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3.1 Panorama da literatura jurídica

3.2.3 Finanças públicas

3.2.3.1 Sigilo financeiro

Os 3 (três) acórdãos sobre sigilo financeiro não tem informações úteis para a compreensão do sentido do dever constitucional de eficiência. O acórdão do MS nº 33340 / DF, que trata de sigilo, em face do TCU, de operações realizadas entre o BNDES ou o BNDESPAR e pessoas de direito privado274; o acórdão do MS nº 28178 / DF, que trata de sigilo de documentos referentes a verbas indenizatórias para exercício de atividade parlamentar275; e o acórdão do ARE nº 652777, que trata de divulgação de vencimentos de servidores276, fazem referência, apenas, ao tipo de norma e à estrutura argumentativa para aplicação da norma, assuntos que serão tratados em capítulo próprio.

3.2.3.2 Compensação tributária

Nos 2 (dois) acórdãos referentes a compensação tributária, que tratam da inconstitucionalidade da EC nº 62/2009, que modificou o regime jurídico dos precatórios

274 STF, MS 33340 / DF, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 26.5.2015.

275 STF, MS 28178 / DF, Plenário, Rel. Min. Luis Roberto Barroso, julgamento em 4.3.2015. 276 STF, ARE 652777 / SP, Plenário, Rel. Min. Teori Zavascki, julgamento em 23.4.2015.

devidos pela Fazenda Pública, o Min. Luiz Fux, fazendo referência à expressão “boa gestão”, atribuindo ao termo o sentido de “devido planejamento orçamentário e racionalidade gerencial”277, atribui à eficiência o sentido de celeridade da atividade administrativa:

Assim, o índice eleito não recompõe o poder aquisitivo da moeda, caracterizando-se violação à isonomia (CF, art. 5º, caput) diante da utilização, pelo Poder Público, da taxa SELIC para os seus créditos, afirmando-se, ainda, que tal regime ensejará a ineficiência e a imoralidade administrativas (CF, art. 37, caput), na medida em que estimulará condutas protelatórias do Poder Público para que se beneficie economicamente da discussão judicial278.

O Min. Dias Toffoli, em votos vencidos nesses mesmos acórdãos, atribui o mesmo sentido a eficiência, além de atribuir ao termo o sentido de adoção de medida administrativa menos dispendiosa – novo regime –, quando seja apta a ter resultado similar ou melhor – pagamento dos precatórios – que o de medida mais dispendiosa – regime anterior:

Por fim, quanto à questionada e polêmica previsão de leilão para pagamento de precatórios (§ 9º do art. 97 do ADCT), de início, é importante considerarmos que se trata de alternativa mais benéfica tanto para os credores como para o poder público que o conhecido “mercado paralelo dos precatórios”. Com efeito, viabiliza-se solução mais eficiente que os caminhos heterodoxos que já se fazem presentes na nossa realidade. (...) Assim sendo, a modalidade de leilão, assim como os acordos diretos com os credores, viabilizará, com respeito ao princípio da autonomia da vontade e da isonomia entre os credores, o pagamento de um maior número de precatórios com um menor ônus para o poder público, sem falar que se trata de alternativa a credores com necessidade financeira imediata, que tenham pressa em receber os valores. Com efeito, trata-se de mecanismo que viabiliza oficialmente que credores recebam mais rapidamente o seu crédito, com segurança jurídica e com menor deságio. Além disso, nesse caso, ambas as partes – credor e devedor – são beneficiadas: ganham os credores que receberão mais prontamente seus créditos, ainda que com deságio; e ganham os entes estatais com o aceleramento do ritmo de pagamento das dívidas. (...) Dessa forma, entendo que esses mecanismos, ao lado da hipótese de pagamento de precatórios em ordem cronológica de apresentação, atendem, em última análise, o princípio da eficiência da Administração Pública (art. 37, CF/1988),

277“Daí que as condenações pecuniárias impostas ao Estado somente serão cumpridas no exercício financeiro seguinte àquele em prolatadas, e mesmo assim se apresentadas ao Presidente do Tribunal até julho do ano em questão. Do contrário, se apresentadas em momento posterior, serão incluídas no orçamento do segundo exercício seguinte àquele em que tomadas. Prestigia-se, sob este ângulo, a boa gestão dos serviços públicos, criando espaço suficiente para o devido planejamento orçamentário e a racionalidade gerencial da esfera pública” (STF, ADI 4425

/ DF, Plenário, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 14.3.2013, p. 109; STF, ADI 4357 / DF, Plenário, Rel. Min.

Luiz Fux, julgamento em 14.3.2013, pp. 120-121).

278 STF ADI 4425 / DF, Plenário, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 14.3.2013, p. 81; STF, ADI 4357 / DF, Plenário, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 14.3.2013, p. 95.

constituindo meio hábil e menos gravoso para o pagamento de débitos públicos279.

Também nesses acórdãos, o Min. Joaquim Barbosa atribui à eficiência o sentido de celeridade da atividade administrativa:

A meu sentir, impor aos credores que aguardem lapso temporal equivalente à expectativa de vida média do brasileiro (IBGE/2011) retira por completo a confiança na Jurisdição e sua efetividade (arts. 2º e 5º, XXXV da Constituição). Ademais, o regime especial premia a gestão fiscal e administrativa irresponsável passada e futura com uma solução prejudicial apenas aos credores, contrariando o devido processo legal substantivo ou material (art. 5º, LIV da Constituição), o princípio da eficiência (art. 37, caput, da Constituição) e a responsabilidade fiscal (art. 70, caput e 74, II da Constituição)280.

Ambas as ações foram julgadas parcialmente procedentes, tendo-se declarado a inconstitucionalidade de parte das mudanças introduzidas pela emenda constitucional ao regime dos precatórios.

São, portanto, 2 (dois) os sentidos de eficiência e 1 (um) o sentido de boa gestão281 nos acórdãos sobre o tema das finanças públicas e sobre o subtema da compensação tributária:

a) Eficiência:

a. Celeridade da atividade administrativa; e

b. Adoção de medida administrativa menos dispendiosa, quando seja apta a ter resultado similar ou melhor que o de medida mais dispendiosa.

b) Boa gestão: sentido de “devido planejamento orçamentário e racionalidade gerencial”.

279 STF ADI 4425 / DF, Plenário, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 14.3.2013, pp. 158-160; STF, ADI 4357 /

DF, Plenário, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 14.3.2013, pp. 170-172.

280 STF ADI 4425 / DF, Plenário, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 14.3.2013, p. 302; STF, ADI 4357 / DF, Plenário, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 14.3.2013, p. 317.

3.2.3.3 Sentidos comuns em tema de finanças públicas

São, portanto, 2 (dois) os sentidos282 de eficiência e 1 (um) o sentido de boa gestão nos acórdãos sobre o tema das finanças públicas:

c) Eficiência:

a. Celeridade da atividade administrativa; e

b. Adoção de medida administrativa menos dispendiosa, quando seja apta a ter resultado similar ou melhor que o de medida mais dispendiosa.

d) Boa gestão: sentido de “devido planejamento orçamentário e racionalidade gerencial”.