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FIGURA 09: ASPECTO DA UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DA QUEIMADA

4 A DINÂMICA DO SISTEMA AGRÁRIO DO REBORDO DA SERRA

FIGURA 09: ASPECTO DA UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DA QUEIMADA

deixava a terra em descanso por um período de 7 a 15 anos antes de plantá-la novamente”. Para os colonos, essa técnica, empregada na Região até há pouco tempo, era fundamental para recuperar a “força” (fertilidade) da terra, principalmente antes do advento dos adubos químicos. Também era um processo muito importante no combate a doenças e ervas daninhas, especialmente as gramíneas que infestavam as lavouras após anos seguidos de cultivo.

Durante o período da colonização, um grupo de atividades produtivas esteve no centro das relações comerciais das colônias: o cultivo do feijão, do milho, a criação de porcos para extração da banha, o cultivo do tabaco, do arroz, da cana de açúcar, da batata inglesa, do trigo e da alfafa28. Além destas, outras atividades tiveram importância em alguns momentos, como é o caso da cultura centeio, da cevada, do linho, da uva e do vinho, entre outras. A diversificação da produção, além de ter sido uma estratégia de auto-suficiência alimentar, parece ter sido uma estratégia para diminuir o risco frente às oscilações dos preços dos produtos agrícolas da época. Como algumas atividades eram altamente concorrentes pela mesma mão de obra (como é caso do arroz, do fumo, do feijão e do milho), o incremento de uma ou outra dependia das condições do mercado.

Embora tenha havido diferenças entre a agricultura praticada na Colônia Alemã e na Italiana, acabou ocorrendo, pela proximidade das colônias, uma influência mútua, principalmente da alemã, já instalada, sobre a nova Colônia Italiana. O cultivo do feijão, tabaco, do arroz e a criação de porcos para banha ilustram bem esta influência. Na Colônia Italiana, por determinado período de tempo, segundo Diesel (2001), ocorreu uma espécie de especialização comercial por localidade. Assim, Silveira Martins e Val Feltrina eram conhecidas como regiões produtoras de vinho, Val de Buia como produtora de cana e de alfafa, Val Veronês pela produção de fumo e a Linha 2 e a 4 pela produção de batatinha. Embora com algumas diferenças nas atividades comerciais, não existiam grandes diferenciações no sistema agrário na Região do Rebordo da Serra Geral do COREDE-Central ocupado pela agricultura colonial.

da mata, acabaram por utilizar a queimada.

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Em função do estabelecimento do entroncamento ferroviário, Santa Maria tornou-se, na época, o maior exportador de alfafa da América Latina (Costa Beber, 1998, p.152).

Esse tipo de agricultura predominou, na Região, por um período de mais de cem anos. O seu declínio está associado à modernização agrícola ocorrida no Rio Grande do Sul, principalmente, a partir da década de 1960/70, quando os produtos agrícolas coloniais perderam, significativamente, seu valor comercial e, também, pela desestruturação da grande rede do comércio e da manufatura da agricultura colonial local.

4.9 AS PRINCIPAIS ATIVIDADES AGRÍCOLAS DAS COLÔNIAS

O feijão foi a primeira atividade a trazer uma certa possibilidade de acumulação de capital na Colônia Alemã de Santo Ângelo, sendo por muito tempo o produto que servia como mercadoria de troca nas pequenas casas de comércio da região. Os preços do produto eram muito compensadores. Em 1862/63, quando ocorreu uma grande safra, o preço chegou a cair a 2$000 o saco. Entretanto, na colheita seguinte, passou a custar 10$000, um preço altamente compensador se comparado com a outra moeda corrente - o boi- pois uma vaca para o abate custava entre 14 e 16$000. Para se ter uma idéia em relação ao preço da terra, com 30 sacas de feijão (300$000) comprava-se um lote colonial de 48,4 hectares.

TABELA 02: Preços Praticados na Colônia de Santo Ângelo entre 1863 a 1880

Produto Agrícola Valor em Réis Produto Comercial Valor em Réis

Feijão especial (saco) 2$000 Garrafa de Caninha $200

Milho (saco) $800 Soda (Kg) $040

Fumo em folha (arroba) 2$000 Pacote de fósforos suecos $160

Ovos (dúzia) $060 Açúcar (Kg) $440

Batata Inglesa (saco) 1$000 Sal (saco) 2$400 Arroz em casca (saco) 4$000 Pregos (Kg) $560 Banha (arroba) 3$000 1 m de Chita estampada $320 Fonte: Bruhn (1932) apud Werlang (2002, p. 77).

Assim, a partir de 1863, o feijão passou a ser o produto principal de venda. Em 1863, a Colônia Alemã exportou 33 sacos de milho, 2.109 sacos de feijão e 274 sacos de batatas. Segundo o depoimento dos agricultores, o feijão sempre foi uma cultura que tinha sua produção incrementada na medida em que os preços fossem melhores ou

quando da crise das outras atividades. Nos momentos de grande produção, a média de produção era de 60 a 100 sacos por estabelecimento. Atualmente, a produção de feijão teve sua produção reduzida drasticamente (principalmente na área da colonização alemã). Segundo os depoimentos, isto ocorreu, principalmente, em função da redução da área útil das UPAs devido às restrições ambientais em relação aos desmatamentos (roçadas) e queimadas da agricultura itinerante. Como afirma Nelson Oestereich: “(...) parei de plantar feijão porque não se pode mais roçar o capoeirão”. Embora o cultivo do feijão esteja presente na maioria das propriedades familiares, atualmente a região de maior importância econômica está em alguns municípios da Quarta Colônia Italiana, como no caso de Nova Palma e Ivorá.

A criação de porcos, para extração da banha animal, foi uma atividade que teve início ainda nos primeiros anos da Colônia Alemã. Os colonos logo se deram conta que a banha proporcionava maior renda do que a venda do milho. Isso pode ser constatado em dados da produção da época. Em 1866, verificou-se uma significativa redução na quantidade de milho exportada para fora da Colônia. Das 6.304 sacas produzidas em 1859, a exportação diminuiu para 2.701 sacas em 1866 (Werlang, 2002). O número de porcos, por estabelecimento, tem incremento rápido já nos primeiros anos da Colônia, como pode se observar nos dados da Tabela 03.

TABELA 03: Porcos por estabelecimento na Colônia Santo Ângelo 29

Ano 1858 1860 1862 1864

Porcos/estabelecimento 2,6 6,6 22,8 33,5

Fonte: Jean Roche, apud Werlang (1995, p.207)

Por influência da Colônia Alemã, a criação de porcos tipo banha rapidamente se implantou na Colônia Italiana, e, de acordo com Sponchiado (1996, p.207), foi quando os colonos puderam “ver a cor do dinheiro”.

O sistema de criação de porcos consistia em criá-los nos denominados “mangueirões”, que eram áreas de terra cercadas, onde geralmente se encontravam em abundância árvores com frutas nativas, como o pinhão, a guabiroba, entre outras.

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Segundo Cunha, no ano de 1866 a criação de porcos na Colônia é de 3.611 cabeças, mais de 4 animais por habitante.

Os mangueirões tinham cerca de 05 hectares e comportavam em torno de 30 a 60 porcos. Segundo o depoimento de Ernani Radke, 70% do alimento era com base no pasto e frutas do mato. No inverno, a dieta era completada com abóboras e mandioca. Os porcos para o abate passavam por um período de engorda, presos em uma área menor (o chiqueiro) por 30 a 60 dias, onde recebiam uma alimentação reforçada com pasto, mandioca, abóbora, milho e outras sobras da propriedade. A carneação ocorria de uma a duas vezes por semana, sendo extraídas de 02 a 03 latas de banha (latas de querosene de 15 Kg), em média, por porco abatido.

Apesar da maior parte da criação de porcos se destinar à obtenção da banha, acontecia também, em menor escala, o comércio de animais vivos, principalmente em propriedades mais próximas às vias de acesso. O agricultor Alcir Budske, morador da “Picada do Rio” (Agudo), ainda se lembra quando imensos rebanhos de porcos eram tangenciados que nem gado pelas estradas até o embarque em balsas no porto do Rio Jacuí.

A criação do porco tipo banha terminou lentamente a partir de 1960. Atualmente existem ainda algumas propriedades que têm na banha uma fonte de renda. Na Linha do Patrimônio (Paraíso do Sul), por exemplo, cerca de oito propriedades ainda comercializam de 10 a 20 latas por ano. O porco tipo carne surgiu na região, sobretudo