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FIGURAÇÃO INIMIGA –

No documento casos & contos (páginas 127-131)

O 5º BIL, pela proximidade com Resende-RJ, sempre atendeu às necessidades da AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras, quando solicitado. Uma das solicitações é que o Batalhão Itororó, dispusesse de uma pequena equipe, que serviria como

―FIGURAÇÃO INIMIGA‖ nos ―exercícios de guerrilha urbana, executados pelos cadetes do quarto ano da AMAN‖, aqui em Lorena.

Na oportunidade, a turma de cadetes era recebida pelo Comandante do 5º BI, onde ficaria alojada para alimentação e pernoite, por quatro dias. Eu e mais alguns companheiros, entre Cabos e Soldados, fomos avisados pelo Chefe da 3ª Seção, Oficial encarregado de operações, para nos apresentarmos a ele, a fim de recebermos todas as instruções de como seria a nossa atuação como figurantes junto aos Cadetes da AMAN, que não nos conheciam! Meu papel foi o de ―sentar-me à mesa de uma conhecida lanchonete, no centro de Lorena e ficar lendo uma revista‖. A minha foto já teria sido passada aos Cadetes que iam tentar me reconhecer e me prender. Lá estava eu, em trajes civis e me fazendo passar por um artista naquele palco, onde iria se desfechar, dentro de instantes, uma ação violenta que assustaria os presentes e meus conhecidos que estavam também na lanchonete.

―Continuava eu a ler com um olho na revista e outro ao meu derredor‖. Percebi quatro cadetes, também à paisana, que entraram na lanchonete e começaram a olhar para todos os lados... Percebi que um deles me achou e identificou, avisando aos demais que, lenta e discretamente, foram se aproximando pelas minhas costas. CASOS e CAUSOS da CASERNA - Relatos de um militar inativo 137 Tratei de me preparar para o bote deles, levando a minha mão direita à Pistola 9mm, com o cofre cheio de munição de festim que eu portava na cintura e sob a camisa. ―Vieram para cima de mim, agarraram-me pelo pescoço, a cadeira caiu, as mesas foram empurradas e eu disparei a minha pistola com vários disparos naquela luta frenética dos cadetes para me prenderem‖. Eu ainda pude ouvir os gritos de espanto dos que me conheciam, mas, não sabiam do que se tratava: — ―Ele está

sendo sequestrado, chamem a polícia‖! Depois de muita luta dominaram-me, me desarmaram com uma chave de braço, me puseram no interior de um fusquinha, com a cabeça abaixada e rumaram à toda velocidade para a sua base de operações, que ficava ali no antigo prédio da Prefeitura de Lorena, hoje local de uma Praça, à frente da Igreja Nossa Senhora do Rosário, atrás da Catedral de Lorena. Ao chegarmos à base de operações dos Cadetes, me tiraram do fusca e me conduziram ao segundo andar para o ―interrogatório‖.

Eu havia sido instruído pelo Comandante dos Cadetes naquela operação que, dentro do possível, eu dificultasse e resistisse às tentativas de me arrancarem a DATA que eu deveria dizer a eles para que pudessem desvendar a informação que estavam precisando para concluir com êxito aquela operação. Fui colocado no ―pau-de-arara‖... Que coisa terrível... Não dava para aguentar nem um minuto... Colocavam-me e eu berrava!... E eles me diziam: — ―Fale a data para nós e te soltaremos‖... E, eu sacaneava, dizendo-lhes que tinha esquecido. Então, dá-lhe pau-de-arara novamente! E, de novo, eu dizia que tinha esquecido... Eles estavam ficando irritados com a minha ―resistência‖... rs. Na terceira tentativa, e, já colocado de novo no terrível instrumento de tortura, eu disse-lhes: — ―Não me ponham mais... Vou dizer a data‖. Eles ficaram atentos, pois era o que faltava para o término daquela jornada... Então, eu começei a dizer bem devagar: — ―Dia vinte e... hummmmm não consigo me lembrar‖... E fui enrolando, até que soltei a data correta que me tinha sido passada pelo Diretor do Estágio e fui solto ali mesmo. Na formatura de final de estágio e retorno dos Cadetes à AMAN, fui

―elogiado por eles que me diziam sobre a grande dificuldade e resistência que eu estava oferecendo, ressaltando a briga na lanchonete para me prenderem‖! Dias depois desse evento, eu ainda encontrava na rua com amigos civis que me perguntavam se eu tinha sido sequestrado na citada lanchonete.

– GÁS LACRIMOGÊNEO –

Estávamos nós, da 2ª Cia Fzo numa semana de instruções e estágios com os nossos recrutas na ―Área de Instrução Especializada‖. O final das instruções terminava à noite, quando os recrutas eram liberados e era servido o jantar. Após essa última atividade, o corneteiro tocava a ordem de SILÊNCIO, que imperava em todo o acampamento até os acordes de ALVORADA no dia seguinte, às 06,00 horas, quando reiniciávamos os trabalhos. ―Éramos cinco Sargentos instrutores, e dormíamos todos juntos numa barraca para dez praças‖. O nosso comandante, um Capitão baixinho e invocado, gostava de uma vibração característica dos infantes. Ele mostrava-se, em algumas ocasiões, com pitadas de ―sacanagem‖ nas suas surpresas, para com a tropa. Desta vez, ele dirigiu-a aos ―Sargentos da Companhia‖ que estavam na aplicação aos estagiários naquela ÀREA DE INSTRUÇÃO. Ao tocar a alvorada, numa manhã fria, fomos surpreendidos com o estouro de uma granada lacrimogênea, jogada para dentro da nossa barraca e que, rapidamente, encheu o seu interior com uma fumaça branca e fazia os olhos e gargantas arderem, provocando tosse intensa para quem se demorasse dentro dela. Naquele sufoco, todos os ―Sargentos, pularam rápidos das camas e, de ceroulas, abandonamos o interior da barraca sob as vista e risadas sarcásticas do Capitão baixinho e invocado. Não gostamos nem um pouco da brincadeira e olhamos feio ao Comandante‖. Porém, um dos nossos Sargentos, não saiu para fora da barraca‖, permanecendo acobertado até a cabeça com seu cobertor de lã, e aguentou firme a sacanagem do ―baixinho invocado‖! O Capitão, então, lá de fora, tendo percebido que o Sargento, ―japa invocado‖, o estava desafiando, dirigiu algumas palavras ao Sargento que permanecia dentro da barraca, como se nada estivesse acontecendo... E minutos depois, o japa gritou lá de dentro: — ―Seu fdp porque não vai jogar essa merda lá no seu

quarto para a tua mulher‖?...Então, o ―baixinho invocado‖ se aquietou e foi, de mansinho, para a sua barraca, pois, sabia que o Japa era ―flor que não se cheira‖... Ele era um japa, que não engolia desaforos!

No documento casos & contos (páginas 127-131)

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