cidades da vizinhança de Morrinhos. Segundo Fontes (1980), uma das decepções ocorrera em 1964, quando o grupo fora apresentar a peça Cala a boca, Etelvina, de Armando Gonzaga27. Conta que chegaram à cidade (não consta o nome da mesma), não havia nada preparado no palco reservado e, durante a apresentação, a plateia não se envolveu, demonstrando inquietação e até decepção pois alguns esperavam que seria apresentação de uma dupla de violeiros. Essa decepção e falta de receptividade da plateia se repetiu com a peça Da. Xepa, de Pedro Bloch, na cidade de Ituiutaba, em Minas Gerais. Após essas decepções, o grupo se ateve a apresentações em Morrinhos, no Jóquei Clube da cidade. Outras peças foram preparadas,

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A peça teatral refere-se a uma comédia: “Etelvina é uma jovem empregada que trabalha para Adelino e sua esposa. O casal passa por grandes problemas financeiros. A esposa, cansada da situação, resolve voltar para a casa de sua mãe. Porém, um rico fazendeiro do Mato Grosso, tio de Adelino, vai visitar seu sobrinho e confunde a empregada da casa, Etelvina, com a esposa que abandonou o lar. Para evitar explicações embaraçosas, Adelino passa então a tratar Etelvina como sua mulher” (BRASIL, c2019).

ensaiadas e apresentadas, como A Rosa das Sete Saias, Society em Baby Doll, descritas por Zilda como textos mais modernos.

Nesse período de apresentações, Fontes (1980, p.104) afirma que recebeu a sugestão de Miguel Frauzino, então ministro do Supremo Tribunal Federal, para que dessem continuidade ao trabalho desenvolvido por seu pai, Juquinha Diniz, com a organização de uma nova Sociedade Dramática. A autora destaca que pensaram na sugestão e afirma que “resolvemos esperar até que a idéia amadurecesse mais para termos certeza de que seria ou não viável. Entretanto, não paramos com as apresentações, antes, pelo contrário, nos sentimos mais animadas a prosseguir no trabalho”.

Amadurecida a ideia, em 1967, resolveram organizar a formação da Sociedade, assim, enviaram convites às pessoas interessadas, reuniram-se no Jóquei Clube e formaram a comissão que seria responsável por elaborar os estatutos. Os responsáveis seriam José Rodrigues Ferreira, Darcy Chaves e Zilda Diniz Fontes. Elaborados os estatutos, reuniram-se novamente os interessados e, no dia 29 de julho de 1967, foi fundada a Sociedade Dramática e Literária de Morrinhos (SDLM), sob a presidência de Zilda Diniz Fontes, que tinha como objetivos primordiais: “a – cultivar a arte dramática em nosso meio; b – despertar nos jovens de Morrinhos o amor pelo teatro, incentivando-os a desenvolver a arte dramática; c – desenvolver atividades literárias, musicais e recreativas” (FONTES 1980, p.109).

Ponderamos que Zilda estava seguindo o movimento de incentivo às artes cênicas que também estava em vigor na capital, como apontou Zorzetti (2014c). No caso de Zilda em Morrinhos, não constatamos que tenha sofrido perseguições e repressões por suas peças teatrais. Entretanto, os documentos a que tivemos acesso nos indicam que, para se apresentarem, algumas peças28 tiveram que passar pela Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP) para obterem o certificado de liberação. Consta que a apresentação estava condicionada ao exame do ensaio geral e o certificado de liberação teria validade somente se acompanhado do texto da peça devidamente carimbado pela DCDP (Anexo I).

A DCDP foi instalada oficialmente em 1972, com objetivo de realizar a avaliação prévia de obras artísticas de qualquer natureza, atenta desde temas morais que se colocavam contra valores sociais e “bons costumes” até às expressões de protestos e resistências (SALLES, 2014). Assim, vetava ou liberava as produções artísticas, demonstrando o poder de censura que possuía:

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Nos referimos que algumas peças passaram pelo DCDP para obtenção do certificado pois tivemos acesso a apenas três certificados (AnexoI).

Desse modo, essa divisão possuía o poder de exercer ou não a censura, de acordo com as interpretações geradas pelos seus funcionários. Não existia, portanto, nos primeiros anos de vigor do DCDP, normas e padrões fixos bem delimitados a serem seguidos no momento da avaliação[...]. (SALLES, 2014, p. 178).

As atividades da SDLM iniciaram uma semana após a sua fundação, nas comemorações do aniversário da cidade. Ficaram responsáveis pela barraca do bar, como já haviam combinado. Como resultado dessa festividade, Fontes (1980) ressalta que a SDLM arrecadou o valor de Cr$5.500,00 (cinco mil e quinhentos cruzeiros), valor que serviu para a aquisição de um terreno na Avenida Couto Magalhães para a construção do teatro Juquinha Diniz.

Até que a construção do Teatro se efetivasse, um espaço provisório precisou ser providenciado pois estavam tendo dificuldades para realizarem os ensaios. Segundo Fontes (1980), precisavam de um espaço em que pudessem ter liberdade e não incomodassem ninguém. Após uma pequena reforma e algumas adaptações, uma casa que servira de depósito tornou-se o “Teatro Juquinha Diniz”, como foi chamado. Sua estreia ocorreu em outubro de 1968, durante a IV Festa de Arte de Morrinhos, com a primeira peça de Zilda chamada Por quê?29. Sobre a reforma, Fontes (1980, p. 113) destaca que

Contratamos um carpinteiro para armar o palco e um pedreiro para conserto do telhado, que estava com alguns caibros meio duvidosos e cheios de goteiras. Veio depois o pintor e passou uma mão de cal por dentro e por fora, reparou-se a parte elétrica, escondeu-se um pouco de madeira do teto com lascas de bambu buscado nas roças pelos artistas e passou-se à operação limpeza. O piso, de cimento vermelho, foi lavado e encerado e 200 cadeiras comuns, emprestadas, formavam o equipamento da platéia. Para o palco, três humildes refletores, comprados com o maior sacrifício, completavam, com as lâmpadas de teto, a iluminação necessária para a peça que estava sendo ensaiada.

Para a construção do Teatro Juquinha Diniz, Fontes (1980) destaca que em 1972 o projeto do teatro, elaborado gratuitamente por Flávio Alberto Cascão, estudante de engenharia e integrante do grupo, foi entregue ao então Secretário de Educação, Deputado Hélio Mauro Umbelindo Lôbo, juntamente com um requerimento solicitando o auxílio financeiro para a obra. Nada conseguiram. Em 1973, enviaram novamente a mesma solicitação por requerimento para o Departamento Estadual de Cultura, que estava sob a direção de Regina Iara Alves e, novamente, não tiveram resposta. Assim, “o lote na Av. Couto Magalhães

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permanece vago, servindo apenas de campo de futebol para a criançada da vizinhança” (FONTES, 1980, p.118).

No lote adquirido pela SDLM para a construção do Teatro, devido à falta de espaço lateral, não serviu para a construção. Segundo Silva (2009), a Prefeitura fez a doação de outro lote, localizado na Praça do Trabalhador. Salienta que a construção iniciou somente em agosto do ano de 1984, lamentando que Zilda Diniz Fontes não presenciou pois falecera no início do mesmo ano. Para o início da construção, Silva (2009) salienta que foram utilizadas uma poupança da SDLM, com verba de peças teatrais apresentadas e doações realizadas pela Prefeitura nos anos de 1983 e 1984. Além disso, contaram com a doação de funcionários de bancos, campanhas realizadas pela Rádio, leilões, rifas e gincanas colegiais.

Silva (2009) destaca ainda a contribuição dos associados da SDLM, amigos e familiares. Mesmo com várias ajudas, a construção do Teatro ainda não estava finalizada. Solicitaram novamente a ajuda do governo municipal e estadual, mas sem sucesso. Após um período de construção parada, a SDLM recebeu a proposta de que se a SDLM fizesse a doação do Teatro para a Prefeitura, esta finalizaria a construção e colocaria em funcionamento em um prazo de dois anos. Assim, em 1996, a SDLM, com o acordo de que o nome Juquinha Diniz fosse mantido, assinou um comodato no qual a administração do Teatro seria, por 10 anos de responsabilidade da SDLM. Nove anos depois, a rescisão do comodato foi assinada e, desde 2005, o Teatro Juquinha Diniz passou a ser administrado pela Prefeitura de Morrinhos.

A autora aponta que o “apoio” financeiro do governo municipal foi condicionado à doação do Teatro. Mesmo assim, não se pode negar que as ações culturais da SDLM não contaram com contribuições da prefeitura da cidade, como, por exemplo, nas Festas de Arte, apontadas no capítulo anterior. Não podemos afirmar que o incentivo público se devia exclusivamente pelo desejo de colaborar com o crescimento cultural da cidade, mas também não se pode rejeitar a ideia que, de alguma forma, colaboraram com esse desenvolvimento.